Entre a casa e a rua: cultura, espaço e consumo em shopping centers
()
Sobre este e-book
Relacionado a Entre a casa e a rua
Ebooks relacionados
A cultura sneaker no Brasil: uma abordagem pela Teoria da Prática Nota: 0 de 5 estrelas0 notasTurismo & Capital Nota: 0 de 5 estrelas0 notasEconomia de Comunhão: Uma cultura econômica de várias dimensões Nota: 0 de 5 estrelas0 notasAnimação cultural (A):: Conceitos e propostas Nota: 0 de 5 estrelas0 notasA dialética invertida e outros ensaios Nota: 5 de 5 estrelas5/5O jingle e outras práticas culturais dos vendedores de rua: conhecimentos no fazer, táticas de sobrevivências Nota: 0 de 5 estrelas0 notasA quarta revolução industrial e os novos paradigmas do direito do consumidor Nota: 0 de 5 estrelas0 notasUma introdução à economia do século XXI Nota: 0 de 5 estrelas0 notasApontamentos sobre Jornalismo e Cultura Nota: 0 de 5 estrelas0 notasOlhares e narrativas Nota: 0 de 5 estrelas0 notasCultura e Sociedade: Reflexões teóricas e casos concretos Nota: 0 de 5 estrelas0 notasHistória & Turismo Cultural Nota: 5 de 5 estrelas5/5O Espectro do Caos: nos passos da arte urbana paulistana entre 1970 e 1990 Nota: 0 de 5 estrelas0 notasBurros sem rabo: invisibilidade e consumo ostensivo Nota: 0 de 5 estrelas0 notasTrabajo social en tiempo de capital fetiche: capital financiero, trabajo y cuestión social Nota: 0 de 5 estrelas0 notasPrecisar, Não Precisa Nota: 0 de 5 estrelas0 notasLiteratura, Cinema E Sociedade Nota: 0 de 5 estrelas0 notasValor E Educação Nota: 0 de 5 estrelas0 notasO Labirinto da Linguagem Nota: 0 de 5 estrelas0 notasQuintal Cultural: O sol nascente da cultura da Vila Brejal Nota: 0 de 5 estrelas0 notasEspaços fechados e cidades - Insegurança urbana e fragmentação socioespacial Nota: 0 de 5 estrelas0 notasHistória das cidades brasileiras Nota: 0 de 5 estrelas0 notasDepois da Avenida Central: Cultura, lazer e esportes nos sertões do Brasil Nota: 0 de 5 estrelas0 notasComunicação De Mercado E Brinquedos Nota: 0 de 5 estrelas0 notasConflitos Urbanos em Curitiba Nota: 0 de 5 estrelas0 notasElites santistas: cotidiano, moradia e suas relações (1920-1940) Nota: 0 de 5 estrelas0 notasA Cultura dos Novos Museus: Arquitetura e Estética na Contemporaneidade Nota: 0 de 5 estrelas0 notas
Ciências Sociais para você
Manual das Microexpressões: Há informações que o rosto não esconde Nota: 5 de 5 estrelas5/5O Manual do Bom Comunicador: Como obter excelência na arte de se comunicar Nota: 5 de 5 estrelas5/5Um Poder Chamado Persuasão: Estratégias, dicas e explicações Nota: 5 de 5 estrelas5/5Liderança e linguagem corporal: Técnicas para identificar e aperfeiçoar líderes Nota: 4 de 5 estrelas4/5Detectando Emoções: Descubra os poderes da linguagem corporal Nota: 4 de 5 estrelas4/5A Prateleira do Amor: Sobre Mulheres, Homens e Relações Nota: 5 de 5 estrelas5/5Fenômenos psicossomáticos: o manejo da transferência Nota: 5 de 5 estrelas5/5O livro de ouro da mitologia: Histórias de deuses e heróis Nota: 5 de 5 estrelas5/5Tudo sobre o amor: novas perspectivas Nota: 5 de 5 estrelas5/5As seis lições Nota: 0 de 5 estrelas0 notasSegredos Sexuais Revelados Nota: 0 de 5 estrelas0 notasPsicologia Positiva Nota: 5 de 5 estrelas5/5Quero Ser Empreendedor, E Agora? Nota: 5 de 5 estrelas5/5Mulheres que escolhem demais Nota: 5 de 5 estrelas5/5Apometria: Caminhos para Eficácia Simbólica, Espiritualidade e Saúde Nota: 5 de 5 estrelas5/5A máfia dos mendigos: Como a caridade aumenta a miséria Nota: 2 de 5 estrelas2/5Pele negra, máscaras brancas Nota: 5 de 5 estrelas5/5A Bíblia Fora do Armário Nota: 3 de 5 estrelas3/5Um Olhar Junguiano Para o Tarô de Marselha Nota: 0 de 5 estrelas0 notasVerdades que não querem que você saiba Nota: 0 de 5 estrelas0 notasA perfumaria ancestral: Aromas naturais no universo feminino Nota: 5 de 5 estrelas5/5A Criação do Patriarcado: História da Opressão das Mulheres pelos Homens Nota: 5 de 5 estrelas5/5Seja homem: a masculinidade desmascarada Nota: 5 de 5 estrelas5/5O corpo encantado das ruas Nota: 5 de 5 estrelas5/5O Ocultismo Prático e as Origens do Ritual na Igreja e na Maçonaria Nota: 5 de 5 estrelas5/5O marxismo desmascarado: Da desilusão à destruição Nota: 3 de 5 estrelas3/5
Avaliações de Entre a casa e a rua
0 avaliação0 avaliação
Pré-visualização do livro
Entre a casa e a rua - Luiz André Soares
simbólicos.
