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Um Lobo Nunca Abandona a Sua Alcateia
Um Lobo Nunca Abandona a Sua Alcateia
Um Lobo Nunca Abandona a Sua Alcateia
E-book401 páginas5 horas

Um Lobo Nunca Abandona a Sua Alcateia

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Sobre este e-book

Catarina é uma rapariga normal, curiosa e entusiasmada com o início do ano numa escola nova. O ano tinha tudo para ser igual aos outros. Até ao dia em que Catarina encontra a pulseira de safira.
O seu destino entrelaça-se assustadoramente com o destino do mundo. As descobertas tornam-se cada vez mais interessantes: Catarina é descendente de Alice, uma das mais poderosas heroínas de todos os tempos.
Mas com o seu novo poder, veio também um inimigo temível e quando sua irmã mais nova é raptada, Catarina e os seus novos amigos atravessam a Europa na tentativa de a alcançarem…
Não percas os combates, alianças e traições que esta nova heroína tem de combater.
IdiomaPortuguês
Data de lançamento11 de abr. de 2020
ISBN9788835804949
Um Lobo Nunca Abandona a Sua Alcateia

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    Um Lobo Nunca Abandona a Sua Alcateia - Catarina Fernandes de Oliveira

    João

    Capítulo Um

    Os primeiros dias

    A campainha toca com um som ensurdecedor e Catarina tem um sobressalto. Chegara o momento por que tinha esperado. O momento em que entrava para a escola dos grandes e em que conhecia os colegas com quem iria partilhar as maiores aventuras.

    Ela estava tão entusiasmada que, na pressa de chegar à sala, deixou cair o telemóvel que os pais lhe tinham comprado no seu aniversário.

    Entrou na sala acompanhada pela sua mãe.

    Tinham estado no polivalente a ouvir a apresentação aos alunos novos, ao que se seguiu uma visita guiada à escola.

    Agora, ia finalmente conhecer a sua diretora de turma.

    Entrou na sala e viu uma professora baixinha, de cabelo muito escuro e que usava uns óculos redondos.

    – Bem-vindos à escola Básica e Secundária de Caminha. Chamo-me Maria João e serei a vossa diretora de turma.

    Ao mencionar o nome Maria João os pensamentos de Catarina voaram automaticamente para a irmã mais nova, que tinha o mesmo nome.

    Após se apresentar, a professora começou a falar sobre um milhão de coisas aborrecidas, como as regras da sala e as atividades escolares e Catarina rapidamente se desinteressou.

    Muito curiosa, estudou as expressões dos novos colegas.

    Quatro pessoas tinham-na acompanhado da escola primária para a nova turma. Três delas eram as suas melhores amigas e tinha sido ela que as convencera a seguirem para o ensino articulado.

    Aquela não era uma turma normal; era uma turma de música, mais especificamente, de ensino articulado da música.

    Catarina andava no segundo ano quando, por insistência dos pais, entrara para uma academia de música para estudar piano com uma professora natural da Lituânia, muito exigente, chamada Rina Ivasqueciciute. Catarina esforçava-se arduamente para lhe agradar.

    As amigas que ela convencera a seguir música chamavam-se Ariana, Anita, e Carla.

    Ariana e Anita eram contrabaixistas, já Carla tinha optado pela guitarra.

    A quarta pessoa chamava-se Luana e Catarina, apesar de tentar, não conseguia gostar dela.

    Tinha havido entre ela e Catarina uma grande confusão em que Luana ofendera o seu orgulho, acusando-a de lhe roubar as amigas, ao que Catarina respondera com ressentimento.

    Ela também era contrabaixista.

    Catarina perdera-se em pensamentos sobre o passado mas despertou quando uma menina de cabelo escuro e encaracolado, muito morena, lhe sorriu do outro lado da sala.

    Com um sorriso a aflorar-lhe os lábios, Catarina reconheceu Raquel, uma contrabaixista que tinha entrado para a academia de música no quarto ano.

