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Coletânea de Terror: 10 Contos de Terror
Coletânea de Terror: 10 Contos de Terror
Coletânea de Terror: 10 Contos de Terror
E-book206 páginas3 horas

Coletânea de Terror: 10 Contos de Terror

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Sobre este e-book

Coletânea de Terror

10 Contos de Terror


Conto 1: Clausura

Conto 2: Holly Field

Conto 3: Insta Medo

Conto 4: Zoom do Terror

Conto 5: Assombração

Conto 6: Monstros

Conto 7: Sr. Fios

Conto 8: Comedor de Palhaços

Conto 9: Voltando do Túmulo

Conto 10: As Fitas das Bruxas


ADQUIRA A SUA CÓPIA HOJE!!

IdiomaPortuguês
Data de lançamento1 de mai. de 2021
ISBN9798201109899
Coletânea de Terror: 10 Contos de Terror

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    Coletânea de Terror - Stories From The Attic

    Coletânea de Terror

    10 Contos de Terror

    ––––––––

    Stories From The Attic

    Clausura 

    Holly Field 

    Insta Medo 

    Zoom do Terror 

    Assombração 

    Monstros 

    Sr. Fios 

    Comedor de Palhaços 

    Voltando do Túmulo 

    As Fitas das Bruxas 

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    Clausura

    No dia em que a quarentena foi anunciada, a única coisa em que pensei foi na minha mãe. Sim, há muito escondidas, as memórias foram se esgueirando, a escuridão e as coisas sombrias nunca esquecidas, mas suprimidas, e o nó de medo dentro do meu estômago, atado há tantos anos, mas mais do que isso, mais do que qualquer outra coisa, eu pensei nela.

    Nos 56 anos desde que ela imigrou da Turquia para a Grã-Bretanha, ela não passou um dia inteiro sequer dentro de casa. Na verdade, era raro vê-la passar mais do que algumas horas dentro de casa. Quando isso acontecia, ela ficava entrando e saindo dos cômodos, andando para lá e para cá, mudando de um assento para outro, sempre em direção à porta, ao exterior.

    Na maioria das vezes, quando eu fazia uma visita, eu a encontrava no jardim ou sentada nos degraus da entrada acenando para as crianças e contando piadas para quem passasse. Para aquelas pessoas, ela era uma presença constante. Eu perdi as contas de quantas vezes os vizinhos preocupados me disseram para levá-la para dentro por causa do tempo frio. E me lembro das vezes em que ela os repreendeu por se meterem onde não foram chamados e por falarem comigo em nome dela, como se ela não estivesse presente ou que não estivesse bem da cabeça.

    Por que fala com ele? ela gritava com um forte sotaque turco, tão forte quanto o café que ela fazia, apesar de ter vivido na Inglaterra por mais de três décadas. Eu estou aqui. Não sou burra, se quiser dizer alguma coisa, diga para mim. Se eu quiser ficar lá fora, eu vou ficar lá fora. E não é da sua conta. Ela falava essas coisas brandindo o punho e fazendo um som de desdém entredentes, um gesto que nunca consegui reproduzir, mas que sempre admirei pela grande expressividade. Depois de ouvir esse som, não existiam dúvidas sobre o seu significado.

    Porém, eu devo admitir que apesar da sua consternação teimosa, às vezes eu concordava com os vizinhos. Uma vez durante um inverno bastante rigoroso, eu a encontrei sentada em uma espreguiçadeira na entrada da casa com uma manta pesada estendida sobre o corpo. Ao seu lado, havia um aquecedor elétrico vertical que ela arrastou para fora e o posicionou de modo que fornecesse algum calor e proteção contra as intempéries. O fio do aquecedor estava esticado de forma desajeitada através de uma janela aberta. Eu a encarei, me encolhendo e tremendo, em total descrença.

