Discurso, Cinema e Educação: Metáforas Visuais em Abril Despedaçado
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Sobre este e-book
A obra Discurso, Cinema e Educação se destina a todos os amantes da sétima arte, quer atores, quer espectadores. Tem o objetivo de instruir e de entreter por intermédio das várias imagens recortadas do cinema nacional e internacional com as quais o leitor se identificará de imediato. O texto é fluido e redigido com o intuito de aproximar o leitor dos temas abordados. Independentemente se o leitor é educador, pesquisador, estudante ou mero curioso, sentirá o prazer de se ligar à autora durante uma "viagem" imaginária e sensível por meio desta análise lúdica das metáforas visuais presentes no cinema.
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Discurso, Cinema e Educação - Ana Cristina Abrantes
Editora Appris Ltda.
1ª Edição - Copyright© 2017 dos autores
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COMITÊ CIENTÍFICO DA COLEÇÃO CIÊNCIAS SOCIAIS
Aos meus pequenos
sobrinhos e afilhados, que se tornarão
grandes leitores e estudiosos: Maya, Mateus, Iara, Pietro De Luna,
Patrick, Davi Miguel, Arthur, Lucas, Miguel Afonso, Giulia,
Glauber e Gabriel, e aos outros que ainda virão.
AGRADECIMENTOS
Agradeço aos meus mestres, de hoje e sempre, dedicados à Educação brasileira; aos meus pais, Lenir e Antônio Carlos (in memoriam); ao Walter Salles, que por meio da Vídeo Filmes tão gentilmente cedeu as imagens que ilustram esta obra; aos meus companheiros de jornada, que me dedicaram do seu tempo para tornar mais leve meu percurso acadêmico com a sua bondade e companheirismo, dentre eles a doce Rogéria Campos, Morio Parker, Emilio Gallo, a minha querida prima Clara Mac Cord, sempre um amor e ótima companhia para papos intelectuais, e Henrique Sacramento, com quem sempre que possível dividimos um café e uns drinks doces sob a justificativa do papo cultural e edificante; e, não menos importante, a Deus, que me dá a força, a motivação e o gosto para realizar o impensável.
APRESENTAÇÃO
Este livro é fruto do desejo de escrutinar formas de comunicação não verbais ou silenciosas.
Estudos sobre metáforas, geralmente se baseiam na literatura, no texto escrito, ideia essa reforçada ao longo dos anos escolares e até mesmo durante a formação em Letras. A proposta deste livro é evidenciar que a imagem tem uma materialidade funcional utilizando para tanto a exemplificação por meio das imagens no cinema.
Pela primeira vez ao assistir Abril Despedaçado no cinema em 2002, a mim não ocorreu com todos os detalhes esta visão agora apresentada, contudo me chamou atenção a beleza da fotografia, a frugalidade dos sons à semelhança de Vidas Secas, a (não) palavra, a negação da vida e ao mesmo tempo sua insistência, numa ambiguidade temporal que assinala a (não) vida e a (não) morte. O conflito entre as personagens tanto de famílias em rivalidade quanto dentro da própria família de Tonho (o protagonista), a mesma formação discursiva
para as duas famílias rivais.
Um dos objetivos deste livro é tornar visível como o tema metáfora
extrapola o universo linguístico e abrange outras formas de expressão na sua perspectiva visual para aproximar ao máximo o leitor desse importante universo, utilizando o cinema como veículo para ampliação do conceito de metáfora não verbal.
Um objetivo mais geral seria analisar como se manifesta discursivamente a rivalidade entre duas famílias residentes no sertão nordestino analisando os recursos linguageiros da ordem do não verbal no âmbito da Análise do Discurso (escola francesa).
Ainda um terceiro objetivo seria suscitar em professores e educadores a necessidade de encarar o pensamento-imagem como real possibilidade pedagógica, não só para facilitar o aprendizado de alunos com necessidades especiais, como também para favorecer o espaço de novos suportes, como o cinema, em todos os níveis da educação formal.
A autora
PREFÁCIO
[...] o olhar do cinema é um olhar sem corpo. Por isso mesmo Ubíquo, onividente. Identificado com esse olhar, eu espectador tenho o prazer do olhar que não está situado, não está ancorado – vejo muito mais e melhor.
(Ismail Xavier)
Nossa experiência temporal cotidiana se habituou a viver o tempo numa cronologia medida pelos pulsos de duração dos ponteiros do relógio, que acabam por regular a vida em um ritmo de pausas infinitesimalmente curtas entre presente, passado e futuro. Nesse ritmo não há como pensarmos sobre o tempo, só nos resta vivê-lo.
Viver o tempo...
A pergunta que me faço diz respeito a: como experimentamos viver no tempo?
Como Chronos? O mais jovem dos titãs da mitologia grega que, por temer a concretização da profecia de que perderia seu poder para um de seus filhos, passou a matar e devorar sua própria prole? E por não querer ser sucedido por ninguém, passa a devorar, também, os seres e o destino?
Como Kairós? Um jovem que não se preocupava com os relógios e calendários do tempo cronológico e, em suas aparições, está sempre nu, com asas nos ombros e nos tornozelos, mechas de cabelo caindo sobre a testa, mas sua nuca é calva, indicando o caráter oportuno de sua apreensão, posto que Kairós só pode ser pego quando agarrado pelos cabelos. Uma vez tendo passado, é impossível alcançá-lo, pois a falta de cabelos na nuca impede que possa ser puxado de volta. Kairós traz em uma das mãos uma balança, símbolo do equilíbrio e da justiça, por isso, embora veloz, não ultrapassa a medida.
Como Aion? Experiência de tempo em que o passado e o futuro insistem ou subsistem no tempo. Instante de tempo sem espessura e sem extensão que subdivide infinitamente o presente. Em Aion o presente não reabsorve o passado e o futuro, trata-se de uma experiência que não se submete a tempo algum, pois atua pelos sentidos, ou seja, naquilo que nos acontece para além das demarcações temporais e das explicações lógico formais.
Ao trazer essas imagens do tempo
para esta escrita, minha intenção é apresentar a obra de Ana Cristina Abrantes como uma experiência de tempo oportuna ao modo de Kairós e mais existencial como em Aion, porém, insubmissa aos calendários que nos circunscrevem em sucessões entre passado, presente e futuro ou de um sensórium apressado que nos devora os sentidos com a vida... Experiência estética que pode contribuir para uma pausa no tempo, que nos dê tempo para olhar com mais cuidado nossas condições existenciais historicamente constituídas, mas que de modo algum estão determinadas.
A invenção histórica do tempo o dividiu em passado, presente e futuro, como um fluxo contínuo. Só é possível retornar ao passado por nossas memórias e lembranças. O tempo histórico é como um rio que nos atravessa em instantes de um presente que em sua passagem se converte