    Aquela turma tinha imensas contrabaixistas.

    Apesar de ainda não a conhecer suficientemente bem, Catarina gostava dela.

    Ao lado dela, estava um rapaz alto para a idade, de cabelo escuro e com um olhar confiante.

    Catarina sabia que eles eram primos.

    Jorge era um guitarrista e entrara para a academia um ano antes de Catarina, logo, ela conhecia-o consideravelmente bem.

    Olha para trás de si e repara numa menina muito sorridente. Tinha sardas e pele pálida mas o seu principal traço era o rosto agradável à vista e a curiosidade nos seus olhos.

    Catarina gostou dela mas pensou para consigo própria que as aparências poderiam enganar. Ela esperava que não.

    Olhou em volta uma vez mais e fixou-se numa menina muito pequenina. Tinha o cabelo comprido e uma expressão muito meiga e prestável. A sua cara era-lhe vagamente familiar.

    Ao lado dela vê uma menina que parecia o oposto dela.

    Tinha cabelo muito liso e um olhar determinado e bastante traquina. O tipo de pessoa que facilmente poderia desencadear um drama e que nunca passaria despercebida.

    Catarina olha para as mãos pensando nas descobertas que tinha feito acerca do caráter dos novos colegas mas um barulho de algo a cair a seus pés fá-la levantar os olhos.

    Era um brinco. Intrigada, apanha-o e, depois de o analisar, procura pela sala o seu dono. Descobre uma rapariga com o par do brinco na orelha. Parecia não ter reparado na perda deste.

    Catarina quase abre a boca de espanto. Ela parecia muito mais velha do que ela.

    Tinha imensos acessórios nada discretos e batom nos lábios.

    Pelo canto do olho viu Jorge a olhar para ela. Catarina logo começou a conjeturar.

    Levantou-se discretamente e devolveu-lhe o brinco.

    Chegou ao pé dela e sussurrou:

    – Este brinco caiu e acho que é teu.

    – Oh, muito obrigada. Nem sei o que faria sem ele – apesar de satisfeita por travar amizades, Catarina acha a reação dela muito exagerada para um brinco.

    Discretamente, voltou para o seu lugar.

    Analisou o seu horário. Era bastante bom, apesar dos apoios a Matemática e Português. Tinha três tardes livres, mas mal sabia ela que duas delas teriam de ser parcialmente preenchidas com as aulas da academia de música.

    Pensava no que iria fazer no seu tempo livre, quando se sentiu desconfortavelmente observada.

    Olhou para trás e sentiu um arrepio na espinha. Um rapaz com um ar de rufia desviou o olhar dela e Catarina, assustada, desviou também o seu, pensando que só interagiria com ele se fosse mesmo necessário.

    Nesse momento reparou na presença de um rapaz. Tinha olhos verdes e cabelo castanho claro, quase loiro. Parecia muito tímido. Ele fazia-lhe lembrar um fantasma de tão pálido que era.

    À sua frente estava um rapaz baixote que ainda não tinha parado de fazer perguntas.

    Parecia-lhe um bocado espalhafatoso demais.

    Ao lado dele, fazendo piadas murmuradas, estava Joaquim. Catarina conhecia-o muito bem pois ele também andara com ela na academia e também era pianista. Ele era bastante alto, tinha o cabelo muito preto e adorava fazer rir os outros, estando sempre a contar anedotas.

    Na sala só restavam mais dois rapazes para Catarina analisar.

    Olhou para eles e riu-se para si ao pensar na semelhança com duas personagens de Harry Potter, " Crabbe e Goyle". O aspeto, no entanto, não contaria se se revelassem bons colegas.

    Com uma visão aproximada das personalidades dos novos colegas, Catarina começa a prestar atenção à professora.

    No fim da reunião, dirige-se a Anita e conversa com ela sobre o horário.

    Após uns minutos a conversar com os outros pais, a mãe dela chama-a para irem para casa.

