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No ritmo do texto: Questões contemporâneas de edição, preparação e revisão textual
No ritmo do texto: Questões contemporâneas de edição, preparação e revisão textual
No ritmo do texto: Questões contemporâneas de edição, preparação e revisão textual
E-book188 páginas5 horas

No ritmo do texto: Questões contemporâneas de edição, preparação e revisão textual

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Sobre este e-book

Traduzido, literário, resumido, sob as injunções das prescrições…Enfim, nesta obra, diferentes abordagens sobre a revisão de textos são trazidas para discussão. Os textos aqui reunidos reiteram a natureza discursiva que caracteriza a ação do revisor, demonstrando que as intervenções no texto alheio sempre geram/provocam efeitos de sentido. Esperamos assim, contribuir, de modo significativo, para o debate atual e necessário sobre a atividade de revisão de textos.
IdiomaPortuguês
EditoraArtigo A
Data de lançamento17 de jun. de 2020
ISBN9786586421224
No ritmo do texto: Questões contemporâneas de edição, preparação e revisão textual

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    No ritmo do texto - Daniella Rodrigues

    Avelar

    AUTORIA, TEXTO, REVISÃO

    Daniella Lopes Dias Ignácio Rodrigues

    Juliana Alves Assis

    Revisar, rever, corrigir, reescrever, reler, melhorar, emendar, limpar (que outros verbos poderiam integrar a listagem?), lembram-nos ações que, em maior ou menor medida, caracterizam a prática do revisor de textos, profissional que, nos últimos anos, vem tendo sua formação construída em percursos curriculares especificamente propostos para esse fim[1].

    No contexto em que se tomam as ações a que remetem os verbos listados, são colocados em diálogo tempos, espaços, instâncias enunciativas e objetivos distintos, o que não significa, entretanto, a inexistência de pontos de convergência entre eles. Dito de outro modo, em um contexto profissional, ainda que o trabalho do revisor instaure, necessariamente, movimentos de cumplicidade e parceria entre este e o autor, o texto sobre o qual se detém o revisor foi produzido por outrem (pertence a outrem), em momento anterior ao da revisão, noutro espaço e, sobretudo, sendo efeito e ao mesmo tempo estando a serviço de um projeto discursivo impossível de ser plenamente reconhecido e/ou recuperado pelo revisor.

    Essas condições brevemente enumeradas na abertura deste livro possibilitam-nos refletir sobre a complexidade subjacente à prática de revisão, bem como sobre as tensões nela presentes.

    Nas primeiras páginas da obra História do cerco de Lisboa, o emblemático diálogo entre o revisor Raimundo Silva e o autor cujo livro está sendo por ele revisado indicia determinadas (e por vezes veladas) tensões inerentes à relação entre o revisor e o autor do texto de que aquele se ocupa. Vejamos um pequeno excerto desse diálogo:

    Considere, senhor doutor, a vida quotidiana dos revisores, pense na tragédia de terem de ler uma vez, duas, três, ou quatro, ou cinco vezes, livros que, Provavelmente, nem uma só vez o mereceriam, Fique registrado que não fui eu quem proferiu tão gravosas palavras, conheço muito bem o meu lugar na sociedade das letras, voluptuoso, sim, confesso-o, mas respeitador […]

    (SARAMAGO, 1989, p. 13 -14)

    Ainda que diminuta a passagem trazida, é possível perceber que a interação entre os dois personagens construídos no livro de Saramago – o autor e o revisor – erige-se tendo como fio condutor o conflito existente entre as duas posições sociais e enunciativas postas em cena: de um lado, o autor (o senhor doutor); de outro, o revisor (conheço muito bem o meu lugar); de um lado, na sociedade das letras, aquele a quem se deve respeito; de outro, aquele que deve respeitar.

    Do diálogo transcrito, tomamos tanto a relação hierárquica nele flagrada quanto as pequenas evidências de que ela é, de certo modo, ameaçada como o mote para a discussão das relações em torno da autoria, da escrita e da revisão.

