Pátria Invencível: Poesia
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Pátria Invencível - Nelson Santrim
NELSON
SANTRIM
PÁTRIA INVENCÍVEL
(Poesia)
nova derrota
há que aprender
com cada desolação
por cada desfeitear tecer a trama
de uma outra história
que apague e faça nova
entender o quê
questionar-se para saber
não repetir o infortúnio
do desejo inconcluso
amar melhor
talvez amando menos
talvez vendo a vida por outra via
roer o cabo da desesperança
olhar o céu sem fixar o sol
não cegar no seguir a paixão
de forma estouvada e inconsequente
ser do iludir-se temente
guardar um pouco de si
não se dar ao primeiro contacto
aguardar o instante certo
para que seja seguro avançar para perto
no toque não sonhar demasiado
ver o que pode acontecer
mas sem sonhar acordado
todo o tempo sem a certeza
de ser correspondido no sentimento
o mais incompetente
não sabe o que faz
e isso quebra o momento
faz descrer da certeza
de ser correto o desenlace
mais perto menos distante
não saber dar a paz
para que haja entendimento
com a raiva na carne
nada fica para recordar
o instante do solitário amante
não serve se não satisfaz
em cada aproximação insuficiente
estar a mais e ser indesejado
ter peçonha e ser desprezado
pior que a lepra na alma
a mais em todo o lado todas as vezes
ser insano e não atinar
falhar mais em toda a linha
atravessar o tempo sem rumo
arrastado pelos acontecimentos
mais um desgosto mais uma sina
de não fazer nada certo
duvidando mesmo de estar desperto
quando a vida parece pesadelo
atirando tudo para um inferno
obstinado e indiferente
inconstante no contar
a forma do acidente por incidência
da indecência do destino
conformando por princípio
através dos dias
arrolhando nas dádivas
as pródigas asas
levam-nos por vários caminhos
em variados tons de fogo
e enquanto não se faz tarde
mais um equívoco se amontoa
abrindo-se os braços
para empurrar em vez de segurar
na libertação de um abraço
estreitam-se os laços
por conveniência de fugir à solidão
abre-se mão de um pecúlio
que não nos pertence por dever
na fugacidade dos instantes íntimos
em que se entrevê a quimera da felicidade
pela miragem de seus desejos
abrindo cautelosamente a flor
vejo a boca em tons de rosa
atirando para trás das costas
o deserto de não ser ninguém
para quem quisesse sê-lo
entrego o dia ao carteiro
que leva ao infinito meu queixume
abre-me a porta dos fundos
e empurra-me escadas acima
até ao sétimo céu selado no ar
arranjo uma maneira qualquer
de dizer qualquer coisa
ao que venho sem o saber
na certeza de tudo ignorar
do que depois se vai passar
o dado está lançado no corrimão
a descer levantando as poeiras
na cegueira de querer chegar
mas sem conseguir ter alcance
em alguma coisa digna de agarrar
fecho a passagem de borla
faço-me caro para dificuldade
em crescendo por insana vontade
e eu aqui gemendo de desejo
no breve trecho da minha estória
poucas vezes se terá visto assim
abandonado e solitário
fazem regra de se ser ordinariamente
pouco dado à fala e ao contacto
abrindo-se para se ver
no olhar dado a conhecer
estreita o limite do segredo
no que quer e deixa transparecer
mesmo que fosse transparente
talvez interpretasse uma mentira
fingindo transparência
sem nenhuma importância
não é comum a sinceridade
ou franqueza educada
muitas vezes opta-se pela rudeza
e diz-se que se diz a verdade
no diz que disse faz-se a figura
e poucas vezes terá tido honestamente
a visão dada íntima de si mesmo
que não tenha sido uma fuga
dos outros e de si de toda a gente
sacrifícios e misérias
é alguém talvez uma mãe
que se sacrifica num ofício
que se dá mais a misérias
às vezes apenas por amor
pode ser um pai dedicado
enjeitando qualquer trabalho
dando mais de si do que pode
fazendo mil esforços inglórios
atento talvez a toda a gente
quem mais dá de si é quem mais nega
que a lei seja vigente a do engano
mais se sofre quando se isola
a mente de outra mente
mesmo quando os corpos se encontram