De Um Lugar a Outro: Poesia
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De Um Lugar a Outro - Nelson Santrim
NELSON
SANTRIM
DE UM LUGAR A OUTRO
(Poesia)
retos e íntegros
os ratos no arroz integral
fazendo seu esquivo número
de nu aeroespacial limítrofe
junto à fronteira com o casebre
da preguiça morrendo de febre
quando se dão as cruzadas mãos
e se endireitam as costas no fundo
é como abraçar um novo mundo
com braçadas de insigne retidão
intervencionando cada um seu degrau
enche-se ao galo o papo grão a grão
na desrazão de oportunismo consumista
entre as barricadas da comuna e o fascista
anda-se mais depressa em sela de cavalo
o homem amansa o terreno a cavá-lo
e espera que o sol abençoe a sua colheita
tão cheia de fartura como o mar de sal
e o que é do espantalho parece irreal
da garganta sai então um ronco de avestruz
fazendo perder a compostura ao filósofo
que se assusta com o espelho cheio de luz
reto e íntegro como um naufragado réprobo
a passo decidido
apressa-se o passo na imediatez
que é vontade no rápido apressar
do caminho leve e breve a tragar
sem mais tempo na veia de perder
chegar antes de o relógio dar a hora
é antecipar-se à suma pontualidade
mas mostra algum excelso considerar
como quem por vir o amanhã ora
o tempo faz-se aristotélico movimento
soma de parcelas espaciais percorridas
as respirações ofegantes e esbaforidas
abraçando as correntes que se rompem
então surge a altura de reger a vertigem
com os poderes supremos de mandarim
feliz por dizer sim ou não ou assim a assim
o olhar reflete no caminho cada passo
supervisionado num superlativo remate
do record recordado com dito de vate
rosa cor de mate na matriz se esbate
discutindo com a sombra
não sabes mais o que queres
e acusa-te a própria sombra
colada a ti como uma vergonha
falhas o alvo repetidas vezes
e o vexame dá-to a tua sombra
sem que exprimas a fio o sucedido
que mais podes fazer então
quando ninguém vê em ti razão
a não ser um mandriar preguiçoso
fazes-te como sombra belicoso
ergues a máscara que cobre o rosto
ficas suspenso entre a timidez
e o mais ácido e ríspido desaforo
quanto mais tempo sem crescer
quanto mais tempo sem viver
começando a entender que na vida
nem tudo obedece ao nosso querer
é necessário fazer sacrifícios
mas tu esquivas-te das brasas nos pés
e recusas-te na mansidão dos falhos
enquanto as faúlhas crepitam no ar
e a terra devora essa tua sombra
dizes tu que a ti ninguém te compra
tão longa finita viagem
pode-se supor um princípio e fim
e então se não existe o universo
desde todo o sempre como eterno
o que acontecerá será a finitude
passam milhões e milhões de anos
os éons seguidos de outros éons
e os humanos tão reais como as estrelas
finitos como passados mamutes
depois do reinado dos dinossauros
de que valem as prosápias e faustos
as romarias em busca de salvação
se espreita a extinção por determinação
da extensão de um tempo que vem
e pode acabar connosco sem outro bem
a viagem começa e não se sabe tudo
sobre o