Bate-Papos Educacionais na Internet: Uma Perspectiva Linguística
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Sobre este e-book
A origem das discussões apresentadas é um grande destaque, pois, além de frutos de investigações sobre práticas educacionais, são fundamentadas no entendimento da linguagem como principal meio de realização do ensino-aprendizagem. Um dos papéis fundamentais da educação é a ampliação dos recursos linguísticos necessários para o acesso a diferentes contextos sociais, e a linguagem é o principal meio de acesso a eles. Por isso, discute-se como linguagens de diferentes naturezas são trazidas para o contexto educacional e, assim, a qualidade do ensino-aprendizagem pode ser relacionada aos diferentes tipos de linguagem envolvidos nele e favorecidos por ele. Mais especificamente, discutem-se práticas discursivas e pedagógicas dentro de sessões de bate-papos on-line que se mostrem mais adequadas ao ensino-aprendizagem nesse contexto e a natureza dos conhecimentos estruturados nas interações investigadas.
As discussões contribuem com a compreensão de como as TIC podem ser usadas em contexto educacional on-line de forma adequada e socialmente pertinente, pois indicam aspectos importantes que devem ser considerados durante o planejamento do uso das TIC em contexto de ensino-aprendizagem, especialmente durante o planejamento do uso de bate-papos on-line. Ao oferecer maior compreensão da linguagem envolvida no uso das TIC e contribuir com seu uso em contexto educacional, esta obra colabora com a ampliação do acesso a essas ferramentas digitais e com a inclusão de indivíduos a contextos sociais geralmente restritos a grupos mais privilegiados e, consequentemente, com uma educação a distância voltada à transformação cultural.
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Bate-Papos Educacionais na Internet - Erisana Célia Sanches Victoriano
COMITÊ CIENTÍFICO DA COLEÇÃO EDUCAÇÃO, TECNOLOGIAS E TRANSDISCIPLINARIDADE
Aos meus pais, Rosana e Erivaldo, que me transmitiram o valor da educação. Ao meu filho, Leonardo, e ao meu marido, Dimitrios, pelo amor de todos os dias e por me ensinarem a preciosidade do tempo e da vida.
AGRADECIMENTOS
Gostaria de agradecer a algumas das pessoas que têm estado ao meu lado há vários anos e cujas contribuições para a realização deste livro foram evidentemente imprescindíveis e são indiscutíveis. Meus sinceros agradecimentos...
À professora Heloisa Collins, pelas orientações e discussões que contribuíram com o desenvolvimento do trabalho que deu origem a este livro. Agradeço a ela também pelo apoio, incentivo, confiança e por ter continuado ao meu lado, compartilhando suas experiências durante grande parte de minha vida profissional.
Ao professor James Martin, pelas discussões e pelo apoio quando cheguei à Universidade de Sydney, e pelas sistemáticas e tão frutíferas orientações; por, apesar de apresentar-se como gramático e não como professor, mostrar-se um dos melhores professores que já tive. Sou infinitamente grata pelas conversas esclarecedoras sobre linguística sistêmico-funcional e pelas discussões sobre o trabalho de Bernstein; pela oportunidade de pensar a linguística sistêmico-funcional à luz da produção, e não somente da aplicação teórica.
À professora Sue Hood, pelas discussões sobre linguística educacional, que me ajudaram a compreender a educação de forma mais aprofundada e concreta; por me convidar para seu seminário de orientação; e pela oportunidade de apresentação e discussão de meu trabalho em seu grupo na Universidade de Tecnologia de Sydney.
Às professoras Leila Bárbara, Rosinda Ramos, Desireé Mota-Roth e Taís Bressane, pelas discussões e sugestões durante estudos que originaram este livro.
À Rosana Célia Sanches Victoriano, por, incondicionalmente, sempre estar ao meu lado; pela força e incentivo que sempre me deu; pelo alimento trazido do lado do computador enquanto eu trabalhava; pelo exemplo de força e garra que ainda me dá, e por ter me ensinado a ler.
Ao Erivaldo Victoriano, pelo apoio, incentivo, exemplo de gerenciamento de tempo e trabalho que sempre carregarei na memória.
Ao Erick Christian Victoriano, à Erisandra Célia Sanches Victoriano, à Maria Apparecida Sanches, pelo apoio incondicional e infinito, incentivo, carinho; e por sempre estarem à disposição quando eu preciso.
