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Os Bebês entre eles:  descobrir, brincar, inventar juntos
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Os Bebês entre eles:  descobrir, brincar, inventar juntos
E-book247 páginas5 horas

Os Bebês entre eles: descobrir, brincar, inventar juntos

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Sobre este e-book

Este livro é o segundo da coleção organizada por nós três, Ana Lúcia Goulart de Faria, Maria Carmen Silveira Barbosa e Suely Amaral Mello, que faz parte da "coleção Formação de Professores – série Educação Infantil em Movimento" da editora Autores Associados, de Campinas-SP. Ele destina-se, assim como o primeiro, Descobrir brincando, a estudiosos/as da pequena infância, professoras/es profissionais que ocupam a função docente em creches e pesquisadores/as das áreas que investigam criança pequena, tais como a psicologia, a medicina, a enfermagem, a sociologia da infância, a antropologia da infância, entre outras. O livro Os bebês entre eles: descobrir, brincar, inventar juntos é um convite da pesquisa acadêmica e científica francesa e italiana a desmontar preconceitos e virar o mundo adultocêntrico de ponta-cabeça para enxergar acriança desde pequenininha como construtora das culturas infantis, contribuindo para a construção da realidade social.
IdiomaPortuguês
Data de lançamento3 de nov. de 2021
ISBN9786588717417
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    Os Bebês entre eles - Mira Stambak

    CAPÍTULO 1

    Trocas em uma situação de

    brincadeiras motoras

    R. Maisonnet e M. Stambak,

    com colaboração de M. Barrière

    Ilustrações de A. L. Byory

    Depois de ter trabalhado por vários anos com o desenvolvimento cognitivo de crianças com menos de 3 anos, elegemos, para esta primeira investigação, outros aspectos da atividade infantil, aspectos geralmente menos valorizados tanto por pesquisadores como por profissionais das instituições dedicadas a crianças pequenas. Uma vez que uma de nós é educadora de psicomotricidade, decidimos criar uma situação de grupo que suscitasse atividades que exigiam a participação do corpo todo, situação que chamamos de brincadeiras motoras.

    Essa situação acabou sendo muito mais instrutiva do que esperávamos. Descobrimos crianças que competiam em criatividade para organizar algo em comum dentro de uma grande harmonia afetiva – com ajuda de material relativamente pobre –, brincadeiras complexas e variadas. Lamentavelmente, e apesar de nossos esforços, nunca poderemos descrever a emoção que suscitam as imagens.

    DESCRIÇÃO DA SITUAÇÃO

    Como nas outras duas situações estudadas neste livro, trata-se de grupos de quatro crianças observadas por adultos que adotam uma atitude participante.

    A arrumação do espaço foi cuidadosamente discutida. Em primeiro lugar, preferimos que as crianças que queríamos filmar permanecessem na sala em que ficavam habitualmente. Delimitamos um espaço livre de aproximadamente vinte metros quadrados, formando um limite como quarto lado com elementos de trânsito (mesas e bancos). Nesse espaço livre, pusemos em um canto uma casinha com tapete fixo e, no outro, colchões e almofadões. Retiramos todos os brinquedos habituais.

    O material foi escolhido em função de duas exigências complementares:

    – Desejávamos material grande para suscitar movimentos de motricidade global.

    – Baseados nas observações de Wallon (1945): A criança prefere um material sem forma que possa usar à vontade, ainda que seja com a grande cumplicidade de sua imaginação, ao objeto cuidadosamente construído e estritamente organizado, optamos por objetos facilmente renováveis, não muito numerosos e sem valor comercial.

    Por isso, escolhemos caixas de papelão de diversos tamanhos e pequenos barris vazios.

    DESENVOLVIMENTO DA SESSÃO

    Chegávamos à creche geralmente em duplas, por volta das 9h30, quando as crianças tomavam o suco de frutas da manhã. Instalávamos o material de vídeo, colocávamos o limite e trazíamos as caixas e barris, que distribuíamos desordenadamente, para o espaço ao alcance das quatro crianças eleitas para esse dia. Uma de nós filmava enquanto a outra, próxima a uma das educadoras que usualmente nos acompanhavam, seguia atentamente o desenvolvimento das atividades sem intervir.

    Cada sessão durava cerca de vinte minutos, e em geral realizávamos duas pela manhã com dois grupos de crianças.

    GRUPO ESTUDADO

    Neste trabalho, nos ocuparemos apenas das trocas observadas em cinco gravações com crianças entre 18 e 27 meses:

    •duas gravações com as mesmas quatro crianças e filmadas com 15 dias de intervalo; tinham 18 e 19 meses;

    •outras duas gravações também realizadas com quatro crianças e filmadas com um mês de intervalo; tinham 19 e 20 meses na primeira filmagem;

    •uma filmagem realizada com quatro crianças um pouco mais velhas: 24, 25, 26 e 27 meses.

