Formação de Professores de Ciências na Modalidade a Distância
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Formação de Professores de Ciências na Modalidade a Distância - Belmayr Knopki Nery
Editora Appris Ltda.
1ª Edição - Copyright© 2019 dos autores
Direitos de Edição Reservados à Editora Appris Ltda.
Nenhuma parte desta obra poderá ser utilizada indevidamente, sem estar de acordo com a Lei nº 9.610/98.
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Foi feito o Depósito Legal na Fundação Biblioteca Nacional, de acordo com as Leis nºs 10.994, de 14/12/2004 e 12.192, de 14/01/2010.
COMITÊ CIENTÍFICO DA COLEÇÃO ENSINO DE CIÊNCIAS
PREFÁCIO
O convite para prefaciar o livro da professora Belmayr, fruto de sua tese de doutorado, deixou-me muito feliz, porque, em forma de livro, a construção teórica da análise de um Programa de Formação de Professores na modalidade a distância poderá circular mais intensamente na comunidade de pesquisadores em Educação ligados a esse tipo de formação ou de outros pesquisadores que apenas buscam informações sobre essa modalidade formativa. Trata-se de um livro produzido por professora com larga experiência em escolas no que se refere ao Ensino de Ciências e, depois, em funções ligadas à administração de Programas de Formação Continuada de Professores na Secretaria de Educação do Estado do Paraná, e na sequência ter voltado à Academia para realizar mestrado e doutorado em Educação nas Ciências em dois Programas de Educação (Unijuí e Feusp). Essa história pessoal da autora me permite realçar a importância do livro e recomendá-lo para estudos de outros professores que se tornam pesquisadores no decorrer de sua formação inicial e/ou continuada, hoje uma exigência na vida dos professores.
A modalidade formativa a distância está em franca expansão no Brasil, em todos os níveis, impulsionada pelas Tecnologias da Informação e Comunicação (TIC). É necessário conhecer mais profundamente quais são as novas interações que se estabelecem entre os sujeitos que a buscam, conhecer as formas de atividade que se estabelecem, o envolvimento de outras instituições que regulamentam e avaliam os resultados, a nova infraestrutura de apoio necessária, e muitas outras implicações na formação geral humana, técnico-científica, estética, entre outras dimensões formativas necessárias na vida cultural e boa convivência das pessoas.
A Teoria dos Sistemas de Atividade (TSA) proposta no livro, é muito bem explicitada, discutida e utilizada na análise de diferentes atividades realizadas no Programa de Formação Continuada de Professores, EEC – Feusp – Redefor, desenvolvido em parcerias, no estado de São Paulo, conforme se pode ler na tese e agora no livro produzido. O leitor pode encontrar indícios de valor sobre essa modalidade de educação, ao menos no que se refere à formação continuada de professores em atividade da docência, mas terá, principalmente, um instrumento de pesquisa para novos estudos na área educacional. Não se trata de instrumento a ser aplicado, mas de ser significado para novos contextos, não necessariamente de formação a distância.
Sempre compartilhei da ideia de que estudos mais avançados em práticas educativas são mais fecundos quando realizados a partir de e sobre práticas e vivências de professores no espaço profissional. Mais ainda, quando isso é realizado com base em teorias pelas quais se compreende que as vivências anteriores não devem ser vistas como material a ser superado ou descartado, mas como constituinte do intelecto sobre as quais se toma consciência
a partir de conceitos de maior generalidade. A autora teve essa oportunidade pelos estudos realizados de grandes expoentes da Teoria Histórico Cultural, primeiro com Lev Vigotski e interlocutores atuais, no mestrado, e depois com Leontiev no doutorado e as importantes contribuições contemporâneas de Y. Engeström e outros pesquisadores ligados à Teoria da Atividade e, mais recentemente, à TSA. Esse processo formativo conferiu-lhe autoridade para propor e testar a TSA em processo de análise de dados produzidos a partir das produções textuais de diversos grupos de sujeitos participantes do EEC-Feusp-Redefor.
A necessidade de programas de formação continuada de professores vem sendo defendida por muitos pesquisadores da área da educação há várias décadas no Brasil e em nível global, e é decorrência do processo acelerado e exponencial de crescimento do conhecimento e sua rápida disponibilização para acesso por meio das tecnologias da informação e da comunicação. Não é mais suficiente e nem adequado receber, dos sistemas educacionais em qualquer nível, informações sólidas ou duradouras sobre conhecimentos básicos e profissionais e carregá-los como patrimônio cultural suficiente para uma vida, pois novas necessidades de teorias, informações e conhecimentos reconstruídos surgem a toda hora. Esse fenômeno da contemporaneidade afeta, de modo muito especial, os profissionais da docência em qualquer nível, sem esquecer as instituições específicas em que isso acontece, escolas e universidades, pelas quais deve acontecer o acesso ao conhecimento de modo intencional e sistemático. Para as instituições, logo se apresenta o maior dilema: deve-se propor os conhecimentos em circulação, ainda fortemente informativos, ou se deve buscar na solidez de conhecimentos históricos de base o processo de formação das novas gerações, inserindo-as no processo de recriação cultural, não importando que essa recriação cultural seja rápida, fluída e fugaz!
