Superdotação: imagem reflexa de narciso
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Sobre este e-book
Pensar e sentir a constituição da autoimagem, por meio da relação espelhar com o Outro — o Mito de Narciso —, são ações indissociáveis que Santos produziu e defende, tendo como um dos pontos fulcrais o espaço educacional.
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Superdotação - Silvio Carlos dos Santos
APRESENTAÇÃO
Narciso
À escrivaninha me ponho, com a pena em riste e meus fiéis cachorrinhos o Bebê e o Ninho – não para a fabulação de mundos poéticos pelo meu Eu-lírico, mas para a edificação de caminhos desenhantes que jazem curiosamente meu Eu-científico que se regozija com as eternais inquirições que movem o mundo: os conhecimentos/saberes que meus intrusos olhos insistem em ver.
A crise civilizatória/totalizante da (Pós)Modernidade que afeta a humanidade se revela pela negligência e falta de cuidado com o Outro. Para o ser humano se retirar dela, carece de um novo olhar para a existência de si mesmo. Este deve ter sua gênese no coração. O cerne da alma humana, assim o viu a ancestral sabedoria dos Mitos, reside mais na inteligência emocional do que na razão/volição. Pois, a vida em sua profundeza, só tem significação quando o amor é alcançado. É inerente ao homo sapiens alocar cuidado/amor/paixão a tudo o que faz. Se não, esta se esvaece e as coisas passam a não ter mais sentido.
Neste momento, portanto, volvo meu olhar à sagrada escrituração que, com especial afeto, elegi fazer: a edificação desta Obra, onde (de)componho a fabulação do cuidado, aprofundo seus caminhos desenhantes para as infindas/inquietantes grandezas da vida pessoal/social, que a construção da autoimagem do adolescente com características de Altas Habilidades/Superdotação presentifica – como processo vivenciado na relação espelhar com o outro – o Mito de Narciso.
Narciso é, para este adolescente, manifestação da essência da alma humana e do inconsciente coletivo partilhado, ou seja, as aptidões habilidades comportamentais peculiares a todos os seres humanos, herdadas e ou adquiridas, independentemente, de raça ou cultura, tempo ou espaço. Portanto, reflexas relações que investigarei no espaço educacional, aqui entendido como todos os ambientes que esse frequenta e estabelece afinidades, neste mundo (Pós)Moderno em que vive.
Quando volto meu sensível olhar pensante sobre mim mesmo, vejo o inerente educador que sou, e quando volto esses mesmos olhos para essa inerência, logo existo. Assim sendo, atuar na educação é uma questão de realização da minha necessidade pessoal/existencial. Desse modo, ponho-me a perguntar sobre a função de todos os conhecimentos/saberes científicos acumulados, ou seja, pela contribuição positiva e/ou negativa da ciência para a felicidade humana.
Sinto-me abstraído, labiríntico, perdido ensimesmadamente dentro de minhas infinitas reflexões sobre uma acepção que dê sentido maior, novo e mais abrangente à escritura deste livro que quer compreender, pelo viés do Mito de Narciso, como o adolescente com características de Altas Habilidades/Superdotação realiza a construção da sua autoimagem, que só se realiza na relação espelhar com o Outro, como eterno processo em constituição no espaço educacional (CARNEIRO, 1939).
Assim sendo, um dos acontecimentos que me faz muito feliz e copartícipe desse incendiário mundo do saber, é ser educador. Amo de paixão a produção dos conhecimentos/saberes. Fui aos poucos me inserindo no contexto educacional e, deste modo, atuando nas mais dessemelhantes instâncias. Comecei como catequista (1974); a seguir, professor do Ensino Fundamental e Médio (1986); depois, Coordenador Pedagógico (1998), quando minha atuação também chegou aos educadores e, concomitantemente, aos educandos e seus familiares; e, por fim, Mestre, atuando no Ensino Superior (1999).
O Doutorado, como excitante/exercício de caminhada/reflexão, direciona-me não à exceção/raridade como pessoa, mas ao enfrentamento dos limites para eu ir além dos obstáculos. O espaço profissional é o lugar do possível, do vir a ser e das vicissitudes a partir da dialética relação entre teoria/prática como um esperançar autêntico e verdadeiro: envolvimento efetivo/afetivo com o tempo futurante das expectantes interrogações humanas.
Inquietação, cuja gênese, elabora-se a partir dos conhecimentos/saberes e escavação dos problemas sociais, para desvelar causas e proporcionar reais soluções, isto é, organiza-se a forma de estar no mundo – caminhos desenhantes que a trajetória pessoal/profissional não só desperta, mas observa, internaliza e assume: angústias, dúvidas e indagações existenciais que muito contribuíram para a formação do meu fazer pedagógico. Experimentos que sempre trouxeram, às minhas relações (inter/intra)pessoais, um sabor de experiências vividas, um gosto de quero mais (SORIANO, 2004).
