Encontre milhões de e-books, audiobooks e muito mais com um período de teste gratuito

Apenas $11.99/mês após o término do seu período de teste gratuito. Cancele a qualquer momento.

As Escolas Normais em Santa Catarina no Período de 1932 a 1961: O Caso de Mafra
As Escolas Normais em Santa Catarina no Período de 1932 a 1961: O Caso de Mafra
As Escolas Normais em Santa Catarina no Período de 1932 a 1961: O Caso de Mafra
E-book434 páginas5 horas

As Escolas Normais em Santa Catarina no Período de 1932 a 1961: O Caso de Mafra

Nota: 0 de 5 estrelas

()

Ler a amostra

Sobre este e-book

O livro as Escolas Normais em Santa Catarina no período de 1932 a 1961: o caso de Mafra convida o leitor a enveredar pelos caminhos percorridos das escolas normais que marcaram, na trajetória da educação, a formação docente para o ensino primário. A instrução primária tornou-se necessária como um dos meios para a superação dos problemas sociais no decorrer da evolução da sociedade moderna. Decorrente dessa necessidade, a criação das Escolas Normais ocorreu de maneira diferente de acordo com os contextos políticos, econômicos e sociais de seu tempo. Esta obra apresenta um estudo aprofundado sobre essas instituições, organizadas pela iniciativa pública e privada. Com um amplo resgate dos contextos que envolveram as escolas normais desde suas origens, o estudo mobiliza um referencial abundante que pode servir de base para aprofundamento do tema, em estudos que vierem a ser realizados. O estudo que possibilitou esta obra focaliza-se regionalmente e é cuidadosamente nuançado com a história da educação num sentido amplo, tornando-se fundamental para a compreensão da educação brasileira. A interação com o passado possibilitou a formatação de novos sentidos à narrativa histórica do processo de criação das Escolas Normais de Mafra. Trata-se de uma fonte de pesquisa indispensável para todos os interessados em conhecer e pensar a história da educação mafrense.
IdiomaPortuguês
Data de lançamento9 de nov. de 2021
ISBN9786525006567
As Escolas Normais em Santa Catarina no Período de 1932 a 1961: O Caso de Mafra

Relacionado a As Escolas Normais em Santa Catarina no Período de 1932 a 1961

Ebooks relacionados

Métodos e Materiais de Ensino para você

Visualizar mais

Artigos relacionados

Avaliações de As Escolas Normais em Santa Catarina no Período de 1932 a 1961

Nota: 0 de 5 estrelas
0 notas

0 avaliação0 avaliação

O que você achou?

Toque para dar uma nota

A avaliação deve ter pelo menos 10 palavras

    Pré-visualização do livro

    As Escolas Normais em Santa Catarina no Período de 1932 a 1961 - Eliane Nilsen Konkel

    Eliane.jpgimagem1imagem2

    COMITÊ CIENTÍFICO DA COLEÇÃO EDUCAÇÃO, TECNOLOGIAS E TRANSDISCIPLINARIDADE

    Aos professores, para quem o conhecimento da história

    da educação faz a diferença na profissão.

    AGRADECIMENTOS

    A tese que possibilitou a publicação deste livro teve o apoio financeiro da Pontifícia Universidade Católica do Paraná (PUC-PR), à qual manifesto especial agradecimento pela confiança e incentivo recebidos. O trabalho tornou-se possível, também, pela colaboração direta e indireta de muitas pessoas e instituições. Expresso gratidão a todos e, de maneira particular, à professora Dr.ª Maria Elisabeth Blanck Miguel, pelo incentivo à publicação, pelos apontamentos precisos que suscitaram muitas reflexões e pelas provocações sempre embasadas nas possibilidades da história da educação, ao Prof. Dr. Sandino Hoff, por aceitar prontamente a tarefa de escrever o prefácio, e à Prof.ª Dr.ª Rosa Lydia Teixeira Corrêa, pelo aceite em realizar a apresentação desta obra. Todos são conhecedores do processo de elaboração dos estudos, o que legitima suas opiniões e contribuições.

    Ainda, às pessoas que viabilizaram a coleta dos dados com atenção e presteza, de maneira especial à professora Marilda Ferigotti e ao historiador professor Cássio Alexandre de Souza, por disponibilizarem informações importantes e contribuírem na busca das fontes.

