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Em Busca Da Canção Perfeita
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Em Busca Da Canção Perfeita
E-book401 páginas6 horas

Em Busca Da Canção Perfeita

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Sobre este e-book

QUEM DISSE QUE AS GROUPIES FICARAM NOS ANOS 80? No Em busca da canção perfeita temos uma garota apaixonada por rock clássico. Ana é uma garota de família conservadora, ela ama o estilo e as músicas da melhor década musica, os anos 80. Além de ser dona de uma voz encantadora e um prodígio no violão, ela é divertida e contagia a todos com seu jeito. Ao se mudar de cidade ela conhece uma banda de rock cover, um fracasso aos olhos do público. Após ela ser convidada a dar algumas dicas para essa banda, o grupo começa a fazer sucesso, recebendo então,grandes convites para grandes shows. Desobedecendo a mãe, Ana cai na estrada - fugida- e se torna uma espécie de Groupie ( Termo usado no rock para garotas que inspiram os artistas), a qual ela prefere ser chamada de musa . Ana em sua aventura conhece o jovem Timote, um gênio. Ele inspirado por ela começa a compor músicas lindas, musicas que fazem o publico delirar. No entanto, o jovem Tim quer algo além da imaginação, ele quer uma canção que fique na cabeça das pessoas da mesma maneira que as musicas dos anos 80 marcaram toda uma geração e gerações posteriores. Apaixonado por Ana ele decide ir nessa aventura pelo país buscando essa inspiração, e numa dessas paradas ele encontra um compositor de blues dos anos 50 que esta disposto a ajudá-lo a compor a canção perfeita.
IdiomaPortuguês
Data de lançamento24 de jan. de 2020
Em Busca Da Canção Perfeita

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    Em Busca Da Canção Perfeita - Naedson Gomes

    Em busca da canção perfeita

    Os Anos 80 estão de volta

    Naedson Gomes

    1. Ana, apenas Ana.

    Existe momentos nas vidas das pessoas que elas devem buscar coragem para encontrar o seu destino.  E não há como fazer isso sem arriscar a jogar tudo pra cima e cair de cabeça nas pequenas oportunidades que a vida lhe da.

    6h toca o despertador do celular com a música Dire Straits - So Far Away, ela se levanta olha a janela e pensa o dia está perfeito, ensolarado. Bela manhã de uma primavera na cidade da vitória e da conquista. Para Ana, cada dia de sol é uma benção pois ela pode fazer todas as atividades que ama. Senta-se então na cama, faz a sua oração matinal, se levanta novamente. Ela adora dormir com a camisa do pai. Desde que ele morreu, aquela camisa cinza e larga com o símbolo da banda Metallica  é a predileta dela.

    Sai do quarto e vai direto no corredor para o banheiro. Franklin está saindo. Secando os cabelos grisalhos... homem meia idade, barriga de chop, com o tórax meio peludo, ainda com espuma de barbear no rosto. Franklin é seu padrasto.

    — Bom dia Frank —  Disse Ana coçando os cabelos bagunçados, ainda enquanto sonolenta, bocejava.

    — Bom dia, Ana. Hoje é seu dia, né?  —  Perguntou o seu padrasto com um sorriso animador.

    —  Pois é

    Antes de Ana entrar no banheiro, uma das suas irmãs corre e entra na frente.

    —  Qual é Judith? Todo dia a mesma coisa.

    Ana era a filha do meio numa família de cinco irmãos. Ela só convivia com quatro deles, pois a mais velha havia se casado. Era o sonho da mãe dela ter as filhas bem casadas. Por isso incentivou Dana a mais velha a se casar aos dezoito anos com um moço dez anos mais velho do que ela.  Judith era a próxima na lista. Assim que sua irmã sai do banheiro, ela adentra. Liga o chuveiro e começa a cantar Linger dos Cranberries. Apesar de ser empolgante cantar em baixo do chuveiro, Ana apenas estava a ensaiar, pois naquela noite ela cantaria no festival de música da cidade. Um último evento antes dela e da família se mudar pra uma cidadezinha com um pouco mais de cem mil habitantes. Apenas Judith e Dana ficariam, já que ambas estavam respectivamente na faculdade e casada. Ana não estava muito animada com a ideia de deixar amigos e o seu primeiro amor pra trás. Um romance complicado que se perdeu nos últimos meses.