A convivência com os alunos dos cursos de Pedagogia e Educação Especial, desde 1999, na Universidade Federal de Santa Maria (UFSM), acelerou, aprofundou e definiu a direção do meu querer científico: as Altas Habilidades/Superdotação. Tais experiências ou caminhos desenhantes se tornaram ponto fulcral para eu me voltar ao papel essencial de pesquisador no mundo arriscado da investigação: este fazer pessoal/subjetivo que se concretiza no processo de edificação dos conhecimentos/saberes – esta participação atravessada nas inclinações intelectuais, cognitivas e afetivas do inquiridor (DESHAIES, 1992).
Deste modo, voltei-me para as pesquisas de extensão que me propiciaram interatuar com os alunos e os professores da área da educação. E o PIT – Programa de Incentivo ao Talento
(2008) que, de maneira muito especial, levou-me a uma interação mais próxima com os profissionais da Educação Especial, favorecendo, assim, meu imbricamento com o GPESP – Grupo de Pesquisa em Educação Especial
(2008), da UFSM/RS, no CE – Centro de Educação.
Foi também proeminente a pesquisa de extensão: O Curso de Pedagogia em Interlocução com as Áreas de Conhecimento: acadêmicos, professores e formadores discutindo práticas educativas integradas
(2008), que me possibilitou uma maior vivência e experiência com o espaço de conhecimento, do Curso de Pedagogia, onde passei a fazer parte do corpo de pesquisadores que trabalhavam diretamente com as disciplinas ligadas às práticas de ensino e aos estágios do curso.
O GPESP oportunizou-me convívio direto com crianças e adolescentes já identificados pelo PIT como alunos que apresentavam características de Altas Habilidades/Superdotação. Nesse programa, constatei a relevância do aprofundamento na averiguação científica, tornando-me, assim, inquiritivo o sensível olhar pensante em relação à temática deste livro; e, também, passei a ser um dos pesquisadores que atuava diretamente com esses adolescentes.
Tal vivência trouxe-me o que há de maior valor em mim: que a aquisição de conhecimentos/saberes só é possível a partir da experiência vivida (DESHAIES, 1992; CARAMELLA, 1998). Procedimento de inserção/produção científica que me possibilitou a (con)vivência com o grupo de pais que tem filho com características de Altas Habilidades/Superdotação e o adolescente, alvo fulcral desta inquirição; além de outros depoimentos/memoriáveis da mãe deste, outras mães do grupo e outros adolescentes que aqui disponho, também, como objetos de estudo.
A gênese desta Obra aconteceu ao ouvir a narrativa de uma mãe pertencente ao Grupo de Pais do PIT:
Como foi difícil eu ouvir meu próprio filho dizer que para ele fazer amizades, muitas vezes, foi preciso, até mesmo, negar as suas potencialidades/habilidades pessoais para poder ser aceito ou, pelo menos, tolerado nos grupos de convívio, principalmente, no universo escolar.
E do questionamento do seu filho, como um dos adolescentes que faz parte desse mesmo programa:
O que devo fazer para ser aceito, já que tudo que eu faço não agrada a ninguém?
Deste modo, senti-me mais instigado a desenvolver este assunto pelo viés da relação dialógica com o Mito de Narciso. Tema que estudei em minha formação de psicólogo (2006) e que se encontra imbricada à minha prática educacional, principalmente, ao aproveitamento integral do curso: Olhares sobre o Mundo Grego: a Grécia e o Sagrado
(1996).
Enfim, para eu fazer esta tessitura – o corpus da Obra que tens em mãos – fez-se necessário volver meu sensível olhar pensante para a revisão crítica dos conhecimentos/saberes que a comunidade acadêmica e a sociedade têm sobre o tema, para que, desta forma, o tributo, que ambiciono perpetrar na área educacional, possa ser um dos nortes sêmicos/significativos para todos os atores inseridos no espaço educacional e em seu entorno.
Prof. Dr. Silvio Carlos dos Santos
PREFÁCIO
Figura 1 - Narciso
[...] como membros de uma comunidade de sala de aula, as crianças vibram com as conquistas do grupo mesmo quando evoluem na direção de perceberem a si mesmos como indivíduos plenos. Como participantes engajados na investigação, elas se prendem às questões que são de maior importância para elas. A comunidade da sala de aula ajuda as crianças a construírem relações de vários tipos: entre si e suas ideias; entre suas ideias e as ideias de seus amigos; entre suas próprias experiências e os conceitos e critérios que ajudam-nas a interpretar essas experiências; entre si mesmos como pessoas e os outros como pessoas; e assim por diante. Essas relações, em troca, tornam possível a cada membro da comunidade entrar na criativa e colaboradora tarefa de se transformar em uma pessoa.