    A escolha das crianças se fez exclusivamente em função da data de nascimento: para quatro filmagens, trabalhamos para que a idade das crianças fosse a mais próxima possível dos 18 meses; para a última, selecionamos os mais novos do berçário (turma para crianças de 2 a 3 anos).

    MODALIDADE DE ANÁLISE

    Como em outras situações estudadas, começamos a ver as filmagens várias vezes para perceber seu conteúdo global. Primeiramente comprovamos que existem períodos em que as crianças agem isoladamente, e outros, os mais numerosos, em que brincam em grupo (em dois, três ou quatro).

    Duração dos períodos em que as crianças permanecem isoladas, sem troca entre si.

    •na gravação n. 1: 5 minutos

    •na gravação n. 2: 2 minutos e 30 segundos

    •na gravação n. 3: 2 minutos

    •na gravação n. 4: –

    •na gravação n. 5: 2 minutos

    Podemos observar que os períodos em que não há troca entre as crianças são de curta duração. É importante destacar dois fatos: sabemos que nas gravações 1 e 2, as mesmas crianças foram filmadas com 15 dias de intervalo; nas gravações 3 e 4 também foram filmadas as mesmas crianças com um mês de intervalo. Em ambos os casos, há menos períodos de isolamento na segunda filmagem. Um segundo fato coincide no mesmo sentido: os períodos mais longos de isolamento estão na gravação n. 1. No entanto, essa foi a única filmagem que aconteceu pouco tempo depois da formação da turma e as crianças ainda não se conheciam bem.

    Quando há troca durante as atividades comuns, essas trocas acontecem entre duas, três ou quatro crianças?

    Como veremos adiante, a gravação n. 3 é diferente das outras, pois, durante um longo período (18 minutos e 30 segundos), as quatro crianças organizam uma brincadeira dentro das caixas, do que falaremos em seguida. Nas outras filmagens, são raras as trocas entre quatro crianças. Em geral, são feitos e desfeitos grupos de três ou dois: destacamos desde já que uma mesma criança não permanece isolada durante toda a gravação.

    Depois tratamos de entender os tipos das atividades em grupo, atividades que se organizam de maneiras muito variadas. Distinguimos três classes de sequências:

    a. As crianças agrupam-se a partir de atividades de exploração dos objetos (por exemplo, bater em um pequeno barril): uma dedica-se a certa atividade, uma segunda ou até uma terceira ou quarta a imitam, e depois de um tempo mais ou menos prolongado a atividade de cada uma delas estará de certa forma determinada pela atividade de outra.

    b. As crianças agrupam-se a partir de atividades corporais globais: uma das crianças começa a correr, por exemplo, a jogar-se em um colchão, a sapatear; as outros a imitam e, em um ambiente de alegria geral, prosseguem juntas essa atividade durante um tempo mais ou menos longo.

    c. Embora nos dois primeiros tipos de sequência as crianças executem juntas o que poderiam fazer sozinhas (arrancar pedaços de papel, correr etc.), em outras sequências organizam brincadeiras que só podem acontecer entre várias (geralmente entre duas, como esconde-esconde). Esse último tipo de brincadeira começa pela iniciativa de uma das crianças que convida as outras, por meio de olhares, mímicas, gestos, vocalizações, a participar da brincadeira proposta.

    Analisaremos agora sequências que se referem a essas três categorias.

    a. Trocas a partir de atividades com objetos

    Essas trocas acontecem em sequências em que predominam as explorações: as crianças descobrem as propriedades físicas dos objetos e os utilizam com diversas finalidades. Essas sequências representam aproximadamente 30% do tempo de nossas cinco filmagens.

    Primeiramente apresentaremos duas sequências curtas nas quais as crianças realizam a mesma ação sem apresentar modificações importantes.

    Na primeira delas, Sophie e Julie pulam e movem alegremente os braços dentro de uma caixa grande (aberta com a boca para cima) enquanto Jérôme, parado do lado de fora, as observa atentamente. Depois subitamente Sophie tem outra ideia:

    Sophie, sentada dentro da caixa, começa a arrancar pequenos pedaços de papel da lateral superior e os dá a Julie. Jérôme ajoelha-se e também começa a arrancar pedacinhos de papel da mesma lateral. Sophie sai da caixa, ajoelha-se ao lado de Jérôme e ambos continuam arrancando pedacinhos de papel. Julie os observa e, parada dentro da caixa, também se põe a arrancar papel. Sophie corre para a frente dela e ambas continuam arrancando pedacinhos que jogam dentro da caixa. Jérôme então pega uma das abas laterais e tenta arrancar um pedaço grande. Sophie contorna a caixa, ajoelha-se próxima a Jérôme e também tenta arrancar o mesmo pedaço grande, mas sem sucesso. Enquanto isso, Julie sai da caixa e vai embora. Jérôme continua arrancando o pedaço grande e, em seguida, Sophie também, mas não conseguem. Deixam a ideia de lado e começam a empurrar a caixa.

