Práticas Pibidianas nos Subprojetos de Matemática e Pedagogia do Pibid Unifesp: Reflexões Sobre Ser e Fazer-se Professor
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Práticas Pibidianas nos Subprojetos de Matemática e Pedagogia do Pibid Unifesp - JOÃO DO PRADO FERRAZ DE CARVALHO
Unifesp.
PRIMEIRA PARTE
SUBPROJETO DE MATEMÁTICA
INICIAÇÃO À DOCÊNCIA: VIVENCIANDO TECNOLOGIA DE INFORMAÇÃO E COMUNICAÇÃO NA EDUCAÇÃO BÁSICA
Apresentação
Verilda Speridião Kluth
O intento do prefácio referente à parte Iniciação A Docência - Vivenciando tecnologia de informação e comunicação na educação básica é o de explicitar o subprojeto Matemática em Ação vinculado ao programa Pibid - Unifesp na dimensão da formação inicial de docentes com a finalidade de que o leitor conheça os fundamentos que o sustentam e possam assim se apropriar mais diretamente do trabalho desenvolvido nesse grupo de bolsistas que culminou na edição desta obra.
Iniciemos pela compreensão do que, para nós, significa matemática em Ação
.
Essa expressão, ao ser lida, pode ser interpretada, de forma imediata, como significando que a matemática tem vida própria e pode por si só gerar ação. Essa seria uma concepção de matemática muito próxima àquela que encontramos nas explicações platônicas sobre as ideias matemáticas e de como elas se projetam no mundo das experiências humanas.
Não é assim que a matemática está sendo entendida por nós ao propormos e ao executarmos o projeto Matemática em Ação.
A ciência matemática, na perspectiva fenomenológica, é um objeto cultural que expressa um modo de ver o mundo que é intersubjetivo e que se perpetua aberta a complementações, na medida em que a nossa interação de ser humano com o mundo a reconhecer enquanto ciência. Estamos, assim, considerando inclusive as diferentes perspectivas que caracterizam as épocas históricas de sua evolução que vão sendo tomadas como direções na definição dos modos de se fazer ciência. Para a fenomenologia, a matemática (...) é uma expressão viva do mundo cultural, por que a civilização na qual está inserida se manifesta através dos objetos culturais que a própria civilização fornece
(Kluth, 2001, p. 366)², ou seja, cada cultura, às vezes de épocas diferentes, deixa rastros que vão, no decorrer do tempo, sendo integrados construindo aquilo que hoje entendemos por matemática.
Nesta perspectiva filosófica, a procedência dos objetos matemáticos está na coexistência das vivências de um número infinito de seres humanos ao estarem na presença do mundo natural e do mundo cultural. Portanto, os objetos matemáticos são construções humanas, contrapondo-se às afirmativas advindas da perspectiva platônica na qual a existência dos objetos matemáticos independeria da ação humana.
As propostas de ações educativas matemáticas partem, assim, de algo já constituído pelo cultural. No caso das ações da escola básica e da formação inicial de professores, elas se referem àquilo que está sendo elencado no currículo sobre o corpo do conhecimento matemático e sobre as finalidades educacionais postas nas diretrizes. Desta forma, a ação educacional é responsável pela reconstrução do conhecimento ou pelo entendimento da construção já posta no corpo de conhecimento da matemática.
No âmbito da fenomenologia, as ações educacionais trabalham com a orientação da reconstrução do conhecimento matemático, as quais também contemplam os aspectos formativos.
Valer-se das intervenções fenomenológicas é conduzir o aluno ao pensamento reflexivo com base em situações prenhes de significações, para que possa, por tais vivências, compreender-se, expressando sua abertura no e para o mundo; esse é um ato educativo. Nele, o aluno se forma humanizando-se, sendo coautor e corresponsável por suas aprendizagens expressas pelo discurso em momentos de fala e escuta do outro, em um ato de comunicação. Ao comunicar (se), o aluno informa seu Ser-no-mundo em uma articulação dos significados atribuídos aos fenômenos pelas culturas, enriquecendo seu estar e ser no mundo. (Barreto e Kluth, 2013, p. 129)³
É neste pano de fundo de concepção filosófica sobre a construção do conhecimento humano calçado na vivência humana que a expressão Matemática em Ação deve ser entendida.