    Também à minha família, pela presença nas minhas ausências.

    A Deus, por ter me concedido saúde, força e disposição para desenvolver a pesquisa e, assim, contribuir para a história da educação.

    O passado não reconhece seu lugar: está sempre presente.

    (Mario Quintana)

    APRESENTAÇÃO

    Antes de tudo, manifesto agradecimentos pela confiança em mim depositada por Eliane Nilsen Konkel para proceder a apresentação do livro cuja autoria lhe é destinada. Responsabilidade de chamar atenção do leitor para a obra, sua abrangência e, ao mesmo tempo, significado para o campo da História da Educação e sua historiografia. Certamente este é o maior desafio: resumir em poucas laudas o estudo contido nesta obra. Fruto de tese de doutoramento, contém vestígios de um percurso de pesquisa exaustivamente percorrido em distintos arquivos dos quais foram trazidas a apreciação inúmeras fontes cuja finalidade foi responder a seguinte inquietação:

    [...] como a Escola Normal Regional Cônego Joaquim Eloy de Medeiros e a Escola Normal Barão de Antonina, em seus processos de formação de professores, organizaram-se, absorveram e se adequaram às estratégias do projeto de desenvolvimento econômico promovido pelo Estado Brasileiro no período de 1932 a 1961?

    Aqui reside o caráter inédito da pesquisa.

    Particularidades no interior de Santa Catarina que a autora estudou de modo criterioso, entendidas na complexa relação todo/parte/parte/todo, demarcando posicionamento teórico/metodológico fundamental para a compreensão do objeto de estudo. Nesse sentido, a investigação assinala os processos de formação de professores e as estratégias institucionais de adequação ao modelo de desenvolvimento econômico do Estado de 1932 a 1961. O referido posicionamento toma corpo ao longo de quatro capítulos.

    Perseguindo a lógica todo/parte, a autora traz, no primeiro capítulo, as Escolas Normais desde os seus primórdios, retomando o modelo de Escola Normal de Jean-Baptiste de La Salle nos Seminários de Mestres. O propósito era formar professores leigos na França pós-revolucionária. Essa retomada permite situar a Escola Normal no Brasil e sua relação com a instrução e escola pública no século XIX. Por isso refere a primeira Escola Normal em Niterói e posteriores inciativas das províncias que se propuseram a esse tipo de criação institucional, e, posteriormente, na República nos diferentes estados brasileiros, quando esse modelo de formação de professores se consolida.

    No segundo capítulo, aproximando-se daquele entendimento mais geral, a autora circunscreve a Escola Normal no âmbito do estado de Santa Catarina, inicialmente por meio da Reforma de Orestes Guimarães, considerada uma referência de modernização do ensino nesse estado devido também à sua extensão e ao marco de interiorização educacional. Além disso, ganham destaque nesse capítulo as Escolas Normais nesse estado depois dos anos de 1930, especialmente após o Estado Novo.

    O lócus no qual o objeto de estudo está localizado, o Município de Mafra, é preocupação posta no terceiro capítulo. A criação desse município ocorreu depois do acordo dos limites entre os estados de Santa Catarina e do Paraná, no fim da Guerra do Contestado e início da Primeira Guerra Mundial. Nele são trazidos elementos das disputas territoriais de bases político-econômicas que concorreram para a criação desse município. No bojo dessas disputas e do desenvolvimento sociocultural e econômico, são abordadas as transformações ocorridas no campo educacional com a primeira escola destinada a imigrantes alemães em 1831. Além disso, são trazidas as escolas criadas por esses imigrantes, bem como outras de iniciativa particular e mesmo públicas, coexistindo ante o desafio de realização de processos de escolarização elementar da infância mafrense.

    No quarto e último capítulo, inserido no lócus de estudo está o objeto de investigação, referido anteriormente e ocorrido no interior das duas Escolas Normais apreciadas no bojo do espaço geográfico mafrense. Aqui é trazida a singularidade. O que foi particularidade do município em termos educacionais no período do estudo. Cenário que demarca a história dessas duas instituições erigidas num tempo de transformações políticas, econômicas e sociais pelas quais passava o Brasil, Santa Catarina e Mafra, em particular. Essas instituições tiveram atribuição fundamental na formação do professorado local e, consequentemente, na educação da infância e juventude.

