Infância, educação infantil e migrações
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Sobre este e-book
Em contextos de migração, em geral, e de imigração pomerana, em particular, é ainda mais relevante a pedagogia na educação infantil, a qual pode contribuir para uma formação de meninos e meninas, desde pequenos, em um processo de valorização de diferentes culturas em um mesmo contexto, como um aspecto de altíssimo valor humano.
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Infância, educação infantil e migrações - Rosali Rauta Siller
COMITÊ CIENTÍFICO DA COLEÇÃO EDUCAÇÃO, TECNOLOGIAS E TRANSDISCIPLINARIDADE
Dedico este livro:
Ao meu pai (in memoriam), que sempre demonstrou o desejo de que um (a) de seus 11 filhos prosseguisse os estudos, a exemplo de sua família, principalmente dos seus irmãos mais novos que, além de terem conseguido terminar o ensino superior, mestrado e até doutorado, formaram também seus filhos e filhas. Esse seu sonho passou a ser também o meu sonho, que tem acompanhado toda a minha trajetória de vida. As marcas de sua influência em minha formação acadêmica sempre se fizeram muito presentes. Foi ele quem, contra todas as amarras da vida em que se deparava em vários momentos, arranjou
forças para fazer com que eu teimasse, seguisse e persistisse.
Ao Zinho, companheiro de todas as horas, a Marcus Vinícius e Ana Gabriela, pessoas tão queridas, que, embora tendo vivenciado momentos difíceis frente às minhas ausências, às dificuldades em que se apresentavam, sempre estiveram presentes, torcendo para que eu chegasse até este momento.
AGRADECIMENTOS
O valor das coisas não está no tempo em que duram, mas na intensidade com que acontecem. Por isso existem momentos inesquecíveis, coisas inexplicáveis e pessoas incomparáveis.
Fernando Pessoa
Durante três anos e meio vivendo uma situação diaspórica
, empurrada pelas estradas em busca do sonho de prosseguir meus estudos, vivi momentos inesquecíveis e conheci pessoas incomparáveis que deixaram marcas profundas em minha vida profissional e também pessoal. Chegou o momento de agradecer.
À Profª. Drª. Débora Mazza, que durante o trajeto desta produção tornou-se uma amiga muito querida e especial. Com ela tive ainda mais certeza de que é possível ser competente sem perder nunca a ternura, a humildade, a simplicidade, o companheirismo e as amizades. Foi muito bom tê-la presente. Agradeço pela maneira com que me auxiliou nesta obra.
À Profª. Drª. Ana Lúcia Goulart de Faria, que, com a garra, luta e entusiasmo com que se dedica às crianças pequenas, despertou em mim a vontade de continuar acreditando e lutando pelos seus direitos em creches e pré-escolas, como espaços de resistências a todas as formas colonialistas e de exclusão social que têm sido a marca de nossa sociedade brasileira. Também a ela agradeço pelas oportunidades de participar do grupo de pesquisa GEPEDISC e poder viver relações mais horizontais com as colegas desse grupo, o que proporcionou mudanças efetivas em minha vida profissional e pessoal.
À Profª. Drª. Zeila Demartini, por suas contribuições significativas.
À Profª. Drª. Alice Beatriz da Silva Gordo Lang, pelas contribuições na metodologia desta pesquisa e pelo apoio.
Ao Prof. Dr. Rogério Drago, amigo de todas as horas, agradeço pela insistência e estímulos constantes desde o período em que concluímos o mestrado juntos, para que eu pudesse seguir em frente e alçar outros voos em minha vida acadêmica.
Às professoras Dra. Neuza Maria Mendes de Gusmão, Dra. Ediógenes Aragão Santos, Dra. Olga Von Sinsom e Dra. Patrícia Piozzi, professoras das disciplinas que frequentei; cada uma, a seu tempo, contribuiu com esta obra.
À companheira e amiga Joseane Búfalo, primeira leitora deste livro, e às demais colegas do Grupo de Pesquisa GEPEDISC, Adriana Silva, Cândida Maria S. D. Alves, Daniela Finco, Djanira Santos, Edna Rosseto, Fabiana O. Canavieira, Marta R. Paulo da Silva Peterson Rigato da Silva e Viviane Drumond, pelas interlocuções e pelas trocas.