    Tendo em vista a complexidade e, ainda, a tão necessária discussão sobre tais noções – autoria, escrita e revisão – apresentamos aos leitores o 4o número da Coleção Questões contemporâneas de edição, preparação e revisão textual, publicada pela editora Artigo A desde 2016 e coordenada pela professora Ana Elisa Ribeiro, do Centro Federal de Educação Tecnológica de Minas Gerais.

    A proposta deste volume é trazer ao debate sobre a atividade de revisão de textos questões que são constitutivas da relação que se estabelece entre autor e revisor – quem é esse tu com quem o autor fala na revisão? Qual é a posição enunciativa desse tu? Diante das injunções simbólicas e tecnológicas, quais funções e tarefas esse mesmo tu adota? No caso específico da revisão de textos literários, que posição de alteridade esse tu pode assumir na intervenção do texto alheio?

    No que se refere à noção de autoria, assumimos, com Possenti (2002, p. 107), que não se pode tocá-la sem remeter em primeiro lugar ao clássico de Foucault (1969) e sem considerar as observações que, a partir desse ponto de vista, desenvolve Chartier (1994), que, fundamentalmente, faz reparos aos dados históricos de Foucault. Sabe-se que Barthes anunciou que o conceito de autoria criado na modernidade estava agonizando. Para o historiador, o autor não expressa algo novo; apenas inscreve-se em algo que já existe (BARTHES, 2004). O pesquisador propõe, inclusive, uma redefinição do termo: para ele, trata-se, em realidade, de um escriptor e não de um autor, de uma escritura e não de uma obra.

    Avolumando a definição de Barthes, Foucault (1969) discute a noção de autor a partir da relação deste com os textos ligados a seu nome a partir dos quais o autor é construído, distinguindo claramente a noção de autor da de escritor. Este designa o indivíduo que escreve, aquele está revestido de traços históricos variáveis, que têm a ver em grande parte com o modo pelo qual são vistos e considerados os diversos discursos em diferentes épocas em cada sociedade […] (POSSENTI, 2002, p. 107). Ao lado dessa noção, Foucault (1969, p. 58) concebe a figura do autor como fundador de discursividades, como Marx, por exemplo, que não é apenas autor de suas obras – O Capital, O Manifesto Comunista –, mas suscitou, também, a possibilidade e a regra de produção de outros textos (idem). Assim, para Foucault, o autor é uma função discursiva por proporcionar discursividades.

    Não poderíamos, claro, deixar de fora da discussão sobre autoria Bakhtin (2002, p. 139), quando este cogita:

    Se prestarmos atenção aos trechos de um diálogo tornado ao vivo na rua, na multidão, nas filas, no hall etc., ouviremos com que frequência se repetem as palavras diz, dizem, disse, e, frequentemente, escutando-se uma conversa rápida de pessoas na multidão, ouve-se como que tudo se juntar num único ele diz, você diz, eu digo… E como é importante o todos dizem e o ele disse para a opinião pública, a fofoca, o mexerico, a calúnia, etc.

    Em outras palavras, o autor não inaugura, ou, como enuncia o próprio Bakhtin (2006, p. 300), o falante não é um Adão bíblico […].

    Do que abordamos sobre a noção de autoria, a partir dos autores citados, fica explícito que indivíduo não é mais autor: em Barthes, ele é um escritor, em Foucault, assume uma função-autor e, em Bakhtin, é autor-criador.