    Catarina acorda no primeiro dia de escola. Estava tão ensonada que nem sabia o que se passava. Rabugenta, vira-se para o outro lado. Ouve uma voz gritar da cozinha no primeiro andar:

    – Catarina! Catarina, acorda!– diz a sua mãe.

    Ainda a sonhar acordada pensa: Mas porque é que não me deixam dormir mais um bocadinho?

    Lentamente começou a recuperar a consciência: " Hoje é o primeiro dia de aulas". Levanta-se de um salto e grita:

    – Já vou, mamã!

    Vai até à casa de banho e passa a cara por água. Penteia-se e põe uma bandolete. A sua mãe aparece na casa de banho.

    – Despacha-te, filha. Ainda não tomaste o pequeno-almoço.

    Apressando-se, Catarina corre para baixo pegando na pasta da ginástica e no livro " Harry Potter e o Cálice de Fogo".

    Catarina adorava ler e a coleção "Harry Potter era a sua preferida.

    Entra na cozinha e vacila. Aquele cheiro…Cheirava imenso a leite. Catarina quase fora alérgica a leite durante a infância e mesmo agora, não gostava.

    O cheiro começa a deixá-la nauseada. A certa altura, sente que é melhor sair da cozinha para não vomitar.

    Sai de casa para apanhar ar. Ao abrir a porta é logo intercetada por Sweety, a sua cadelinha. Sweety salta para cima dela, mas ela esquiva-se, habituada ao seu entusiasmo.

    Já reconfortada, Catarina volta para dentro e esforça-se por ignorar o cheiro. Só de pensar no que teria de beber, sentia-se enjoada de novo.

    Senta-se à mesa e prepara-se para beber o leite. Bebe um gole, bebe outro e mais outro…

    Sente a cabeça a andar à roda e o vómito a subir-lhe pela garganta. Antes que o conseguisse conter, saiu-lhe disparado para cima do leite e do pão.

    Ao ouvir aquele estranho barulho vindo da cozinha, Maria João corre até lá. Entra na cozinha e, ao deparar-se com a irmã debruçada sobre a mesa a vomitar, grita:

    – Mamã, a Catarina vomitou – e corre para irmã, abanando-a com um guardanapo.

    A Mamã entra na cozinha.

    – O que é que se passa aqui? Catarina estás doente, querida?

    Ajuda-a a levantar-se e encaminha-a para a sala, onde a deita no sofá.

    Catarina começa a recuperar a noção do tempo e do espaço, sentindo-se terrivelmente mal.

    – Mamã, molha-me a cara, por favor.

    Maria João vai a correr buscar um pano molhado.

    Mal sente a frescura do pano contra o seu rosto, Catarina suspira de alívio. Começava a sentir-se melhor.

    Tenta levantar-se devagarinho, para não ficar tonta.

    Ao levantar-se sente o sangue a subir-lhe à cabeça.

    Já melhor, Catarina arruma a pasta com os livros das disciplinas que vai ter e prepara-se para o primeiro dia de aulas. Estava entusiasmadíssima!

    Era o seu pai que a iria levar no seu primeiro dia de aulas, pois ele era professor de Física e Química lá na escola.

    – Que horas são, papá? Estamos atrasados?

    – Não, querida, ainda faltam dez minutos para começarem as aulas. Estás nervosa?

    – Não, estou só ansiosa.

    – Vai correr tudo bem.

    Chegaram à escola ainda faltava cinco minutos para tocar.

    O pai de Catarina levou-a até à sala no pavilhão C, o pavilhão dos quintos e sextos anos.

    Dando-lhe um beijinho e desejando-lhe boa sorte, segue o seu caminho para o pavilhão N, o do secundário, deixando-a com Ariana.

    – Olá, Ariana. Já tocou para dentro?

    – Não, ainda não. Tu deves estar ansiosa para entrar. Não sei como é que gostas tanto da escola. Eu acho que podia viver de férias.

    – Cada qual é como é.

    Soa a campainha e o coração de Catarina bate mais depressa.

