Fundamentos da preparação em corridas de fundo
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Sobre este e-book
Cabe ressaltar que, os estudos trazidos à tona por ele tem enfoque na força como cerne da preparação competitiva. De forma geral, é uma obra completa que combina teoria com exemplos práticos e, além disso, traz uma série de programas de treinamento.
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Avaliações de Fundamentos da preparação em corridas de fundo
2 avaliações1 avaliação
- Nota: 5 de 5 estrelas5/5O livro é excelente, para quem pretende aprender um pouco mais sobre o endurece, recomendo a leitura dessa obra!
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Fundamentos da preparação em corridas de fundo - Marcelo Roberto Andrade Augusti
Introdução
Até a década de 1970, os atletas de corridas de longas distâncias praticamente não realizavam exercícios com pesos. Desse modo, para o trabalho de força, a opção era treinar em rampas (corridas em aclive) ou dunas de areia, sendo que, tal procedimento era específico e único para o desenvolvimento da força e potência muscular desses atletas.
As descobertas científicas da época confirmavam as expectativas dos treinadores e atletas do período em questão. As pesquisas afirmavam que o treinamento com pesos era o responsável por promover alterações específicas nas fibras musculares que eram prejudiciais ao rendimento nas corridas de fundo. Tais pesquisas sugeriam que os corredores de fundo não deveriam treinar com pesos, sendo que, o trabalho ideal era aquele que apregoava uma alta quilometragem semanal como meio fundamental para o desenvolvimento e aperfeiçoamento da resistência geral e específica dos atletas.
Com a evolução da ciência e o advento de novas descobertas na área, a partir da década de 1980, tem início uma revisão dos conceitos fundamentais relacionados ao paradigma em questão. Entretanto, a maioria dos treinadores ainda relutava na inclusão de exercícios com pesos na rotina dos atletas e como parte da preparação. O conceito de força e suas implicações para o rendimento na corrida de fundo estava passando por alterações significativas e, seria questão de tempo para que novas abordagens metodológicas surgissem e novas técnicas de treinamento fossem introduzidas no planejamento de rendimento dos atletas.
Na década de 1990 a resistência ao treinamento com pesos foi, enfim, reduzida. Muitos atletas admitiam o trabalho com pesos em sua preparação para as competições, sendo que, a principal razão da inclusão da musculação em suas rotinas de treinamento era o fortalecimento muscular e a prevenção de lesões.
Também na década de 1990 e, principalmente nos anos 2000, os atletas começam a perceber a real importância do desenvolvimento da força muscular para a melhora do rendimento competitivo e alcance de novas marcas. Além do trabalho com pesos leves e moderados
e máquinas de força, os saltos e o treino com cargas pesadas
passaram a fazer parte da rotina de treinamento dos atletas altamente qualificados. Metodologias específicas são introduzidas a partir de conceitos relacionados à preparação especial de força e o aperfeiçoamento da capacidade de força muscular em suas várias formas de manifestação, assim, passa a ser imprescindível atualmente para o alcance dos objetivos da preparação.
O paradigma das altas quilometragens típico das décadas de 1960 e 1970, portanto, não apenas foi posto em xeque pelos cientistas e técnicos esportivos como foi superado. As marcas expressivas nos 5.000 m, 10.000 m e Maratona obtidas pelos corredores africanos durante os anos 90 e 2000 não permitem mais dúvidas sobre a importância da preparação em força. Afinal, eles há muito enfatizam o treino de força como base de sua preparação. Nos modelos atuais de periodização a carga de treinamento, antes voltada para as altas quilometragens, dá lugar aos aspectos da intensidade do esforço considerada como fundamental para a evolução do condicionamento atlético e obtenção de marcas cada vez mais expressivas nas modalidades cíclicas do esporte competitivo.
Com o advento do conceito de preparação em força, a resistência e a velocidade se aliam harmoniosamente dando origem a atletas fundistas fenomenais como Said Aouita, Nourredine Morceli, Hicham El Guerrouj, Arturo Barrios, Paul Tergat, Yobes Ondieki, John Ngugi, Robert Cheruyot, Samuel Wanjiru, Haile Gebrselassie, Kenenisa Bekele, Eliud Kipchoge, Wilson Kipsang e os brasileiros Ronaldo da Costa e Marilson Gomes dos Santos, dentre outros que são verdadeiros expoentes de uma época de evolução científica e avanços tecnológicos nunca antes imaginados pelos antigos treinadores e atletas.