À amiga de todas as horas, Nima I. Spigolon, pelo olhar atento a toda esta produção e, principalmente, pela acolhida carinhosa e desinteressada durante as minhas idas a Campinas; e aos demais Colegas do Grupo de Pesquisa em Políticas Públicas - GPPE, Elaine Regina, Viviane Monteiro e Marcelo Ribeiro, ao qual também estou filiada pelas contribuições.
A minha mãe (in memoriam), irmãs e irmãos, Dineide, Paulo, Luizinho, Tutuca, Danda, Renato, Babá, Leninha, Marcos e Mariza, pois me ensinaram que sempre vale a pena quando se sabe aonde quer chegar. Indistintamente, eu agradeço pelo orgulho que sentem por mim e espero não decepcioná-los. Vocês são pessoas especiais em minha vida.
À Adriana Sperandio, que não mediu esforços para que eu pudesse cursar o doutorado em Campinas. Agradeço por todo o seu empenho e peço desculpas pelos constrangimentos que teve de passar em nome de uma escola pública em que nós acreditamos e pela qual lutamos. São as contradições que enfrentamos cotidianamente e que não cabe explicitar neste momento.
Às companheiras do Fórum Estadual de Educação Infantil, do Espírito Santo, pela militância. Com vocês eu sei que será possível dar forma concreta às nossas lutas.
À Secretaria Municipal de Educação de Santa Maria de Jetibá-ES, em especial ao Sr. Hilário Röepke, Prefeito Municipal, que me concedeu afastamento com vencimentos do meu cargo de pedagoga, sem o qual dificilmente teria realizado esta pesquisa.
Ao senhor Moacir Lellis, Diretor da Faculdade São Geraldo-Cariacica-ES, não só pela confiança em meu trabalho como também pela mão amiga nos momentos tão difíceis enfrentados nesses meus deslocamentos constantes de Santa Maria de Jetibá a Campinas.
Meus agradecimentos especiais não só às crianças, sujeitos desta pesquisa, como também a todas aquelas que têm despertado em mim o desejo de continuar lutando pelos seus direitos a creches e pré-escolas. À diretora Viviane Boldt, às professoras e todos os funcionários dos CMEIs Vila de Jetibá e Ageniza Meirelles Dobruns, em especial, Vaudirene e Dizelda, por abrirem as suas salas para que eu pudesse fazer as investigações. Às famílias das crianças desses CMEIS que me acolheram em suas residências e contribuíram para a pesquisa, trazendo suas práticas cotidianas, meus agradecimentos.
Ao pesquisados e ao Dr. Ismael Tressmann, pelas traduções na língua pomerana.
Às amizades construídas nesta nada fácil vida de uma migrante na cidade de Campinas e a todos e todas que, de alguma forma, contribuíram para tornar esta obra possível.
Chegamos onde queríamos chegar... Conseguimos obstruir as diversas pedras que insistiam em aparecer em nossos caminhos.
No meio do caminho tinha uma pedra
Tinha uma pedra no meio do caminho...
Carlos Drummond de Andrade
APRESENTAÇÃO
Migração, diversidade, diferença e desigualdade:
a delimitação de conceitos
O que é racional do ponto de vista isolado e individual [...] revela-se irracional do ponto de vista universal das condições de nossa existência.
Karl Marx
Por que as pessoas migram? O que leva os indivíduos e os coletivos humanos a saírem de sua terra, de sua parentela e irem em busca de melhores condições de vida e de trabalho? O que move a humanidade em uma caminhada milenar que atravessa continentes, rios e mares explorando e povoando o planeta? O que se passa com os coletivos quando integram e ocupam um novo território? Como os espaços de vida são ressignificados? Em que medida a migração impacta homens e mulheres, crianças, jovens e adultos?
São questões que mobilizam as pesquisas que atentam para os fluxos migratórios de pessoas, práticas e saberes. São perguntas que motivam a compreensão de processos de indivíduos e coletivos humanos, dentre eles os imigrantes de várias nacionalidades que vieram para o território brasileiro, de um modo geral, e os pomeranos que vieram para o Espírito Santo, em particular.