    O que poderíamos denominar de consolidação educativa escolar do município de Mafra se vincula, sem dúvida alguma, à emancipação política do município em 1917, quando deixa de pertencer ao estado do Paraná.

    A partir daí se constata expansão importante da escola primária destacadamente das escolas isoladas entre os anos de 1918 e 1942.

    Das escolas reunidas aos grupos escolares Mafra paulatinamente se integra às demandas por escola, educação e exigências da modernidade.

    A República põe o Estado à frente do atendimento às demandas por escolarização seguindo as trilhas do conjunto do Estado de Santa Catarina e do Brasil, em consonância com ideias educacionais em voga na Europa e Estados Unidos. O Grupo Escolar em Mafra resulta daquilo que a autora entende como legitimação do Projeto Republicano no ano de 1927, ou seja, 38 anos após a Proclamação da República e uma década após a sua emancipação (KONKEL, 2021).

    Nesse capitulo, por fim, é trazida a criação das duas Escolas Normais, a Escola Normal Regional Cônego Joaquim Eloy de Medeiros e a Escola Normal Barão de Antonina. Por esse intermédio, a autora responde de modo particular à pergunta mobilizadora da pesquisa, considerando as interrelações do objeto do estudo com as interfaces postas pelo procedimento metodológico adotado.

    Assim, convido a leitura desta obra, que sintetiza nas particularidades de sua escrita mais um caminho trilhado em busca de entendermos o amplo e intrincado processo histórico da formação de professores no Brasil, destacando as Escolas Normais no Município de Mafra no estado de Santa Catarina.

    Rosa Lydia Teixeira Corrêa

    Professora titular do Programa do Mestrado e Doutorado em Educação da

    Pontifícia Universidade Católica do Paraná

    Curitiba, agosto de 2020

    PREFÁCIO

    É a boa cortesia de Eliane Nilsen Konkel que me solicitou elaborar o prefácio do livro As Escolas Normais em Santa Catarina no período de 1932 a 1961: o caso de Mafra. À autora dedico profundo respeito pelos seus trabalhos acadêmicos que acompanho desde a elaboração de sua dissertação, por mim orientada, no curso de mestrado. Minha especial admiração pela obra que me incumbiu prefaciar.

    O livro expõe a relevância das políticas públicas e da formação docente, divulgando um tema que foi inquerido tanto em suas manifestações particulares como em suas determinações gerais. O objetivo do estudo foi reconstruir as bases materiais e o processo de produção das escolas formadoras de professores primários, a Escola Normal Regional Cônego Joaquim Eloy de Medeiros e a Escola Normal Barão de Antonina.

    Guiando-se pela orientação teórico-metodológica da ciência da história e utilizando as categorias parte/todo e da mediação, a autora investigou e desvendou as formas históricas do preparo de professores para as escolas isoladas, as escolas reunidas e para os grupos escolares. Ela conversou com os dados do passado, recolhidos nas escolas e nas secretarias de educação, inquirindo-os e os analisando e, assim, revelou o que de passado significativo está presente na atualidade, pois esse é o apreço que se tem da história da educação.

    A obra exercita nosso espírito para o entendimento da formação docente, organizada em termos de legislação pública e de organização pedagógica no interior da escola. Assim procedendo, o livro apresenta a histórica relação educativa como uma singular manifestação a expressar a formação necessária ao desenvolvimento social e econômico do país, a determinação do universal.

    Ao se examinar a sequência da obra, encontra-se a distinção acertada entre a revisão de literatura, extensamente aprofundada, e a fonte teórica, no caso, a ciência da história que orienta diretamente a análise, por meio de categorias adequadas.

    Da mesma forma, o texto distingue as fontes primárias – arquivos públicos, memoriais, atas, documentos de museus, produção de material por entrevistas e depoimentos – das fontes secundárias, do aproveitamento

    da literatura disponível. Cita Saviani (2004, p. 5-6) a confirmar a utilização das fontes na investigação: é nelas onde se apoiam os conhecimentos que produzimos.