    Após o banho ela sai apenas de toalha, uma tampando o corpo e outra nos cabelos molhados. O  banheiro ficava apenas alguns passos do quarto dela.

    Ao voltar, ela se senta na lateral da cama enquanto se olha no espelho do guarda roupa. Seca e penteia seus longos cabelos castanhos que não era nem tão claros e nem tão escuros como preto e que dependendo da claridade tinha um toque avermelhado que desciam pelos seus ombros cujas pontas eram onduladas. Ana dava um toque a mais colocando parte dos seus cabelos para trás da orelha, afim de mostrar o seu o seu trio de brincos prata de segundo furo. Ela passava hidratante no seu corpo, que tinha uma pele que se bronzeava facilmente por ser clara o que combinava impecavelmente com seus lindos olhos escuros. Mas eram lindos não pela cor castanha e sim pelo intenso brilho deles, um brilho ardente e hipnotizante. Que vibravam após serem fomentados com uma esfumada sombra preta no côncavo, suave, nada muito exagerado. Ela gostava da cor natural dos seus lábios então evitava batons chamativos. Seu corpo tinha um toque ampulhetado, ou seja, a linha dos seus ombros descia retamente aos quadris. Qualquer roupa caía bem nela. Logo, a sua cintura era bem acentuada. Ela gostava de camisas com tonalidades carregadas para combinar com a sua pulseira de couro com spikes e tachas que alimentava o seu visual dark. Pra não ficar com a aparência muito sombria, ela usava calça jeans claras, sem cinto e com a cintura alta. Ana gostava de dobrar a bainha afim de mostrar os tornozelos por cima do seu all star preto. Sim, ela era uma roqueira clássica. Amante de Jon Bon Jovi, Gun’s n roses,  Simone Simons e James Hetfield.  Seu violão carregava o nome do eterno Bono.

    Ana acreditava ter nascido na época errada. Às vezes escrevia em seu diário que nasceu cedo demais por não poder fazer as coisas que ela desejava fazer, outrora dizia que nascera tarde demais pois não curtiu a melhor década da história do rock’n’roll. Ela costumava comparar seu estilo de vida com as das mulheres dos anos 80. Mas pecava por não ter a liberdade que ela sonhava. Coisa que ela não teria antes e muito menos agora. Muitos conceitos passado pelas gerações dos Rebouças a prendia. Uma garota de família. Era o que a mãe costumava falar para os parentes e amigos.

    Assim que terminou de se arrumar passou a sua suave colônia de lavanda, e guardou tanto o frasco do perfume quanto o seu secador de cabelo nas malas ao lado da cama. Era sexta-feira. Para Ana, um dia muito especial. Ela foi uma das finalistas no festival É por isso que eu canto. Era também o seu último dia de aula do segundo ano.

    Às dez para as sete, ela sai de casa e se encontra com a sua melhor amiga, Larissa. Na esquina da praça da Rafael Spinola com a via principal que dava acesso ao colégio. Ana e Larissa cresceram juntas, dividiam todos os segredos. Larissa era uma pessoa séria, desconfiada, ela não compartilhava o mesmo estilo de Ana. Tinha uma pele branca, um rosto bastante comum e uma voz um pouco forte. Larissa possuía um dom natural para intimidar as pessoas, apenas em olhar para elas. Ela pouco fazia! Apenas observava as circunstâncias com as mãos nos bolsos do seus tradicional e chique sobretudo jeans. Ninguém sabia o que ela realmente estava pensando. Misteriosa e emburrada, era o que o ex namorado de Ana dizia sobre ela.

    Lara foi chorando até o colégio abraçada com Ana.

    —  Aí Lara, eu não vou morrer.  —  Dizia Ana pra sua amiga.

    —  Por que você não fica com as suas irmãs?  —  Perguntava Larissa essa arenga que foi repetida dezenas de vezes durante aquela semana.

    —  Eu não sei. — Ana disse — Não tenho mais motivos pra ficar aqui. Preciso de novos ares.

    —  Mas e eu? não sou um motivo? E ele?

    — Faz muito tempo que o vi. — Ana suspirou e olhou para o lado desviando do olhar de Larissa. — Talvez seja melhor pra nós dois.

