Ensino de Matemática e Registros de Representação Semiótica: uma Perspectiva Pragmático-Cognitiva
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Ensino de Matemática e Registros de Representação Semiótica - Marleide Coan Cardoso
Editora Appris Ltda.
1ª Edição - Copyright© 2019 dos autores
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COMITÊ CIENTÍFICO DA COLEÇÃO CIÊNCIAS SOCIAIS
A nossas famílias,
Semiósis e Noésis de nossas existências.
Agradecimentos
Os autores agradecem o apoio institucional do Programa de Pós-Graduação em Ciências da Linguagem, do Grupo de Pesquisa em Pragmática Cognitiva da Universidade do Sul de Santa Catarina (Unisul), e do Instituto Federal de Santa Catarina – câmpus Criciúma.
Sumário
Introdução
1
Registros de representação semiótica
1.1 MATEMÁTICA COMO CIÊNCIA FORMAL
1.1.1 Formalização em matemática
1.1.2 Referência e sentido
1.1.3 Formalização e dedução
1.1.4 Formalização e ensino
1.1.5 Representação
1.2 REGISTROS DE REPRESENTAÇÃO SEMIÓTICA
1.2.1 Semiósis e Noésis
1.2.2 Tipos de representação
1.2.3 Conversão e congruência
1.2.4 Exemplificando a noção de congruência
1.3 ENSINO E APRENDIZAGEM DE MATEMÁTICA
1.3.1 A matemática e o ato pedagógico
1.3.2 Obstáculos de aprendizagem
2
Teoria da relevância
2.1 NOÇÕES INTRODUTÓRIAS SOBRE RELEVÂNCIA
2.1.1 Efeitos cognitivos
2.1.2 Esforços de processamento
2.1.3 O princípio cognitivo
2.1.4 O princípio comunicativo
2.2 PROCESSAMENTO PRAGMÁTICO DE ENUNCIADOS
2.2.1 Formas lógicas
2.2.2 Mecanismo dedutivo
2.2.3 Regras de eliminação
2.2.4 O processamento das informações
2.2.5 O processamento pragmático de enunciados
2.2.6 Retomando o procedimento de compreensão
2.3 REVISITANDO A QUESTÃO DA CONVERSÃO
2.3.1 Registro em língua natural
2.3.2 Representação da função em linguagem algébrica
2.3.3 Registro de representação em linguagem tabular
2.3.4 Registro de representação gráfica
2.3.5 Retomando a representação no registro tabular
2.3.6 Retomando a representação no registro gráfico
2.3.7 A complexidade das conversões
3
Teoria de conciliação de metas
3.1 ELABORAÇÃO DOS CONCEITOS
3.1.1 Fundamentos
3.1.2 Modelando ações proativamente
3.1.3 Avaliação
3.1.4 Comunicação e heteroconciliação de metas
3.2 APLICAÇÃO DOS CONCEITOS
4
Considerações finais
REFERÊNCIAS
ÍNDICE REMISSIVO
Introdução
O caráter abstrato dos estudos matemáticos surpreende o principiante nos primeiros contatos com o mundo das ideias e representações desprovidas das particularidades das coisas materiais. Apesar de a matemática ser utilizada e estar presente na vida diária, exceto para quem já compartilha deste saber, as ideias e os procedimentos matemáticos parecem muito diferentes dos utilizados na experiência prática ou na vida diária.
(Maria Aparecida Viggiani Bicudo).
Este livro decorre de inúmeras inquietações sobre o ensino e a aprendizagem da Matemática. Em especial, preocupa-nos a dificuldade que os estudantes demonstram possuir para se apropriarem dos objetos ou conceitos matemáticos, mesmo após terem sido expostos à extensa explicação e à consideração de exemplos e problemas.
Quando trabalhamos um conteúdo novo, é de se esperar que os estudantes compreendam e relacionem-no com conteúdos prévios que deveriam constituir seu ambiente cognitivo. Todavia são recorrentes nessas situações depoimentos como Dá para falar a nossa língua
ou Não compreendi nada
. Para além da frustração inicial, vale refletir o que faltou para os estudantes compreenderem e integrarem esses conhecimentos com aqueles supostamente já internalizados.