Sinteticamente podemos conceituar a migração como o movimento de realocação de pessoas no espaço e no tempo. Entretanto, mais importante do que compreender o conceito e desenhar os fluxos é entender como se dá o processo migratório e quais os efeitos dessa prática no território e nas relações sociais e subjetivas. A visualização da circulação e distribuição da população no território são fundamentais para a compreensão dos motivos que mobilizam a ação para orientar e induzir as políticas públicas e privadas voltadas para todas as esferas da vida social, tais como transporte, habitação, alimentação, educação, lazer, trabalho, assistência, segurança, saúde etc.
Ravenstein (1980), um dos primeiros autores a formalizar uma teoria das migrações, a partir do Censo de 1881, no Reino Unido, elencou um conjunto de variáveis que se apresentavam, à época, como leis
explicadoras da migração e dos deslocamentos populacionais por ele observados. Eram elas: distância, tecnologia, sexo, condição econômica e outras. Em todas as variáveis o motivo econômico apresentou-se como desencadeador dos fluxos migratórios. Ravenstein considerou que as leis da migração
deveriam sempre ser pensadas a partir de fluxos migratórios empíricos de modo a que a interpretação dos fluxos considerasse as características e atitudes observáveis em contextos particulares. Essa perspectiva fertiliza as pesquisas sobre as migrações na medida em que sugere que as teorias explicativas devem ser consideradas contando com os movimentos concretos do real.
Didaticamente, podemos sugerir que existem quatro perspectivas teóricas de compreensão das migrações: a histórico-estrutural, a neoclássica, a em cadeia ou em rede e a transmigrante. Em todas elas a categoria do trabalho comparece como central, mesmo alcançando pesos diferenciados.
Para o modelo histórico-estrutural a migração é condicionada por fatores históricos estruturais, e os fluxos são pensados em uma abordagem macro sob a perspectiva do processo produtivo e seu impacto nos diferentes grupos sociais. Nesse modelo a migração é considerada no bojo de determinadas relações de produção, as quais muitas vezes resultam de processos de violência, exploração e expropriação, e a decisão de migrar é atribuída às condições históricas endógenas que afetam os grupos, as classes e as regiões (SINGER, 1973; KURZ, 2005).
Para o modelo neoclássico a migração é considerada como um resultado de decisões individuais, nas quais a resolução de migrar é concebida de um ponto de vista micro, no qual os sujeitos, sempre orientados por escolhas racionais, buscam suas vantagens, calculam as perdas e os ganhos, mensuram os riscos e, pautados em variáveis avaliadas, decidem migrar para os lugares que auferem o máximo de retorno possível, considerando, inclusive, mas não somente, os retornos financeiros (LEE, 1980; SJAASTAD, 1980).
Para o modelo das redes, cadeias, famílias ou unidades domiciliares, a migração é sustentada por um conjunto de redes relacionais que estruturam o social, esse entendido como uma configuração tentacular muitas vezes invisível às analises macro estruturais e das escolhas racionais. Cada indivíduo é uma rede de relações e é no vigor das redes que se ancoram e conformam as mobilidades humanas. Assim sendo, não são os indivíduos que migram, mas sim suas redes. Elas desenham as possibilidades e a direção dos fluxos (LEVI, 2001; TRUZZI, 2008; FAZITO, s/d).
Para a perspectiva transmigrante ou transnacional os processos migratórios contemporâneos caracterizam-se pelo deslocamento de populações pobres que migram para vários países considerados mais ricos, comprando, vendendo e trocando mercadorias, prestando serviços variados sem vínculos empregatícios ou direitos, com alta frequência de idas e vindas, e sem que se defina um local exato de origem e/ou destino. Os espaços da mobilidade humana são entendidos como territórios de circulação transnacionais que embaçam a rigidez das organizações sociais referenciadas nas fronteiras nacionais. A fluidez e a oportunidade caracterizam os lugares que articulam os territórios de circulação que oferecem transações econômicas, trabalhos temporários e redes relacionais e comerciais (TAURUS, 2010; 2011).
A robustez de cada uma das diferentes teorias sobre as migrações não dá conta de explicar todos os fluxos migratórios e nem de apreendê-los descolados de suas peculiaridades empíricas. Entretanto, as várias perspectivas nos ajudam a desnaturalizar as mobilidades humanas no território e