O Exu Submerso uma Arqueologia da Religião e da Diáspora no Brasil
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O Exu Submerso uma Arqueologia da Religião e da Diáspora no Brasil - Luciana de Castro Nunes Novaes
Ao povo de santo, que com azeite, búzios e folhas encantadas enfeitam suas memórias com realidades míticas, e fomentam ao longo de gerações, novos caminhos, outras diásporas, manipulações mágicas repletas de fogo e água.
Èsù a inón kò, Yemonja kó nta ródò
Yemanjá mergulha rapidamente no rio,
Exu do Fogo, não.
(Cantiga dedicada a Exu)
Agradecimentos
Agradeço primeiramente ao universo mítico e histórico que me embala antes mesmo de nascer. A bolsa de financiamento concedida pela FAPESE entre março de 2011 a março de 2012. Ao Ilê Axé Torrundê Ajagun, ao Babalorixá Dary Mota e a minha família de santo por quase duas décadas de amor e vivência. A Márcia Guimarães pela orientação, pela amizade, carinho e comprometimento no desenvolvimento dessa pesquisa, por valorizar minhas escolhas, minhas posições intelectuais e histórico de vida. Minha imensa gratidão! A Gilson Rambelli pela felicidade de me encontrar em seu mar, o mar de Rambelli
e por fazer da Arqueologia de Ambientes Aquáticos uma realidade na minha trajetória profissional. Agradeço a Paulo Bava de Camargo, Leandro Duran, Hippolyte Brice Sogbossi, Andrès Zarankin, Luis Felipe Santos, Ademir Ribeiro, Karina Miranda, Jeanne Almeida pelos encontros, pelos impulsos, por compartilhar o ar comprimido necessário para minha submersão nesse universo aquático. Respeito é pouco para definir o que sinto; muito obrigada! A minha mãe, Giovanilza de Castro, que nunca me deixou faltar papel e caneta, a maior arqueóloga que conheci, aquela capaz de escavar minha alma somente com o olhar. Eu te amo! A família Fideles pelo amparo, apoio e fomento na minha caminhada. Ao meu companheiro Gustavo Júnior por confeccionar comigo meu tesouro aquático; minha pequena Pérola e por me proporcionar mananciais de amor em meio a pesquisa, a maresia, a Arqueologia.
Prefácio
Este livro fala de muitas coisas.
Fala do mar numa perspectiva da arqueologia da paisagem. Da enseada de Olhos de Meninos, em Salvador, interpretando-a enquanto paisagem sagrada resignificada por grupos afro-brasileiros, a partir da implantação de um assentamento de Exu, divindade africana do panteão iorubano: o mensageiro por natureza; aquele à quem tudo foi contado; o primeiro que come; o responsável pelo movimento, pelas mudanças, pelo comércio e trocas; pela reprodução da vida. Assim, a paisagem sagrada fala também da feira, do porto, dos lugares de movimento intenso e contínuo, mas considerados marginais, desde sempre, pelo poder público que lhe conferiu significado de exclusão, abandono e segregação social. A presença da divindade, contudo, demonstra como as gentes, não somente da Enseada de Olhos dos Meninos, mas de toda a Cidade Baixa de Salvador, agenciaram estes lugares, conferindo à paisagem portuária um lugar de memória diaspórica negra africana.
Fala da religião. Da proposta de uma arqueologia da religião que envolva as crenças, os rituais, as performances, os lugares e os objetos que constituem, juntamente com outros elementos e sentidos, o aparato de uma religião inventada no Brasil, o Candomblé. Se alimentando da adoração aos Orixás de matriz africana negra, esta religião no mundo do Além Mar, sem reinos, tornou-se fator de identidade das populações negras diaspóricas que buscavam se reinventar no contexto transatlântico. É a reinvenção da saudade, como nos fala Alberto da Costa e Silva, a partir da adoração aos deuses e deusas iorubás.
Fala do fazer arqueológico, tanto dos distanciamentos e aproximações necessários, como do ir a campo
numa perspectiva pós-positivista, que na Arqueologia cunhou-se de pós-processualismo. Esta abordagem possibilitou um rearranjo do espaço, do tempo e da materialidade da pesquisa: o sítio arqueológico que se expandiu até fazer sentido; o tempo que encurtou para abarcar o contemporâneo, o ontem recente; a cultura material vista na sua totalidade, o tangível e o intangível que caminham juntos, como gosta de reforçar a autora.