Portanto, o subprojeto do programa Pibid-Unifesp (2014-2018) que a expressão intitula reflete também em seus horizontes a mesma concepção. Dele fez parte um planejamento de ações em que foi contemplado estudo de textos de matemática e de educação matemática, apresentação de seminários por parte dos alunos, desenvolvimento de atividades educacionais – aulas e oficinas – e suas aplicações em sala de aula na escola parceira, reflexão sobre depoimentos de alunos e sobre a própria prática; para além disto, ainda inclui neste rol de atividades a escrita de artigos e discussão deles em grupo no sentido de aprimorar a escrita e a compreensão de futuros leitores. As competências e habilidades cultivadas durante a execução do projeto caracterizam-no como um projeto de formação inicial de professores enraizada em processos investigativos, colaborativos e dialógicos.
O projeto que originalmente deveria ter seu término em 2018, interrompido por forças nacionais que fugiram ao nosso controle, desenvolveu-se em torno do uso das Tecnologias de Informação e Comunicação – TIC.
Os fatores, que nos impeliram para a escolha da temática, dizem principalmente respeito a sua presença em diferentes campos da atuação humana e as indicações sistemáticas da literatura educacional que apontam o uso das TIC como um recurso pedagógico e uma importante oportunidade educacional.
No entanto, a atitude investigativa desenvolvida durante a execução do projeto frente à temática buscou manter-se afastada de uma atitude ingênua que visse nas TIC um paraíso pedagógico, em que reinaria a solução absoluta dos problemas do ensino e da aprendizagem da matemática, seguindo constatações já alertadas por Seymour Papert ao afirmar:
Não estou cegamente entusiasmado pela tecnologia. A lista de exemplos sobre o modo como a sociedade utilizou inovações tecnológicas é aterradora. Primeiro fizemos centenas de milhões de automóveis e só depois é que nos preocupamos em remediar os prejuízos causados pela desfiguração das nossas cidades, a poluição atmosférica e a alteração do modo de vida dos adolescentes. Porque razão nós, enquanto sociedade, faremos melhor desta vez? (Seymour Papert, 1997 apud Ponte, 2000, p. 66)⁴
Entendemos das nossas leituras sobre o assunto que muitas serão as providências que deverão ser tomadas para que o uso das TIC se faça de forma apropriada e consciente. Elas extrapolam os objetivos do nosso projeto do Pibid, porém estamos conscientes que também temos que fazer a nossa ínfima parte ao termos como propósito o uso de objetos de aprendizagem da plataforma Currículo+. A compreensão dos riscos de um uso inconsequente nos levou a investigar sobre como analisar softwares e objetos de aprendizagem
para conhecermos suas potencialidades e para, se necessário, podermos completá-los na aplicação das oficinas elaboradas em torno da temática.
Os capítulos do livro esclarecerão os fundamentos e os modos como operamos nas análises e as complementações que delas ocorreram. No entanto, podemos adiantar que existem objetos de aprendizagem disponíveis na internet que somente expressam os encaminhamentos da historicidade dos objetos matemáticos sem qualquer preocupação que abarque o entendimento do aprendiz. Sem a intervenção do professor é quase inadmissível o seu uso como um objeto de aprendizagem. Esse fato ficará bem visível nas descrições das aplicações de algumas oficinas nos capítulos que compõem essa parte do livro, do qual passamos a tecer alguns comentários.
O primeiro capítulo é escrito pela diretora da escola parceira, a Profa. Ester Alves de Oliveira, intitulado Gestão Escolar e o Trabalho Docente na Era da Globalização, discorre sobre a importância do Pibid na escola pública. O segundo, escrito pela nossa professora supervisora, Profa. Cristiane Silva Savanachi, tem como título Grupo de Estudos de Matemática: uma Experiência Educacional. Ele descreve a implantação de uma proposta inovadora de trabalhar a matemática com os alunos em grupos de estudos fora do horário de aula. A partir do terceiro capítulo, estão explicitadas as ações educacionais vividas pelos bolsistas, as fundamentações que as sustentam, a descrição das oficinas desenvolvidas e comentários sobre suas aplicações. O terceiro capítulo trata de um conteúdo do ensino médio escrito por Francisco Aparecido Cardeira e Verilda Speridião Kluth, o qual recebe o título de Compreendendo a Função Seno por meio do uso de TIC. Na sequência, escrito por Mariana Chiccolli Pereira de Rezende, apresentamos O uso das TIC no Ensino de Frações. Essa oficina tem a proposta de trabalhar com alunos que apresentam dificuldade de aprendizado neste conteúdo.