    Os professores a desejava boa sorte, tanto no festival como na vida em outra cidade. Ela não precisava de sorte. Ela era talentosa e carismática e enquanto se mudar, talvez a mudança fosse uma espécie de recomeço, assim pensava ela. Muita rasgação de seda, suas amigas choravam. Ela era muito querida naquele colégio.

    Enfim, tocou o sinal e ela se direcionou para a saída com um grupo de amigos, que não desgrudaram dela a manhã inteira. No portão da saída, enquanto ela conversava com alguns amigos, uma pessoa que fazia tempo que ela tinha visto estava virado de costas para ela. Ele estava distraído. O nome dele era Théo. Tinha 17 anos, um pouco mais alto que Ana, rosto arredondado, um furinho no queixo que ela adorava. Ele usava óculos o que dava a ele um tom de inteligente. Mas não era apenas sua aparência. Realmente ele era muito inteligente. Certa vez Ana comentou com ele Será que se eu usasse seu óculos eu seria tão inteligente quanto você? Isto foi numa época em que eles eram um casal quase perfeito.

    Théo já estava na faculdade, ele sonhava em ser escritor. Além de ser o primeiro amor de Ana. No ano passado, eles compartilharam uma linda história. Théo era um cara promíscuo, dono da razão e um líder de uma gangue. Sempre se metia em problemas. No entanto, depois que a conheceu, ele mudou.  Théo começou a se transformar numa outra pessoa. Alguém melhor. Ele encontrou em Ana o que faltava nele, que era a paz de espírito, e Ana encontrou em Théo a possibilidade de ensinar e transmitir os seus traços intangíveis como bondade, honestidade, generosidade, integridade e empatia. Ele não tinha medo de falar o que pensava, ele era direto. Mas um pouco imaturo. Ela foi responsável pelo crescimento mental dele e ele foi responsável por mostrar a Ana um mundo diferente, um mundo que não importa quem você fosse, você sempre poderá superar obstáculos.

    E naquele dia tudo isso se tornou uma grande ironia do destino. Pois havia muito tempo que eles não se viam e exatamente no último dia de aula dela, ele apareceu. Ana, como uma garota de atitude que ela era, saiu do meio do grupo e foi falar com ele.

    — Oi Théo.  —  Disse ela num tom de voz mais ameno do que ela costumava falar, abraçada com seu fichário da banda Kiss.

    — Oi Ana!  —  Ele respondeu ao se virar e ver que era ela. Dava pra ver nos olhos dele que ele estava feliz por vê-la.

    Ambos se abraçaram.

    —  O que aconteceu? — Perguntou Ana — Eu nunca mais te vi.

    —  Ah! É que estou estudando muito, apesar desse primeiro ano estar bem fácil. — Ele disse com um discreto sorriso.

    — Sem humildade nenhuma, né Théo? — Ela disse Odeio física, tantas contas. Fico louca!

    — É, muita gente reclama mesmo. — Disse Théo coçando a cabeça. —  E aí o que você manda?  — Ele perguntou, buscando um tom de naturalidade

    —  Eu vou me mudar. Hoje é meu último dia na cidade.  — Após ela dizer isso, percebeu que o semblante de Théo havia mudado. Ela percebeu que ele ficou triste. Théo seria o único que poderia fazer ela mudar de ideia e ficar com as irmãs.

    —  Pra onde você vai?  —  Perguntou Théo.

    —  Norte de Minas  —  Respondeu Ana.

    —  Caralho, por que tão longe?

    — Coisa do pessoal lá de casa. Mas as minhas irmãs vão ficar. — Ana olhou para baixo, um pouco sem graça e disse — Eu poderia ficar com elas, se eu tivesse um motivo  — Ela estava esperando uma reação de Théo.

    Mas um silêncio inoportuno se fez após ela dizer isso.

    —  Ei, eu fui finalista no É por isso que eu canto. Você poderia ir lá me ver cantar. — Ana tentava quebrar o gelo.

    —  Opa, legal. Eu vou sim. Primeira fila… estarei lá te apoiando.

    —  Legal!

    Aquela conversa de palavras que não demonstravam sentimentos, foram ditas como se cada um estivesse engasgado. Ana via nos olhos de Théo uma tristeza, talvez por ela ir embora. Mas havia algo mais. Algo que ela não conseguia distinguir. Não era os olhos do Théo que ela conhecia, e Théo viu os olhos vermelhos de Ana que estavam tentando ser fortes para não chorar. No olhar dela também havia um certo grau de tristeza, uma solidão, como se ela não quisesse deixá-lo. Ana esperou ele dizer pra ela ficar. Era o único que poderia mudar a opinião dela acerca da mudança.