Fala da diáspora africana, dialogando com Barth e Gilroy sobre os Atlânticos Negros (Sul e Norte), mas também com Verger, Mattos, Parés e Pierson, entre outros, sobre o Atlântico Baiano. Constrói assim, uma polifonia que permite refletir sobre a estrada construída pelos afro-brasileiros no seu processo de reafirmação de identidade no cenário diaspórico, excludente e marginal. Assim, o oceano Atlântico tornou-se uma estrada que unia o que se pensava separado. Os objetos vindos da África, vendidos e trocados na feira de São Joaquim, na região portuária de Salvador, de uso nos rituais e, portanto, sagrados, mais do que possibilitarem o exercício religioso, foram instrumentos de poder, de resistência, de construção e de reafirmação da identidade diaspórica soteropolitana.
Fala enfim da autora. A historiadora, que virou pesquisadora de estudos étnicos e africanos, que virou arqueóloga. E nessas viradas
se deu conta da plenitude dos seus caminhos, abertos por Exu, com a proteção de Iemanjá. E somente uma estudiosa com tal experiência poderia navegar por mares tão turbulentos.
Luciana se encontrou com Exu na encruzilhada, na interface entre a terra e o mar, neste lugar onde lhe foi permitido trazer à tona o sagrado invisível. Assim, é ela também mensageira dos invisíveis sociais: deuses e deusas, homens e mulheres que se assentaram na Cidade Baixa de Salvador e que lutam contra a intolerância, a iconoclastia e o racismo, infelizmente atuante até mesmo nos espaços ditos ecumênicos (o triste exemplo do centro ecumênico da olimpíada no Rio de Janeiro).
Assim, esse mar que Luciana escolheu é de Exu e de Iemanjá. É dos vendedores, feirantes, portuários e comerciantes da Enseada de Água dos Meninos. É do povo do santo. Esse, enfim, é o mar de Luciana.
O povo da arqueologia lhe saúda e convida todos a embarcarem nesta inebriante jornada.
Profª Drª Márcia Barbosa da Costa Guimarães
Professora Adjunta do Departamento de Arqueologia da Universidade Federal de Sergipe
Laranjeiras, 25 de agosto de 2016.
Apresentação
O presente estudo compreende arqueologicamente a Enseada de Água de Meninos (Salvador/Bahia) como uma paisagem sagrada, composta por camadas de significados materiais e intangíveis, devido à presença submersa de uma estrutura de ferro atribuída a Exu. A presença intencional da estrutura religiosa ao fundo da Enseada configura esse espaço como um sítio histórico, permitindo pensar sobre os processos de apropriação religiosa da paisagem, de manipulação da materialidade e da construção de realidades diaspóricas no Novo Mundo.
Exu possui poderes míticos relacionados ao comércio e à comunicação, cultuado atualmente na extensão do Golfo do Benin e no interior das religiões afro-brasileiras, é considerado o protetor das feiras e dos mercados, como também patrono da circulação de bens e saberes. Por sua vez, a estrutura religiosa, foi registrada próxima ao Ferry Boat.
O espaço do Ferry Boat está situado entre a região histórica da presença de sucessivas feiras, entre o século XIX e XX e o Porto marítimo de Salvador, em funcionamento desde o século XVI, em Água de Meninos. Para tanto, a Arqueologia da Religião é entendida como o campo teórico-metodológico a ser utilizado na problematização da cultura material afro-religiosa e da paisagem da Enseada, permitindo que os aspectos rituais, religiosos e sagrados das populações afrodescendentes na Bahia ganhem sentido e significado arqueológico.
Sumário
Introdução
Tecendo as poeiras sagradas do tempo 19
Capítulo 1
A Arqueologia da Religião: uma discussão teórica 25
1.1 Entre o secular e o sagrado: perspectivas e
estudos de caso 25
1.2 Por uma discussão epistemológica do ritual
e da religião 40
1.3 Homus religious e a Arqueologia 47
Capítulo 2
O fazer arqueológico na Enseada de Água de Meninos 51
2.1 Do relatório à enseada: limites e redefinições 51
2.2 Imagens, discursos e documentos: para além
da materialidade 58
Capítulo 3
A Enseada de Água de Meninos 65
3.1 A Enseada encena no areal 65
3.2 Realidades diaspóricas na Cidade Baixa de Salvador 72
3.3 Circulação e comércio na Enseada: uma trajetória das feiras livres em Salvador 78
Capítulo 4
O visível e