Corrupto!
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Corrupto! - Júlio Emílio Braz
história.
CONSTRANGIMENTO
Poucas coisas na vida conseguiram ser tão desagradáveis. Não se lembrou de nenhuma delas naquele momento. Sentiu-se estranho, indescritivelmente estranho. Não pensava. Parecia haver uma máquina perversamente eficiente funcionando sem parar em algum lugar dentro de sua cabeça e esmerando-se na única tarefa de despojá-lo de toda e qualquer consciência, destruindo cada pensamento, cada reflexão mais profunda, cada questionamento que fizesse. Perguntas mergulhavam no abismo negro daquela progressiva inconsciência, naquele desagradável entorpecimento, e desapareciam como se jamais tivessem sequer sido propostas. Tenazes poderosas agarravam-se a ele e o rasgavam em inúmeros pedaços, cada vez menores, sempre menores, microscópicos depois de um certo tempo. Não imaginava o que fosse e como começara. Apenas começara. Era algo assim como aquele murro que se leva numa briga entre estranhos, numa confrontação alheia. Tinha a sensação de estar sendo observado e não ser capaz de identificar o seu observador.
No caso dele ainda era um pouco pior. Avassaladoramente esmagador. Herbert sentia-se à mercê dos olhares de todos.
Tudo começara com o noticiário. Rádio. Televisão. Jornais, principalmente os jornais e as revistas. Primeiro alguém trouxe o jornal de casa e aquele jornal foi se multiplicando, eternizando-se nas mãos, indo de cá pra lá, de lá pra cá, num vaivém constrangedor, mas constante. Sempre tinha um em seu caminho e, junto com ele, os olhares, os risinhos, o exagero que acompanhava a falsidade das mesuras e solicitudes de alguns.
Herbert constatou a mudança e sentia-se pouco à vontade diante dela, vendo-a crescer em torno de si como um mar silencioso, mas implacável, que avança numa maré destruidora, os castelos de areia ruindo um após o outro, diluindo-se na força maior do silêncio.
Castelos de areia...
Era uma imagem frequente em sua cabeça. Seu mundo, um imenso castelo de areia, desmoronando. Primeiro as torres de alienação. Depois, os muros intransponíveis de uma felicidade que prometia ser interminável. O que o mar de jornais, revistas e sorrisos zombeteiros não tinham destruído havia sido entregue à sanha da indiferença e do desprezo, que apareciam sempre que um amigo desmarcava um encontro ou fingia não o conhecer.
Nada, no entanto, o incomodava mais do que aqueles olhares intermináveis que pareciam segui-lo em todas as direções, vindos de todos os lados. Terríveis, os olhos das pessoas cortavam como lâminas afiadas e atingiam-no em golpes cada vez mais profundos. Profundos como a decepção com uns. Como a arrogância de outros. Armas temíveis eram aqueles dedos que apontavam e os olhos que feriam mortalmente com desprezo.
Sentia-se mal consigo mesmo. Deixara o sorriso e a despreocupação na mesma página da agenda onde também abandonara a festa de aniversário de Nessa, no mesmo dia em que a foto de seu pai, uma foto velha e feia, perdida em algum arquivo de jornal, apareceu na televisão. O primeiro dia de um inferno de vergonhas cotidianas crescentes.
POLÍCIA PRENDE O MAIOR FRAUDADOR DA PREVIDÊNCIA!
Mesmo ruim, a foto era de seu pai. Os telefonemas vindos de todos os lados, estrondeando interminavelmente casa adentro por dias e noites de crescente humilhação, deixaram pouca margem para qualquer dúvida de que muita gente o tinha reconhecido. Herbert tinha aquela manchete de jornal gravada em letras enormes e flamejantes na cabeça. Para qualquer lado que virasse, encontrava-se ardendo nas chamas de condenações até beligerantes ou de indulgências cercadas de evidentes segundas intenções.
Alguns, principalmente nos primeiros dias, ainda o paravam e perguntavam:
– É verdade que seu pai?...
Muitos eram inacreditavelmente cínicos:
– ...não acredito...
Outros, mais ousados:
– Tá todo mundo metendo a mão mesmo, né? Que mal há em...
A maioria, contudo, preferia o silêncio. Entrincheirada atrás de seus sólidos muros de incontornável ética e retidão de caráter, ficava atirando pequenos, mas mortíferos, dardos acusatórios, olhares implacáveis, ou o envolvia num cerco protetor de onde ele não saía... Parecia preso numa prolongada quarentena, possuidor de uma doença potencialmente perigosa, contagiosa mesmo, que, sabe lá Deus como, ele adquiriu.
Doía. Herbert sentia-se injustiçado. Gostaria de dizer tudo o que estava sentindo, pôr pra fora aquele caos enlouquecedor que eram seus pensamentos, abrir-se com alguém... quem sabe, até chorar!
Ninguém estava interessado. Apenas Nessa o ouvia, mas mesmo ela não conseguia alcançá-lo, chegar até onde ele estava, no meio de tanta dor e solidão. Ela sorria. Dizia meia dúzia de clichês e tudo acabava num beijinho, naqueles amassos, tipo deixa pra lá e vamos ver como é que fica, que em nada ajudavam e nada resolviam.
Na verdade, ele não sabia se queria resolver alguma coisa. Nem sabia se poderia fazê-lo. De um momento para outro, sua casa se transformara num pequeno arquipélago de ilhas atormentadas e assustadas diante de um maremoto grandioso. Mal se falavam. O silêncio era a norma. Nada era comentado. Sua mãe vivia indo às lojas e shoppings, e a irmã desaparecia em casa de amigas, algumas recentes. O pai confinara-se num silêncio permeado pela cautela ou pelas horas intermináveis