    Aparentemente aquilo até passou pelos pensamentos dele. Mas por algum motivo ele não conseguiu pedir pra ela ficar.

    Então o amigo dele, que havia terminado de ficar com uma garota, se direcionou até onde Ana e Théo estavam. Não tinha muito o que conversar mais. Théo foi covarde e não a pediu pra ficar. Então ao se despedirem, eles se abraçaram novamente  e ele a levantou em seus braços. Um abraço forte, demorado… Uma sensação muito boa para ambos. Théo queria chorar, mas não conseguia. Entretanto Ana que estava tentando ser forte, derramou uma lágrima. Ele ainda acreditava a ver antes dela partir. No festival, pelo menos.

    Após isso, ela olhou para Théo nos olhos.  Soube indiretamente que ele  não ia mais a acompanhar até em casa,  sabia intuitivamente que ele não ia a beijar, sabia que tudo o que eles passaram, realmente ficou no passado. Ela percebeu que ele estava diferente, então Ana se virou e disse as palavras que ficariam na mente dele pelos próximos anos:

    —  Adeus, Théo!

    Théo quando a viu virar as costas, um flash de memórias vieram em sua mente. Memórias de tudo que eles passaram.

    — Vamos cara? —  Perguntou o amigo dele ao perceber que Théo estava esquisito. Abalado talvez!

    E assim, Ana se despediu do seu primeiro amor.

    ELA DESCIA EM SILÊNCIO, acompanhada da sua amiga Larissa.

    —  O que houve? —  Perguntou Larissa

    —  O que?

    —  Você está muito quieta. Foi ele não foi?

    —  Sim! Ele não me pediu pra ficar.— Disse Ana — Ele estava estranho, não parecia o mesmo.

    — Amiga, você não está vendo? É uma chance de recomeçar, eu estou triste. Mas estou otimista com a sua mudança. Não deixe um idiota estragar tudo. — Suspirou — Erga a cabeça e dê aquele belo sorriso ensolarado.—  Disse Larissa. Ela sempre soube dizer as palavras certas pra sua amiga. Em qualquer ocasião, independente de ser boa ou ruim ela sempre aplicava a palavra onde fazia mais sentido. Uma grande conselheira. Ana sentiria falta dos conselhos dela.

    Ao chegar em casa ela almoça e vai direto para o seu quarto. Pega seu violão, senta-se sobre o carpete e começa a ensaiar a música que ela cantaria a noite. Ela tocava desde os dez anos de idade, com treze começou dar aulas para crianças. Um prodígio naquele instrumento, mas no festival ela não tocaria. Apenas usaria a sua voz encantadora e outros músicos fariam a harmonia. Ela só estava dando um efeito legal no ensaio. Ela queria a perfeição.

    —  Droga! Ainda não está bom  —  Dizia para ela mesma, enquanto ensaiava.

    De repente ela pára,  e começa a entoar uma melodia. Era a única que ela não conseguia tocar no violão. Ana já havia tentado várias vezes, mas a música só se passava em sua mente. Era uma sinfonia sem letras. Ela fechava os olhos e se imaginava no alto de um monte, olhando para o mar, sentindo a brisa do vento em seu rosto, enquanto vislumbrava o pôr do sol. Essa música a qual ela não conseguia reproduzir no instrumento ganhava vida quando ela fechava os olhos e ia para aquele lugar, seu cantinho da paz.

    O fim da tarde chegou. Ela se vestiu diferente da maneira que costumava vestir, pois um dos organizadores do evento havia dito que os jurados considerava também a forma de se vestir.  Uma forma de persuadir o público. Ana queria muito ganhar aquele concurso, então ouviu o conselho do organizador. Procurou entre as roupas de Judith, algo mais conservador e, encontrou um vestido tomara que caia branco, de renda na borda das saias que iam até a linha dos joelhos. Calçou um salto, um que ela tinha apenas para algumas raras ocasiões.