    A utilização da categoria parte/todo aparece em toda a extensão do livro, nas abordagens sobre a formação de professores em seus diversos momentos, entendendo-se como particularidade a formação das escolas e como totalidade as transformações políticas, econômicas e sociais.

    A análise por categorias é fascinante. Para as aclarar, Eliane recorre, também, à literatura, seguindo o princípio atestado por Érico Veríssimo (1976, p. 9): A arte é uma das mais legítimas formas do conhecimento. Ela cita a frase significativa de Tolstói: Se queres ser universal, começa por pintar a tua aldeia. Esse é o encanto de se explicar a categoria parte/todo. Evoco outra frase de Tolstói, com idêntica finalidade. Um simples bilhete que o romancista inseriu no seu livro Ressurreição, romance que narra as polêmicas e as lutas internas travadas entre os nobres, apoiadores do cruel regime tzarista da Rússia feudal.

    No romance, a esposa de um poderoso político recebe o pedido de um nobre para conseguir a libertação de uma pessoa injustamente presa pela arbitrariedade do regime. As relações íntimas, que a mulher pretendia estabelecer com o solicitante da nobreza, fizeram-na arquitetar uma célere solução. No dia seguinte, ela lhe escreve um bilhete: O prisioneiro já pode ser solto!. Lukacs demonstra que esse simples bilhete é uma singularidade que manifesta, tanto quanto qualquer outro documento comprobatório, o universal da estrutura desumana de poder dos tzares.

    No livro As Escolas Normais em Santa Catarina no período de 1932 a 1961: o caso de Mafra, o leitor apreende, a todo momento, as particularidades das Escolas Normais de Mafra que têm desenvolvimentos diferentes das demais Escolas Normais brasileiras – e são pormenorizadas na investigação –, mas sua singularidade expressa, em comum com todas as demais, as leis gerais que regem a sociedade brasileira. Encontram-se no texto ricos detalhes para a compreensão da particularidade em relações íntimas com o todo, considerando sempre que o universal só existe manifestado no singular. Esta é, exatamente, a magia da pesquisadora: buscar as conexões íntimas, o essencial a investigar, descobrir e desvelar os segredos escondidos no objeto de estudo.

    Identificar a organização do trabalho pedagógico, em consonância com as estratégias das políticas de desenvolvimento econômico que foram propostas pelo Estado brasileiro no decorrer do período de 1932 a 1961, significou, também, detectar o movimento da sociedade que transitava do modelo agrário exportador para o urbano industrial e subordinava a produção do campo ao complexo industrial e comercial. Assim, a função que exercia a educação no início desse período começa a ser substituída por uma nova função, adequada à necessidade da modernização, de produzir professores habilitados para o trabalho.

    A Escola Normal Complementar Cônego Joaquim Eloy de Medeiros foi criada em 1932, no início do governo de Getúlio Vargas, num contexto que exigia um professor formado para as necessidades do nacionalismo desenvolvimentista; e a Escola Normal Secundária Barão de Antonina somente foi instalada no início do processo de redemocratização, em 1946, quando o contexto exigia do professor uma formação de nível secundário, voltada para as necessidades do desenvolvimento comercial, industrial e dos setores de serviços. Nesse período de transição, a autora orienta sua análise sobre a relação educativa exercida pelas escolas normais de Mafra.

    Se, nos dias atuais, impera um pensamento que dissipa a totalidade, fragmenta a história e exalta o efêmero, este livro utiliza as ferramentas da ciência da história, que são as categorias de análise, penetra fundo nos corredores da sociedade e da escola, revela o fundo oculto e decreta o fim dele, porque atinge com clareza o que estava obscuro.

    A mediação exercida pelas escolas normais permite o entendimento das transformações históricas do desenvolvimento do município. Essa categoria de análise livra a investigação social do dualismo causa/efeito, que propõe, por exemplo, ser a educação a única responsável pela melhoria social. Ao utilizar a categoria da mediação em seu livro, a autora tem por objetivo esclarecer que o indivíduo se torna um ser social, mediante (mediação) sua apropriação dos bens materiais e culturais, produzidos pelas gerações passadas e atuais; e, por meio da educação (mediação), instrumentaliza-se para, juntamente às demais forças sociais, transformar a sociedade.

