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Rebelião na Quinta
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E-book136 páginas2 horas

Rebelião na Quinta

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Sobre este e-book

«Quando regressei de Espanha, pensei em denunciar o mito soviético numa história que pudesse ser facilmente entendida por quase todos e que pudesse ser facilmente traduzida para outras línguas. Mas a história propriamente dita só me ocorreu algum tempo depois, num dia em que vi (vivia então numa aldeia) um rapazinho, com cerca de dez anos, a conduzir um enorme cavalo de tiro e sua carroça ao longo de uma congosta, fustigando-o sempre que ele tentava desviar-se do caminho. Ocorreu-me que se animais como aquele tivessem consciência da sua força, nós nunca poderíamos ter qualquer domínio sobre eles, e que os homens exploram os animais praticamente do mesmo modo que os ricos exploram o proletariado.»

Do prefácio do autor
IdiomaPortuguês
Data de lançamento1 de fev. de 2021
ISBN9789897831119
Rebelião na Quinta
Autor

George Orwell

George Orwell (1903–1950), the pen name of Eric Arthur Blair, was an English novelist, essayist, and critic. He was born in India and educated at Eton. After service with the Indian Imperial Police in Burma, he returned to Europe to earn his living by writing. An author and journalist, Orwell was one of the most prominent and influential figures in twentieth-century literature. His unique political allegory Animal Farm was published in 1945, and it was this novel, together with the dystopia of 1984 (1949), which brought him worldwide fame. 

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    Rebelião na Quinta - George Orwell

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    Prefácio para a Edição Ucraniana de Animal Farm

    George Orwell

    Pediram­-me para escrever um prefácio para a tradução ucraniana de Animal Farm. Tenho consciência de que me dirijo a leitores acerca dos quais nada sei, e sei que também eles, provavelmente, nunca tiveram o menor ensejo de ouvir falar de mim. É provável que eles esperem deste prefácio que diga algo sobre a origem de Animal Farm, mas primeiro gostaria de dizer algo sobre mim mesmo e sobre as experiências que me conduziram às minhas atuais posições políticas.

    Nasci na Índia em 1903. O meu pai era funcionário da administração inglesa e a minha família era uma dessas famílias comuns da classe média, que incluía soldados, clérigos, funcionários governamentais, professores, advogados, médicos, etc. Frequentei Eton, o mais caro e mais snobe dos colégios privados ingleses. Mas só lá entrei através de uma bolsa, pois o meu pai nunca teria meios para me mandar para um colégio desse tipo.

    Pouco depois de sair da escola (ainda não tinha vinte anos), fui para a Birmânia e entrei para a Polícia Imperial Indiana. Esta era uma força policial armada, uma espécie de gendarmerie muito similar à guardia civil espanhola ou à garde mobile francesa. Permaneci ao serviço cinco anos. Não era um trabalho para mim e levou­-me a odiar o imperialismo, embora na altura o sentimento nacionalista na Birmânia não fosse muito acentuado e as relações entre ingleses e birmaneses não fossem particularmente más. Ao partir para Inglaterra, em 1927, demiti­-me do serviço e decidi tornar­-me escritor; inicialmente sem grande sucesso. Em 1928­-29 vivi em Paris e escrevi contos e romances que ninguém quis editar (acabei por destruí­-los). Nos anos seguintes levei amiúde uma existência precária, tendo passado fome em várias ocasiões. Só a partir de 1934 comecei a poder viver daquilo que escrevia. Entretanto, houve alturas em que vivi meses a fio entre os pobres e os elementos semicriminosos que habitam nas zonas piores dos bairros degradados, ou que andam pelas ruas a pedir ou a roubar. Na altura, foi a falta de dinheiro o que me levou a associar­-me com eles, mas depois acabei por me interessar bastante pelas suas vidas. Passei muitos meses (desta feita de forma mais sistemática) a estudar as condições dos mineiros do norte de Inglaterra. Até 1930 eu não me via, no geral, como socialista. Para dizer a verdade, ainda não tinha ideias políticas muito claras. Tornei­-me pró­-socialista mais por repugnância pelo modo como as camadas mais pobres do operariado eram oprimidas e negligenciadas do que por qualquer admiração teórica por uma sociedade planificada.