    Ao chegar na praça da cidade, o movimento típico da época natalina alimentava o comércio. Os quais os donos não poupavam esforços para enfeitar suas lojas. Um palco foi feito no meio da praça, em que havia cadeiras abaixo do pequeno espaço coberto. Cadeiras que não foram suficientes para o público, o local estava lotado. Haviam seis finalistas.

    —  Ainda bem que você chegou. Você será a terceira —  Dizia Evandro, diretor do conservatório que Ana estudava e trabalhava. —  Afinal você está linda,  esse vestido caiu bem em você.

    —  Você já viu como Dolores O’Riordan se vestia? — Perguntou Ana

    —  Quem?

    — A vocalista da banda que compôs a música que eu vou cantar. — Disse ela revirando os olhos.

    — Olha, pessoas como aquelas roqueiras clássicas não impressionam o público. Você precisa estar apresentável para encantá-los, tá entendendo?  Não é só sua voz que está valendo aqui, tá entendendo? — Dizia o sujeito corpulento e grotesco.

    O apresentador abriu o festival. Agradeceu os patrocinadores e a prefeitura da cidade, em seguida chamou o primeiro participante. Tiago Melo, um jovem de aproximadamente dezessete anos, cantando uma música bastante conhecida, nacional.  Enquanto ele cantava, Ana procurava no público por Théo. Ele não estava lá.

    — Lara, você viu Théo por aí? — Foi a primeira coisa que ela perguntou ao ver sua amiga, que estava lá apenas para a ver cantar.

    — Não, não vi. — Respondeu Larissa balançando a cabeça. — Nossa, esse cara canta muito bem. Foda que a música dele é ruim.

    Ana não estava prestando atenção no seu adversário, ela mantinha a esperança de ver Théo pela última vez.  A segunda participante sobe no palco, cantava muito bem também.

    — Ai que coisa mais estúpida, eu vim quase do mesmo jeito que ela. — Disse Ana observando o visual da concorrente.

    — Vamos, vamos, vamos… Você é a próxima. — Disse Evandro a puxando pelo braço.

    Ela ficou na lateral do palco. Ana não estava se sentindo bem naquele vestido, era quase o mesmo da outra participante. Como se a formalidade do vestido fosse pré requisito para as notas dos jurados.

    — Sabe de uma, que se foda! — Disse ela, tirando os saltos.

    — O que você está fazendo? Ficou maluca? — Disse Evandro ao ver ela tirando o calçado. Ele tentou forçar ela a colocá-los de novo. Ela o empurrou. E no pequeno intervalo entre a concorrente e ela, o apresentador a chamou.  Ana subiu descalça no palco e começou a cantar. Diferente dos olhos do diretor, os juízes não se atentaram muito ao que ela estava vestindo. Eles ficaram encantados com a voz dela, que tinha uma grande técnica vocal e uma boa extensão, variando entre os tons soprano e mezzo soprano, ostentando transições hábeis de oitava para oitava no espaço de uma palavra. A música que ela havia escolhido se encaixou bem sua voz, apesar de linger ser cantada por uma cantora de voz mais grave.  Enquanto ela cantava, os olhos dela percorriam o público a fim de encontrar Théo. Mas ele não foi. O público aplaudiu de pé quando ela terminou.

    — Você ficou louca? Por que você fez isso? — Perguntava Evandro.

    — Vai se foder, cara. — Uma coisa que ela deveria ter dito a muito tempo para ele.

    — Você foi muito bem, parabéns. — Disse a diretora do conservatório concorrente.

    — Obrigada. — Respondeu ela com um sorriso no rosto. Um sorriso incompleto, logo, ela iria embora e Théo não foi lá pra vê-la.

    — Oi, me chamo Silvan. Sou DJ e produtor. Você poderia entrar em contato comigo? Poderíamos trabalhar em algo. — Disse um jovem estranho, que lhe abordou após a sua apresentação. Ele lhe entregou um cartão. Ela não prestou muita atenção no momento. Apenas sorriu e caminhou entre as pessoas que lhe parabenizaram.

    As apresentações acabaram. Era hora decisiva. O apresentador começou a anunciar em ordem decrescente a classificação do terceiro para o primeiro lugar. O terceiro ficou com o Tiago, o que cantou primeiro. Já o segundo ficou com Andressa Dayane de uma outra cidade. Naquele momento Ana ficou muito nervosa. Fazendo muito suspense e após uma mensagem dos patrocinadores, o apresentador disse o nome da primeira colocada. Ana Rebouças. Ela pulou de felicidade. Pegou seu prêmio, agradeceu, e foi em direção as irmãs e a Larissa. Abraçando-as então.