Splitter e Sharp
Esta obra aponta para uma reflexão voltada à educação sensível como um dos caminhos desenhantes pra a (inter)atividade com os aprendentes com características de AH/SD na perspectiva de uma melhor compreensão do comportamento do aprendente e de maneira que o ensinante adote métodos para educar e educar-se pela via do sensível, destacando aspectos que contribuem para esse fim: intuição, emoção, criação, percepção e, principalmente, a sensibilidade.
A escola continua priorizando, em suas práticas, um ensino/ aprendizagem voltado ao pensamento linear, disciplinar e, consequentemente, fragmentado. O conhecimento sensível surge como elemento imprescindível na apropriação e internalização dos conhecimentos de um modo sistêmico, por meio do desenvolvimento das características de AH/SD, como um dos objetivos do ensino e como proposta para um sensível olhar pensante, que reflita, construa, aprenda e apreenda o saber com sabor, ou seja, o aprender fazendo
, como elemento significativo na edificação das AH/SD, como o sensível fazer em construção.
Este não é um trabalho fácil, mas é um dos caminhos que o autor deste livro, meu colega e amigo Silvio Carlos dos Santos, passa como legado das incontestáveis horas de estudo, reflexões, análises e insights criativos com o que ele nos brinda. O resultado representa uma contribuição ímpar para a área das AH/SD.
Um dos aspectos mais relevante deste livro é a profundidade com que o autor trata o tema e a lente particular como ele olha
para o conteúdo do Mito de Narciso frente às altas AH/SD.
O trabalho de Silvio Carlos dos Santos marcou-me de uma maneira muito especial. Tendo tido o privilégio de orientá-lo, muito me impressionou a energia que emana não só de seu trabalho escrito, mas de sua posição pessoal quando o assunto é superdotação. Seu perfeccionismo, a intensidade de seus sentimentos, a crença em uma missão maior, e um impulso irrefreável de se utilizar da pesquisa científica como forma de contribuição para o desenvolvimento da área são aspectos cativantes e contaminadores que perpassam essa obra.
Ao final da leitura, torna-se clara a sua competência em se apropriar de um referencial teórico profundo, sólido e abrangente.
O livro é composto de cinco capítulos, a saber:
No CAPÍTULO I – O SENSÍVEL OLHAR PENSANTE: A BUSCA DE SI MESMO – o autor abaliza a investigação de uma acepção ontológico sobre o olhar, de maneira que esse evidencie a sensibilidade como saber, onde a educação sensível constitua premissas para a edificação de uma pedagogia da percepção que está para além do simples ver.
No CAPÍTULO II – O SENSÍVEL OLHAR PENSANTE SOBRE A GRÉCIA ANTIGA: A GÊNESE DO OCIDENTE – ele investiga a edificação do ocidente sob intensa influência da cultura grega que tem, em sua gênese, os mitos, élan vital para a construção da autoimagem nesta diáspora da cultural helenística: a (pós)modernidade – tempo/espaço de aprendência/vivência do adolescente com características de altas habilidades/superdotação.
No capítulo III – O SENSÍVEL OLHAR PENSANTE: UM ESTUDO DIACRÔNICO DA (PÓS)MODERNIDADE PELO VIÉS MÍTICO – expõe a compleição e a eficácia da extensão dos mitos gregos na (pós)modernidade, tempo/espaço de aprendência/convivência do adolescente público alvo desta pesquisa.
No capítulo IV – O SENSÍVEL OLHAR PENSANTE SOBRE O ADOLESCENTE COM CARACTERÍSTICAS DE ALTAS HABILIDADES/SUPERDOTAÇÃO NO ESPAÇO EDUCACIONAL – o artífice desta obra delineia como esse infante era ideado e como é a concepção hodierna a partir de Renzulli e Gardner.
Finalmente, no capítulo V – UM SENSÍVEL OLHAR PENSANTE SOBRE A CONSTRUÇÃO DA AUTOIMAGEM E A RELAÇÃO ESPELHAR DO ADOLESCENTE COM CARACTERÍSTICAS DE ALTAS HABILIDADES/SUPERDOTAÇÃO – Silvio indica a analogia existente entre a construção da autoimagem do adolescente com características de altas habilidades/superdotação e o espelho de Narciso: imagem reflexa no Outro.
