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O mundo de Yesod Água
O mundo de Yesod Água
O mundo de Yesod Água
E-book245 páginas2 horas

O mundo de Yesod Água

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Sobre este e-book

A verdade sobre o desaparecimento do Poder e a identidade do Inimigo é um quebra-cabeças que é enriquecido todos os dias com novas peças, mas que Avir e os seus amigos ainda não conseguiram reconstruir. Enquanto as previsões dos Zalyan de Prataria parecem tornarem-se realidade uma após a outra, os escolhidos enfrentam dificuldades que podem causar o desmantelamento definitivo da Companhia de Buscadores; a chegada de uma figura lendária — o Errante — pode representar um ponto de viragem na missão, mas também levanta novas questões sobre a sua natureza. Dos pântanos inexplorados e selvagens do reino da Terra às águas profundas e insondáveis do Grande Lago Doce, a Chave do reino da Água aguarda Mayim para enfrentar o teste mais difícil: a verdade.

IdiomaPortuguês
EditoraBadPress
Data de lançamento2 de jun. de 2020
ISBN9781071545171
O mundo de Yesod Água

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    O mundo de Yesod Água - Marzia Bosoni

    Para Simone,

    que é a guardiã do reino da Água

    e é um riacho que flui na música

    e um mar de mistério desconhecido.

    Capítulo 1 - Dez mil esmeraldas

    As colinas de Dorim ocupavam uma área muito extensa do reino da Terra, estendiam-se quase até à fronteira com o reino da Água; na parte central, havia uma sucessão de cumes, mais ou menos elevados, que se alternavam com vales luxuriantes, enquanto os sopés setentrionais, se elevavam até aos altos cumes das serras de Thoram, conhecidas pelos seus frequentes terramotos, que punham a descoberto ricas jazidas de pedras preciosas. Mas ao Sul, as colinas iam descendo lentamente terminando num território parcialmente inexplorado, cujos poucos habitantes levavam uma vida bastante isolada do resto do reino.

    A única coisa de que Karka se recordava com certeza, da sua aldeia nas colinas, era que ficava nas margens de um rio com águas espumosas; portanto, antes de deixar definitivamente a aldeia de Ervalana, os garotos reuniram informações sobre um rio que formava açudes e cascatas.

    Após algumas tentativas frustradas, um velho contou-lhes sobre o rio Esmeralda, que num local formava inúmeras pequenas cascatas devido a um antigo terramoto que criara um desnivelamento do solo.

    — É claro — acrescentou o homem — hoje as cascatas quase que já não se veem: até uns meses atrás, a água ainda podia criar saltos e redemoinhos, mas agora é apenas o suficiente para deixar viver o povo das aldeias.

    Mas, apesar disso, Karka sentiu renascer em si uma esperança, à qual tinha renunciado anos atrás; o nome do rio, Esmeralda, tinha acendido memórias distantes e indefinidas, mas a rapariga estava quase certa de que se tratava do rio em cujas margens existia a sua aldeia.

    O rio Esmeralda corria na parte mais central das colinas de Dorim, a poucos dias de distância de Ervalana, e devia o seu nome a uma antiga lenda local.

    Séculos antes, não existia nenhum rio, e o povo das aldeias tinha de fazer longas viagens para se abastecer de água. Numa dessas aldeias vivia, junto com o pai, uma jovem muito bela, de olhos verdes vivazes. Um dia, um jovem abastado de Rochantiga passou por acaso pelas colinas e apaixonou-se pela jovem, cujo nome era Sília; durante algum tempo, o jovem arranjou uma infinidade de desculpas para se deslocar de novo às colinas e voltar a vê-la e, com o passar dos meses, também Sília lhe retribuiu o seu amor.

    Mas, quando o jovem Alon pediu permissão ao pai da jovem para se casar com ela, este recusou categoricamente, a não ser que o jovem pudesse oferecer em troca algo tão valioso quanto os esplêndidos olhos da sua filha.

    Alon, cuja família era muito rica, não teve nenhum problema em oferecer ao homem dinheiro e joias, mas o pai de Sília rejeitou-os com desdém:

    — Acha que essas coisas se assemelham aos olhos de esmeralda de Sília? Se é tudo o que tem para oferecer, esqueça a minha filha e volte para Rochantiga.