    — Eu sabia, você foi a melhor. — Disse Judith, sua irmã.

    Mas o momento feliz durou pouco. Ela olhou pra Lara e percebeu que ela estava contente e triste ao mesmo tempo. Poxa, sua melhor amiga ia embora. Elas foram para um canto mais afastado do público e começaram a se despedir. Ambas choravam.

    — Promete que vai me ligar todos os dias? — Perguntou Larissa.

    — Sim, prometo. E você me promete que vai se socializar?

    — Você sabe que isso é mais difícil, né?  — Respondeu Larissa em meio a sorrisos e lágrimas.

    Após se despedirem, o marido da irmã mais velha dela a levou em casa. Onde teve mais um momento de despedida. Logo, ela disse adeus as suas duas irmãs. Fernando o do meio entre os três irmãos mais novos, falou que não ia. Ele foi audacioso, e já tinha combinado com Dana que ele ficaria com ela. Foi uma decisão repentina. O que machucou mais ainda, Ana, pois ela era muito apegada a ele. Enfim, acabaram as despedidas. Ela pegou a sua mala e junto com a sua mãe, seu padrasto e seu irmão menor se dirigiram para rodoviária.

    Era noite, mas os terminais de ônibus estavam bastante movimentados, dezenas de pessoas entravam e saíam dos ônibus que partiam para todas as cidades. Ela chegou em cima da hora, pois o ônibus que ela pegaria já estava lá aguardando apenas três passageiros para partir. Eles guardaram as malas no bagageiro do ônibus e correram para dar a passagem que compraram antecipadamente ao cobrador que estava recolhendo -as.

    Ana gostava de se sentar na janela, mas o número da poltrona a qual ela foi mandada, não era próximo. Então gentilmente ela pediu para a senhora que ao lado dela estava, para trocarem de lugar. Uma senhora simpática com o vestido irritantemente rosa com estampas de flores, que viajava sozinha, ela não demonstrou resistência e trocou de lugar com a jovem. O que Ana não sabia é que essa interação inicial se estenderia pelo longo percurso que ela iria fazer.

    O ônibus partiu, aos poucos ela ia deixando a cidade a qual nasceu. Olhava pela janela e via como era bela a cidade iluminada a noite. Uma pequena garoa começou e através dos pingos de chuva que caíam na janela do ônibus, ela observava a placa Você está saindo de Vitória da Conquista. seus olhos lacrimejantes eram refletidos no vidro, ela olhava para a cidade, a via lentamente se distanciando. Enquanto seus pensamentos estavam distantes, a senhora ao lado não parava de conversar.

    AO CHEGAR EM SEU DESTINO ela sentiu a diferença climática. Uma cidade extremamente quente. Eram quase 7h da manhã quando ela colocou os pés naquele município o qual ela só conhecia por nome.  Ela achava que estava preparada, que sabia o que iria vir pela frente, mas houveram alguns detalhes que ela só percebeu ao chegar lá.

    Diferente da casa que ela viveu, aquela parecia um tanto quanto menor. Aparentava ter sido reformada recentemente, mas os móveis que compusera a mobília denunciava o quão velha era aquela residência.

    Ela passou a manhã inteira arrumando as suas coisas.

    A tarde, após o almoço ela decidiu ir conhecer a cidade, explorar o bairro novo. Ela procurava uma praça, uma casa de shows, uma boa lanchonete… No entanto ela havia mudado de uma cidade grande com uma estrutura bem mais desenvolvida, onde ela estava acostumada com um modo de vida a qual tudo era acessível, para uma cidade relativamente pequena e que não era tão desenvolvida assim. Logo, ela não encontrou muitos lugares interessantes.

    Naquela tarde ela entrou num supermercado para comprar um refresco, ela ficou parada em frente ao freezer durante um tempo. Ela não conseguia se decidir entre as opções, ela costumava ficar parada e pensava em todos os argumentos possíveis para a sua escolha. E enquanto estava ali em silêncio, pensativa. Alguém se aproximou dela.