Profª. Pós/Doc. Soraia Napoleão Freitas
DEDICATÓRIA
Figura 2 - Metamorfoses de Narciso
Dedico
a todos vocês – o outro – que buscam nesta obra sua imagem reflexa;
Àqueles – de modo especial - imagem reflexa de amor:
minha irmã Cleonice, a Cleo por todos/as muito amada, e
meu irmão Ap. Roberto, o prof. Aparecido por todos/as muito amado,
meu ídolo – desde o início estava você
(Caetano);
à doutora Soraia, pela orientação amável, carinhosa, sensível, atenta e
compreensível, em cada momento desta (des)construção de (des)caminhos;
às minhas mães Alice/Conceição e
aos meus pais Elisiário/Darci,
pois quando penso nos meus pais Alice e Elisiário,
lembro da Conceição e do Darci;
quando penso nos meus pais Conceição e Darci,
lembro da Alice e do Elisiário
– pelo muito amor que têm por mim.
AGRADECIMENTO
Dia do planeta terra – 22 de abril
Dizer muito obrigado é, antes de tudo, ficar eternamente agraciado/agradecido pela imagem refletida no espelho do outro que, de maneira direta/indiretamente, compartilha da edificação das qualidades indispensáveis para se produzir este ajuizamento de valores.
Destarte, reflito sobre os sentidos sêmicos arquitetados nas (inter/intra)relações vividas com esse outro que – a despeito de ser cognominado outro – é (co)partícipe/(co)autor na construção imagética de mim mesmo: minha identidade solidária/solitária, dicotomizada/inteira que não desiste de acreditar na edificação coletiva – esse outro a me (des)velar para um mundo melhor, mais humanizante e equitativo que, acima de tudo, admite que em nossa constituição sejamos, concomitantemente, um ser univérsico: onde a parte pelo todo/o todo pela parte se (re)vela na produção dessa grandiosa obra chamada vida.
Portanto, só posso dar início a esses agradecimentos:
pelo Senhor Maior desta Nave mãe Terra – meu Senhor e meu Deus, por me constituir como um ser incapaz de não-amar, digo: muito obrigado;
aos meus pais, por terem me amparado e estimulado na busca dos meus objetivos, e mostrado, com seus exemplos, a importância de se ter coragem e caráter para perseguir as quimeras, valores e princípios éticos através de tanto carinho, amor, amizade e dedicação, digo: muito obrigado;
a(à) todos(as) grandes amigos(as)/irmãos(ãs) que trago em meu(minha) coração/alma, por terem compartilhado comigo a grande aventura do viver, digo: muito obrigado;
à minha amada orientadora, Professora Pós Doutora Soraia, por mim considerada co-autora da tese de doutorado, por ter desafiado os caminhos desenhados e aceito percorrer, comigo, os novos caminhos desenhantes. Por sua calma, elegância, delicadeza, fineza, gentileza, boniteza e intervenções que orientaram o entalhar da tese e, agora, deste livro, apontando-me o valor ético do humanizante e sensível olhar pensante, digo: muito obrigado;
aos meus queridos e estimados adolescentes Y e Z, colaboradores do ciclo de convivência interpessoal do adolescente X e, acima de tudo, desse último, com características de Altas Habilidades/Superdotação, por serem, por mim considerados, também coautores por terem acolhido, em seus corações, ao pedido de serem participantes, alvo fulcral desta inquirição científica, digo: muito obrigado;
à minha eterna amiga/irmã Marilu, pelas discussões teóricas/empíricas; por teres dividido comigo o teu saber científico, a tua vida, a tua amada Rio Branco/Acre para morarmos, os teus/meus medos, angústias, indignações; pelas muitas risadas e momentos de (des)contração, enfim, pelos conselhos/amizade, pela escritura do realease desta obra e pela pessoa maravilhosa que és, digo: muito obrigado;
à minha amiga/irmã Raquel Cauduro – quem me deu de presente a excelente correção da Tese de Doutorado que ora estou adaptando para a publicação em formato de livro, e sua família, pela afabilidade, pelo companheirismo e por terem me acolhido como filho, digo: muito obrigado;
aos Professores(as) Doutores(ras) Claus, Jorge, Miguel, Valeska, Helenise e Silvia – Banca avaliadora de Doutorado – pelas importantíssimas contribuições sugeridas, na fase de qualificação da tese, que nortearam a efetiva construção/elaboração desta, digo: muito obrigado;
à Universidade Federal de Santa Maria-RS (UFSM) e ao Centro de Educação – através dos professores e funcionários que o compõem – os quais sempre me receberam muito bem e nortearam, sobremaneira, o desenvolvimento de reflexões mais apuradas e atitudes mais humanizantes acerca da relação ensino/aprendizado, relação que transcende os limites institucionais e se espalha pelas (inter/intra)relações humanas vividas diariamente, digo: muito obrigado;
a todos aqueles que não confiaram, contrapuseram, criaram empecilhos e que serviram de barreira, a qual me incentivou, funcionando como élan vital para minha autossuperação, digo: muito obrigado;
ao meu querido irmão, Aparecido Roberto, professor, a quem sempre segui os passos, pela constante presença espiritual e intelectualmente, digo: muito obrigado;
à especial e muito amada irmã Cleunice, pela constante presença/afeto em meu coração – mesmo durante os vinte anos de separação – nesta fase de efetiva adaptação/elaboração deste livro, digo: muito obrigado;
à EDITORA DIALÉTICA LTDA – Belo Horizonte/MG – através dos excelentes colaboradores que a compõem – os quais sempre me atenderam muito bem e nortearam, sobremaneira, a (re)escritura da segunda edição deste Livro, digo: muito obrigado;
a todos vocês – o outro, ponto fulcral em minha vida, que de uma maneira ou de outra soma/somou na construção deste meu eu idiossincrático e desta criação ímpar – que sempre quando pedi disseram-me: SIM! O meu mais sincero abraço, respeito, admiração e profundo: MUITO OBRIGADO!