    Quanto à noção de escrita, entendemo-la como processo – fazer a escrituração. Desse ponto de vista, distingue-se escrita de texto de escrita, tal como propõe Indursky. Para a pesquisadora, esta apresenta começo, meio e fim. Já a escrita, ao contrário, não é um produto acabado, mas um processo. Entende-se um processo como algo em movimento, que não se termina, no caso do texto, com um ponto final (INDURSKY, 2009). Dito de outro modo, pensar a escrita como um processo significa concebê-la como uma prática de linguagem e, portanto, discursiva, de natureza criativa, não repetitiva do ponto de vista do funcionamento do sistema, mas um acontecimento, momento em que, de seu mergulho no interdiscurso, o trabalho do sujeito com a linguagem ganha singularidade (CORRÊA, 2007, p. 285). Nessa perspectiva, a escrita é uma das funções discursivas do sujeito, por meio da qual podemos fisgar marcas de sua subjetividade ou de sua autoria.

    Por fim, voltamo-nos para a revisão de textos, aqui concebida, em pleno diálogo com os autores citados no que se refere à heterogeneidade da escrita (Cf.: CORRÊA, 2007), como uma atividade discursiva cujas intervenções geram/provocam efeitos de sentido.

    A partir desse pano de fundo sobre autoria, escrita e revisão de textos, Adail Sobral e Vanessa Barbosa abrem este 4o volume da Coleção discutindo o sistema de lugares na atividade de revisão, ou, nas palavras dos autores: As redes de enunciação que a atividade instaura. Não pretendem, como afirmam, discutir os aspectos técnicos, pois eles são meios para um fim e o que lhes interessa é o fim a que servem esses meios.

    Embora as questões ortográficas sejam vistas por alguns como mera aplicação de suas regras ou meios para um fim, Celso Fraga da Fonseca contribui para o presente número com um exame de tópicos problemáticos do Acordo de 1990, trazendo à discussão pontos de interesse para profissionais do texto, relativos, sobretudo, ao emprego de letras, à acentuação gráfica e ao emprego do hífen […]. O texto do autor traz à tona uma outra tensão entre autor e texto sempre presente: a língua viva e a língua prescrita.

    Raquel Beatriz Junqueira Guimarães e Elzira Divina Perpétua focalizam as especificidades do texto literário, tendo em vista o trabalho do revisor. Por meio da análise de recortes de textos literários em prosa e em verso, Guimarães e Perpétua constroem um caminho em que demonstram como o texto literário, respeitada sua singularidade, pode ser beneficiado pelo olhar do revisor.

    O processo de formação inicial de futuros revisores de texto, na graduação em Letras, e os conflitos que o perpassam alimentam as reflexões de Ev’Ângela Batista Rodrigues de Barros. Motivada pelas frequentes dúvidas dos estudantes quanto aos papéis e limites do revisor, desejosos de obter um manual de boas condutas profissionais, a autora discorre sobre diferentes fatores que concorrem para a impossibilidade de se elaborarem receitas para o trabalho profissional do revisor.

    Fechando o presente número, Maíra Avelar, ao tratar da atividade de revisão freelance, analisa quatro revisões de um mesmo resumo acadêmico, realizadas no âmbito das atividades de uma disciplina de prática de revisão de textos. A autora oferece-nos uma reflexão instigante acerca das ações desse profissional, cujos impactos denunciam-se tanto na reconfiguração do texto revisado quanto nos percursos de leitura instaurados a partir dessa nova configuração.

    Esperamos que este 4º volume desta Coleção possibilite aos leitores – revisores, graduandos e pós-graduandos, em especial os das áreas de Letras e Comunicação Social – (re)pensar a atividade de revisão como um domínio de pesquisa genuíno e em plena e constante expansão.

    Boa leitura!

    REFERÊNCIAS

    BAKHTIN, Mikhail M. Questões de literatura e estética: a teoria do romance. 5. ed. São Paulo: Hucitec, 2002.

    ______. Estética da criação verbal. Trad. Paulo Bezerra. 4. ed. São Paulo: Martins Fontes, 2006. Original publicado em 1952-1953.

    BARTHES, Roland. O rumor da língua. Trad. Mario Laranjeira. 2. ed. São Paulo: Martins Fontes, 2004.

    CHARTIER, Roger. A ordem dos livros. Brasília: Editora da UnB, 1994.

