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Sangue e Chuva: Ficção/Guerra/Militar
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Sangue e Chuva: Ficção/Guerra/Militar
E-book278 páginas3 horas

Sangue e Chuva: Ficção/Guerra/Militar

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Sobre este e-book

Gunnar era um jovem jornalista na Islândia. Cobria notícias locais que o aborreciam e estava desesperado para sair dessa via de mão única para o esquecimento. Quando a Guerra Civil eclodiu na Espanha, ele viu sua oportunidade, seu caminho para a grandeza.

Barcelona era uma cidade com cartazes coloridos de propagandas e de personagens interessantes. Amizades foram forjadas, eles riam, bebiam e lutavam juntos, mas ele teria que pagar a sua dívida. O preço da entrada nesta guerra era a traição aos seus amigos.

Nada seria o mesmo depois que Barcelona irrompeu em chamas em 3 de maio de 1937. Ninguém era confiável, amigos se voltaram uns contra os outros e sobreviver era a única coisa que importava.

Sangue e Chuva é o segundo romance de Villi Asgeirsson. O primeiro, Under the Black Sand, foi publicado em 2013.

IdiomaPortuguês
Data de lançamento30 de jan. de 2021
ISBN9781071551615
Sangue e Chuva: Ficção/Guerra/Militar

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    Sangue e Chuva - Villi Asgeirsson

    Sangue e Chuva

    Villi Asgeirsson

    ––––––––

    Traduzido por Verônica Santos 

    Sangue e Chuva

    Escrito por Villi Asgeirsson

    Copyright © 2019 Villi Asgeirsson

    Todos os direitos reservados

    Distribuído por Babelcube, Inc.

    www.babelcube.com

    Traduzido por Verônica Santos

    Design da capa © 2019 Villi Asgeirsson

    Babelcube Books e Babelcube são marcas comerciais da Babelcube Inc.

    SANGUE E CHUVA

    By Villi Asgeirsson

    Copyright 2017 Villi Asgeirsson

    Tradução para o português: Maria Verônica dos Santos

    Este livro também está disponível na versão impressa na maioria das lojas varejistas online

    VilliAsgeirsson.com

    Sumário

    Título e Direitos autorais

    Sumário (esta página)

    Dedicatória

    Uma palavra sobre o fascismo

    Lorca

    Capítulo 1 - Colisão de mundos

    Capítulo 2 - Ventos do sul

    Capítulo 3 - Cidade do Ouro

    Capítulo 4 - Celestina

    Capítulo 5 - Cruzamentos

    Capítulo 6 - A fazenda

    Capítulo 7 - Saragoça

    Capítulo 8 - Tempestade

    Capítulo 9 - Tiro no escuro

    Capitulo 10 -  Guerra falsa

    Capítulo 11 - Dias de maio

    Capítulo 12 - Lutas

    Capítulo 13 - Doze homens mortos

    Capítulo 14 - Infidelidade

    Capítulo 15 - Biblia del Oso

    Capítulo 16 - O castelo

    Capítulo 17 - Leica

    Capítulo 18 - Cidade do paraíso

    Capítulo 19 -  Sangue e Chuva

    Capitulo 20 - Picasso

    Por favor, comente sobre Sangue e Chuva

    Sobre o autor

    Entre em contato com o autor

    Em memória de minha avó,

    Hrefna Ólafsdóttir,

    um modelo de comportamento, artista e autora.

    Agradecimentos especiais a Frank Jager, Laura Hopkins, Rik van den Bosch, Natasha Kelly e Christiaan Veltkamp por corrigirem meus erros e me ajudarem nesta etapa da minha vida, a fazer deste, um livro melhor.

    Agradeço também à minha família. À Miriam Geelhoed e especialmente à encantadora Mats Kilian por terem paciência e acreditarem neste meu pequeno hobby.

    Este romance acontece nos anos que antecederam a Segunda Guerra Mundial. Os horrores que se desdobrariam, além da imaginação do público em geral, ainda eram em sua maioria desconhecidos. Sendo assim, algumas pessoas simpatizam com Adolf Hitler, com os nazistas e com o fascismo. Isto não significa que o romance ou o autor aprove ou simpatize, de alguma maneira, com a ideologia. Pelo contrário. Acredito que este romance mostre o que pode acontecer quando fechamos nossos olhos e deixamos que metas de curto prazo e ganhos pessoais às custas de outros guiem nossas ações.