    Embora eu estivesse aliviado com o fato de que o aquecedor era, provavelmente, a única coisa que impedia aquela senhora teimosa de ter hipotermia, a possibilidade de acontecer uma eletrocussão nos fez discutir. E quando ela finalmente se acalmou, eu a fiz prometer que ela nunca mais levaria o aquecedor para fora de novo. Na próxima vez em que a visitei, ela estava de novo do lado de fora em meio à neve. Mas agora, em vez de arrastar o aquecedor para fora, ela tinha quebrado uma cadeira da cozinha para acender uma fogueira. Eu moro sozinha, ela disse quando eu perguntei por que ela tinha decidido se desfazer dos móveis. Por que eu preciso de seis cadeiras? Eu nem gosto de sentar lá dentro. E eu achei que ela tinha razão.

    Há cerca de cinco anos, eu e alguns amigos compreensivos, que sabiam como a minha mãe era, fomos forçados a construir um gazebo de três lados nos fundos da casa (cujo alvará era um pouco duvidoso). Inacreditavelmente, nós o construímos para a minha mãe dormir.

    No ano passado, ela foi atormentada por pesadelos sobre o que aconteceu no passado e se recusou firmemente a dormir dentro de casa. Em vez disso, ela arrastou o seu colchão para o jardim dos fundos e dormiu do lado de fora sobre a grama ou sobre o piso pavimentado, enrolada em grossos cobertores de pele que ela nos garantiu serem usados por pastores nos campos ou por uma senhora em uma pequena varanda em frente à casa.

    A estrutura que fomos forçados a construir era de vidro nos três lados e completamente aberta na frente. Ao longo da parede dos fundos, nós conectamos uma rede de radiadores e aquecedores para esquentar, com muito desperdício, aquela parte da estrutura e colocamos a cama dela na frente. A minha mãe, aos 76 anos, dormia em uma estrutura que era um pouco mais do que uma estufa de luxo com fachada aberta, mas era assim que ela gostava e que Deus perdoasse quem ousasse dizer o contrário.

    Não que ela tivesse problemas para dormir. Apesar da idade avançada, a maneira que a minha mãe achou de evitar ficar dentro de casa era estar longe de lá pelo máximo de tempo possível. Mesmo aos 76 anos, ela caminhava cerca de 24 quilômetros por dia, desaparecia nas colinas que circundavam a cidade e vagava por horas a fio. Embora isso seja um pouco preocupante e muitas pessoas ficariam aflitas pelos seus parentes idosos se aventurarem nas colinas, para ela, o ar livre era onde se sentia mais segura. Além de essa prática tê-la mantido em forma, também significava que quando ela se deitava à noite, já estava fisicamente exausta e em sua nova área ‘aberta’ para dormir, os pesadelos diminuíram.

    À medida que o lockdown se aproximava, eu percebi cada vez mais que aquela seria uma rotina difícil de abandonar.

    Quando as pessoas pensam em claustrofobia, elas pensam em elevadores, pequenos espaços apertados que fariam qualquer pessoa perder o ar. A claustrofobia da minha mãe não era assim. Ela não queria ficar em um local fechado de jeito nenhum. Ela não conseguia lidar com a ideia de ficar presa, estar entre quatro paredes ou enclausurada.

    Ela sempre me dizia que o prefixo claustro em claustrofobia se referia à palavra inglesa ‘bolt’ que tanto pode significar ‘ferrolho’, algo usado para selar ou trancar uma porta, como ‘fugir’. O que, para ela, era muito irônico porque ‘fugir’ era exatamente o que ela queria fazer caso se visse presa dentro de casa. A minha mãe havia decidido há 56 anos que nunca mais ficaria presa em um local fechado, o que era um problema, considerando o que estava para ser anunciado.

    Eu assisti às coletivas de imprensa sobre a quarentena na cozinha. O primeiro-ministro britânico, cuja papada e bochechas de cachorro perdiam uma batalha contra a gravidade, parecia ainda mais mal-humorado do que o normal enquanto falava através de olhares carrancudos e caretas sobre a possível perda de vidas humanas por causa do vírus.