Sou da opinião de que as Teorias Histórico-Culturais com base em Vigotski, que fundamentam a produção deste livro, podem indicar respostas mais consistentes para o dilema que se apresenta na formulação dos currículos. A análise histórica e dialética sobre a constituição dos seres humanos até chegarmos ao estágio atual nos processos de humanização de seres biológicos muito especiais, os humanos, e depois em cada indivíduo, independente do momento em que ele nasce, indica que o humano específico, suas funções mentais superiores, que englobam todo o processo de constituição e desenvolvimento do intelecto em todas as dimensões, se constituirão nas interações sociais pelos meios e instrumentos culturais produzidos ao longo da história humana e disponibilizados e significados em sua formação. Nesse sentido, é importante que os conhecimentos históricos introduzidos no currículo façam sentido para o mundo vivido das pessoas. Isso é o mesmo que dizer: a introdução dos conhecimentos históricos, que são os conteúdos escolares das diferentes áreas de conhecimento, deve ajudar no entendimento do mundo da vida das novas gerações em processo pedagógico interativo. Para isso, muitas vezes, são introduzidos conteúdos de elaboração mais antiga, outras, informações e conteúdos bem recentes. Uma boa significação deles acontece de forma mais consistente quando o objeto de estudo a ser entendido está claramente identificado desde o início pelo(s) docente(s) e pelos discentes em processo interativo em que os sentidos possam circular e serem constantemente testados pelos sujeitos. O que permanece como produto da aprendizagem dos conteúdos é o desenvolvimento intelectual dos sujeitos que lhes permite atuar com desenvoltura no cenário de rápida mudança dos conhecimentos, superando o dilema com o qual se deve lidar na elaboração de um currículo de formação.
Dentro do leque de Teorias Histórico-culturais, algumas propõem que as interações sociais constitutivas do humano se dão no uso de instrumentos e signos no cotidiano das pessoas e, de modo especial, nas instituições ensino; outras que isso acontece na atividade principal, que varia de acordo com certas fases da vida, como o brinquedo na infância, o estudo na fase escolar ou o trabalho na atividade profissional. Pode-se compreendê-las como complementares.
Foi com satisfação que escrevi este prefácio, mas é com maior satisfação que indico a obra produzida para os leitores e pesquisadores da área da educação em geral.
Prof. Dr. Otavio Aloisio Maldaner
Professor do Quadro Sênior da Unijuí e Colaborador do PPGEC na mesma Universidade
Pesquisador visitante, PV/CNPq em Programa da Pós-Graduação em Ensino de Ciências e Matemática na Furg, Rio Grande, RS.
Lista de Abreviaturas e Siglas
Sumário
INTRODUÇÃO 15
CAPÍTULO 1
FORMAÇÃO CONTINUADA DE PROFESSORES DE CIÊNCIAS NA MODALIDADE a DISTÂNCIA 23
1.1 Problemática 23
1.2 Marcos regulatórios e ações inscritas nas políticas
públicas de formação continuada de professores na
modalidade a distância 28
1.3 Programas e pesquisas em Formação Continuada de Professores à Distância 36
1.3.1 Programas e Pesquisas em FCPaD no contexto nacional 36
1.3.2 Programas e Pesquisas em FCPaD no Contexto Internacional 45
1.4 O programa REDEFOR E O EEC-FEUSP-REDEFOR 51
Capítulo 2
O EEC-FEUSP-REDEFOR à luz das Teorias da Atividade e dos Sistemas de Atividade 57
2.1 Pressupostos teóricos em prospecção 57
2.2 Os Sistemas de Atividade no EEC-FEUSP-REDEFOR e a sua
organização 67
2.3 Os princípios da Teoria dos Sistemas de Atividade e o
EEC-FEUSP-REDEFOR 74
Capítulo 3
O processo formativo no EEC-FEUSP-REDEFOR:
aprendizagem expansiva pela produção mediante
as ferramentas computacionais 85
3.1 O EEC-FEUSP-REDEFOR em descrição processual 86
3.1.1 Sobre a disciplina Estudo Dirigido de Sequência Didática 97
3.1.2 Sobre a disciplina Estudo Dirigido de TCC 103
3.1.3 Sobre as interfaces de comunicação no AVA do EEC Feusp-Redefor 107
3.2 Por dentro
do processo formativo 110
Capítulo 4
Os ciclos de desenvolvimento no EEC-FEUSP-REDEFOR 115
4.1 O mediociclo expansivo: Produção de Sequência Didática 115
4.1.1 Itens de elaboração das sequências didáticas 117
4.1.2 A aprendizagem expansiva no Sistema de Atividade produção de
sequência didática 132
4.2.1 Participação no fórum de Sequência Didática 141
4.2.2 Participação no Fórum de Disciplina 146
4.2.3 A Aprendizagem Expansiva no SA Participação em Fórum no AVA 150
4.3 O mediociclo expansivo: realização do TCC 169
4.3.1 A Aprendizagem expansiva no SA realização do TCC 171
Capítulo 5
Conclusões 185
Referências 199
INTRODUÇÃO
As políticas públicas de currículo para a educação escolar são propostas pelos governos federais brasileiros, usualmente, compreendendo uma tríade integrada por diretrizes curriculares, acompanhadas de ações de formação dos professores que irão colocá-las em prática e desenvolvimento de material didático de acordo com essas mesmas diretrizes, em que pese este material ser produzido pela iniciativa privada. A construção de diretrizes curriculares em nível federal vem se efetivando de fato no Brasil. Porém ações efetivas de formação de professores para uma prática baseada nessas diretrizes, no âmbito da sala de aula, têm deixado a desejar.