    Na pressa de chegar à sala choca com Raquel.

    – Oh, não, desculpa. Sou tão desastrada – disse suspirando.

    – Não faz mal, eu também estou muito entusiasmada para entrar.

    Mal entra, Catarina corre para a fila da frente, seguida de Raquel, da menina das sardas e da menina com olhar meigo.

    Entra a diretora de turma, que também era professora de Matemática.

    – Olá, meninos. Como é o primeiro dia de aulas, peço a todos que levantem o dedo na chamada.

    – Anita – Anita levanta o dedo.

    – Ariana – Ariana levanta o dedo.

    – Catarina – Catarina levanta o dedo. Com a chamada, ficou a saber que a rapariga das sardas se chamava Jéssica e que a de olhar meigo era Carlota.

    O rapaz que lhe tinha metido medo chamava-se Francisco e a rapariga de olhar traquina era a Priscila.

    A rapariga da cena do brinco chamava-se Isabel e o amigo do Joaquim chamava-se Ricardo.

    Os dois rapazes que ela comparara às personagens da sua saga preferida eram David e André e o rapaz muito tímido chamava-se Miguel.

    – Agora, como é o primeiro dia, temos de escolher o delegado e subdelegado – diz a professora – vou distribuir uns papéis e quero que escrevam o nome de quem acham que devia ser delegado.

    Dito isto, começa a distribuir os papéis.

    Catarina não fazia ideia em quem havia de votar. Pensa em quem conhece bem e decide-se por Carla, a mais sensata das suas amigas.

    Escreve o nome dela no papel, apesar de não ter a certeza de ver nela uma boa delegada.

    Na verdade, apesar de não o querer admitir, Catarina adoraria ser delegada.

    A professora recolhe os votos, tendo de ficar à espera que Joaquim acabe de refletir.

    Quando acaba de recolher, conta os votos.

    Catarina ficou empatada com Isabel no primeiro lugar, o que levou ao desempate.

    Agora, Catarina, que não queria votar em si própria, já sabia em quem votar. Não havia grande escolha.

    Ela vota na Isabel. No fim: perde por um voto.

    Apesar de um pouco frustrada por não ter ganho, Catarina fica feliz por ser subdelegada.

    No fim da primeira aula, Catarina e as amigas exploraram a escola.

    Foram à sala dos alunos, que toda a gente chamava poli, e tiraram as senhas da máquina, apesar de estar muita fila. Catarina, olhando para os mais velhos, sentia-se minúscula. Ainda bem que o seu pai estava na escola.

    Depois de tirar as senhas foi ter com o seu pai ao bar que lhe deu um golinho de sumo de laranja e lhe contou as novidades. No caminho cruzou-se com vários colegas antigos da escola primária que tinham ido para outras turmas.

    Como ainda restavam dez minutos para tocar para a próxima aula, decidiu ir explorar a biblioteca.

    Subiu até lá e entrou. A biblioteca tinha um tom amarelado nas paredes. No canto direito viam-se cinco computadores, todos ocupados, e duas televisões.

    O resto do espaço era ocupado por prateleiras com livros. Viu uma funcionária sentada numa secretária com uma placa com o nome Selena.

    Dirigindo-se a ela, perguntou:

    – Podia-me dizer onde estão os livros para jovens?

    – Estão na prateleira de trás. Se não encontrares, chama que eu vou lá. A tua cara é-me familiar. És filha de algum professor cá na escola?

    – Sim, o meu pai é o professor Agostinho, de Física e Química.

    – Bem, nesse caso, és muito parecida com ele. Como é que te chamas?

    – Catarina.

    – Eu sou a Dona Selena. De que livros andas à procura?

    – Eu sou completamente fanática pelos livros do Harry Potter. Vou agora ler o quinto.

    – O Harry Potter está na prateleira de autores de língua estrangeira, ali ao fundo.

    – O.K., muito obrigada.

    E, dito isto, vai à procura dos livros. Encontra-os e leva-os a Dona Selena, que fez a requisição.