    —  Gostei da sua pulseira. —  Disse uma mulher com cabelos curtos cujas raízes eram pretas e conforme os fios se alongavam o cabelo ganhava um tom laranja, maquiagem pesada, com a pele branca, a qual tinha tatuagens enormes em ambos os braços. Aparentava ter uns vinte e poucos.

    —  Obrigado! —  Respondeu Ana, ainda indecisa.

    —  Qual é o seu estilo? Gótico eu sei que não é.

    —  Clássico.

    —  Ah é. Camisa do Motley Crue, calça dos anos 80.—  Disse a garota — Cara, os anos 80 foram uma loucura, né? As mulheres eram impulsivas. Aquilo tudo de Diga não às drogas.  Além claro das melhores bandas... 14 bis, blitz, Frejat, Cazuza, Legião Urbana…

    —  Sim, é verdade. — Suspirou Ana, ainda olhando para a fileira dos refrescos. — Mas eu prefiro mesmo os internacionais. Tipo Whitesnake, Airsuply, Bon Jovi, Gun’s, Épica… entre outras incríveis bandas.

    —  Maneiro! Você não é daqui, né? — Perguntou a garota, cruzando os braços e se escorando na geladeira ao lado.

    —  Acabei de me mudar.

    —  Meu nome é Ellie. —  Disse a garota estendendo a mão pra cumprimentar Ana.

    —  Ana! —  Disse ela ao pegar o suco de maracujá com a mão esquerda. Ela decidiu não levar nenhum dos que ela tinha em mente. E com a outra mão cumprimentou a garota.

    —  Ana, o que? — Perguntou

    —  Não entendi.

    —  Tipo: Ana Flávia, Ana Carolina…

    —  Ah! Sim — Disse Ana sorrindo discretamente.— Ana. Apenas Ana.

    —  Olha Ana, eu toco numa banda que vai se apresentar no Vence,  que tal você ir lá hoje?

    —  Massa!— Ela disse — O que você toca? —  Perguntou Ana. —E onde é que fica isso?

    —  Guitarra! — Respondeu — Fica em frente a praça da lagoa. Com um letreiro de neon enorme. Todos da cidade conhece, é só perguntar se tiver dúvida.

    — Parece legal, mas… — Disse Ana olhando pra baixo

    — mas o que?

    — É complicado… — Suspirou enquanto andava até o caixa.

    —  O que é complicado? — Perguntou a garota, seguindo Ana.

    — É que eu não te conheço direito e eu tenho certeza que minha mãe não vai deixar.

    — Puff! E desde quando precisamos conhecer bem uma pessoa pra aceitar ouvir um bom e velho rock? — Perguntou Ellie — E esse negócio de tua mãe aí parece caô. Você já tem o que? 16, 17? Não é mais criança.

    — É sério! Tá vendo como você não me conhece. — Disse Ana suspirando enquanto revirava os olhos.

    — Tá, tá... então tá! Agora preciso ir. Se você for, te espero as nove. Gostei mesmo dessa sua pulseira.— Disse Ellie se virando e saindo.

    Era uma boa oportunidade para Ana fazer novos amigos, conhecer mais a cidade. Entretanto, ela sabia que  a velha não deixaria ela sair a noite sozinha. Além de não conhecer ninguém, ela era recém chegada numa cidade estranha.

    — Por onde você estava?  — Perguntou a mãe de Ana, ao vê-la chegar em casa.

    — Eu tava conhecendo o bairro.

    — Fez algum amigo, Ana?  — Perguntava Franklin enquanto desempacotava algumas coisas que havia acabado de chegar do frete.

    — Sim, eu conheci uma garota no supermercado. — Respondeu — Ela me convidou pra ir num show de rock, no qual ela vai tocar. — Dizia Ana se escorando na mesa da sala de jantar. —Aí eu queria saber, se, se…

    — É lógico que não.  — Disse a mãe dela, antes de Ana terminar a frase. — Até aqui tem esse tipinho diabólico, é? — Suspirou — Jesus! O mundo esta perdido.

    — Poxa mãe, eu preciso fazer novos amigos. — Disse Ana aumentando o tom de voz.

    — Ela tem razão Lúcia. — Disse Franklin. Frank, como Ana o costumava chamar, era menos rigoroso do que a mãe dela. Foi por esse motivo que Ana o recebeu tão bem após o casamento.

    — Amor, ela acaba de chegar numa cidade desconhecida e uma garota fuleira que provavelmente nem família tem, a chama pra sair.  Eu não acho isso apropriado.