    Nazismo, fascismo e os horríveis eventos da Segunda Guerra Mundial devem servir para lembrar do que somos capazes, se não tomarmos cuidado.

    Este livro é dedicado a todas as vítimas de ideologias, vítimas da guerra, discriminação, exterminação, preconceito, racismo e outras ações desumanas dos seres humanos. Vamos deixar o passado nos ensinar uma lição. Vamos fazer do mundo um lugar melhor.

    Halfweg, janeiro de 2017

    Os dois elementos que os viajantes primeiro observam nas grandes cidades são a arquitetura e o ritmo acelerado. In Geometry and anguish.

    ––––––––

    - Frederico Garcia Lorca -

    Capítulo 1 - Colisão dos mundos

    Reykjavík - Julho de 1936

    — Eu quero ser um jornalista respeitável.

    Gunnar tentou ignorar as nuvens de fumaça que permaneciam no ar. Era um vício do qual ele não gostava. Os cafés, as lojas e os escritórios geralmente estavam impregnados de fumaça. O quadro pendurado na parede oposta era pouco visível conforme o sol iluminava as nuvens cinzas de nicotina. A sereia e o marinheiro. Era como Kjarval, o grande mestre, tinha visto as formações de lava e musgo. A paisagem da Islândia era repleta de criaturas naturais e sobrenaturais. Por todo lugar que o artista olhava, as pedras e os lagos conversavam com ele, contavam-lhe histórias e revelavam segredos. Gunnar viu somente lava e musgos. Nada de criaturas míticas ou princesas-fadas. Somente lava e musgo escondidos na fumaça do cigarro.

    Ele arrumou os jornais sobre a mesa à sua frente. A Revolução Espanhola estava a pleno vapor a uma semana. As notícias sobre assassinatos políticos e derramamento de sangue eram diárias. Insurreição do exército no Marrocos — disseram. Tumultos em Madri e Barcelona. Brigas nas ruas. Muitas pessoas mortas e feridas.

    — Você é um jornalista.

    Bragi era um homem magro, beirava a debilidade. Era assistente do editor do Alþýðublaðið, o jornal do trabalhador. Gunnar gostou do homem, o viu como um mentor. Ele tinha levado o garoto de 19 anos um anos antes e o ensinou a entrevistar pessoas e escrever artigos para o jornal. Chegando à cidade, o rapaz, filho de fazendeiro, entrou para o mundo das notícias globais e celebridades locais. Se vocês tivessem esse tipo de coisa na Islândia. Reykjavík ainda era pouco maior do que um vilarejo e os habitantes não viam as pessoas famosas como celebridades. Cantores e atores dirigiam táxis e trabalhavam nas docas entre as apresentações. Elas parecem ser menos importantes do que os políticos, mais distantes dos homens comuns, e Gunnar não teve acesso às pessoas que governavam o país. Bragi reconheceu o talento do jovem e estava disposto a fazer alguma coisa para a sua formação. Mas enviá-lo para o exterior, para uma zona de guerra, era absurdo e além de suas possibilidades.

    — Eu estou escrevendo histórias sobre a quantidade de arenques que têm sido pescados. Droga, você me enviou para uma grande fazenda para contar os cordeiros que estão nascendo. Isso não é jornalismo. Estar aqui... — Ele colocou seu dedo em uma manchete anunciando baixas enormes em Saragoça. — Isto é jornalismo.

    — Eu te enviei para cobrir notícias para as quais está preparado. Você ainda é jovem.

    — Eu quero estar lá.

    — Isso é suicídio, Gunnar.

    — Falar sobre o nascimento de cordeiros me levará a morte pelo tédio.

    — Você começa cobrindo assuntos relativamente simples. Escreve sobre pesca de arenques, entrevista criadores de ovelhas. É assim que se começa. Depois você conversa com um cantor de ópera, em seguida com políticos, mas isso leva tempo. Você tem vinte anos. Tem a vida pela frente. Isso irá acontecer. Você irá se tornar um grande jornalista, mas precisa ter paciência.

    — Ninguém pode ser um grande jornalista na Islândia.

    — Certamente não, se eles fugirem daqui.

    — Eu quero estar lá — seu dedo ainda estava sobre Saragoça.

    — E seu artigo no Krossanes realmente estava bom. Você revelou a corrupção. É um passo no degrau para a excelência. Você mostrou aos nossos leitores o que um capitalista é capaz de fazer à fim de explorar os trabalhadores. Isso irá fazer a diferença.