A abordagem proposta nesta obra, logo, refere-se aos aspectos teóricos e práticos de uma metodologia e sistematização do treinamento em corridas de fundo onde o elemento força se constitui no principal fundamento de todo o processo de preparação esportiva para o sucesso competitivo no alto rendimento.
Há de se esclarecer que aqui são apresentadas algumas situações (conceitos, meios, métodos, testes) que são elaborações próprias advindas da minha experiência ao longo de quase trinta anos como corredor e na orientação de centenas de corredores. Portanto, cabe a pesquisa acadêmica verificar a validade científica de algumas situações que foram produzidas no labor do cotidiano para resolver a urgência de alguma questão prática do treinamento e que a ciência ainda não oferecia resposta convincente.
Desejo a todos os leitores, corredores e treinadores que a força
esteja com vocês!
(...) a busca pelo conhecimento é uma aventura interminável rodeada pela incerteza. Devemos manter a mente aberta no treinamento. Algumas vezes, um dos maiores erros é estar absolutamente seguro de alguma questão técnica, porque a história das ciências e igualmente a história dos esportes mostram mais uma vez como teorias sagradas caem diante de uma nova evidência contrária.
(Gabriel Molnar, 1998 in FORTEZA, 2007)
1.
Treinamento de Força para
Corredores de Fundo
1.1. Uma breve história
A força sempre esteve em destaque na história da humanidade seja pela questão da sobrevivência, do esporte, da guerra, da saúde ou da estética. Já na antiga Grécia, os espartanos eram julgados pelo seu desenvolvimento físico e Galen, médico grego (129 a 199 d.C.), teria sido um dos primeiros a sugerir a eficiência do treinamento de força com a utilização de pesos de mão, os halteres (KRAEMER e HAKKINEN, 2004).
Publicações de revistas populares no início do século XX apontavam certa desconfiança em torno do treinamento de força, uma vez que, colocava-se que o excesso de músculos tornava o indivíduo lento e pouco saudável. Entretanto, à medida que o treinamento de força foi ganhando popularidade por meio de empresários do ramo de equipamentos (aparelhos de musculação) e editores de revistas especializadas no tema, a ciência do treinamento de força começa a ser promovida e muitos eventos com essa pautas surgem, principalmente, na Grã-Bretanha e nos Estados Unidos (KRAEMER e HAKKINEN, 2004).
Foi a partir dos anos de 1950 que o treinamento de força começou a ser utilizado em outros esportes além do tradicional levantamento olímpico, do fisiculturismo e do powerlifting. Os primeiros atletas a aceitarem o treinamento de força em seus programas de preparação esportiva foram os arremessadores no atletismo, sendo que, Alfred Oerter, quatro medalhas de ouro olímpicas, foi um dos principais expoentes dos benefícios causados pelo treinamento de força (KRAEMER e HAKKINEN, 2004).
Nas corridas de fundo pouca atenção foi dada ao treino de força como meio de preparação para melhorar o rendimento dos corredores. Um dos motivos para isso pode ser a necessidade de baixos níveis de tensão muscular para os deslocamentos a uma velocidade de 5 a 7 m/s (VERDUGO e LANDA, 200&). Entretanto, é notório que as capacidades de força exercem influência decisiva em relação à amplitude da passada e na redução do tempo de contato dos pés no solo ao longo do percurso e, assim, é fundamental dispor de suficientes índices de força nos músculos principais que intervêm na corrida (VERKOCHANSKI, 1995).
Todavia, enquanto os cientistas do esporte não davam a devida atenção ao treinamento de força para os corredores de longas distâncias, alguns mitos foram criados e durante muitos anos os atletas não puderam ser beneficiados pelas adaptações específicas provocadas pelos estímulos do treino de força e a consequente melhora do rendimento competitivo.
Um desses mitos tem origem na década de 1970 com estudos científicos que mostravam reduções na densidade mitocondrial e capilar com o treinamento de força que levaria a uma redução da capacidade orgânica de produzir energia pela via metabólica aeróbia que é o principal sistema de abastecimento energético característico das corridas de longa distância. Com isso, os corredores se afastaram do treinamento de força temendo as consequências, pois representava um risco ao rendimento.
De fato, o treinamento com cargas elevadas e seguidas repetições conforme os métodos tradicionais do fisiculturismo mostrou-se totalmente inapropriado às exigências fisiológicas e biomecânicas da corrida de fundo (KRAEMER e HAKKINEN, 2004).
Se a força não era desenvolvida com pesos e máquinas de força, na Nova Zelândia e na Austrália nos anos de 1960-70 treinadores como Arthur Lydiard e