    Perquirindo as fontes em seus pormenores, Eliane Nilsen Konkel torna legível e perceptível a relação educativa das históricas Escolas Normais de Mafra, agregada à trama das relações sociais.

    Por se tratar de uma obra rica como construção acadêmica, tenho certeza de que educadores, professores e alunos terão o maior interesse em encontrar-se nas bases teóricas e nas modalidades práticas da profissão que exercem no interior das escolas e na sociedade e de que terão apreço pela obra. Recomendo-lhes a leitura do livro.

    Sandino Hoff

    Campo Grande, 10 de setembro de 2020

    REFERÊNCIAS

    SAVIANI, Dermeval. Breves considerações sobre fontes para a história da educação. In: LOMBARDI, José Carlos; NASCIMENTO, Maria Isabel. (org.). Fontes, História e Historiografia da Educação. Campinas: Autores Associados, 2004.

    VERÍSSIMO, Érico. Solo de Clarineta, v. 2. Porto Alegre: Editora Globo, 1976.

    TOLSTÓI, Liev Nikoláievich. Ressurreição. [S. l.]: Centaur Éditions, 2013.

    LISTAS DE ABREVIATURAS E SIGLAS

    Sumário

    INTRODUÇÃO 23

    1

    AS ESCOLAS NORMAIS: ORIGENS HISTÓRICAS 43

    1.1. O SURGIMENTO DA ESCOLA NORMAL NO ÂMBITO DA

    INSTRUÇÃO PÚBLICA 44

    1.1.1. A Escola Normal no Contexto da Instrução Pública 48

    1.1.2. O Brasil Colônia e a Educação 62

    1.1.3. O Brasil Império e a Educação 65

    1.1.4. A Instrução Pública e a Formação de Professores 69

    1.2. A ESCOLA NA REPÚBLICA: MUDANÇAS E PERMANÊNCIAS 73

    1.2.1. As Escolas Normais no contexto republicano 76

    1.2.2. A Escola Nova e o Estado Novo 78

    2

    A ESCOLA NORMAL NO CONTEXTO DA

    EDUCAÇÃO CATARINENSE 97

    2.1. A ESCOLA NORMAL NO CONTEXTO REPUBLICANO CATARINENSE 107

    2.2. A REFORMA ORESTES GUIMARÃES: O MARCO DA MODERNIZAÇÃO

    DO ENSINO 115

    2.2.1. A Interiorização da Formação de Professores 122

    2.3. AS ESCOLAS NORMAIS EM SANTA CATARINA APÓS 1930 129

    2.3.1. O Estado Novo em Santa Catarina 138

    2.4. A REDEMOCRATIZAÇÃO EM SANTA CATARINA 146

    3

    O CONTEXTO HISTÓRICO DO MUNICÍPIO DE MAFRA 151

    3.1. O TERRITÓRIO EM QUESTÃO 152

    3.2. A CRIAÇÃO DO MUNICÍPIO 165

    3.3. A INSTRUÇÃO NO SOLO MAFRENSE 169

    4

    O MUNICÍPIO DE MAFRA E A EDUCAÇÃO 175

    4.1. O CENÁRIO DE MUDANÇAS EM MAFRA: A EDUCAÇÃO NO

    SEU INÍCIO 177

    4.1.1. Escolas Reunidas: A presença do Estado na Educação 186

    4.1.2. O surgimento do Grupo Escolar 193

    4.2. AS ESCOLAS NORMAIS EM MAFRA 197

    4.2.1. A Escola Normal Complementar 198

    4.2.2. A Reforma da Educação de 1935 207

    4.2.3 As Associações Escolares 214

    4.2.4 A expansão do número de escolas no município de Mafra 218

    4.2.5. A Escola Normal Secundária 229

    CONSIDERAÇÕES FINAIS 239

    REFERÊNCIAS 247

    ÍNDICE REMISSIVO 269

    INTRODUÇÃO

    Esta obra apresenta a história das Escolas Normais de Mafra – Escola Normal Complementar Cônego Joaquim Eloy de Medeiros e Escola Normal Barão de Antonina –, no período de 1932 a 1961. A ênfase no processo histórico¹ exigiu a reconstrução da história a partir da realidade revelada pelos documentos, com a finalidade de construir [...] o conhecimento do objeto e não o próprio objeto. E construir o conhecimento do objeto não é outra coisa senão reconstruí-lo no plano do pensamento (SAVIANI, 2007b, p. 15). Por meio de um recorte da história local/regional, procuramos compreender o surgimento das Escolas Normais e suas relações com o projeto de desenvolvimento econômico, político e social proposto para o Brasil.