    O moço não se desanimou e, por ter ouvido falar muitas vezes sobre as fabulosas minas de Thoram, decidiu ir pessoalmente às serras do Norte, para encontrar algo que o pai de Sília não pudesse recusar.

    Depois de se ter afastado longos meses, Alon voltou à aldeia, seguido de carros carregados das pedras mais bonitas alguma vez vistas: dez mil esmeraldas, muito puras, que o rapaz mandara descarregar num campo, a montante da aldeia, para que todos as pudessem admirar.

    Sília e todos os habitantes do lugar estavam estupefactos com tanto esplendor, mas o pai da jovem mostrou-se novamente irritado e dececionado.

    — Estas pedras estão frias e mortas. Do verde delas, a vida nunca nascerá! Como pode compará-las aos olhos da minha filha?

    Após o afastamento e os longos meses gastos nas minas de Thoram, essa enésima recusa, deixou Alon imensamente mortificado e fez desvanecer a sua determinação:

    — Jamais encontrarei algo que satisfaça o teu pai, simplesmente porque ele não quer que eu case contigo.

    Oprimidos pela dor e pelo desalento, os dois jovens abraçaram-se e começaram a chorar sobre a grande extensão de esmeraldas; as suas lágrimas quentes e salgadas caíram sobre as pedras que, lentamente, iam corroendo e dissolvendo. Choraram juntos durante toda a noite, desesperados na ideia da sua separação iminente, e as pedras continuaram a dissolver-se juntando-se num riacho verde.

    De manhã, quando o sol começou a subir no céu, e os habitantes da aldeia se preparavam para fazer a longa jornada para se abastecerem de água, um novo riacho, de águas verdes e vivas, pulava por entre as rochas e corria determinado pela aldeia.

    Atraído pelas altas exclamações de surpresa do povo, também o pai de Sília correu até ao riacho de esmeralda e quando viu os dois jovens abraçados numa pequena lagoa verde, entendeu a origem dessas águas.

    Quando os dois jovens despertaram, viram-se na frente do rosto sorridente do homem:

    — Este rio trará vida e esperança a pessoas e animais; acolherá peixes que poderemos pescar e nos refrescará nos dias quentes de verão. Sim, agora o verde dessas pedras está vivo e é precioso como os olhos da minha filha.

    Alon e Sília puderam casar-se e permaneceram na aldeia, na margem do seu rio, onde cresceram os seus filhos e netos. E o rio recebeu o nome de Esmeralda.

    Karka começou a lembrar-se dessa lenda no dia após terem partido de Ervalana, enquanto cavalgavam para Sul, na direção indicada pelo velho.

    — Acho que o meu tio me tinha contado essa lenda enquanto me levava para Rochantiga — disse Karka numa voz incerta. — No entanto, acho estranho. Nunca me consegui recordar de nada dessa viagem.

    — Talvez — supôs Avir — regressar aos lugares onde nasceste desperte em ti memórias que removeste.

    Apesar dos cavalos, a jornada continuou devagar, porque a floresta era densa e tanto os animais como os seus cavaleiros, lutavam para distinguir o carreiro.

    Naquela estação, as colinas deveriam estar no auge do esplendor: florestas exuberantes, onde galhos e trepadeiras se entrelaçariam numa teia aérea que projetaria padrões bizarros no chão; pequenos riachos que cortariam o carreiro aqui e ali, ofertando frescura às plantas e aos animais; concertos ensurdecedores de pássaros multicoloridos e um contínuo ir e vir de pequenos animais que se movimentariam ou descansariam preguiçosamente à sombra de um rochedo.

    Mas a seca deixara a sua marca mesmo nas colinas verdes e selvagens de Dorim, drenando os riachos, secando os prados, causando incêndios perigosos que devastaram grandes áreas de floresta e que só puderam ser domados à custa de grande esforço. É evidente que a atividade dos animais e o alegre canto dos pássaros também sofreram com aquela situação difícil, e as colinas tornaram-se muito mais silenciosas e solitárias.

    No entanto, apesar da seca mortal, a região que os garotos atravessavam revelou-se de uma beleza sem comparação.

