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A lenda de Krinon
A lenda de Krinon
A lenda de Krinon
E-book122 páginas1 hora

A lenda de Krinon

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Sobre este e-book

A jornada de um camponesinho com necessidades especiais que, para salvar seu querido tio da morte, decide ir à procura de um néctar contido nos raros lírios com manchas avermelhadas, no Vale dos Lírios.
IdiomaPortuguês
Data de lançamento9 de set. de 2021
ISBN9786550790691
A lenda de Krinon

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    A lenda de Krinon - Antônio Navarro de Andrade

    Capítulo um

    Dizem que as boas histórias são aquelas que começam por era uma vez… , mas talvez, só talvez, as melhores histórias comecem não por era uma vez , mas, sim, por um camponesinho de não muito mais de doze anos, de cabelos encaracolados e um jeito diferente das outras crianças, sentado por sobre uma pedra, no alto de uma montanha, com as sobrancelhas franzidas e os olhos focados na direção do sul da região onde morava, impulsionado pela admiração dos raios que caíam mais de uma vez naquele lugar…

    No entanto, deixe-me contar mais sobre esse garoto, cujo até o nome provocava um som precioso para uns e engraçado para outros. Não importa! Contudo, o mais importante é que você vai se apaixonar por esse camponesinho chamado Lísias Jeremias.

    Lísias era ligeiramente gago, e seus ombros eram um pouco inclinados para frente. Por isso, algumas crianças, de longe, não perdiam tempo para, de modo repetitivo e persistente, rir e fazer chacota com o seu jeito esquisito de falar e de se movimentar. Mas ele ria também, inclusive reagia, batendo palmas. Talvez por querer agradar e criar amizades, o garoto fazia de tudo para se enturmar, pois o que ele mais queria no mundo todo era ter amigos. Outras vezes caçoavam porque ele sorria tanto, mas tanto, que parecia prestes a engolir o prado todo, mesmo que não tivesse motivos nem para rir nem para engolir o prado. E, quando chorava — Ah, nossa! —, Lísias sentia que seria capaz de sair um rio inteiro de seus olhos…

    Ah, e, sobre os seus olhos cor de folha seca e parecidos com os de sua mãe, Aimé Jeremias, eles eram expressivos como se quisessem antever a existência de algo, muito adiante do imaginário, além do que os outros seriam capazes…

    — Como águia. — Comentava seu tio Cláudio, o coxo, irmão de Igor Jeremias, apoiado ao bastão de cedro e segurando, atravessado ao corpo por uma alça, um pequeno alforje. O tio tinha grande sentimento de afeição e simpatia pelo sobrinho.

    Quanto ao mais, Lísias se trajava, como todos os outros camponeses, com vestes feitas ou do couro dos animais que eram sacrificados para servirem de alimento, ou da fibra das folhas do sisal, uma planta bastante cultivada na Região, que servia também para a fabricação de outros produtos artesanais, como bolsas, cordas, tapetes, sandálias…

    Agora que você já sabe um pouco sobre este garoto de nome engraçado e precioso, precisa saber também que ele vivia numa pequena colônia de camponeses, localizada ao Norte da Região de Geórgion.

    Lá, os habitantes eram ágrafos, ou seja, não faziam uso da escrita, e seus valores e suas crenças eram aprendidos por meio das histórias que os mais velhos contavam. Cada família tinha sua porção de terra, criava animais e plantava, conforme as estações, tudo para o próprio consumo. E, por tradição, as meninas aprendiam o ofício das mães, e os meninos, dos pais.

    Porém, Lísias não gostava de trabalhar no campo. Contrariando o pai, Igor, o garoto gostava mesmo era de ficar disperso no seu mundo de imaginações, apreciando a natureza, simples, rústica e rural, os pássaros, as plantas, os animais, os rios…

    Para Igor, isso representava a perda dos sonhos que havia construído em relação ao futuro do filho. Mas para o garoto, a prova da natureza lhe dava prazer. Muito prazer! Ah, e aquela sensação agradável de contentamento fazia com que ele estivesse sempre feliz e de bom humor.

    E foi aí que realmente a história começou, perto de um fim de tarde, algum tempo antes da subida na montanha Loraf e antes mesmo de Lísias descobrir que era capaz de encontrar amigos de verdade. E foi há muito, muito tempo.