Ao Dimitrios Papalexis e ao Leonardo Sanches Victoriano Papalexis, por estarem sempre ao meu lado, pelo apoio, carinho e paciência. Por todos os dias me conduzirem pela mão em direção ao novo e contribuírem com minha constante transformação.
A Aristea Papalexis, Vicky Papalexis e Constantinos Papalexis, pelo acolhimento e carinho que suportam minha tranquilidade e aconchego, e contribuem para que eu continue em busca de novas realizações.
À Capes, ao CNPq, à Pontifícia Universidade Católica de São Paulo e à Universidade de Sydney, pelo apoio financeiro durante os estudos que deram origem a este livro.
"Conhecimento é transmitido em contextos sociais, por meio de relacionamentos,
como os de pais e filho [...]."
(Halliday e Hasan)
APRESENTAÇÃO
Este livro condensa parte de minhas descobertas e aprendizados durante os anos que passei investigando comunicações síncronas on-line em contexto educacional, sob supervisão da Dr.ª Heloisa Collins e do Dr. James Martin, na Pontifícia Universidade Católica de São Paulo e na Universidade de Sydney, respectivamente. A presente obra reúne duas teorias que acredito terem enorme potencial como patamar de transformações educacionais quando bem compreendidas e adequadamente utilizadas: a teoria social bersteiniana e a teoria linguística sistemico-funcional. Navegar por essas teorias e compreendê-las com profundidade proporcionaram-me uma nova forma de entender a educação e situá-la verdadeiramente como uma atividade social cujo principal meio de realização é a linguagem; uma atividade que fundamenta a formação de indivíduos e a modelagem de seus pensamentos, sonhos e oportunidades. A partir daí, é fácil expandir as relações para a comunidade, cidade e o mundo. Em termos mais concretos, compreender essas teorias é como ganhar um microscópio e um satélite ao mesmo tempo. Por um lado, ferramentas da linguística sistemico-funcional permitem olhar a linguagem com incrível detalhamento e profundidade em todos os seus níveis, sem perder de vista seu caráter social; e, por outro lado, a conversa entre a teoria sistemico-funcional e a teoria bersnteniana permite compreender como as interações funcionam sob uma perspectiva social mais ampla.
São exatamente essas perspectivas que as investigações e discussões apresentadas neste livro oferecem ao leitor. Em um momento, faz-se um convite para esmiuçar os bate-papos digitais observados. Então, o leitor é convidado a se distanciar um pouco das minúcias e a refletir sobre o que elas representam em um contexto mais amplo. Finalmente, o leitor é convidado a traçar reflexões mais gerais sobre ferramentas educacionais. Assim, a parte I deste livro, Linguagem e sociedade, texto e contexto
, detalha as teorias que embasaram as observações e discussões. Durante essa parte, assim como no restante da obra, são apresentados exemplos reais retirados dos bate-papos observados. A parte II – Práticas discursivas, prática pedagógica e estrutura do conhecimento
, mais exatamente capítulos 3, 4 e 5, foca no uso dessas ferramentas teóricas para a compreensão minuciosa das interações desenvolvidas nos bate-papos. O capítulo 6 convida a reflexões sobre a relevância das descobertas apresentadas no contexto educacional investigado e oferece algumas indicações sobre a pertinência dessas descobertas em outros contextos educacionais.
Algumas partes das discussões teóricas podem assustar no início, mas espero que também encantem ao leitor como me encantaram. Espero que comece a trilhar esse caminho e, assim como eu, esteja sempre curioso para saber o que há depois da próxima curva.