As dificuldades no ensino e na aprendizagem da Matemática vêm sendo amplamente estudadas. Obviamente, trata-se de um tema complexo que pode ser abordado de múltiplas formas e a partir de diversas correntes teóricas. Neste livro, propomos uma abordagem interdisciplinar para essas questões, estabelecendo um diálogo com as ciências da linguagem. Elegendo uma interface entre a teoria de registros de representação semiótica de Duval (2009, 2011) e duas teorias de escopo pragmático-cognitivo – a da relevância, de Sperber e Wilson ([1986] 1995), e a de conciliação de metas, de Rauen (2014) –, queremos delimitar o olhar para um fato aparentemente banal: o principal instrumento de ensino dos objetos matemáticos e de seus registros de representação semiótica é a língua natural.
Entre outras questões problemáticas que decorrem desse fato, destacamos que a lógica constitutiva das línguas naturais diverge, muitas vezes, das linguagens que dão sustentação à Matemática. Enquanto a Matemática sustenta-se em sistemas lógicos formais, demonstrativos, monossêmicos e, por vezes, contraditórios com o senso comum, a língua natural sustenta-se em sistemas lógicos não necessariamente demonstrativos que lhe fornecem seu aspecto polissêmico característico.
Contudo, antes de ensinar a lógica demonstrativa que dá sustentação à Matemática, é preciso garantir que os estudantes assimilem registros próprios de representação de seus objetos de conhecimento, visto que estes são formais¹ e somente podem ser parcialmente acessados por sistemas semióticos que os representam. Em função disso, Duval (2009; 2011) alerta-nos para a necessidade de diferenciar os múltiplos registros de representação semiótica dos objetos matemáticos – a semiósis – dos objetos matemáticos representados por esses diferentes registros de representação semiótica – a noésis.
Parafraseando Duval (2009, 2011), cada registro de representação semiótica caracteriza-se por eleger unidades significativas próprias – as representações identificáveis –, com as quais é possível proceder a formação, os tratamentos e as conversões características do ensino da Matemática. O registro de representação algébrico, por exemplo, caracteriza-se por um conjunto sintática e semanticamente estruturado de letras, símbolos e números que representam ou estão no lugar de objetos matemáticos. Tomemos o caso da equação matemática . Nesta equação, podemos observar que cinco representações identificáveis ou unidades significantes próprias de uma representação algébrica – ‘ ’, ‘ ’, ‘ ’, ‘ ‘ e ‘ ’ –, de forma sintática e semanticamente estruturada, estão representando ou estão no lugar de cinco unidades significantes do objeto matemático ‘equação’ –
incógnita, operação de adição, duas unidades, igualdade
e
cinco unidades
– respectivamente.
É justamente em função do arranjo sintático-semântico das representações algébricas que é possível tratá-las logicamente e, quando necessário, convertê-las em outras representações semióticas.
Conforme Duval (2009, p. 39), um tratamento consiste num conjunto de transformações efetuadas no interior de um determinado registro de representação semiótica
graças às características algorítmicas permitidas por sua estrutura. É em função destas que se pode inferir que o valor da incógnita deve equivaler a
três unidades
para que a equação matemática preserve sua propriedade de igualdade e seja considerada lógica e demonstrativamente verdadeira. Um dos tratamentos possíveis para essa inferência é apresentado a seguir:
Identificar e tratar unidades significativas do registro algébrico que constitui a equação em questão é necessário, mas não é suficiente quando levamos em conta o ensino e a aprendizagem de Matemática. Isso ocorre porque ensinar e aprender Matemática implica mobilizar e coordenar pelo menos dois registros de representação semiótica. De um lado, é necessário mobilizar a língua natural, o registro de representação semiótica, que é o principal meio de se estabelecer comunicação com os estudantes; de outro lado, é necessário mobilizar o registro de representação algébrico, que é o registro de representação semiótica mais eficiente ou relevante para o tratamento de uma equação de primeiro grau, o objeto matemático em pauta.
Tomemos o caso de um enunciado como Qual é o número que somado com duas unidades é igual a cinco unidades?