    — Eu quero ir para lá. Eu quero observar e relatar os eventos para o mundo.

    — Veja o que diz isto. Baixas enormes. Isso é perigoso.

    — Não para um jornalista. Eles não matam jornalistas.

    — Não tenha tanta certeza. Quando as guerras ficam fora de controle, qualquer um é um alvo. E isso parece brutal.

    — Não tem nada para mim aqui. E além do mais, se o nosso jornal tivesse um homem no local, pode imaginar o quanto a nossa cobertura seria melhor? Eu posso fazer isso.

    — Talvez possa, mas não podemos arriscar a enviá-lo para lá.

    E foi isso. A conversa acabou. O jornal não tinha recursos para enviar alguém ao exterior e mantê-lo em atividade em terras estrangeiras.

    — Eu estou indo. De um jeito ou de outro, eu estou indo.

    Gunnar sentou-se em frente a sua máquina de escrever em um pequeno quarto no sótão. Inspirado pelas manchetes das últimas semanas, tentou escrever um editorial. A concessão que Bragi tinha lhe oferecido. Ele podia testar como seria, tornando-se um editor sênior em um jornal nacional. Então colocou uma folha na máquina de escrever, olhou para fora da janela por um momento, deixando sua mente divagar sobre a Europa do passado e do presente.

    Tomou um gole de café que já tinha esfriado e começou a datilografar.

    Guerra, fome, pragas, reis perversos. Resumindo, esta não é a história da Europa? O final do século dezenove prometera um futuro melhor. Nações em paz, a tecnologia poderia resolver nossos problemas, a ciência poderia elevar nossos pensamentos e fazer do futuro um lugar melhor para viver. Tudo parecia estar indo bem até aquele dia fatal de verão em Saraievo, no final de junho de 1914.

    Um sucessor ao trono de um dos maiores impérios europeus foi assassinado. Sim, as pessoas continuaram suas vidas, apreciando o belo verão. Turistas alemães tomavam sol nas praias da Holanda, reis saíram em férias enquanto os carros eram colocados em movimento para o maior cataclismo que o mundo já viu.

    Julho de 1914 foi a última chance que tivemos de evitar um futuro sombrio, mas ninguém estava prestando atenção. Os exércitos foram mobilizados, as pessoas estavam dormindo. Uma guerra nas duas frentes era muito perigosa, então a Alemanha não viu outra opção a não ser se retirar da França antes da inevitável invasão russa. E então começou a Grande Guerra de 19141918.

    Se você tivesse perguntado em 1910 como seria a década de 1920, eles teriam dito: de prosperidade econômica, tecnológica e de paz. Mas em 1914 tudo isso mudou. Os anos de 1920 foram uma década de escassez, hiperinflação e fome extrema na Europa. Era um terreno fértil para homens maus com ideias más. À medida que transcorriam anos de 1930, a economia quebrara em todo o mundo e a época era perfeita para qualquer um que pudesse oferecer um vislumbre de esperança. Uma saída. Um futuro melhor. Porque isso é o que nós todos queremos uma vida decente e um futuro melhor para nós e nossas crianças.

    A Alemanha deixou-se enganar por Adolf Hitler em 1933, não porque ele fosse um grande candidato, mas porque ele ofereceu alguma coisa. Qualquer coisa. Esperança.

    Hoje temos apenas que ler os jornais para observarmos que se não fizermos nada, estaremos caminhando em direção a uma nova guerra na Europa, uma guerra de total devastação do continente e do mundo. Mas como os eleitores de 1933 podiam observar isso? E depois de 1933, eles nunca foram questionados novamente. Alguém acredita que eleições serão realizadas na Alemanha em nove meses, quando quatro anos se passaram desde a reunião com Hitler?

    Os direitos humanos foram abolidos depois que os nazistas tomaram o poder, mas isso parece um pequeno preço a pagar. À medida que as Autobahns e fábricas eram construídas, as pessoas encontravam riqueza e dignidade novamente. Era fácil cair em mentiras porque a verdade era tão dura de aceitar. E quem quer privações econômicas? A Alemanha, a pobre da Europa, foi transformada em uma rica potência. Talvez Hitler estivesse certo. Talvez os judeus fossem culpados. Isso importava? Como muitas mentiras e verdades inconvenientes, é melhor não pensar muito sobre isso. A vida é boa agora e um pequeno sacrifício é esperado. Tendemos a não nos preocuparmos muito com isso, até que comecemos a nos sacrificar.