LISTA DE ABREVIATURAS
Sumário
INTRODUÇÃO
PARTE 1
LINGUAGEM E SOCIEDADE, TEXTO E CONTEXTO
1 | LINGUAGEM SEGUNDO A LINGUÍSTICA SISTÊMICO-FUNCIONAL
1.1 Registro
1.1.1 A variável relações
1.1.2 A variável campo
1.1.3 A variável modo
1.2 A relação entre registro e gênero
1.3 A materialização do registro: metafunções da linguagem
1.3.1 Metafunção ideacional
1.3.1.1 Entidades
1.3.1.1.1 Entidades institucionais ou entidades metafóricas?
1.3.1.1.2 Contexto digital: entidades concretas especializadas ou entidades abstratas semióticas?
1.3.2 Metafunção interpessoal
1.3.2.1 Abordagens para a descrição de conversações
1.3.2.2 Sistema de NEGOCIAÇÃO: tipos de troca
1.3.2.2.1 Trocas de conhecimento
1.3.2.2.2 Trocas de ação
1.3.2.2.3 Trocas de ação: serviços linguísticos
1.3.2.2.4 Movimentos dinâmicos: rastreamento e desafio
1.3.3 Metafunção Textual
2 | A TEORIA SOCIAL PROPOSTA POR BERNSTEIN
2.1 Estrutura do conhecimento e entidades
2.1.1 Discurso horizontal e discurso vertical
2.2 Prática pedagógica e estrutura de troca
PARTE 2
PRÁTICAS DISCURSIVAS, PRÁTICA PEDAGÓGICA E ESTRUTURA DO CONHECIMENTO
3 | ESTRUTURA DA TROCA
3.1 Trocas de saudação
3.2 Movimentos complexos
3.2.1 Movimentos complexos: Fase 1
3.2.2 Movimentos complexos: Fase 2
3.3 Trocas aninhadas e trocas sobrepostas
3.4 Movimentos secundários
3.5 Movimentos dk1
3.6 Desafio
3.7 Metacomentário
4 | PRÁTICA PEDAGÓGICA
4.1 Discurso regulador
4.2 Frequência do uso do discurso regulador
4.3 Uso de trocas de conhecimento e trocas de ação para regular o discurso
4.3.1 Distribuição de trocas que realizam o discurso regulador
4.3.2 Discurso regulador na Fase 2
4.4 Discurso instrucional
4.4.1 Orientação sobre a participação no curso
4.4.2 Compartilhamento de ideias sobre o contexto profissional dos alunos e da convidada
4.4.3 Compartilhamento de informações pessoais e sentimentos
5 | ESTRUTURA DO CONHECIMENTO
5.1 Estrutura do conhecimento na fase 1
5.2 Estrutura do conhecimento na fase 2
6 | REFLEXÕES: PRÁTICAS DISCURSIVAS, PRÁTICAS PEDAGÓGICAS E ESTRUTURA DO CONHECIMENTO
ALGUMAS CONSIDERAÇÕES
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
INTRODUÇÃO
A desigual distribuição de conhecimento na sociedade, relacionada ao sistema de classes e ao acesso a determinados tipos de linguagem, vem sendo discutida; e sistemas educacionais tem sido apontados como reprodutores de desigualdades sociais ao invés de transformadores culturais. Muitas pessoas possuem conhecimento linguístico limitado e isso as exclui de inúmeros contextos sociais que exigem linguagem específica, como o mundo acadêmico, científico e industrial¹. Somam-se a essas antigas questões de exclusão social e educação, as novas tecnologias de informação e comunicação (TIC) cujo acesso, apesar de crescente, ainda é limitado a alguns grupos sociais e cuja linguagem ainda é superficialmente compreendida. Apesar de recentes, as TIC vêm sendo utilizadas em contextos educacionais para o apoio e enriquecimento do ensino-aprendizagem, em cursos presenciais e a distância, porém seu uso deve ser planejado para que reflita positivamente no contexto educacional². Foi essa combinação entre os aspectos positivos das TICs no ensino aprendizagem e a necessidade de adequação no seu uso que serviu de inspiração para a produção deste livro.
Em discussões sobre o aprimoramento da qualidade do ensino a distância ou do ensino presencial apoiado pelo uso das TIC, muito se fala sobre o desenvolvimento da aprendizagem e a interação entre professor-aluno ou aluno-aluno, e o papel do professor no ensino-aprendizagem. Por exemplo, o foco nas fases do desenvolvimento aponta a importância de combinar três elementos em discussões assíncronas, para que todas as fases possam ser completadas e níveis mais complexos de desenvolvimento possam ser atingidos³. Esses três elementos são chamados de presença cognitiva, presença social e presença de ensino. A presença cognitiva relaciona-se ao desafio, à troca de informações, e à conexão e à aplicação de novas ideias. A presença social refere-se às emoções, ao modo de se expressar e ao encorajamento da colaboração. Finalmente, a presença de ensino permeia a definição e a iniciação de tópicos de discussão, o compartilhamento de tópicos de discussão, e a determinação do foco. A presença cognitiva e a presença social dependem da presença de um professor. O fracasso no ensino-aprendizagem, na maioria das vezes, deve-se à ausência de uma presença de ensino responsável e à falta de liderança e de direcionamento adequados⁴. Observações parecidas apontam a importância do professor para a interatividade no processo educativo em contextos digitais⁵, ajudam a compreender a prática do ensino-aprendizagem colaborativo e sugerem estratégias de mediação que favorecessem interações colaborativas assíncronas em cursos on-line como o desenvolvimento de discussões estruturadas ao definir claramente o que se espera da participação no curso, estabelecendo limites de datas para as contribuições, fazendo modelagem e definindo um tamanho para as mensagens das discussões⁶. Fala-se que o papel de facilitador e de líder do instrutor também deve ser tratado abertamente porque o professor on-line parece ter a mesma função do professor da sala de aula presencial, pois ele impulsiona o desenvolvimento da aprendizagem a partir de sua liderança. Por sua vez, os alunos devem ser incentivados a codificar suas mensagens, ou seja, classificá-las em uma função, dentro da discussão. Assim, espera-se que os alunos tornem-se mais conscientes sobre a relação de suas respostas com os objetivos estabelecidos pelos instrutores⁷.