    A escola normal, mesmo sendo um tema amplamente investigado, continua relevante para a história da educação, considerando que tornar ciente os processos educacionais que se constituíram no passado, pode auxiliar na compreensão dos dilemas postos à educação no presente. Segundo Hobsbawm (2013, p. 11), [...] a história está empenhada em um projeto intelectual coerente, e fez progresso no entendimento de como o mundo passou a ser como é hoje.

    Embora se trate de um assunto recorrente na historiografia brasileira, esse tema é inédito para a educação do município de Mafra. Há uma lacuna nos discursos educacionais quando o assunto é a formação de professores sob o ponto de vista histórico. Todo o esforço empenhado em entender as dificuldades da educação no presente, e expressas na realidade mafrense, não dá conta de questões cujas raízes estão num passado ainda por compreender. Segundo Saviani (2013, p. 2), O homem, além de se constituir em um ser histórico, busca agora se apropriar da sua historicidade. Além de fazer história, aspira a tornar-se consciente dessa sua identidade. Nesse necessário processo de estudo e de apropriação da história das Escolas Normais de Mafra, cabem as palavras de Nuñes, citadas em epígrafe por Ciavatta, e que reforçam a importância da consciência sobre a história:

    Quando o sistema educativo não se apoia na consciência histórica de si mesmo, dificilmente pode dar essa consciência ao povo ao qual serve. Quando o sistema educativo não é nutrido pela pesquisa científica com esta dimensão, ele não consegue assumir sua historicidade. (NUÑES, [199?], p. 48 apud CIAVATTA, 2009, p. 40).

    Para refletir sobre a consciência histórica, entendendo-a como a interpretação do seu próprio passado e da coletividade em que se está inserido, e contribuir com a história da educação, fez-se para este estudo o recorte das escolas normais de Mafra. Para Ciavatta (2009, p. 41):

    [...] o recurso à história parece ser o lado mais tangível da ciência para quem trabalha em educação, isto é, a área do conhecimento que pode revelar como se produz a vida social, que pensamentos, sonhos, aspirações e interesses impelem os homens em suas opções de vida.

    O interesse para as questões referentes à educação e a opção pelo estudo da formação dos professores amparou-se em Marrou, segundo o qual a motivação do historiador assume relevância no processo de investigação, pois Só somos capazes de compreender aquilo que, numa medida bastante ampla, já é nosso fraternal (MARROU, 1978, p. 71). Sendo assim, as memórias do passado e as experiências vividas no âmbito da educação revelaram que ‘ser’ professora, de certa forma, era um modelo de profissão que, ao ser trazido para a consciência, passa pela ressignificação.

    A fragilidade formativa dos professores, principalmente a partir das políticas educacionais implantadas no final do século XX, ocasionou dificuldades e desafios para a formação de professores no século XXI. Sobre esse assunto, Saviani (2011), em entrevista concedida ao Jornal Folha Dirigida², destacou a necessidade de se criar uma rede pública de formação de professores, a fim de corrigir uma distorção no processo de formação docente, que, segundo ele, constituiu-se num ponto de estrangulamento de todo o sistema educacional. Dessa forma, a compreensão das particularidades históricas do processo de formação nas escolas normais pode contribuir para compreender os estrangulamentos que se apresentam na atualidade.

    Saviani (2009) afirma que para equacionar a questão da educação, traduzida na necessidade de expansão do ensino, demanda que surgiu ainda no período da Primeira República, foram criadas as escolas normais. Mesmo com muitos avanços em meio às intermitências e inconstâncias, a escola normal atravessou dois séculos enfrentando muitos desafios. Em 1971, a Lei 5.692 modificou a organização do ensino primário e médio, denominando-o 1º e 2º graus. A partir de então, a formação do professor para o ensino primário perdeu as características organizadas no processo de constituição das escolas normais, passando a uma habilitação específica do magistério, constituindo-se numa educação tecnicista.

