De Outros Muitos Dias: Poesia
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De Outros Muitos Dias - Nelson Santrim
NELSON
SANTRIM
DE OUTROS MUITOS DIAS
(Poesia)
num terno adeus
houve um tempo
e houve uma vida
em que tudo era diferente
algo me preenchia
passou a oportunidade
que não fiz realidade
só eu perdi
de cada vez que menti
só de soslaio
olhei de caras o touro
vendi-me por ouro
sem juntar um tesouro
havia mais valor
em tudo o que deixei
o ser devia ser de lei
o que nos salva é o amor
que importa ter
tudo e não ter nada
do essencial
para uma vida equilibrada
faz-se dela gorada
olhando para ti
digo-te adeus
não sou da raça dos prometeus
o meu fogo está extinto
o destino não finto
sempre sozinho
às vezes algo triste
ainda em mim persiste
a busca de um caminho
mas é difícil compreender
que seja tão árduo viver
andar aqui a sofrer
foste o melhor de mim
deste-me o melhor de ti
não te soube merecer
lembrar-te-ei podes crer
olhar a estrada
não quero ser negativo
mesmo que tenha motivo
fico a olhar o passado
a escuta é deprimente
numa espera evanescente
fico sem fazer o filme
da perdição dos sentidos
o meu império não se ergueu
não penetrei no infinito
vou morrer como um mortal
olho para o caminho feito
e sei que nunca seria perfeito
mas almejava algo mais
a vida soçobra na náusea
de tudo parecer sensaborão
meus passos lambem o alcatrão
rumando a lugar nenhum
sinto-me desmotivado talvez
sem qualquer séria razão
apenas amuo pelo que não tenho
ando de carregado sobrecenho
vale uma vida pelo que se vive
e é sempre de algum valor existir
num tempo de lastimar e de rir
sonho com o que nunca tive
não penso em me despedir
aceito que existem fases más
conformo-me em persistir
sei que tudo é passageiro
mesmo que não corra ligeiro
ontem houve um bom e um mau
arrumo cada coisa em seu saco
não vou com ninguém ser velhaco
mesmo que vergastado por pau
as dores fazem-me querer ser bom
fazem-me rijo o suave coração
raridades ou não
amo o sol
amo a vida
amo as mulheres
e amo os meus amigos
desprezo o ódio
e amo o amor
gostava de salvar o mundo
como um cristo
mas sou apenas um pecador
ruína onírica
sonhos desfeitos
devaneios
desvarios antigos
variegados destinos
insalubres
juventude passada
no passo
apressado de cumprir
o desejo alheio
rebeldia tardia
ridículo de morte
má sorte
manhã desperta
de sono morto
a vida num sopro
feita para durar pouco
vitalidade sem verdade
mentira de mulher sem idade
abraço sem peito
ar rarefeito
mal-estar de vertigem
ser míngua ainda
um prazer que se finda
sem ter conquistado
horror sonhado
e a premonição realizada
a vida em cheque
hipócrita salamaleque
guarnição de vigia
e o tesouro roubado
incompetência aflita
ninguém a ser condenado
tudo nos é permitido
menos o direito a ser esquecido
vertigem das imagens
vejo guerras e horrores
actos heróicos
e bastas provas de ternos amores
vejo em cada imagem
rostos e as suas intenções
vejo vermelho vivo
em pulsantes corações
o mundo não