Possivelmente, esse é um dos motivos pelos quais a situação da educação brasileira, representada pelos indicadores quantitativos que refletem a sua qualidade – índices que estão sendo divulgados com frequência nos diversos setores da mídia –, não pode ser considerada boa.
Igualmente não pode ser considerada boa a situação do professor da educação básica pública brasileira no que diz respeito à valorização da sua profissão no cenário nacional. Ela está retratada no seu discurso quando os professores declaram os seus baixos salários e nas suas más condições de trabalho agravadas pela sobrecarga de horas de aula.
Esse cenário decorre, principalmente, da notável indiferença por parte das administrações públicas ao não priorizarem a educação em sua função social de inserir as gerações novas na cultura, por meio do ensino e da educação escolar, ao não a tratarem como bem social valioso e ao não a considerarem investimento, apenas despesa (MALDANER, 2007). Essas administrações não podem mais ignorar a importância dessa inserção e o fato de que a situação em que se encontra a educação brasileira também é fruto da formação deficiente dos professores que nela atuam. Igualmente, não considerarem que soluções são viabilizadas com investimento na formação desses professores, tanto no âmbito da formação inicial, possibilitando a titulação aos leigos, quanto da formação continuada, no sentido da ampliação de oportunidade a um número expressivo deles e da busca de qualidade da referida formação.
Ampla pesquisa publicada em 2009, coordenada por Gatti e Barretto e patrocinada pela Unesco, com o objetivo de fazer um balanço da condição relativa à formação de professores da educação básica no Brasil, apresentou resultados inquietantes. Porém ações governamentais como o Decreto nº 8752, que regulamenta e organiza a dinâmica das ações e dos programas de formação inicial e continuada em todo o país, indicam a disposição dos órgãos do governo em suprir as referidas deficiências, possivelmente já considerando os resultados da pesquisa mencionada; o que seria algo bastante favorável, pois revelaria conjugação entre o diagnóstico, planejamento e a execução de uma política educacional de governo.
O sistema Universidade Aberta do Brasil (UAB) (BRASIL, 2006), de extensiva abrangência, concretiza essa posição estratégica institucional e a opção pela formação na modalidade à distância, acompanhada por vezes da presencial, vem ao encontro da necessidade imediata, reafirmada pelos resultados da pesquisa antes citada e pela compreensão dos órgãos governamentais, do necessário provimento de professores com formação vinculada à titulação, nas salas de aula da escola básica, Brasil a fora.
A pesquisa acerca da formação continuada de professores em nosso país é incipiente. Uso esse adjetivo não pelo fator tempo de realização exclusivamente, mas também pela, ainda, pouca tradição. Um trabalho de investigação publicado por André (1999), que reporta um estudo situacional e comparativo da produção acadêmica em um período de seis anos, referente à formação de professores no Brasil, traz resultados, com efeito, interessantes. Um bom percentual das teses e dissertações elege a formação inicial como objeto de pesquisa: 76% dos trabalhos; 14,8% abordam a formação continuada e 9,2% se debruçam sobre a identidade e a profissionalização docente. Embora essa pesquisa já tenha cerca de quinze anos e o campo certamente ter sofrido alterações, é de se supor que o tema formação continuada
não tenha excedido o tema formação inicial
, pois a sua problemática vem cada vez mais se complexificando com a expansão e interiorização de cursos de licenciatura e com o preocupante gradativo esvaziamento das licenciaturas.
Mesmo aquela pesquisa, de grande amplitude, realizada por Gatti e Barretto (2009), antes mencionada, está centrada na formação inicial, deixando em segundo plano a formação continuada, corroborando o que afirmei e evidenciando a necessidade premente de suprimento dos quadros de professores antes de estender a formação àqueles já colocados.
Mais incipiente ainda é a pesquisa da formação em geral na modalidade a distância via internet e dos seus programas formativos. Os primeiros trabalhos, que constam do Portal da Capes (Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior), repositório representativo privilegiado da produção científica nas instituições de ensino superior brasileiras, datam de 2005, segundo revisão bibliográfica