, proferido por um docente no contexto do ensino de equações do primeiro grau. Para tratar a representação dessa equação de modo mais eficiente, é necessário que o estudante converta as unidades significativas do registro de representação semiótica em língua natural nas respectivas unidades significativas do registro de representação algébrico, como podemos ver na Figura 1, a seguir:
Figura 1 – Conversão de um enunciado no registro de representação em língua natural para o registro de representação algébrico
Fonte: elaboração dos autores
Duval (2009, 2011) argumenta que a conversão de informações em diferentes registros de representação semiótica não é apenas instrumental, mas essencial para a própria compreensão dos objetos matemáticos. Para ele, um estudante que consegue mobilizar e coordenar pelo menos dois registros de representação semiótica de um mesmo objeto matemático procede a um salto qualitativo substantivo na apropriação desse objeto (DUVAL, 2009, 2011), razão pela qual atividades que demandam conversão deveriam ser estimuladas em situações de ensino e de aprendizagem de Matemática.
Contudo é necessário reconhecer que as unidades significativas de cada registro de representação, por suas características intrínsecas, tornam manifestos semioticamente apenas certos aspectos noéticos do objeto matemático representado, aspectos estes que unidades significativas de outro registro podem não ser capazes de manifestar. Isso implica dizer que nem sempre há congruência entre os registros de representação semiótica mobilizados e coordenados num processo de conversão, o que constitui um claro obstáculo para a própria representação e compreensão dos objetos matemáticos.
Vejamos um exemplo para ilustrar essa questão. No estudo de funções, a representação tabular é comumente utilizada como registro intermediário entre a representação algébrica e gráfica. Tomemos o caso de um estudante que se propõe a representar, numa tabela, a função definida por .
Tabela 1 – Representação tabular da função definida por
Fonte: elaboração dos autores
Como podemos observar, o registro de representação algébrica de partida e o registro de representação tabular de chegada registram discretamente, isto é, ponto a ponto, os números naturais da variável que correspondem à função para ‘ ’, ‘ ’, ‘ ’ e ‘ ’ unidades da variável ‘ ’. Contudo a mesma representação tabular pode representar a função definida por . Nesse caso, embora haja correspondência entre os dados algébricos de partida e os dados tabulares de chegada, ao representar somente os valores discretos de que correspondem à função para ‘ ’, ‘ ’, ‘ ’ e ‘ ’ unidades, a tabela deixa escapar valores próprios dos números reais ( ), revelando-se incongruente com a formulação algébrica.
Por exemplo, se a tabela for tomada como registro de partida para representar a função num plano cartesiano, a representação gráfica captaria somente as coordenadas , , e em ambos os casos. Esse processo, comum em sala de aula e correto no universo dos números naturais ( ), revela-se incompleto ou incorreto no universo dos números reais ( ), visto que a representação cartesiana desses pontos não representaria os valores contínuos pertinentes da curva da função definida em .
Figura 2 – Representação gráfica da função , a partir da Tabela 1, respectivamente nos campos de definição dos números naturais ( ) e reais ( )
Fonte: elaboração dos autores
Considerando a contingência dos fenômenos relacionados à congruência quando os indivíduos mobilizam e coordenam diferentes representações, segue que o custo de processamento de conversões é inversamente proporcional à congruência dos pareamentos das unidades significativas dos registros mobilizados. Em outras palavras, em iguais condições, quanto maior é a congruência entre as unidades significativas pareadas, menor é o custo de processamento cognitivo despendido para a conversão das representações envolvidas; e, coerentemente, quanto menor é a congruência, maior é o custo.
Uma vez que a eficiência das conversões é afetada pelos custos de processamento, buscamos compreender esses processos a partir da noção teórica de relevância que Sperber e Wilson ([1986] 1995) utilizam para descrever e explicar processamentos de enunciados em língua natural. A teoria da relevância é uma abordagem linguística de escopo pragmático-cognitivo fundamentada justamente numa economia de custos e efeitos cognitivos que nos interessa neste livro.
Os autores defendem que o processamento de um input linguístico num contexto cognitivo prévio de suposições cognitivas de um indivíduo pode gerar efeitos positivos de fortalecimento de suposições existentes, de contradição e eliminação de suposições existentes e de combinação com suposições existentes para gerar implicações contextuais (SPERBER; WILSON, [1986] 1995). Uma vez que a geração desses efeitos cognitivos positivos implica custos de processamento, Sperber e