    Entre o emaranhado de troncos e arbustos despontavam, ocasionalmente, grandes pedregulhos de rocha nua e quase branca, como sentinelas fantasmagóricas da floresta; estas rochas enormes escondiam, muitas vezes, profundas cavidades naturais que eram visíveis apenas quando se estava praticamente em cima delas. As rochas maiores, então, apresentavam buracos circulares estranhos que pareciam ter sido criados artificialmente.

    Karka explicou aos amigos que se tratava das tocas de animais muito pequenos da floresta, mas que o único responsável por esses buracos redondos perfeitos era um inseto, ou melhor, uma colónia inteira de insetos minúsculos.

    — E eles comem a pedra? — perguntou Mayim, surpresa.

    Karka encolheu os ombros:

    — Não sei exatamente, mas parece-me que usam pó de rocha para digerir as suas presas, mas... não me perguntes o que é a presa ou quais os insetos.

    Em certos locais, onde o carreiro invadido por ervas e cogumelos serpenteava entre as árvores, e parecia não haver nada além de plantas e pedras brancas, uma fenda alta na colina revelava de repente uma caverna ampla, mas pouco profunda, habitada por centenas de pequenos morcegos cinzas.

    Embora nada lhes tivesse indicado a possível presença de silvanos, os garotos já não paravam para dormir em cavernas, porque a terrível lembrança da aventura vivida nas serras da fronteira com o reino do Ar, ainda estava fresca demais nas suas mentes. No entanto, já que viajar de noite, naqueles bosques espessos onde brechas escuras se abriam inesperadamente no chão, era definitivamente arriscado, os garotos paravam sempre para descansar um pouco antes do sol-pôr, para voltarem a partir ao alvorecer.

    Eles demoraram mais do que o esperado, mas, após quatro dias de viagem, a floresta ficou mais basta, revelando aos seus olhos atónitos, um vale pequeno e estreito, ao longo do qual serpenteava um rio quase seco, cujas águas, embora escassas, ainda mantinham a cor esmeralda.

    Capítulo 2 - Uma boa surpresa

    Uma vez fora da floresta, era mais fácil reconhecer o carreiro, embora fosse claro que ninguém passava por ali há muito tempo.

    Numa encruzilhada, uma tabuleta danificada e pouco legível indicava duas aldeias, uma na margem direita a montante de onde estavam, e a outra na margem esquerda, localizada mais a jusante: Sília e Salta-Rio.

    — Repararam? — sublinhou Avir. — Aquela terra tem o nome da jovem da lenda! Quem sabe se não será a aldeia onde os protagonistas viveram?

    — Temo que vais continuar a questionar-te, porque não pode ser a terra que procuramos: Karka disse que o nome da aldeia dela tinha a ver com o rio.

    A voz de Mayim estava estranhamente distante, como se a sua mente estivesse longe dali. De facto, a rapariga estava preocupada com Karka, que, silenciosa como dantes, procurava à sua volta uma lembrança enquanto o seu rosto expressava toda a sua perturbação.

    Até Sus, que tinha reencontrado o seu verdadeiro ambiente na floresta, agora esgueirava o focinho do bolso da moça e fixava-a apreensivo: o seu coração batia ao mesmo ritmo que o de Karka, e o pequeno susiq entendia exatamente o que esta estava a sentir. Nos dias anteriores, tinha tido de facto a oportunidade de ver alguns susiq e sentiu-se muito dividido: por um lado, sentiu a alegria inesperada de finalmente se encontrar no seu ambiente, no meio de outras criaturas como ele, depois de tanto tempo passado em sítios estranhos e desconhecidos; mas também sentiu medo, um sentimento indefinido e muito triste por já não pertencer àquele mundo, justamente por causa do tempo passado noutras paragens.

    Sus sabia que Karka também sentia essas emoções: durante toda a sua curta existência, tinha desejado voltar àqueles locais, voltar a ver a aldeia e os seus habitantes, e agora, talvez porque estivesse a um passo de casa, descobriu que aquele nunca mais poderia voltar a ser seu lar, porque ela própria se tornara uma forasteira.

    Mayim tocou-a levemente no ombro, e a moça despertou dos seus pensamentos.

    — Karka, estás bem?

    — Acho... creio recordar-me de algo. Salta-Rio, sim, eu acho que era exatamente esse o nome.

    — Bem, então, coragem: não deve estar muito distante! — exclamou Esh esporando o cavalo.