PRODUÇÃO E CONSUMO: UMA PROBLEMÁTICA OCIDENTAL
Uma vez que determinados espaços são destinados à atividade de consumo nas sociedades modernas, especialmente os shopping centers, torna-se essencial o entendimento daquele fenômeno enquanto prática que se comunica simbolicamente com o mundo no qual vivem os consumidores e que sobretudo faz com que esses de alguma forma se relacionem. Assim sendo, por trás das simples compras materiais e dos passeios descompromissados nos shoppings, existe a contínua construção do mundo do consumo
, ou seja, um universo de comunicação e classificação, motivado ou não por razões subjetivas, que não pode ser meramente entendido como algo que represente uma espécie de desdobramento do mundo da produção
. É a minha intenção retratar aqui o consumo, tal como podemos entendê-lo com a ajuda particular das lentes das ciências sociais, especialmente a sociologia e a antropologia.
É possível constatar que grande parte das narrativas sobre a sociedade capitalista ocidental possui um elemento em comum: todas posicionam a produção como sendo a razão maior de nossa existência, ocupando a posição central em um sistema onde o trabalho é o elemento que enobrece e dignifica o homem. Dessa forma, existe um vasto campo de produção do conhecimento acerca do tema: uma historiografia da produção, uma ciência política da produção, uma teoria econômica da produção. Através de um intenso processo de valorização cultural da produção, justificada sempre com premissas racionalmente inquestionáveis, deixamos de lado um outro aspecto de igual importância: o consumo, que assumiu durante o desenvolvimento do capitalismo um verdadeiro caráter pejorativo. Em outras palavras, consumir sempre foi visto como algo negativo, diminutivo e em contraposição ao potencial produtivo que, até então, acreditava-se inerente ao próprio homem.
O contato de uma sociedade com essas características com outros tipos de sociedade pode ser sintetizado historicamente como um contato de anulação das diferenças, sempre de um ponto de vista destrutivo. Rocha (1995a, p.123), analisando tal contato, acredita que existem certos pontos dos quais a sociedade capitalista não abre mão quando cruza sua visão de mundo com outras concepções; (...) em outras palavras, é impossível negociar quando está em jogo uma concepção que discorde de que a natureza (...) deva cumprir um destino de se transformar em riqueza
. Outros três elementos acompanhariam e celebrariam uma versão completa da chamada sociedade moderna-industrial-capitalista
: a existência do Estado como um poder separado da sociedade civil, a preponderância do indivíduo como valor central, em contraposição à coletividade, e uma concepção de tempo histórico linear.
É necessário ressaltar aqui o processo histórico-cultural de construção da sociedade capitalista: seu mito de origem é a Revolução Industrial. É a partir dela que passou a fazer sentido trabalhar e acumular e, consequentemente, naturalizar essas duas atitudes como sendo as diretrizes básicas da vida humana. São, entretanto, atitudes esperadas dentro de um contexto cultural específico. Não são retratadas da mesma forma central e nem mesmo implicam invariavelmente em uma mesma racionalidade em todas as sociedades humanas. Como descreve Sahlins (1979, p.188), (...) a produção (...) é algo maior e diferente de uma prática lógica de eficiência material. É uma intenção cultural
. Assim, a questão antropológica não está em ser ou não produtivista, mas em assegurar que necessariamente não existem meios mais corretos ou justos de se encarar a vida, apenas meios diferentes; a existência da vida é sobretudo a existência contínua de uma produção simbólica e, nesse sentido, a especificidade ocidental estaria na institucionalização do processo simbólico, disfarçado na forma da produção.
A força do simbólico seria de tal tamanho que levou Sahlins (1988) a relativizar os efeitos do capitalismo em outras sociedades. Pois, se é bem verdade que historicamente é possível verificarmos a alta correlação entre colonização e etnocídio, também é possível pensar que tais sociedades ritualizaram o capitalismo de uma forma bastante singular, ou seja, realizaram uma verdadeira leitura significacional das leis de dominação capitalista, interpretando-as de acordo com uma rede própria de significação. Para Sahlins (1988, p.53), (...) os efeitos específicos das forças materiais globais dependem dos diversos modos como são mediados em esquemas culturais locais
. Assim, explica-se a forma pela qual, no século XVIII, as mercadorias inglesas que aportavam nas Ilhas Sandwich eram recodificadas como benefícios divinos, criando não a esperada adjacência havaiana ao capitalismo, mas sim o fortalecimento da simbologia ligada às representações pertinentes ao sistema local de trocas cerimoniais.
Essa ilustração evidencia, antes de mais nada, as causas pelas quais somos inevitavelmente etnocêntricos: tendemos a ver a diferença sempre como algo estranho e inesperado; não satisfeitos, ainda a interpretamos somente dentro daquilo que nos é simbolicamente possível cogitar. Somente para nós, ocidentais e produtivistas, faz sentido pensar que os índios que trocavam suas valiosas madeiras por espelhinhos estavam perdendo; avaliando pelos valores de uso e troca, noções moldadas pela economia ocidental, é claro que as madeiras ocupam uma posição de destaque dentro da razão pela qual racionalmente nós a utilizamos: tingir tecidos, gerar energia, enfim, vestir a roupagem ocidental de natureza e dar continuidade à produção. Os índios, por sua vez, encaram aquela troca por outro ângulo, pois atribuem diferentes significados aos objetos em questão e têm outros modos de avaliar a troca, o que não significa que sejam mais ou menos corretos, mais ou menos vencedores, se é que pensam supostamente em correção e ganho econômico nas