    Balbuciando agradecimentos, Catarina corre para o ginásio, pois já tinha tocado para dentro.

    Chega ao ginásio mesmo a tempo de ver os seus novos amigos a entrar.

    Apressa-se e segue-os.

    O ginásio era bastante grande; o teto era cinzento e tinha cortinas para poder decorrer mais do que uma aula ao mesmo tempo.

    Vê uma professora a chamá-los ao longe. Era baixa e tinha o cabelo louro, muito curto. Parecia muito rígida e exigente. Dirigiu-se a ela e sentou-se no chão, ao pé da rapariga de olhar meigo, Carlota.

    Carlota sorriu-lhe e disse:

    – Olá, chamas-te Catarina, não é?

    Catarina acenou-lhe afirmativamente.

    – Nós já nos conhecíamos? – Perguntou Carlota – A tua cara não me é estranha.

    – A tua também não me é estranha – confirmou Catarina, franzindo o sobrolho – Não andamos no mesmo infantário?

    – Ah, já me lembro – retorquiu Carlota, compreendendo – És a Catarina Oliveira, que adorava fadas no infantário.

    – Sim, sou eu. – admite Catarina, levantando as mãos no ar a brincar - E também já me lembro de ti.

    Quando era pequena, Catarina acreditava realmente em fadas. Acreditava que se escondiam dos humanos nos jardins e que saltitavam de flor em flor, garantindo o equilíbrio natural. Ignorava todos aqueles que troçavam dela, juntamente com a lógica. Sorri ao relembrar esses tempos felizes de ingenuidade crédula.

    Nesse momento, chega a professora, que pede silêncio.

    – Chamo-me Berta e serei a vossa professora de educação física. Para começar, vamos pesar e medir cada um de vocês. Façam uma fila em frente à balança.

    Todos se aglomeraram para formar a fila e Catarina deu consigo esborrachada entre a menina das sardas, Jéssica, e Raquel.

    Catarina já não se pesava nem se media há muito tempo, por isso estava curiosa para conhecer os valores. Quando chegou a sua vez, tirou os sapatos e subiu para a balança. Pesava 34 quilogramas e media 1 metro e 46 centímetros. Ficou bastante satisfeita pois era uma das mais altas da turma.

    Quando acabaram todos de se medir, a professora disse, num tom de voz rígido e alto:

    – Agora vamos fazer testes. Primeiro testamos a destreza.

    Catarina fez todos os testes. Apesar de se ter saído muito mal na flexibilidade foi das melhores no salto de pés juntos.

    – Já a seguir – disse a professora – vão todos tomar banho no balneário e vai lá uma funcionária ensinar-vos como se faz.

    Catarina nunca tinha tomado banho na escola, por isso estava um pouco reticente.

    Entrou no balneário e dirigiu-se ao seu saco. Pouco depois apareceu a funcionária que começou a explicar-lhes que deviam tomar banho com touca e que era proibido molhar o cabelo.

    A mãe de Catarina tinha-lhe comprado uma touca cor-de-rosa muito embaraçosa e Catarina tinha esperança de a poder evitar, mas vendo que Carla tinha uma igual, esqueceu a vergonha e foi tomar banho.

    Ao chegar à zona de banho deparou-se com um problema.

    Já muitas das suas amigas tinham tentado abrir as torneiras mas quase se tinham queimado. Foi Priscila quem, por fim, conseguiu abrir as torneiras. O problema a seguir foi fechar. Tinham-se descuidado e a água ficara demasiado quente.

    Raquel que estava mais atrasada e ainda estava vestida, foi a correr chamar a Dona Francisca que, já preparada para a situação, apareceu a correr com um guarda-chuva e fechou as torneiras.

    Catarina não conseguiu deixar de achar graça à situação, mas conteve-se.

    A partir desse momento, não houve mais percalços e o dia correu sobre rodas.

    Depois da educação física tiveram história, a professora era a mãe do Joaquim, a professora Benedita.