    Eu suponho que as frases duras e sem rodeios que ele usou tinham o intuito de mostrar que ele estava sendo sincero com o povo, sendo franco, verdadeiro e direto. Na verdade, as frases o fizeram parecer ainda mais frio e distante ou longe da realidade, até mesmo enquanto falava sobre as dimensões da situação. Ele falou com a certeza de que as famílias ‘perderiam um ente querido antes do tempo’ e o meu maxilar se retesou. Como ele ousa falar de forma tão blasé sobre os entes queridos de outras pessoas? Eu me perguntei como ele consegue falar com tanto desrespeito sobre as vidas humanas? Vidas como a da minha mãe.

    Quando a quarentena foi anunciada oficialmente, eu já tinha me mudado para a casa da minha mãe. No começo, ela ficou muito aborrecida com isso. Bufando e reclamando em voz alta em qualquer oportunidade que aparecesse, como se eu morar lá fosse um grande inconveniente ou uma ameaça à sua tão estimada liberdade conquistada com tanto esforço. Agora que você se mudou, ela resmungou com um aceno, tenho mais uma razão para ficar lá fora. Apesar dessa declaração, eu sabia que no fundo ela estava gostando de me ter ali. Naquela noite, assistimos ao noticiário juntos. Como a maioria das pessoas com quem conversei, devo admitir que a aparente seriedade daquela situação fez meu estômago tremer e senti uma pontada familiar de medo. A minha mãe, parecendo reconhecer o medo nos meus olhos, pôs a sua mão sobre a minha e apertou. Então com um nível de resignação e humildade que eu não esperava, eu a vi balançar a cabeça enquanto sussurrava. Eu ficarei em casa se você ficar. Vai ficar tudo bem. Já ficamos juntos assim antes. Eu sorri sabendo que ela tinha razão em ambos os casos. Ficaria tudo bem e é claro que já estivemos juntos assim antes. Eu apertei a sua mão de volta sem muita força para não machucar a sua pele frágil. Ela me viu olhando para ela, se virou para a TV e fez aquele som entredentes para a tela.

    Por que o nome dele é Boris? Ele nem é russo. Nós rimos bastante disso, embora soubéssemos que as risadas eram uma cortina. Um escudo de proteção erguido para esconder o que se esgueirava, o que sempre se esgueirava. Por trás desse véu de humor, pairava uma lembrança. A lembrança da última vez em que estivemos ‘presos’ em casa e a verdadeira e horripilante razão pela qual ela nunca mais quis estar entre quatro paredes novamente.

    ***

    Eu tinha seis anos no dia em que o céu desabou. Aos seis anos de idade, todo dia parece durar uma eternidade, até mesmo uma hora parece durar para sempre. Em nossa tumba embaixo da mesa, os dias pareciam ainda mais longos, mas, ainda assim, continuei contando. Eu tinha seis anos e catorze dias quando finalmente saímos.

    O terremoto aconteceu no meu sexto aniversário. Minutos antes de acontecer, a mesa tinha sido posta com uma grande variedade de guloseimas e até mesmo com a maravilha das maravilhas: um bolo. Mesmo com pouca idade, eu me lembro de olhar para todas aquelas delícias e perceber como elas pareciam deslocadas.

    Antes de ser destruída pelo terremoto, a nossa era um apartamento quase vazio no andar térreo de um prédio decadente em um dos bairros mais pobres de Istambul. Era apenas um cômodo. Uma caixa escura de concreto com uma única janela sem vidro e paredes que tinham as cores do céu de outono. O lugar transmitia a impressão avassaladora de escassez, a banalidade imposta àqueles que não podem pagar por nada melhor e que vivem e morrem cercados pelo paladar mudo e cinzento da miséria.

    Mas não no meu aniversário.

    A minha mãe era uma mulher orgulhosa e o filho dela não veria o seu próprio aniversário passar despercebido como se fosse apenas mais um dia em uma vida de labuta. Ela insistia que o aniversário deveria ser especial.

    Naquele dia, a minha mãe, tendo economizado a ninharia que ela tinha conseguido ganhar, gastou tudo nos preparativos; ela pôs na mesa uma variedade de quitutes baratos, mas embrulhados ricamente e que pareciam saltar aos olhos naquele espaço cinza como uma linda tulipa vermelha crescendo pelas rachaduras de uma calçada.