    Enquanto os direitos humanos estavam desaparecendo na Alemanha, as coisas estavam indo na direção oposta na Espanha. Mulheres tinham direitos pela primeira vez na história, o país era uma verdadeira democracia. Tão próxima de uma utopia socialista como alguém já tinha imaginado. Certamente, haviam conflitos, mas você sempre observa isso quando as coisas mudam e as coisas precisam mudar se eles quiserem melhorar.

    Dificuldades. As últimas duas décadas, de 19141936, foram desafiadoras. Chegamos ao nosso limite, olhamos para o abismo, mas sobrevivemos. Se a Alemanha prosperar em paz, a democracia continuará a se desenvolver na Espanha e a economia lentamente se recuperará em todo o mundo, podemos ser a alavanca para uma nova era dourada.

    A Islândia não é diferente do resto da Europa. O país tinha sido colônia por 650 anos mas ganhou autonomia em 1918. Compartilhando o reinado dinamarquês, o país agora é capaz de determinar seu próprio destino, planejar seu próprio futuro. Nós ainda somos relativamente pobres, mas o futuro parece brilhante.

    Se a guerra fosse evitada e prevalecesse o ideal socialista, nós podíamos deixar as lutas do passado para trás e construir uma sociedade justa.

    Uma sociedade socialista.

    Gunnar Ólafsson retirou o papel da máquina de escrever. Eles aceitariam isto?

    Seu pensamento viajou até a sua infância no sudeste da Islândia. Da neve que cobria as dunas de areia preta até o marinheiro britânico que ficou com eles no inverno de 1926. Já fazem dez anos. Seu navio foi pego pela primeira tempestade de outono e eles foram levados para a praia preta. O navio se destroçou. Muitos homens se afogaram assim que as ondas frias se chocaram contra as rochas pontiagudas, enquanto outros foram parar na praia. Eles vagaram por dias, cruzaram rios e caminharam descalços sobre a lava congelada.

    Ólafur Sigmarsson, o pai de Gunnar, viu o homem caído na areia e o levou para casa. O único sobrevivente. Eles encontrariam os corpos dos outros nos meses seguintes. Alguns nunca foram encontrados.

    O Gunnar de dez anos estava fascinado por aquele estranho. Ele falava de um modo diferente e ninguém conseguia entendê-lo, mas seus olhos eram o de um homem terno e, depois de se recuperar, os ajudou com os animais e outros trabalhos na fazenda. As fortes tempestades de inverno nunca pareciam aborrecê-lo. Se um rapaz em uma parte isolada da Islândia precisasse de um herói para admirar, Harry Wilson era o homem ideal.

    Harry e Gunnar passaram as noites escuras e frias de inverno juntos. Eles tinham se organizado para encontrar os restos do navio encalhado e recuperar alguns objetos. Foi a única vez que Gunnar viu Harry chorar. O dia em que eles encontraram o navio e ele se deu conta de que estavam a duas horas de caminhada da fazenda mais próxima. Seus colegas marinheiros estavam mortos porque eles caminharam na direção contrária.

    Harry se permitiu um pequeno momento de pesar, mas depois se levantou e voltou ao trabalho. Havia objetos a serem resgatados do navio antes que afundasse completamente na areia.

    Enquanto os adultos apreciavam o rum, Gunnar estava felicíssimo com os livros. Eles não faziam nenhum sentido para ele, mas Harry era um homem paciente e passou as tardes ensinando ao rapaz essa estranha língua estrangeira. Na época do Natal, Gunnar foi capaz de manter diálogos com Harry e pouco depois do Ano Novo, pôde ler alguns dos livros.

    A criança se tornou um intérprete, enquanto os adultos pareciam não ser capazes de aprender o idioma. Isso quer dizer que eles fizeram tudo juntos. Gunnar era como uma lua, um satélite que seguia Harry onde ele fosse e o ajudava a se comunicar com os outros.

    Os livros eram de todos os tipos. Moby Dick lidou com os caçadores de baleia e a obsessão deles em capturar aquele animal gigante. Havia alguns livros de um rapaz chamado William Shakespeare. Harry disse que ele era o mais famoso dramaturgo que a Inglaterra já teve. Isso pode até ser, mas Gunnar os achou difíceis de ler. Tinha um livro sobre uma expedição à Islândia. Eles foram à geleira Snæfellsjökull e acharam um mundo fantástico, cheio de grandes animais e perigos. Esse foi o primeiro livro que Gunnar leu, motivo pelo qual queria desesperadamente aprender inglês.