    Tecnicamente, não era legal, mas a professora que lhes iria dar aulas tinha metido um atestado médico e a professora Benedita iria substituí-la.

    Era simpática mas parecia pouco exigente.

    Catarina não imaginava como seria ter de chamar professora à mãe.

    Toca para o almoço e Catarina corre para a cantina, juntamente com a sua nova turma.

    Como foram a correr não apanharam muita fila e só tiveram de esperar cerca de cinco minutos.

    O seu pai ainda não tinha chegado. Esperando, sentou-se num banco à entrada.

    Perdida nos seus pensamentos, nem vê Carlota a aproximar-se para lhe falar, agitando-lhe a mão em frente da cara para a despertar.

    – Olá – diz ela, quando Catarina a olha – Tudo bem?

    – Sim, estava só distraída. Que tal achaste o primeiro dia? – pergunta Catarina, feliz por ter alguém com quem conversar.

    – Gostei imenso. Qual foi a professora de que gostaste mais?

    – Não sei. A diretora de turma pareceu-me bastante simpática. A de educação física pareceu-me demasiado exigente e a de história demasiado branda.

    – Também foi o que me pareceu.

    Catarina estava a beber um leite achocolatado e um rapaz de um ano mais avançado passou por ela, dando-lhe uma cotovelada. Catarina, com uma reação demasiado lenta, entorna tudo por cima da camisola.

    – Oh não – exclama ela horrorizada – esta camisola tinha acabado de ser lavada.

    Olha para trás, furiosa, e reconhece o rapaz. Era o seu vizinho, Augusto. Quando ela era pequena, Augusto tinha-lhe rasgado um desenho e desde ai que ele a aborrecia continuamente. Era um dos únicos rancores que Catarina guardava, mas que não germinava, apenas se ia transformando num desagrado calado e sem reação.

    Carlota, muito preocupada, diz-lhe:

    – Tem calma, Catarina, isso sai com água. Anda à casa de banho e eu ajudo-te a tirar isso.

    Catarina, ainda mal-humorada, segue-a até à casa de banho, sensibilizada com a generosidade dela.

    – Obrigada pela ajuda, Carlota. Fico-te a dever uma.

    – Não te preocupes com isso. E não ligues ao Augusto. Ele andou na minha escola e eu não gosto nada dele.

    – Oh, eu conheço-o melhor do que gostaria. Ele é meu vizinho.

    – Coitadinha – comenta a Carlota.

    Dirigem-se as duas à casa de banho onde Carlota a ajudou a limpar. Saiu quase tudo mas ainda se notava uma mancha.

    Obviamente, não escapou ao olhar atento do seu pai.

    Tinha-se atrasado pois tinha estado a arrumar o laboratório.

    – Que mancha é essa, Catarina?

    – Foi o Augusto que passou por mim e me fez entornar o leite achocolatado – desculpa-se ela.

    – Bem, não interessa. Temos de nos despachar para ir buscar a mana à escola primária. Ela já deve estar à espera. Como se chama a tua amiga?

    – É a Carlota e é da minha turma – responde Catarina.

    – Muito prazer – diz a Carlota.

    – Carlota, desculpa, mas temos mesmo de ir embora. Muito prazer em conhecer-te.

    – O.k. Até manhã, Catarina – despede-se ela.

    – Até manhã – responde a Catarina.

    E sai da escola com o pai. A irmã estava no terceiro ano e tinha mudado de escola nesse ano.

    Em viagem, Catarina conta tudo sobre o primeiro dia ao pai.

    – Gostei muito do meu primeiro dia, papá – diz a Catarina, no fim do relato.

    Muitos dos seus colegas achavam que chamar papá ao pai era um sinal de infantilidade, mas, ainda assim, não se imaginava a chamar de outra maneira.

    Pouco depois, chegaram à nova escola da irmã. Catarina ficara espantada por ser tão pequena. Só tinha duas salas! Como é que era possível?!