    Com o advento dos Institutos Superiores de Educação e das Escolas Normais Superiores (1996-2006), a partir das expectativas criadas pela LDB 9394/96, havia esperanças de que o problema fosse mais equacionado. Porém, as experiências mostraram que os Institutos e as Escolas Normais Superiores se constituíram em instituições precárias e aquém, [...] promovendo uma formação mais aligeirada, mais barata (SAVIANI, 2008a, p. 148).

    Para Saviani (2009), do ponto de vista teórico, há dois modelos para a formação de professores: o modelo dos conteúdos culturais-cognitivos, em que a formação se esgota na cultura geral e no domínio específico dos conteúdos – modelo este que predominou nas universidades e instituições de ensino superior –, e o modelo pedagógico-didático, para o qual a formação do professor somente se completa com o efetivo preparo pedagógico-didático – modelo que prevaleceu nas escolas normais, vindo a se consolidar ao longo de século XX até a década de 1970, quando foi substituído por exigência da Lei 5692 de 1971.

    No decorrer da história da profissionalização docente, o trabalho do professor passou por diferentes fases, sendo este o improvisador, o missionário, o artesão e, mais recentemente, o técnico, o tutor (GATTI, 2010) –

    sempre envolto em discursos que o pretendiam como um profissional com condições de resolver os problemas sociais, satisfazendo ao mesmo tempo aos interesses adversos da sociedade em seus diferentes momentos. Essa constante mudança no papel e na formação do professor é inerente ao processo histórico, e é compreendida por Reis Filho, quando afirma que a tarefa do educador é avançar no sentido da evolução da história.

    A História da Educação, compreendida como o estudo do processo evolutivo do fenômeno educacional, demonstra a irracionalidade dos saudosismos e das pretensões à eternidade de qualquer doutrina pedagógica ou instituição educacional. [...] a lição permanente da história é a mudança contínua. História é movimento, é transformação. Determinar o sentido da evolução histórica é a tarefa primordial do historiador de todas as épocas. (REIS FILHO, 1981, p. 1).

    A Escola Normal como instituição cumpriu papel preponderante na formação dos professores para o ensino primário. Portanto, pretende-se ultrapassar a narrativa de uma história institucional saudosista e dialogar com as modificações ocorridas em Mafra e as adaptações no âmbito da educação, expressas nas escolas normais em função das mudanças no modo de viver urbano no decorrer do século XX.

    Procuramos compreender as transformações históricas da educação no município de Mafra, a partir do recorte da gênese das Escolas Normais inseridas numa sociedade particularmente complexa, envolta em processos imigratórios, com um contexto passado de guerra, de luta pelo desenvolvimento do espaço urbano e de organização institucional com vínculos políticos, econômicos e sociais, articulados ao processo histórico republicano.

    No período de 1932 a 1961, o município de Mafra possuiu duas Escolas Normais – uma regional e outra secundária –, as quais foram depositárias das políticas estaduais e nacionais para a educação. Essas escolas tiveram suas implicações no âmbito político, econômico e social, mas ainda suas histórias não haviam sido objeto de pesquisas que buscassem compreender as bases constitutivas de suas orientações e favorecessem a compreensão das relações entre os projetos nacionais, as diretrizes da formação de professores das escolas normais, bem como o alcance desses projetos no contexto local.

    Diante disso, ao compreender o papel estratégico das escolas normais como parte de um projeto de sociedade, colocamos em pauta o seguinte problema: como a Escola Normal Regional Cônego Joaquim Eloy de Medeiros e a Escola Normal Barão de Antonina, em seus processos de formação de professores, organizaram-se, absorveram e se adequaram às estratégias do projeto de desenvolvimento econômico promovido pelo Estado Brasileiro no período de 1932 a 1961?

    Situamos o recorte temporal no século XX, período de 1932 a 1961, pois fora no ano de 1932 instalada a "Escola Normal Complementar Cônego

    Está gostando da amostra?
    Página 1 de 1