Prof. Dr. Silvio Carlos dos Santos
1ª EPÍGRAFE
Espelho
titocarlos
Vim não
pôr
o Dr
na frente
do nome
– símbolo
da deselegante
prepotência do ser servido:
má-fé
de deuses
dos caminhos desenhantes
do outro.
Vim sim
pôr
o Dr
atrás
do nome
– arquétipo
da elegante
humildade do servir:
gesto de fé
dos que veem Deus
nos caminhos desenhantes
do outro.
Vim
pôr
o Dr
no
nome
– signo
do humanizante
sensível olhar pensante:
esse exercício de ser
nos caminhos desenhantes
no espelho
pro/do outro.
Prof. Dr. Silvio Carlos dos Santos
2ª EPÍGRAFE
A dialética do humano amor
titocarlos
A palavra,
o trabalho e
a reflexão
constroem o humano:
essa dialética relação da existência.
Porém,
não há diálogo
se não há intenso amor à Navemãe Terra,
à vida,
ao ser humano.
A vida,
a vida,
a vida de verdade
só acontece,
se há amor que a infunda.
Porque
só amando a Navemãe Terra,
só amando a vida,
só amando o ser humano,
me é admissível
o diálogo.
Só há diálogo,
se há humildade.
A fala da Navemãe Terra
– com que o ser humano a recria eternamente –
só pode ser
um ato não-arrogante.
O diálogo
– como encontro para a tribal tarefa de saber agir –
se rompe,
se seus polos
– ou um deles –
se tornam desumildes.
Como dialogar posso
– se, a ignorância, alieno –
já que a vejo sempre no outro,
jamais em mim mesmo?
Como dialogar posso
– ante o outro coisificado: isto,
em que não vejo outros eu –
se um humano desigual,
íntegro por herança
sou?
Como dialogar posso
– se me sinto membro dos puros humanos, donos da verdade e do saber –
para quem todo o resto
são essa gente coisa:
silvícolas menores?
Como dialogar posso
– se me fecho à ajuda do outro, que nunca reconheço –
e até me sinto insultado com ela?
Como dialogar posso
– se só ao pensar na superação–
temo,
sofro e
definho?
A autossuficiência não é compatível
com o diálogo.
O ser humano desumilde
é incapaz de se aproximar do povo,
de ser seu cúmplice de fala;
porque, incapaz de
se sentir e
se saber
tão ser humano quanto o outro,
para chegar ao lugar de encontro com ele:
onde não há
nem ignorante
nem sábio absoluto,
mas seres humanos que
– em comunhão –
procuram saber mais.
Diálogo há
– se houver intensa fé nos seres humanos.
Fé no seu poder de
fazer/refazer,
criar/recriar.
Fé na vocação de ser mais:
direito de todo humano.
Diálogo há
– se as dificuldades das gerações futurantes –
resolvidas forem
para se (re)significar
a subjetividade criativa e
(poli)sêmica
– constituída numa cartografia ao mesmo tempo pessoal e coletiva –
sob uma nova visão:
do sensível olhar pensante,
que apreende a vida através
da razão,
da sensibilidade,
da verdade e
da história
– esses caminhos desenhantes –
da dialética do
humano
amor.
Prof. Dr. Silvio Carlos dos Santos