    Catarina andara na escola primária da sede do concelho que tinha, no mínimo, cinco salas de aulas, uma biblioteca, um campo de futebol, um parque infantil, uma cantina maior que a da sua nova escola, três casas de banho, e uma coberta no recreio para as crianças brincarem nos dias de chuva.

    A irmã chega ao carro e começa a tagarelar sobre a nova escola. Aparentemente, eram só trinta alunos. O professor dela era muito bom e simpático.

    – E a tua escola, Catarina? – pergunta Maria João – Também é fixe?

    – Sim, gostei tanto como tu – responde ela, recomeçando o relato.

    Capítulo Dois

    Adaptando-se

    Já tinha passado uma semana e Catarina sentia-se finalmente à vontade. Não tinha sido preciso muito tempo para conhecer todos os cantos e recantos da escola.

    No segundo dia tinha descoberto dois cães que viviam ao lado do ginásio e no terceiro conhecia já todos os professores e novos colegas.

    Gostava muito da professora Clara, de Inglês. A professora de Ciências parecia-lhe pouco divertida e a sua voz fazia-lhe sono. Chamava-se Ana Maria. A professora de Português era uma daquelas professoras que parecem saídas de um filme antigo. Usava sempre aquelas saias abaixo do joelho, tinha dois óculos pendurados ao pescoço: uns para ler e outros para ver. Catarina achava-lhe imensa graça, fazia-lhe lembrar a professora de francês da coleção de livros " As Gémeas" da Enid Blyton, que lera no terceiro ano.

    A professora de E.V. (Educação Visual) era uma personagem engraçada. Tinha uns óculos redondos e caracóis ruivos. Estava sempre a dizer " Oh My God que Catarina, perguntando à mãe, descobrira significar Oh Meu Deus".

    Catarina tinha-se esforçado por causar boa impressão estando muito atenta nas aulas e fazendo perguntas pertinentes, apesar de saber a resposta da maioria.

    Identificava-se imenso com a Hermione Granger, a personagem inteligente da saga Harry Potter e esforçava-se sempre para seguir o seu exemplo.

    Para Catarina, a primeira semana tinha sido fantástica, apesar de a situação dos vómitos se ter repetido todos os dias. Ao terceiro dia tinha parado de tentar tomar o pequeno-almoço mas tinha vomitado na mesma só com o cheiro.

    Gostou especialmente de quarta-feira pois tinha tido a primeira aula da academia de música. Só nesse dia é que conseguira não vomitar.

    Telefonaram-lhe a avisar que a primeira aula ia ser já naquela quarta-feira e Catarina pediu aos pais para a levarem imediatamente. Ficou com imensa pena por não ter sido a primeira a chegar. Desde que começaram as aulas que ela acalentava a esperança de poder fazer uma visita guiada e mostrar que conhecia a academia como a palma da sua mão. Ficou, por isso, muito desiludida quando, dez minutos depois de os colegas terem chegado, já terem explorado toda a academia.

    Catarina adorava tudo naquele sítio. Era pintado de verde por fora, o que dava um ar frio mas por dentro era muito acolhedora.

    Tinha uma receção onde estava desde sempre instalada a Dona Palmira. Catarina não se lembrava de quem tinha trabalhado lá antes dela.

    Se andássemos um bocado, víamos duas portas gigantes, uma de cada lado. A do lado direito ia dar ao auditório. Era bastante grande mas, surpreendentemente, quase nunca se usava o palco. Normalmente, os artistas atuavam na parte de baixo, ao mesmo nível das cadeiras.

    A outra porta ia dar a uma sala usada para exposições e eventos e Catarina raramente lá entrava. Quando andava na Iniciação, costumava conjeturar sobre o que haveria lá dentro e inventava planos infalíveis para o descobrir.

    Ao andar mais um pouco, encontrávamos o gabinete da diretora e as salas de formação musical e de instrumento. As aulas de coro eram dadas no auditório. Havia também uma sala extra de formação musical ao lado da sala de exposições onde Catarina adorava ir porque era lá que estavam os instrumentos de percussão que qualquer um podia tocar, como o metalofone, o reco-reco, o jogo de sinos…

    Resumindo, Catarina teria adorado mostrar tudo.

