Uma flor sem perfume
De Liege Castro
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Uma flor sem perfume - Liege Castro
Uma Flor Sem Perfume
Capítulo 1
Estava quente o dia. Nem mesmo a brisa que soprava, conseguia trazer um pouco de alívio para o calor intenso que fazia. O sol castigava sem dó e queimava a pele de quem teimava em permanecer sem proteção.
As árvores eram poucas, no chão castigado pela seca, a vegetação rasteira já estava amarelada, o verde só nas palmas, e em outras plantas que resistem ao clima agreste do sertão nordestino. Olhando o céu não se via uma única nuvem, só o azul brilhando indiferente àquela triste paisagem desolada.
O gado já está quase todo morto, espalhado pela caatinga estorricada. De vez em quando se escuta o tilintar do sino que as cabras trazem ao pescoço, pois elas ainda sobrevivem um pouco mais à falta de comida, pois comem até o capim que secou.
A terra é só pó. Parece que ali o tempo parou tal o silencio; nenhum pássaro canta, o riacho não murmura sua cantiga; está completamente seco.
Na estrada empoeirada vê-se ao longe um vulto que caminha com dificuldade, lentamente vem se aproximando, e quando chega perto da margem do riacho cai desfalecida. Sua ultima esperança era encontrar um pouco de água naquele riachinho, mas ele já está seco faz muitos dias.
É uma pobre mulher desesperada ela tenta se levantar, mas sua resistência acabou, e ali à beira do córrego seco ela desiste da luta.
È mais uma vítima da seca e fome que assola o nordeste brasileiro.
Maria Raimunda, uma nordestina como tantas outras, acaba de entregar sua alma a Deus, como se diz comumente na terra. Seu corpo ficou estendido à beira da estrada, no chão daquele sertão que ela tanto amava.
Seu espirito, porém foi amparado pela caridade dos amigos benfeitores espirituais e levado para um posto de socorro no plano espiritual. Sem entender o que se passou com ela, a pobre cabocla sofrida chora e pede aos irmãos que a socorreram que lhe dê um pouco de água, tem sede e assim que é atendida, quer se retirar. Conta que precisa voltar à sua casinha, pois lá estão os três filhos que a esperam, todos tem sede e fome, necessitam que ela leve o que comer e beber para eles.
Nossos companheiros no posto de atendimento enviam então um pedido urgente para que alguma equipe socorrista partisse em auxilio das crianças.
Foi assim que tomei conhecimento dessas criaturas sofredoras; nosso grupo de resgate foi encarregado de ir à casa de Maria Raimunda, para ajudar os seus filhos.
Partimos em caravana, eu, e mais três companheiros, para fazer o reconhecimento e tentar levar o auxilio de que as crianças precisavam. Rapidamente o aeróbus cruzou o céu do sertão e chegamos ao casebre perdido no meio da caatinga. Ouvimos o choro das crianças chamando pela mãe. O que vimos nos deixou profundamente triste.
Uma tapera perdida no meio do nada, na vastidão da caatinga estorricada era onde vivia Maria Raimunda e seus filhos.
Três crianças raquíticas de idades bem próximas, pois as mulheres nordestinas nem bem deixam de amamentar um filho, já engravidam de outro.
O que é um caso para estudo, pois com as condições tão adversas como falta de alimentação, quase sempre anêmicas e sofrendo de verminoses elas ainda tem tanta capacidade de procriar.
Pois bem, ali naquela paisagem desolada, encontramos a habitação de nossa pobre irmã.
Entramos e vimos às crianças deitadas na esteira chorando com fome, os olhos fundos de fraqueza brilhavam com o brilho febril de quem necessita com urgência de tratamento, isto é: comida água e remédios. Eram dois meninos e uma menina, com idades de dez onze e treze anos, mas pelo raquitismo pareciam mais novos.
Aproximamo-nos deles e ouvimos os seus lamentos chorosos, sempre a pedirem água e comida.
Confesso que meu coração bateu descompassado, senti uma enorme piedade por aquelas crianças tão infelizes.
Olhei meus companheiros e percebi que eles também estavam emocionados com a cena dramática que se passava naquela choupana.
_ Que vamos fazer? Perguntei aos colegas.
_Vamos tentar procurar pelas proximidades alguém a quem possamos intuir para vir socorrer os garotos, e isso é urgente!
- Então vamos logo que o caso é grave.
José um companheiro que havia se juntado a nós fazia pouco tempo, e estava em aprendizado se dispôs a sair em busca do auxilio.
Vá meu irmão e que Deus te acompanhe e ilumine seus passos para que você consiga trazer alguém aqui. Saiu José e ficamos eu e Maria Luisa que estava conosco nesta tarefa e uma jovem por nome de Noemi, que trabalha como enfermeira no hospital da colônia que estamos visitando.
Havíamos ido a estudo conhecer uma colônia que fica justamente no nordeste, daí sermos nós a atender o chamado dos irmãos que socorreram Maria Raimunda.
Enquanto aguardávamos a volta de José unimos nossa preces e pedimos ao plano superior que nos ajudasse naquele momento, pois os meninos estavam muito fracos e poderiam desencarnar se não houvesse recurso rápido para eles.
Reparei à minha volta e procurei ver se encontrava alguma coisa que pudesse servir como meio de ajuda aos garotos.
Vi em cima do fogão, uma vasilha e olhei o seu conteúdo; era um restinho de água.
Pensei: se um dos garotos chegar até o fogão e pegar a vasilha podemos colocar
o remédio para ajudá-los até o socorro chegar.
