Um abolicionista: Luiz Gama: Primeiras Trovas Burlescas de Getulino
De Luís Gama
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Sobre este e-book
Ao torpe mercador de carne humana.
Aqui se curva o filho respeitoso
Ante a lousa materna, e o pranto em fio
Cai-lhe dos olhos revelando mudo
A história do passado. Aqui nas sombras
Da funda escuridão do horror eterno,
Dos braços de uma cruz pende o mistério,
Faz-se o cetro bordão, andrajo a túnica,
Mendigo o rei, o potentado escravo!"
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Um abolicionista - Luís Gama
Copyright desta obra por EDITORA DIPLADÊNIA
Publicado por Editora Dipladênia
Capa
Studio Libris
Diagramação
Editorando Birô
Gama, Luís da, 1830-1882
Primeiras trovas burlescas de Getulino [livro eletrônico] / Luís da Gama. -- 1. ed. -- Rio de Janeiro, RJ : Editora Dipladênia, 2021.
ePub
ISBN 978-65-995678-3-4
1. Poesia brasileira 2. Poesia satírica brasileira
I. Título.
CDD-B869.1
21-79862
Índices para catálogo sistemático:
1. Poesia : Literatura brasileira B869.1
Eliete Marques da Silva - Bibliotecária - CRB-8/9380
Todos os direitos reservados à EDITORA DIPLADÊNIA LTDA.
Av. Rio Branco, 185, 1907, 20040-007, Castelo, Rio de Janeiro, RJ
Email: comercial@livrariadipladenia.com.br
Contudo, se vir alguém
Que deles zombe, e de mim,
Defende-me, e dize assim:
Cada qual dá o que tem.
– Faustino Xavier de Novais
SUMÁRIO
APRESENTAÇÃO
PRÓTASE
LÁ VAI VERSO
JUNTO À ESTÁTUA
SORTIMENTO DE GORRAS
O VELHO NAMORADO
NO ÁLBUM
O GAMENHO
MOTE
SONETO
A UM FABRICANTE DE PÍRULAS
AO MESMO
ARREDA QUE LÁ VAI UM VATE!
A PITADA
O BALÃO
A UM FABRICANTE DE PÍRULAS
A UM NARIZ
UMA ORQUESTRA
O GRANDE CURADOR DO MAL DAS VINHAS
PACOTILHA
COLEIRINHO
RETRATO
A UM VATE ENCICLOPÉDICO
NO ÁLBUM
A UNS COLARINHOS
SEREI CONDE, MARQUÊS E DEPUTADO!
OS GLUTÕES
FARMACOPeIA
A BORBOLETA
QUEM SOU EU?
O JANOTA
LAURA
QUE MUNDO É ESTE?
O BARÃO DA BORRACHEIRA
A CATIVA
SONETO
NOVO SORTIMENTO DE GORRAS PARA A GENTE DE GRANDE TOM
RETRATO DE UM SABICHÃO
NUM ÁLBUM
MINHA MÃE
NO CEMITÉRIO DE S. BENEDITO
APRESENTAÇÃO
Luís da Gama nos parece ser o maior abolicionista brasileiro. Sua história pessoal, os pesados desafios pelos quais precisou superar para sobreviver, apresentando, apesar de tantas dificuldades, energia para lutar pela liberdade dos demais, combater o regime escravagista vigente, lutar pelo fim da monarquia e pelos ideais republicanos; sendo reputada à sua advocacia a libertação de cerca de quinhentas pessoas mantidas de forma injusta e ilegal na condição de escravos.
O próprio Gama fora vendido como escravo ainda menino, embora fosse filho de mãe liberta (Luísa Mahin) e pai branco (um fidalgo residente na Bahia cuja identidade é obscura). Luís só veio a conquistar a sua liberdade perante a Justiça aos dezessete anos. Nesse período aprendeu a ler, com a ajuda de um amigo estudante de Direito, experiência que logo o impulsionou a lutar em prol dos escravizados, atuando como rábula, assistindo às aulas de Direito como ouvinte, trabalhando lacunas nas leis para fundamentar suas peças jurídicas em prol dos desassistidos.
Um dos poucos pensadores negros de sua época, para além de sua brilhante trajetória como defensor dos direitos humanos, Luís Gama se destacou também como jornalista e poeta.
No campo político, notabilizou-se por seu engajamento na luta contra a escravidão e pelo fim da monarquia no Brasil, pareando com grandes personagens do movimento abolicionista, como Ferreira de Menezes, André Rebouças e José do Patrocínio.
Com a publicação das Primeiras Trovas Burlescas, a Editora Dipladênia busca dar voz à narrativa ímpar desse espírito tão avançado para seu tempo, trazendo ao leitor a verve poética, de ironia ora doce, por vezes ácida, raramente amarga, mas sempre crítica, autêntica, lúcida, de um grande pensador do nosso Brasil.
– O Editor
PRÓTASE
Embora um vate canhoto
Dos loucos aumente a lista.
Seja cisne ou gafanhoto
Não encontra quem resista
Dos seus versos à leitura,
Que diverte, inda que é dura!
Faustino Xavier de Novais
No meu cantinho,
Encolhidinho,
Mansinho e quedo,
Banindo o medo,
Do torpe mundo,
Tão furibundo,
Em fria prosa
Fastidiosa –
O que estou vendo
Vou descrevendo.
Se de um quadrado
Fizer um ovo
Nisso dou provas
De escritor novo.
Sobre as abas sentado do Parnaso,
Pois que subir não pude ao alto cume,
Qual pobre, de um Mosteiro à Portaria,
De trovas fabriquei este volume.
Vazios de saber, e de prosápia,
Não tratam de Ariosto ou Lamartine
Nem rescendem as doces ambrosias
De Lamires famoso ou Aretine¹.
São ritmos de tarelo, atropeladas,
Sem metro, sem cadência e sem bitola
Que formam no papel um zigue-zague,
Como os passos de rengo manquitola.
Grosseiras produções d’inculta mente,
Em horas de pachorra construídas;
Mas filhas de um bestunto que não rende
Torpe lisonja às almas fementidas².
São folhas de adurente cansanção³,
Remédio para os parvos d’excelência;
Que aos