    A primeira aula de coro tinha sido com a professora Eliana, que lhes deu uma peça do livro em que se tinha baseado no concerto do último ano: Jazz For Kids.

    Rapidamente, Catarina aprendeu a música. Nem todos os colegas tinham ido à aula porque muitos tinham sido avisados em cima da hora, tal como ela.

    Naquele momento estava no intervalo a conversar com a Anita, a Ariana e a Carla.

    – Alguém vem comigo tirar senhas? – pergunta a Ariana.

    – Eu não me importo de ir contigo – diz a Carla.

    Catarina ter-se-ia oferecido ela própria, apesar de não lhe apetecer muito ir. Sentou-se num banco da 1 C, a sala em que tinha todas as aulas, e continuou a conversar com Anita. De repente, repara numa coisa invulgar. Um dos seus colegas, o rapaz chamado Miguel, estava em frente à porta da sala a andar de um lado para o outro. Catarina dá uma cotovelada a Anita e aponta para ele com a cabeça.

    Anita fica com um ar intrigado.

    – O que está ele a fazer? – pergunta Anita.

    – Não faço ideia – responde a Catarina.

    Foram as duas ter com ele e perguntaram:

    – O que estás a fazer?

    Catarina nem se apercebeu que poderia estar a ser indelicada.

    Ele cora e encolhe os ombros.

    – Chamas-te Miguel, não é? – pergunta Catarina, surpreendida com a sua timidez.

    – Sim – limita-se ele a responder.

    – Eu chamo-me Catarina e ela é a Anita – diz Catarina, alegremente – Espero que possamos ser grandes amigos!

    Ele olha para ela, aparentemente pensando que ela era maluca.

    Ela vai-se embora com Anita.

    Catarina tinha achado aquela conversa muito estranha. Nunca tinha estado com alguém que falasse tão pouco. Provavelmente por estar habituada à irmã, que falava e cantava o dia todo. Adorava aqueles momentos de irmãs em que as duas faziam um dueto perfeito a cantar as músicas do seu filme preferido: duas melhores amigas que viviam muitas aventuras juntas a fim de encontrar um castelo de diamante. Para Catarina, não havia felicidade maior que cantar Ligada a ti com Maria João.

    Maria João tinha uma voz incrível, muito potente e de grande alcance tanto nos graves como nos agudos enquanto Catarina tinha uma voz mais angelical, muito afinadinha.

    Ao perder-se nestes pensamentos, nem se apercebera que Anita a estava a abanar para irem para a aula.

    Ao dirigir-se para a sala, repara que Raquel estava sentada à entrada do pavilhão com a Dona Liana. Curiosa, dirige-se a ela.

    – Olá, tudo bem, Raquel?

    – Sim, estou a gostar imenso da primeira semana. E tu?

    – Também. Hum… Porque é que ficaste aqui no intervalo?

    – Na minha antiga turma só havia mais uma rapariga.

    E, dito isto, levanta-se e deixa Catarina plantada.

    Catarina ficou a pensar se tinha dito alguma coisa de errado e decidiu fazer os possíveis para se aproximar dela.

    Capítulo Três

    A caixa

    Catarina levanta-se bruscamente. O relógio aponta para as duas horas da manhã. Estafada deita-se amaldiçoando o seu sono leve. Pensa no dia seguinte. Ia ter uma aula experimental de Ciências. Não saberia se ia conseguir fazer alguma coisa de jeito se ficasse acordada muito mais tempo. Sente a sua barriga a reclamar por comida. Lembra-se que a mãe lhes tinha trazido bombons de uma loja nova que tinha aberto e decide levantar-se para ir buscar o de chocolate preto. Desce as escadas, dirigindo-se à cozinha, meia zombie sem prestar atenção ao caminho

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