    Em 1936 casei­-me. Quase na mesma semana, rebentou a Guerra Civil Espanhola. Eu e a minha mulher decidimos ir para Espanha combater pelos republicanos. Em seis meses estávamos prontos para partir, assim que terminei o livro que estava a escrever. Em Espanha passei quase seis meses na frente de Aragão, até que, em Huesca, um franco­-atirador fascista me alvejou no pescoço.

    Nos primeiros tempos da guerra, a maioria dos estrangeiros não sabia nada sobre as lutas internas entre as diferentes fações pró­-governamentais. Na sequência de uma série de incidentes, juntei­-me não às Brigadas Internacionais, mas à milícia do POUM, ou seja, os trotskistas espanhóis. Assim, quando os comunistas, em meados de 1937, lograram o controlo (ou controlo parcial) do governo espanhol e começaram a perseguir os trotskistas, eu e a minha mulher demos por nós entre as vítimas. Tivemos sorte em conseguir sair vivos de Espanha e em não termos sido presos sequer uma vez. Muitos dos nossos amigos foram fuzilados e outros passaram muito tempo na prisão ou simplesmente desapareceram.

    Essa caça ao homem em Espanha decorreu ao mesmo tempo que as grandes purgas na URSS, de que foram uma espécie de complemento. Em Espanha, tal como na Rússia, a natureza das acusações (nomeadamente, conspiração com os fascistas) foi a mesma e, no que concerne a Espanha, eu tenho todas as razões para acreditar que tais acusações eram falsas. Passar por tudo aquilo foi para mim uma valiosa lição: mostrou­-me com que facilidade a propaganda totalitária é capaz de controlar a opinião das pessoas esclarecidas nos países democráticos.

    Eu e a minha mulher vimos pessoas inocentes serem atiradas para a prisão por suspeitas de não seguirem a ortodoxia. Contudo, de regresso a Inglaterra descobrimos que inúmeros observadores sensatos e bem informados acreditavam nos mais fantasiosos relatos sobre conspirações, traições e sabotagens divulgados pela imprensa soviética a propósito dos processos de Moscovo. E então compreendi, mais claramente do que nunca, que o mito soviético tem uma influência negativa no movimento socialista do Ocidente.

    E aqui gostaria de fazer uma pausa para descrever a minha atitude para com o regime soviético. Nunca visitei a Rússia, e o meu conhecimento do país baseia­-se no que pude ler em livros e jornais. Mesmo que tivesse esse poder, não desejaria interferir nos assuntos internos da União Soviética; se condeno Estaline e seus associados, não é apenas pelos seus métodos bárbaros e não­-democráti­cos. É possível que, mesmo que tivessem a melhor das intenções, eles não pudessem ter agido de outro modo, tendo em conta as condições no país.

    Mas, por outro lado, era para mim da maior importância que as pessoas da Europa ocidental percebessem exatamente o que era o regime soviético. Depois de 1930, vi muito poucos indícios de que a URSS estivesse a avançar para algo a que genuinamente se pudesse chamar socialismo. Em vez disso, o que vi foi claros sinais de que se estava a transformar numa sociedade hierárquica, na qual os governantes não têm mais razões para largar o poder do que qualquer outra classe dirigente. Além disso, num país como a Inglaterra os trabalhadores e os intelectuais são incapazes de compreender que a URSS atual nada tem que ver com a de 1917. Isto deve­-se em parte ao facto de não quererem compreender (isto é, preferem acreditar que existe algures um estado realmente socialista), e em parte ao facto de, estando acostumados a uma vida pública relativamente livre e moderada, não terem a mínima capacidade de compreender o que é o totalitarismo.