Tratando de um assunto muitas vezes esquecido no fim do livro didático, o quinto capítulo nos traz As TIC no Ensino de Geometria Plana, elaborado por Vilma Zulma Avalos e Verilda Speridião Kluth. Para abrilhantar nosso trabalho, o último capítulo apresenta Uma Proposta de uso de Tecnologias no Ensino de Probabilidade e Estatística, escrito por Pedro Augusto Nascimento da Silva, bolsista com menos de um ano na equipe.
Para finalizar este prefácio, queremos testemunhar e confirmar a importância do programa Pibid enquanto um movimento de formação inicial de professores compromissado com a educação escolar sem estar aprisionado nas gaiolas construídas pelos diagnósticos que somente levam em conta as dificuldades e os fracassos. O subprojeto Matemática em Ação, o qual retratamos neste livro, deu-nos chance de olharmos para o processo educacional matemático com um novo olhar. Um olhar que se direcionou positivamente para os alunos e para o trabalho que é desenvolvido na escola básica, pois ele possibilitou um diálogo da universidade com a escola e nos permitiu um atuar com liberdade sustentada por um pensar ético, que pode nos conduzir a clareiras de entendimento que somente o homem pensante ao estar com o outro pode alcançar. Agradecemos à Escola Estadual Padre Anchieta – Diadema, à Unifesp e à Capes, por essa oportunidade vivenciada.
Notas
2. Kluth, V. S. O conhecimento Geométrico: trama de vivências corpóreo-sócio-culturais. In: Bicudo, Maria A. V. e Beluzzo, Regina C. B. (Orgs.). Formação humana e Educação. Bauru: Edusc, 2001.
3. Barreto, M. de F. T. e Kluth, V. S. O número compreensões no mundo-vida. In: Barreto, Maria de Fátima T. e Silva, Carlos Cardoso Barreto (Orgs.). Fenomenologia – Escola e Conhecimento. Goiânia: Cânone, 2013, p. 125-144.
4. Ponte, J. P. da. Tecnologias de informação e comunicação na formação de professores: Que desafios? Revista Iberoamericana de Educação, v. 24, p. 63-90, set./dez. 2000. Disponível em:
CAPÍTULO 1. GESTÃO ESCOLAR E O TRABALHO DOCENTE NA ERA DA GLOBALIZAÇÃO
Ester Alves de Oliveira⁵
Nos últimos anos, a instituição escolar passou por fortes períodos de transformações. Os avanços científicos e a propagação de novas tecnologias transformaram o cotidiano da sociedade, com novas formas de interação e comunicação entre as pessoas e novos modelos de absorver e buscar informações. Todo esse novo cenário fez com que fosse necessária a incorporação de novos olhares e comportamentos na cultura organizacional da escola. É preciso adequar o modelo educacional de modo que se torne possível absorver todo o potencial dessas novas tecnologias como novas, e poderosas, ferramentas de ensino. Um processo que envolve a ampliação de parcerias com a comunidade interna e local, a fim de inserir no cotidiano escolar novas formas de compreensão do mundo. Dessa forma, a instituição escolar pode reforçar o seu compromisso de educar os estudantes dentro dos princípios democráticos, participando dos processos de transformação da sociedade.
Diante dos desafios gerados nesse cenário de transformações e tendo em vista a necessidade da ampliação da gestão participativa, a EE Padre Anchieta optou por incluir em seu Projeto Pedagógico, que conta com a participação de toda equipe escolar, pais, alunos e funcionários, uma parceria com a Unifesp de Diadema, que possibilitou a implantação do Programa Institucional de Bolsa de Iniciação à Docência (Pibid), desenvolvido pela Capes/MEC, como parte do conjunto de políticas de formação de professores para a melhoria da qualidade da educação.
O Pibid funciona por meio de grupos formados por professores da escola pública e mestres, professores e alunos da universidade. Esses grupos visitam a escola em questão para diagnosticar possíveis fragilidades na aprendizagem dos alunos. A partir desse diagnóstico, esse grupo desenvolve subprojetos para trabalhar essas fragilidades. Os subprojetos desenvolvem ações em sala de aula, através de oficinas e com atividades também nas aulas vagas e contraturno escolar. O objetivo é levar o aluno a estudar e discutir assuntos relevantes e de seu interesse. Para isso, são desenvolvidas atividades concretas que possam aproximar e contextualizar a ciência, tornando-a mais atraente e de fácil compreensão para os alunos. Assim, é possível desmistificar a imagem do cientista inatingível, uma distorção que resulta na perda do interesse por ciência. As atividades são focadas para desenvolver nos alunos a reflexão