    Nessa primeira sequência, a atividade de uma delas interessa a uma ou a várias crianças, que começam a fazer o mesmo. As que imitam se aproximam de quem teve a iniciativa e juntos prosseguem, simultânea ou alternadamente, a mesma atividade. Os olhares que trocam indicam igualmente o desejo de realizar atividades juntos.

    Examinemos agora sequências um pouco mais longas nas quais a organização das atividades é mais complexa.

    Dos diversos pequenos barris e caixas que se encontram no meio do salão, Anne pega um barrilzinho com tampa e o leva para um canto da sala. Em seguida, em três idas e vindas sucessivas, leva um só, depois dois de uma vez, depois um só novamente, portanto no total leva quatro barris para o canto. Sophie, que até o momento se encontrava na casinha com Julie e Jérôme e olhava o que Anne fazia, recolhe uma tampa para levá-la ao novo monte que se formou, ao mesmo tempo em que Anne leva o quarto barril. Sophie vai de novo buscar o último que ficava no monte original para colocá-lo com os outros. Anne, por sua vez, vai pegar uma caixinha. Sophie imediatamente a imita, levando uma caixinha também; em seguida, continua indo e vindo entre o monte inicial e o novo, levando uma caixa de cada vez (três vezes), e para terminar as três tampas que ficaram no chão. Enquanto isso, Anne manipula e explora as caixas e pequenos barris do novo monte e depois vai embora. Alguns instantes mais tarde, volta ao monte e começa a manipular os pequenos barris e caixas. Julie começa a fazer como Anne. Então, Sophie pega em um braço um barrilzinho e uma tampa na mão para passear pela sala.

    Nessa sequência, fica claro que Anne quer juntar todos os elementos de uma mesma coleção de objetos num único lugar (atividade pré-lógica característica da idade). Sophie, que a observa, compreende a ideia e vai fazer o mesmo, mas não formando outra coleção de objetos, e sim ajudando Anne a fazer a sua. Trata-se, pois, de uma forma de cooperação em que ambas as crianças atuam em função de um mesmo projeto.

    A sequência seguinte começa com uma atividade muito simples, que consiste em bater com as mãos no fundo de um barril virado com o fundo para cima, e que culmina em atividades coordenadas formando uma orquestra:

    Clémence bate com as duas mãos sobre o fundo de um barrilzinho. Charles a observa, pega outro barrilzinho, coloca-o com o fundo virado para cima e a imita, batendo com as duas mãos de uma vez, de maneira bastante rítmica com a participação do corpo todo, olhando para a outra criança e sorrindo. Clémence para de bater, sorri, dá uma volta em torno de seu barrilzinho, olha para Charles, que continua batendo, e, segurando com as duas mãos o seu pequeno barril, o bate no chão em resposta a Charles. Chloé, sentada no banco, tem um barrilzinho invertido em cada uma das mãos; ela olha as duas crianças, põe os dois pequenos barris no chão e começa a bater neles alternadamente, cada um com uma mão. Então, Clémence arrasta seu barril até Chloé. Senta-se ao lado dela, vira o barril para que o fundo fique para cima, coloca-o entre as pernas e bate nele, com as duas mãos ao mesmo tempo. Charles também se aproximou de Chloé e novamente bate com as duas mãos ao mesmo tempo no fundo de seu barrilzinho. Chloé levanta-se, coloca-se com seus dois pequenos barris diante de Charles e começa a bater alternadamente, com uma e depois a outra mão, nos fundos dos barris. Olha para Charles, depois para Clémence, começa a bater com as duas mãos simultaneamente e se posiciona entre os dois: os três batem simultaneamente e se entreolham (orquestra). Em seguida, Chloé vai embora e os outros dois param de bater. (Interrupção: as crianças olham para alguém que entra na sala). Chloé aproxima-se de Charles e quer novamente colocar seus dois pequenos barris com o fundo para cima, mas Clémence trata de tirar-lhe um e Chloé vai embora. Enquanto isso, Charles apodera-se do barrilzinho abandonado por Clémence, inverte-o para que o fundo fique para cima e se põe a bater nesse novo barril e no seu com as duas mãos ao mesmo tempo, sempre de maneira muito rítmica. Clémence o interrompe e tenta tirar um dos barris. Pouco depois, Chloé, muito séria, começa a bater primeiro sobre duas caixas, depois de novo sobre os pequenos barris, um pouco com as duas mãos, um pouco alternando as

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