    Convém recordar, todavia, que a Inglaterra não é um país completamente democrático. É também um país capitalista, com grandes privilégios de classe e (mesmo hoje, depois duma guerra que tendeu a igualar toda a gente) grandes desigualdades económicas. Apesar disso, é um país onde as pessoas viveram juntas durante centenas de anos sem saberem o que é uma guerra civil, onde as leis são relativamente justas e se pode quase invariavelmente dar crédito às notícias e às estatísticas oficiais e, por fim mas não menos importante, onde suster e difundir opiniões minoritárias não implica qualquer risco de vida. Numa atmosfera assim, o homem comum não tem uma compreensão real de coisas como campos de concentração, deportações em massa, prisões sem julgamento, censura da imprensa, etc., etc. Tudo o que lê sobre um país como a URSS é por ele de imediato traduzido em termos ingleses, e aceita candidamente as mentiras da propaganda totalitária. Até 1939, e mesmo mais tarde, a maioria dos ingleses eram incapazes de avaliar a verdadeira natureza do regime nazi na Alemanha, e hoje vivem ainda, em grande medida, sob o mesmo tipo de ilusão a respeito do regime soviético.

    Assim, passei os últimos dez anos convencido de que é essencial destruir o mito soviético, se queremos ressuscitar o movimento socialista.

    Quando regressei de Espanha, pensei em denunciar o mito soviético numa história que pudesse ser facilmente entendida por quase todos e que pudesse ser facilmente traduzida para outras línguas. Mas a história propriamente dita só me ocorreu algum tempo depois, num dia em que vi (vivia então numa aldeia) um rapazinho, com cerca de dez anos, a conduzir um enorme cavalo de tiro e sua carroça ao longo de uma congosta, fustigando­-o sempre que ele tentava desviar­-se do caminho. Ocorreu­-me que, se animais como aquele tivessem consciência da sua força, nós nunca poderíamos ter qualquer domínio sobre eles, e que os homens exploram os animais praticamente do mesmo modo que os ricos exploram o proletariado.

    Pus­-me então a analisar a teoria marxista do ponto de vista dos animais. Tornou­-se­-me evidente que para estes o conceito de uma luta de classes entre seres humanos era pura ilusão, uma vez que quando era necessário explorar os animais, todos os humanos se uniam contra eles: a verdadeira luta era entre homens e animais. Partindo deste ponto, não foi complicado elaborar a história. Não a escrevi antes de 1943, pois até aí estive sempre ocupado com outros trabalhos, que me roubavam tempo; e no final acabei por incluir na história a Conferência de Teerão, que estava a decorrer no momento em que a escrevia. Assim, os traços principais da história estiveram na minha cabeça durante seis anos, até a ter escrito efetivamente.

    Não quero fazer comentários sobre a história; se ela não falar por si mesma, é porque falhou. Mas gostaria de sublinhar dois pontos: o primeiro é que, embora sejam retirados da história da Revolução Russa, os diferentes episódios da minha narrativa são abordados de forma esquemática e a sua ordem cronológica é alterada; tive de o fazer para introduzir no relato uma simetria. O segundo ponto passou despercebido à maioria dos críticos, talvez porque eu não lhe dei ênfase suficiente. Alguns leitores podem chegar ao fim do livro com a impressão de que a narrativa termina com uma reconciliação entre os porcos e os seres humanos. Não foi essa a minha intenção, muito pelo contrário; o que eu quis foi rematar a história numa forte nota de discórdia, pois escrevi­-a logo após a Conferência de Teerão, que toda a gente acreditou ter estabelecido as melhores relações possíveis entre a URSS e o Ocidente. Pessoalmente, nunca acreditei que essas boas relações fossem durar; e não estava muito enganado, como os acontecimentos têm vindo a

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