    — Mãe, a senhora tem que parar de julgar as pessoas que a senhora nem conhece. — Disse Ana retirando algumas coisas da caixa ao lado de Franklin.

    — Ana, eu sou mais velha que você. E a vida me ensinou que esse tipo de amiga que você arrumou é uma má influência. Já quer ficar mal falada na cidade?

    Ana ficou em silêncio enquanto ajudava o Frank a desempacotar as coisas.

    A noite chegou, enquanto todos se reuniam na sala para assistir televisão, ela ficava em seu quarto sentada no carpete tocando as músicas que ela mais amava no seu violão. Ela adorava fazer improvisos também, principalmente nas canções que tinham solo de guitarra. E fazia do seu próprio jeito.  Entretanto a casa diferente da anterior, era pequena. O som ecoava pelos outros cômodos, o que atrapalhava a sua mãe que estava vidrada em frente ao televisor assistindo algum programa sem graça que passava nas noites de sábado.

    — Ana, toca mais baixo. — Dizia a mãe dela.

    No entanto, era quase impossível ela fazer o seu improviso mais baixo do que ela estava tocando. Ela assoprou de raiva, escorou seu violão na parede, e telefonou pra Larissa. Se deitou e passou horas conversando.  Ana contou como era a cidade e que conheceu uma pessoa, que aparentava ser legal. Larissa brincava com ela, dizendo pra Ana nem pensar em trocar de melhor amiga.

    Após o telefonema, ela pegou seu mp3, colocou os fones de ouvido e continuou deitada na cama. Ela adorava escutar música antes de dormir.  Seus pensamentos iam para outra dimensão, fazendo ela refletir sobre tudo. A música pra Ana não era apenas entretenimento, era uma maneira de ela se acalmar e relaxar, além de fazer ela pensar no amor que ela deixou para trás, ao mesmo tempo que a deixava motivada para seguir em frente.  Era na dimensão musical, que ela se sentia livre, que ela podia ser quem ela quisesse, fazer o que ela mais desejava.  A música pra ela era o melhor remédio.  Até que o sono vinha e aos poucos ela adormece.

    Na manhã seguinte, ela já sente a diferença. Ao olhar para o lado após acordar, o quarto ainda estava escuro. Ela que gostava de sempre olhar a janela pra ver como o dia amanheceu, foi frustrada por que naquele quarto não havia alguma.  Ela caminha até o banheiro e ele estava livre. Poderia ser um aspecto positivo, mas isso fazia ela se recordar da sua irmã, que esperava só ela acordar, pra entrar no banheiro antes dela. Toma seu banho, escova os dentes e retorna para o quarto. Troca de roupa e caminha até a cozinha, faz o seu próprio sanduíche e pensa:

    O que eu vou fazer hoje?

    Não havia nada. Ela costumava passar o domingo na casa de Larissa. Os pais de Lara, viajavam a trabalho todo domingo e deixava a casa inteira sozinha pra elas tomarem conta. Elas aprontavam bastante. Ana não gostava de assistir TV, o que ela poderia fazer? Ao invés de mergulhar no tédio, após o almoço ela resolveu andar mais uma vez pelo bairro.  Ana foi procurar aquele clube que a garota no dia anterior havia mencionado. Foi até a praça da lagoa e procurou o letreiro de neon. De longe ela avistou, era com certeza um espaço para apresentações de rock.  Ana gostou do estilo do lugar. Estava fechado, mas era pintado de um cor preta acinzentada, com o letreiro como Ellie havia mencionado e com o símbolo dos rolling stones ao lado. O espaço era grande para ser apenas um bar.  Na porta, havia uma espécie de catálogo das bandas que iam tocar, preso na parede, com a foto dos músicos estampada ao lado dos nomes. Ela viu a garota que ela conheceu na banda que se apresentou no dia anterior.  Sarnentos, era o nome da banda. Ela se sentou na praça em frente ao bar e ficou lá pensando.

    — Ei Ana, apenas Ana.  — Dizia alguém a chamando. Quando ela olhou, era Ellie.

    —  Oiie.  — Respondeu aliviada por encontrar alguém pra distrair ela.

    — Que que cê faz ai?

    — Só tô passando o tempo. — Disse Ana. — Estou tão

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