Catarina e a Bruxa do Pântano (Livro 2)
De Paulo Mateus
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Catarina e a Bruxa do Pântano (Livro 2) - Paulo Mateus
Catarina e a Bruxa do Pântano
Paulo Mateus
Pouso Alegre – MG
2021
Sinopse
Uma estranha boneca de lã aparece na casa de Catarina pedindo pela sua ajuda, e criaturas monstruosas feitas de lama a perseguem. Ela não tem outra escolha a não ser fugir de casa, a até mesmo do seu mundo.
Palavras do Autor
Este livro é uma obra independente, portanto alguns erros podem estar presentes no texto, mas nada que atrapalhe a sua leitura ou a sua compreensão da história.
Capítulo 1
Fazia bastante frio e o quarto inteiro estava congelando, mesmo com três cobertas os pés de Catarina se recusavam a esquentar. Lá fora o vento assobiava forte agitando as poucas árvores da rua vazia, em algumas casas ainda se viam lâmpadas acessas, mas a grande maioria estava no completo escuro. Todos estavam dormindo.
Mas foi quando ela já estava quase pegando no sono que alguma coisa despertou a atenção de seus ouvidos, era o som de alguma coisa quebrando, um copo talvez. Imediatamente seus olhos se abriram e fitaram o teto escuro do quarto. Pensou que talvez um de seus avós tivesse ido até a cozinha à noite para beber água e sem querer quebrou um copo, mas segundos depois ouviu outro som de vidro se quebrando.
Desta vez ela se levantou e calçou os sapatos apressadamente sem se importar com as meias, precisava verificar que barulhos eram esses e precisava tomar cuidado caso pisasse em alguma coisa. Abriu aporta e acendeu as luzes do corredor, caminhou devagar até a velha escada e desceu para o andar de baixo, antes de pisar no último degrau mais uma vez o barulho se repetiu. Som de vidro se quebrando em centenas de pedaços e se espalhando em todas as direções.
— Tem alguém aí? — perguntou Catarina quase sussurrando.
Imediatamente ela ouviu um chiado, um som esquisito como o de alguém fazendo muita força para assoprar, mas quando ela entrou na cozinha suas dúvidas e medos foram respondidos com mais perguntas e dúvidas. A figura que avistou na cozinha a deixou estacada no lugar, era algo difícil de descrever e acreditar, por isso ela apenas ficou olhando, imóvel.
— Desculpe pela bagunça, é que é meio difícil segurar certas coisas com essas minhas mãos de lã — disse encarando Catarina de volta.
— O que... O que diabos é você?
O chão da cozinha estava coberto por cacos de vidro e manchas de café, a garrafa térmica estava jogada em cima da mesa, vazia.
— Meu nome é Júlita, é um prazer conhecê-la — disse ela estendendo a mão.
Catarina retribuiu o cumprimento com receio, seus olhos analisavam aquela figura de cima à baixo tentando entender o que era aquilo. Era colorida, macia, muito bonita, e aparentemente amigável.
— E você é feita de...
— Lã, tudo em mim é feito de lã, sei que está achando curioso — um grande sorriso se desenhou em seus lábios de lã rosa seguido por uma breve gargalhada —, já estou acostumada com essa reação, não é todo dia que se vê alguém assim tão diferente.
— Realmente, você é bem esquisita.
A figura na frente de Catarina era basicamente uma boneca de lã colorida, com cabelos longos e vermelhos que caíam até a cintura, uma blusa azul com alguns detalhes em preto e uma saia amarela que se estendia até os joelhos. A pele
era um grande emaranhado de fios brancos que se entrelaçavam, um par de botões pretos eram seus olhos e fios de lã vermelha se entrelaçavam para formar as sobrancelhas e o nariz.
— O café de vocês é excelente — disse ela esvaziando o copo que segurava e em seguida deixando-o em cima da mesa.
— Espero que meus avós não tenham acordado com essa barulheira toda que você fez.
— Se tivessem já estariam aqui, mas felizmente não estão, o que nos dá tempo para conversar.
— E sobre o que você quer conversar?
— Sobre os motivos pelos quais vim aqui buscar você.
***
Catarina e Júlita se sentaram na mesa da cozinha, ela não conseguia tirar os olhos daquela boneca de lã diante dela, algo nela a hipnotizava e Catarina dizia a si mesma que aquilo não podia ser real. Mas ela sabia que era.
— Meu povo foi escravizado por uma bruxa terrível, ela destruiu toda a vida e beleza do Reino de Lã, precisamos de alguém para nos ajudar a acabar com ela. O rei e a rainha foram expulsos do reino, estão desesperados tentando pedir ajuda para todos que encontram, mas ninguém parece muito disposto a ajudá-los. E os poucos que aceitaram... Não terminaram muito bem. Por isso por ordem deles vim aqui pedir para que nos ajude.
Catarina a fitou com um misto de susto e curiosidade, ao mesmo tempo em que memórias antigas voltavam em sua mente.
— Olha, eu entendo a situação complicada de vocês, mas não estou disposta a arriscar a minha vida. Nem mesmo saberia como ou teria meios de fazer uma coisa dessas.
— Mas você destruiu a bruxa Anabela e conseguiu escapar das garras da Colecionadora.
— Como você sabe disso? — indagou franzindo a testa.
Em sua mente as coisas malucas que tinham acontecido em sua infância eram uma fantasia distante, mas que estavam longe de serem um sonho, e o fato de estar olhando para aquela boneca de lã só comprovava isso ainda mais.
— Suas aventuras ficaram famosas, as histórias sobre você se espalharam por todo canto. Humanos naturalmente se destacam e despertam atenção, mas você se tornou quase uma lenda.
— Isso foi há muito tempo, nem sabia direito o que estava fazendo ou acontecendo — disse Catarina passando a mão na nuca e revendo as lembranças ainda vívidas. — Se sobrevivi foi por pura sorte, é difícil acreditar que tudo aquilo foi real, é difícil acreditar que você é real.
Catarina fitou a boneca de lã que a encarava de volta com seus olhos de botões, os fios de lã vermelha que formavam seu cabelo eram incrivelmente longos e lindos.
— Digo o mesmo sobre você e o seu mundo de humanos — disse Júlita desviando o olhar para além da janela da cozinha e fitando a escuridão lá fora. — Nosso reino é muito rico, caso tenha sucesso tenho certeza de que será muito bem recompensada.
— Não estou interessada em riquezas.
— Você teria o suficiente para viver uma vida confortável e sem preocupações.
— Já tenho uma vida confortável e sem preocupações.
— Tem certeza? — indagou a boneca curvando as sobrancelhas. — Seus pais morreram em um grave acidente não faz muito tempo, você tem dezessete anos e mora com os avós, em pouco tempo vai estar indo para o que vocês chamam de... faculdade. E depois vai viver a vida chata e previsível de um humano adulto. Não me parece nada confortável.
— Você