Música, Juventude e a Construção da Identidade de Gênero no Espaço Escolar
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Música, Juventude e a Construção da Identidade de Gênero no Espaço Escolar - Helena Lopes da Silva
COMITÊ CIENTÍFICO DA COLEÇÃO EDUCAÇÃO E CULTURAS
Aos meus amores, Ana Laura e Rogério,
por me tornarem uma mulher feliz.
AGRADECIMENTOS
Agradeço aos jovens e à professora de Música da turma 81, pela confiança de se abrir e de abrirem a aula de Música para a realização desta obra.
À professora Jusamara Souza, que orientou este estudo e com quem aprendi muito sobre pesquisa em educação musical.
À Capes, pela concessão de bolsa de estudos para a realização desta pesquisa.
À Marúcia Castagnino e à Violeta de Gainza, minhas queridas professoras de Música e amigas, pessoas determinantes para eu ter me tornado professora de música.
À minha mãe, Romilda, e ao meu pai, Hélio, pelo apoio, respeito e confiança em minha escolha profissional, e também pela mão amiga sempre pronta para ajudar no que fosse necessário.
Às minhas irmãs, Mônica (in memoriam), Claudia, Elisa e Regina, que com suas experiências de vida ajudaram a me constituir menina e mulher.
À Rosane Guimarães, por me mostrar a complexidade e a beleza de ser mulher sem nunca deixar de sonhar.
PREFÁCIO
Conheci Helena quando nos tornamos colegas no curso de pós-graduação em Música da UFRGS no final dos anos 1990, ela cursando o mestrado e eu, o doutorado.
Sua pesquisa, finalizada em 2000, sobre a construção da identidade de gênero por meninas e meninos adolescentes, construção identificada durante as aulas de música na escola, foi marcante para a área de educação musical brasileira à época. Decorridas duas décadas, este estudo permanece como referência, e sua publicação em formato de livro é muito bem-vinda.
Helena, que já tinha experiência com educação musical escolar para turmas de adolescentes, experiência que lhe suscitou questões as quais resultaram na sua pesquisa de mestrado, continuou no doutorado a focalizar a temática de jovens e música nos espaços escolares. A partir de 2004, passei a me dedicar também a compreender a interação de jovens e músicas, incluindo a aprendizagem dessa linguagem artística. Assim, passamos a compartilhar do mesmo assunto de pesquisa, o qual constitui um desafio, já que jovens, músicas e processos de aprendizagem situados na contemporaneidade estão em mutação frenética.
Como observa Omar Ricón, colombiano estudioso das comunicações:
Compreender o juvenil como fenômeno cultural, sociológico e comunicativo é quase uma impossibilidade acadêmica e uma ousadia sociológica. Além disso, o fato de estarem sempre em fluxo, em outro lugar, caracteriza a inexistência de um único modo de ser jovem; e expressa as muitas formas sociais e culturais juvenis. A frustração do pesquisador é constatar que, logo após sua compreensão, surgem novos modos de ser jovem. E a análise realizada supera-se demandando novas tentativas. Sempre se rebelando, escapando, incompreensíveis. O inacreditável é que existem estudiosos persistentes e obstinados, mas, sobretudo imaginativos, que intentam compreendê-los.¹
O estudo da construção das identidades de gênero por adolescentes na interface das suas experiências musicais cotidianas e escolares é exemplar no que tange a essa citação de Rincón. Então, por que publicar um livro sobre essa temática cujo conteúdo foi elaborado há quase 20 anos?
Ao ser convidada por Helena Lopes da Silva para escrever o prefácio deste livro, aceitei prontamente a honrosa tarefa, pois o assunto em questão continua pouco estudado por educadoras e educadores musicais e, portanto, pouco presente nas suas ações e reflexões profissionais.
As adolescentes e os adolescentes, estudantes do oitavo ano em uma escola de aplicação de universidade pública situada na região metropolitana de Porto Alegre, têm, no momento da redação deste texto, 2018, por volta de 30 anos. Essas quase duas décadas que separam os registros das construções de suas identidades de gênero identificadas por Helena, mediadas por suas preferências musicais manifestadas nas aulas de música da escola, tomaram volume em questões como feminicídio, diversidade na orientação sexual, legislação de proteção às mulheres² e uma nova onda feminista no Brasil.³
Bakuras, Nickoly Ariel, Scheik, Jack, Rafage, Priscila, Gigio, Patrícia, Aredunka, Pantera, Coriana, PQNO, Paola, Fernanda, Twister, Marcela, Luluzinha, Cora, KBÇA, Camila, KBLO, Mana, Paula, Crash, Melanie, Daniela, Larissa e Joana foram os pseudônimos que as/os jovens integrantes da pesquisa se atribuíram naquela virada de século. Que pseudônimos se dariam hoje?
A finalidade da investigação empreendida por Helena foi de compreender como as relações de gênero se fazem presentes no cotidiano da aula de música de uma oitava série do Ensino Fundamental⁴. Suas experiências como educadora musical na escola de educação básica lhe trouxeram desafios no que tange a adolescentes, música e construção das identidades de gênero. Esses desafios e a indiferença [de pessoas do seu círculo, entre elas profissionais e graduandos da área], por acharem que gênero não era mais um problema da sociedade atual; ou de estranhamento, por nunca terem ouvido ou pensado sobre as questões de gênero como um problema a ser discutido pela área de música
, instigaram-na a realizar o estudo. Esses aspectos que levaram Helena a eleger o assunto para seu mestrado continuam a nos desafiar pelo quase silenciamento de nossa área de atuação com relação ao assunto.
A pouca produção no Brasil que problematiza as relações de gênero no âmbito da educação musical parece ainda denotar a indiferença que Helena percebeu há mais de 20 anos. Especificamente no caso de estudos feministas e música, a escassez foi apontada por Laura Cunha⁵.
Assim, a leitura deste livro poderá nos estimular a uma autocrítica acerca do apartamento desse tema na formação de educadores musicais e, portanto, da sua ausência nas práticas de educação musical nos diferentes contextos em que essas têm lugar no país. Também, pensar naquelas/es adolescentes 20 anos depois permite que nos deparemos com as repercussões das nossas ações como educadoras/educadores. O que fizemos e estamos fazendo para e com as novas gerações? Estamos formando educadores musicais para atuarem agora e daqui a duas décadas?
O livro, organizado em quatro capítulos, expõe na introdução as motivações e desenho da pesquisa. O primeiro capítulo trata de gênero como construção social, o qual se desdobra nas relações de gênero e escola, e música e adolescentes. O estudo de caso é descrito nos seus procedimentos no segundo capítulo. O relato, a análise e a interpretação dos registros feitos por Helena a partir de suas incursões na escola, das observações das aulas de música e das interações com as/os adolescentes compõem o terceiro e quarto capítulos. Neles, a autora tece acerca das identidades de gênero e as preferências musicais das/dos adolescentes na escola. E, dado que as experiências musicais que as/os estudantes relatam vinculam-se ao que escutam principalmente por meio das mídias, o último capítulo trata dessas experiências de escuta das músicas das mídias e a construção das identidades de gênero. Os diversos modos de uso das músicas veiculadas pelas mídias, os coletivos de fãs e o que pensam as/os adolescentes a respeito desses repertórios são assuntos abordados nesse capítulo, tópicos ainda caros à