    Felizmente, esse estranho homem da Inglaterra não estava indo a lugar nenhum. Ólafur contatou as autoridades em Reykjavík, mas concordaram que o homem podia ficar durante o inverno. Eles poderiam ter atravessado rios e viajado centenas de quilômetros para levá-lo a cidade, mas pareceu melhor esperar pela primavera.

    Harry era fascinado pelos sombrios meses de inverno. Ele adorava o fato de que as manhãs podiam se tornar noites sem um dia longo entre elas. Uma estação de eterno crepúsculo e escuridão que permitiu ao marinheiro e ao filho do fazendeiro, ter tempo livre e discutirem sobre o mundo e as pessoas que o tornavam especial. Ah, como riram do fato de os islandeses, no livro, falarem besteiras. Harry nunca percebeu aquilo, mas fazia sentido. Fazer isso de modo correto seria um toque agradável, mas não se pode culpar Júlio Verne por não ter sido capaz de escrever islandês.

    À medida em que a primavera se aproximava, e com ela os navios, Harry partiu. No fim de maio de 1927 o robusto marinheiro deu um abraço apertado no menino de onze anos. Nessa época, eles podiam conversar sobre qualquer assunto. Gunnar falava inglês fluentemente. O mundo era infinitamente grande e mais interessante por causa de Harry. Gunnar chorou como um menino que tinha perdido o pai, como um amante que vê seu amor se afogar sem ser capaz de ajudar.

    Harry apertou o garoto em seus braços e prometeu que iria escrever. — Manteremos contato. Quando você tiver idade suficiente, pode vir e me visitar em Grimsby. Vou escrever...

    O marinheiro montou um cavalo que esperava pacientemente e olhou para o rapaz. Ele sorriu e foi como se o sol estivesse brilhando sobre ele. Então os cavalos sacudiram as cabeças e Harry partiu. O garoto ficou acenando até o homem desaparecer na colina. Ele permaneceu lá até eles reaparecerem mais adiante, pequeninos na distância e acenou com lágrimas nos olhos, enquanto os cavalos levavam Harry além da colina distante e os pontos desaparecerem.

    Nada seria igual novamente. O garoto tinha sentido o prazer de fazer coisas diferentes.  Ele estava desesperado para pular daquele trem lento, onde a vida o colocara. Ele nunca seria um fazendeiro em um lugar isolado de um país isolado. Gunnar estava indo ver o mundo por ele mesmo, sentir os sabores e cheiros das fragrâncias. Quando Harry partiu, Gunnar partiu com ele. Não fisicamente, o que poderia demorar alguns anos, mas nada poderia trazê-lo de volta.

    Eles rejeitaram o artigo. Parecia uma lição de história, não era socialista o suficiente e era muito complacente com Hitler.

    — Aquele mostro não merece simpatia — disse Bragi — e um futuro socialista será alcançado pela revolução, não sendo gentis com os fascistas, você deve mencionar o nosso grande líder, Stalin. Gunnar teria que tentar arduamente antes que pudesse encarar os editoriais.

    Reykjavík era uma cidade pequena nos anos de 1930 e alguém poderia facilmente dar de cara com os amigos. Indriði era um repórter do Morgunblaðið, o jornal matinal da direita. Algumas vezes tomavam café juntos, na maioria da vezes quando se encontravam por acaso na rua.

    A chuva leve escorria pela janela enquanto os cafés chegaram.

    — Como é a vida na União Soviética? — Indriði brincou.

    — É um paraíso para trabalhadores. Ninguém é pobre.

    — Eu diria, todos os que não estão com Stalin são pobres. Eu darei uma chance a eles. Eles são todos iguais na pobreza. — Frank acendeu um cigarro.

    — Você quer um?

    — Não, obrigado.

    — Algum dia você vai aprender que o tabaco é a melhor inspiração para boas histórias. O que veremos no jornal do trabalhador amanhã? O golpe de Franco, certamente?

    — Eu não sei.

    — Você não está escrevendo outra história sobre um industrial? Você sabe que os trabalhadores não seriam nada sem as pessoas que criam empregos?

    — Eu não sei o que estará no jornal amanhã.

    — O que está acontecendo, meu amigo? Você parece desanimado.

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