    Karka permaneceu a olhar para a floresta da qual tinham acabado de sair: parecia-lhe deixar para trás as sombras incertas do seu passado para ressurgir e finalmente trazer a sua vida de volta à luz. De repente, porém, já não tinha tanta certeza de querer encarar aquela luz impiedosa e redescobrir, junto com as lembranças, também os fantasmas daqueles que a abandonaram para sempre.

    Quando se juntou aos amigos, Esh ficou ao lado dela:

    — Seja o que for que lá encontrarmos, enfrentaremos isso juntos, como sempre. E juntos continuaremos a nossa jornada.

    Karka retribuiu o sorriso do seu amigo, sentindo um pouco de coragem renascer nela.

    Eles seguiram a cavalo pelo carreiro, enquanto o sol caía à direita atrás da densa floresta, estendendo os seus raios sobre as escassas águas do rio.

    Chegaram a Salta-Rio na manhã seguinte; dada a seca, poderiam atravessar o rio em qualquer sítio, mas quando ainda se encontravam um pouco distantes, viram um homem diante da ponte solitária que levava à aldeia.

    — Poderia ser um guarda — presumiu Esh.

    Avir abanou a cabeça pouco convencido:

    — Um guarda, nesta pequena terra de camponeses e agricultores? Parece mais estar à espera de alguém...

    — Esperamos que não seja de nós — suspirou Mayim, que, apesar da ajuda recebida, recordava com incomodo o encontro com a velha Zalyan.

    Cavalgaram durante algum tempo, depois desmontaram e continuaram a pé até chegarem suficientemente perto para perceber que, apesar da esperança de Mayim, eram mesmo eles que eram esperados.

    O homem era muito alto e magro, usava uma longa túnica azul que, apesar do calor, o cobria quase inteiramente; uma espécie de turbante azul apanhava os seus longos cabelos negros, e uma expressão de feliz surpresa iluminou o seu rosto, enquanto estendia os braços na direção dos garotos.

    Esh colocou a mão no punho da espada, e Mayim agarrou a adaga que mantinha presa à cintura, enquanto os quatro avançavam lentamente.

    — Olhem! — exclamou Karka. — É um homem do Ar!

    A pele das mãos e do rosto, as únicas partes descobertas, traía a origem do homem, já que era branca e subtil como a de Avir.

    De repente, Esh parou:

    — Pelo Grande Vulcão Tush: é o vidente de Cenventos!

    Naquele momento, Avir também o reconheceu:

    — Pelekh!

    Mas, por maior que tenha sido a surpresa dos garotos, Pelekh ficou ainda mais surpreso:

    — Vocês são os garotos de Cenventos! São mesmo vocês. Eu nunca imaginaria que se referisse a vocês!

    Embora alegremente surpresos com o encontro, a última frase deixou os garotos um pouco alarmados.

    — Que se referisse a nós, o quê? — perguntou Esh imediatamente.

    Continuando a olhar incrédulo para os garotos, Pelekh fez um gesto vago:

    — Uma premonição. Tive a sensação de que algo estava prestes a acontecer, que alguém viria por esta estrada, mas não sabia quem. Faz agora uma semana que, todas as manhãs, espero deste lado da ponte, mas nunca teria acreditado que a premonição se referisse a vocês! Fico feliz por ter convencido Cometerra a ficar mais um pouco.

    — Cometerra está aqui? — perguntou Mayim com o maior espanto.

    Pelekh bateu levemente na testa:

    — Peço desculpa, chamei-a de Cometerra durante tanto tempo que, por vezes continuo a fazê-lo, mesmo que agora ela tenha descoberto o seu nome verdadeiro! Mas ela já sabe como sou e não fica chateada.

    — Descobriu de novo o seu nome? Então qual é o nome dela? E também encontrou a família?

    — Acho que lhe cabe a ela contar-vos tudo: tenho a certeza de que ficará radiante em vos voltar a ver. Sobretudo a ti, Mayim.

    Pelekh começou a caminhar em direção à aldeia, mas Esh deteve-o:

    — Espere. Antes de mais nada, queremos agradecer-lhe: estivemos na aldeia de Nin, perto da fronteira, e posso garantir-lhe que todos eles honraram as suas dívidas. Quanto a mim, devo-lhe a minha vida: fiquei gravemente ferido e se você não

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