    Naquele fim de tarde, Lísias não teria muito tempo para aproveitar a luz do sol que, além de estar quase se pondo atrás dos morros, estava encoberto por algumas nuvens em forma de pequenos tufos de algodão que pontuavam o céu. Cercado de belas paisagens, o garoto tirou o seu calçado para correr ao redor dos sítios, até chegar ao sopé da montanha Loraf.

    Pelo caminho, acenou para algumas crianças, convidando-as a brincar, mas, por obediência aos pais, rejeitaram e voltaram-se para os seus afazeres, com o intuito de se esquivarem de uma possível bronca.

    Elas achavam muito, muito legal a forma como ele se divertia, por isso, um dos garotos arriscou aceitar o convite de Lísias, mas o pai o puxou pelo braço e o repreendeu:

    — O trabalho está em primeiro lugar, garoto!

    Outros vizinhos queixavam-se incomodados, pois, para eles e pela tradição, Lísias poderia ser um mau exemplo para os seus filhos.

    — Aquele moleque esquisito pode ser uma fruta podre num cesto!

    Lísias parecia já estar acostumado a ouvir as queixas dos seus vizinhos camponeses, ainda que nem sempre conseguisse entender por que diziam que ele era esquisito e um mau exemplo para as outras crianças. Mas ele não se importava, pois só queria alguns amigos.

    E quando os vizinhos diziam coisas que podiam partir seu coração de tristeza, ele ignorava e continuava se aventurando pelas belezas da Região. E — Nossa! — como ele amava a natureza! Amava tudo com todas as forças e com um grande sorriso no rosto.

    No entanto, como não havia conseguido a companhia das crianças para brincarem com ele naquele fim de tarde, o filho dos Jeremias acabou atraindo a atenção de alguns animais que andavam soltos por entre sítios.

    — Va-vamos ver quem cheega lá-lá no soopé da monta-tanha Loraf pri-primeiro! — Exclamou Lísias animado, desafiando os amiguinhos animais a serem mais rápidos do que ele.

    E não é que os bichinhos pareciam entender mesmo o garoto? Porque logo, logo, ele e os bichos passaram correndo por trilhas, bosques e estradas de chão, até chegarem ao sopé da montanha.

    Eu vou subir até o Atalaia para gostar da natureza lá de cima. — Pensou ele, observando com atenção a montanha.

    Loraf era imponente e quase toda rochosa, com algumas partes lodosas. Só as aves haviam conseguido chegar ao Atalaia, a parte que ficava lá em cima, bem em cima.

    O garoto olhou para um lado, virou para o outro… não viu ninguém. Parecia que Lísias queria mesmo é que as outras crianças o vissem, ainda que de longe, para testemunharem o que ele estava decidido fazer. Talvez, mostrar o quanto era corajoso? Os Jeremias são fortes e corajosos, pensava ele, lembrando-se das palavras que o seu querido tio Cláudio sempre dizia. Ou talvez, e tão somente, querer ser reconhecido pelos seus feitos e, assim, tornarem-se seus amigos? Mas não havia ninguém.

    Contudo, ele não estava sozinho… ah, não mesmo! Havia um corujão murucututu e um pelicano com olhos bem atentos na sua direção, prestando muita atenção nos seus movimentos. Nossa! As duas aves eram tão grandes que bem podiam ter a mesma estatura de Lísias.

    E lá foi ele. Subir a montanha Loraf com a postura de Lísias era uma coisa bem difícil de se fazer, mas os bichinhos começaram a fazer a maior algazarra para incentivar o menino a subir.

    Lísias foi subindo devagarinho, tateando as pedras e impulsionando o corpo. Quase desistiu mais de uma vez, já que na primeira pedra lodosa arrumou uma esfoladura que doeu bastante. Os Jeremias são fortes e corajosos! Repetia ele consigo mesmo, enquanto continuava a subir.

    Depois de muitos arranhões numa pedra aqui, noutra ali, com toda destreza e força, tanto nas mãos, quanto nos pés, o filho dos Jeremias chegou ao topo da montanha Loraf, para finalmente contemplar aquela panorâmica vista deslumbrante.

    E assim, quando, naquela tarde, no topo chegou, o camponesinho bateu palmas e deu um grito de alegria — hurra!

    Bebeu alguns goles d’água em uma pequena fonte cristalina, foi até uma rocha grande e se encostou, abrindo bem os olhos para observar, atentamente, lá de cima, cada detalhe das paisagens locais,

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