    CORRÊA, Manoel Luiz Goncalves. Pressupostos teóricos para o ensino da escrita: entre a adequação e o acontecimento. Filol. linguíst. port., n. 9, p. 201-211, 2007. Disponível em: https://www.marilia.unesp.br/Home/Pesquisa/Gpel/Artigos/2007_-_Pressupostos_teoricos_para_o_ensino_da_escrita.pdf. Acesso em: 10 ago. 2019.

    FOUCAULT, Michel. O que é um autor. Bulletin de la Societé Française de Philosophie, 63º ano, n. 3, julho-setembro de 1969.

    INDURSKY, Freda. A escrita à luz da Análise do Discurso. In: CORTINA, Arnaldo; NASSER, Sílvia Maria Gomes da Conceição (org.). Sujeito e linguagem. São Paulo: Cultura Acadêmica, 2009.

    POSSENTI, Sírio. Indícios de autoria. Perspectiva, Florianópolis, v. 20, n. 1, p. 105-124, jan./jun. 2002.

    SARAMAGO, José. História do cerco de Lisboa. São Paulo: Companhia das Letras, 1989.

    [1] Mencionamos, a esse respeito, a oferta, no Brasil, ao longo dos últimos 20 anos, de cursos da área de Letras (graduação/bacharelado e mestrado) que privilegiam a formação do revisor e editor de textos. Essa realidade acaba por instaurar mudanças no próprio perfil do profissional, tradicionalmente caracterizado como alguém que, independentemente de sua área de formação, possuía grande conhecimento acerca da norma padrão da língua portuguesa.

    SOBRE TIPOS DE REVISÃO TEXTUAL E SUAS REDES ENUNCIATIVAS: UMA PROPOSTA BAKHTINIANA

    Adail Sobral[1]

    Vanessa Barbosa2

    Introdução

    O primeiro contato de Adail Sobral com uma reflexão sobre revisão se deveu ao fato de ter orientado a coautora deste texto, Profª. Drª. Vanessa Barbosa, na UCPel, cujo mestrado abordou, com base nas teorias de Bakhtin e o Círculo, a atividade de revisão de textos para materiais de EaD na FURG, onde Vanessa era revisora. No doutorado, orientada pela Profª. Drª. Maria da Glória di Fanti, na PUC/RS, e de cuja banca Sobral participou, Vanessa abordou a atividade de revisão de textos acadêmicos por profissionais de revisão (BARBOSA, 2012; 2017).

    Em 2011, tomamos conhecimento do livro de Freire de Oliveira (2010), derivado de seu doutorado na UFRN, que aborda, também a partir da teoria dialógica, a atividade de revisão, em termos teóricos e práticos (a partir de conversas com revisores atuantes). Na continuidade do estudo sobre a atividade, em 2017, Barbosa apresentou um diálogo também com a pesquisa de tese de Luciana Salazar Salgado, defendida no ano de 2007 na UNICAMP, cujo trabalho investigou processos relativos ao mercado editorial, dentre eles o de revisão textual tomada em uma perspectiva discursiva.

    A convite de Daniella Lopes, aceitamos refletir acerca da atividade de revisão. Naturalmente, do ponto de vista enunciativo, que para nós implica constitutividade eu-outro, para além da interação pura e simples. Como Sobral afirmou alhures, é agradável a encomenda, se se pode dizer assim, de tópicos a ser desenvolvidos, pois isso nos dá a oportunidade de pensar sobre assuntos que não costumamos abordar espontaneamente. Cabe dizer que, de nosso ponto de vista, a pessoa que encomenda a abordagem de um tópico estabelece uma primeira interlocução na qual funciona ao mesmo tempo como uma espécie de destinador (se pensarmos na semiótica greimasiana) e de sobredestinatário (na concepção de Bakhtin).

    O destinador é aquele que faz-fazer, aquele que leva alguém a fazer

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