    A luz escassa que entrava pela nossa única janela significava que grande parte do cômodo estava mergulhado em constante escuridão. As áreas claras eram iluminadas de maneira ineficaz por uma velha lamparina a óleo da minha mãe, então as paredes ao nosso redor pareciam dançar eternamente com multidões de sombras trêmulas. Contra aquele fundo monótono, os doces pareciam incongruentes, errados e deslocados.

    No entanto, aqueles doces enchiam a minha mente infantil de alegria. É incrível para mim como naquela época os invólucros dos doces podiam ser tão maravilhosos quanto seus conteúdos. As cores eram raras naquele lugar e eram algo a ser valorizado. Em dias normais, essas coisas estavam fora do alcance de forma torturante, mas, ao mesmo tempo, tentadora. Acontece que o terremoto garantiu que as coisas continuassem assim.

    O curioso sobre os terremotos é que durante os primeiros segundos, você se pergunta se o problema é com você, se é coisa da sua cabeça. A sua mente luta para aceitar o fato de que o horizonte parece ondular, que o chão abaixo dos seus pés está se movendo e as paredes estão tremendo. Em uma fração de segundo, a palavra ‘terremoto’ surge na sua mente e você tenta compreender o que está acontecendo, seus pensamentos transbordam para o borrão criado pelo evento.

    Para um garoto de apenas seis anos que nunca havia vivenciado um terremoto, eu fiquei apavorado. Já tendo chegado à conclusão de que aquilo era de fato um terremoto, a minha mãe agarrou o meu braço com tanta força que deixou marcas, e com apenas um movimento, me derrubou da cadeira e me puxou para debaixo da mesa.

    Segundos depois, a cadeira em que eu estava sentado foi esmagada por uma das paredes que desabou dentro do cômodo e os dois andares acima do nosso cederam. E tudo ficou escuro.

    A minha mãe e a minha irmã gritaram, mas os gritos eram muito diferentes. O da minha irmã era de puro medo de uma criança de quatro anos. O da minha mãe era diferente, era de dor. O raciocínio rápido da minha mãe de nos arrastar para perto do seu peito e para debaixo da mesa, nos salvou do desabamento do prédio, mas também prendeu a todos nós.

    Ao nosso redor, por todos os lados, enormes entulhos, lajes de concreto, tijolos e poeira estavam empilhados desordenadamente. Eles haviam caído em cima e ao redor da mesa, de modo que agora estávamos enclausurados em uma cavidade criada pelo formato da mesa. Era como se o cômodo tivesse encolhido e tivesse sido martelado em todos os seus lados, como uma lata de refrigerante sendo esmagada em segundos para ficar com um centésimo do seu tamanho. Como se o pequeno apartamento que nós tínhamos fosse considerado um exagero, e como se agora o único espaço que Deus nos permitia habitar era aquele sob a mesa. O espaço interno no qual estávamos presos.

    O pé da minha mãe estava fora desse espaço. Metade dela se projetava para além daquele santuário. Portanto, aquele pé foi punido. Pelo grito que ela soltou, eu soube imediatamente que o seu pé havia sido esmagado.

    A mesa em si era feita de um carvalho pesado e era a única peça de mobília na sala quando nos mudamos. Era uma peça robusta que, como Atlas, agora sustentava grande parte do prédio sobre a sua superfície. A mesma superfície onde, minutos atrás, estava o meu bolo de aniversário. Eu lembro de me perguntar por quanto tempo as quatro pernas da mesa aguentariam.

    A escuridão inicial que veio com o terremoto foi interrompida por um único facho de luz que inundou o pequeno espaço e me deu um vislumbre da expressão agonizante no rosto da minha mãe. O seu rosto e cabelos, cobertos por uma espessa camada de poeira que foi lançada pelo prédio em colapso, pareciam ter se rendido à cor cinza. Como se as paredes a tivessem

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