Apesar de muito se falar sobre a importância da figura do professor, descrições detalhadas sobre a prática pedagógica em contexto de ensino-aprendizagem on-line parecem não ser oferecidas. São necessárias observações mais concretas e maior detalhamento nas discussões. Por isso, o presente trabalho compartilha das preocupações mencionadas anteriormente. No entanto, as discussões apresentadas aqui, além de serem frutos de investigações sobre práticas educacionais, são fundamentadas no entendimento da linguagem como principal meio de realização do ensino-aprendizagem.
O potencial das TIC para recriar práticas da educação à distância por tornarem possível a flexibilização do tempo, a quebra de barreiras espaciais e, a emissão e recepção rápida de materiais⁸ também são alvo de debate. Todavia, é necessário reconhecer que isso não garante que formas tradicionais e mecanicistas de transmissão de conteúdos sejam abandonadas. Para que se atinja um ensino-aprendizagem baseado na interação e na produção de conhecimento, é necessária a criação de um ambiente favorável à aprendizagem dos alunos. Um ensino a distância de qualidade deve estar relacionado à administração do tempo pelo aluno, ao desenvolvimento da autonomia, ao diálogo e à troca de informações entre pares e produções colaborativas⁹. Sendo assim, para que isso seja possível, é necessário que o professor assuma o papel de orientador do aluno; ele deve acompanhar seu desenvolvimento e provocar reflexões; no entanto, isso não significa que o professor tenha que estar presente o tempo todo. O professor deve saber dosar sua presença para que atue como um guia e não como um controlador do aluno. Ensinar em contexto digital significa organizar situações de aprendizagem, planejar e propor atividades, disponibilizar material de apoio [...]
, atuar como mediador e orientador do aluno
¹⁰, identificando suas representações de pensamento, fornecendo informações relevantes, incentivando a busca de fontes de informação, provocando a reflexão, favorecendo a formalização de conceitos e a aprendizagem significativa. O uso de ambientes digitais de aprendizagem torna necessário que o papel do professor seja repensado¹¹.
Reflexões sobre o papel do tutor na educação à distância sugerem que ele deve ter formação acadêmica e preocupar-se com a formação dos alunos, deve esforçar-se para que eles possam construir conhecimento¹². O tutor deve ser criativo e compreender o papel da universidade no contexto à distância. Ele deve lutar contra propostas alienantes e ser aberto às mudanças. O tutor deve incentivar a participação do aluno, e consequentemente, sua permanência no curso. Mas, para isso, não deve esperar receitas prontas e, se necessário, pode transgredir regras. O tutor deve ser um educador que seleciona os conteúdos, discute as estratégias de aprendizagem, que cria o diálogo com os alunos, e que faz as mediações¹³. Porém, o maior desafio é não permitir que a tecnologia afaste o aluno do natural, da beleza, e das relações sociais. Podemos dar sentido ao mundo ao dominarmos a ferramenta, mas quando ela nos domina, é ela quem determina o sentido que damos ao mundo. Questões de humanização relacionadas ao uso da tecnologia e com a preservação do conforto ao manifestar preocupação com o distanciamento do aluno do natural, da beleza e das relações sociais também devem ser levadas em conta¹⁴.
Uma parte significativa da aprendizagem passa pela relação com o outro
; no entanto, conseguir perceber o outro e "incluí-lo em nossa