Convoquei os amigos e pusemos –nos a intuir a menina que era a mais velha, para que fosse até o fogão. Daí a alguns minutos ela levantou-se cambaleando, olhou dentro da vasilha, viu que tinha água e pensou: mamãe não irá brigar se bebermos esse resto de água, já que foi buscar mais. Chegando junto dos irmãos, distribuiu um gole para cada um e tomou também um pouco do que sobrou da água barrenta que a mãe havia conseguido na ultima cacimba que encontrou.
Colocamos o remédio para fortalecer os garotos e ficamos unidos em um corrente de força para que José encontrasse alguém que pudesse prestar ajuda aos guris.
Passaram-se vários minutos que nos pareceram horas, e para nossa alegria José regressou e com ele veio um homem.
Vinha montado em um jegue, e entrou trazendo um cesto com um pouco de farinha, um pedaço de carne de sol, feijão cozido e uma bilha com água.
Encontrou os meninos adormecidos, pois os remédios que lhes demos, serviu para se acalmassem um pouco, até o socorro chegar.
O homem foi entrando e logo viu o estado desesperador dos meninos.
Meu padim
, padre Cícero! O que é isso?
Os meninos de cumade Maria, tão quase mortos de fome! Jesus Cristo, foi bom eu Ter vindo aqui nesta hora, senão amanhã os pequenos já estariam mortos. Foi meu padim
quem me cochichou no ouvido pra eu vim até aqui, já que eu passava por perto e cumade me pediu que sempre que pudesse desse um pulo até cá, pra mode ver meu afiado, que anda meio doentinho, mas chego e encontro todos eles ansim.
O velho sertanejo, com presteza, logo procurou tratar dos meninos; deu água, comida, e perguntou pala mãe deles.
_Sei não senhor. Saiu logo cedo e inda não vortou, disse a garota. Nós tamo muito aflito com a demora dela, que não anda bem de saúde. O velho então resolveu levar os meninos com ele para sua casa que ficava distante dali algumas léguas e pensou: Deixo os garotos lá em casa e vou procurar a cumade.
E assim fez.
Então Luigi podemos voltar e ver o que podemos fazer para ajudar esses nossos irmãos fiquei interessado neste caso.
Entramos no aérobus e partimos em direção à colônia Raio de Luz
, onde estamos fazendo estágio como socorristas. Aqui é assim sempre procuramos novas tarefas para que possamos prestar auxilio, a quem precisa.
Logo chegamos. Luigi disse Ricardo, vamos procurar o mentor e relatar o que se passou e o que fizemos.
- Certo Ricardo, vamos lá, porque quero me informar bem sobre este caso, pois desejo ajudar a mãe e aos garotos, penso que existe uma estória interessante e que pode me dar subsídios para eu aprender mais, e também contar no próximo livro que vou começar a escrever.
- É, meu amigo, aproveitemos bem o tempo porque trabalho não nos falta.
Procuramos a ala onde fica o gabinete de trabalho do diretor da Colônia e lá o encontramos simpático e acolhedor como sempre.
- Com licença tio Pedro? Podemos entrar?
- Sim meus filhos, como foi a missão? Tudo em ordem?
- Sim viemos dar conta do que foi feito e saber se o que fizemos foi o correto.
O bondoso mentor convidou-nos a tomar assento nas confortáveis poltronas a sua frente
E gentilmente nos colocou a vontade.
- Bem, comecei a dizer: tio Pedro fomos a casa onde morava Maria Raimunda com seus filhos e lá os encontramos em estado lastimável, com fome e sede, doentes com anemia e verminose, faltando pouco para que também desencarnassem.
Utilizamos as técnicas de atendimento usuais necessárias para estas situações, colocando no resto de água que encontramos o remédio que deu a eles a energia para aguardar a chegada do socorro, que veio por intermédio de nosso bom José.
Ele encontrou um compadre dela que os levou para sua casa, homem bondoso que por certo tomará conta dos pequenos, até que sejam encontrados alguns dos parentes uma vez que o pai conforme sabemos desencarnou faz já alguns anos.
- Muito bem, amigos vejo que cumpriram corretamente a missão e agora vamos cuidar da pobre senhora que está sofrendo por seus filhos.
Ela ainda não entende que não está mais entre os encarnados.
Olhei tio Pedro, um senhor de meia idade alto, magro, cabelos grisalhos, pele morena olhar tranqüilo, sorriso largo. Um típico nordestino. Pensei: porque será que o chamam de tio?
- Você está curioso não é Luigi? Disse o bondoso mentor ao ler meu pensamento.
- Sim, esse defeito ainda não consegui superar, gosto de saber das coisas e vendo que o chamam de tio, desejei saber a razão. Fiz mal?
- Nada disso! Chamam-me de tio porque fui professor em uma pequena escola rural no
Interior aqui no nordeste e lá as crianças começaram a me chamar de tio, os anos foram passando e quando desencarnei quis continuar a ser o tio das crianças daqui, até que por bondade de Deus, me deram o cargo de diretor dessa colônia que tanto amo e não só os pequenos, mas todos se habituaram me chamar de tio e eu gosto muito. Satisfeito?
- Muito, e agora mais que nunca, vamos chamá-lo também de tio Pedro, porque o senhor tem mesmo jeito de tio.
Eu tenho aqui no plano espiritual um tio que me é muito querido, e que de vez em quando.
Vem me ver, ou eu o procuro quando tenho uma folga maior.
- Ótimo meu rapaz! A vida espiritual não acaba com os laços de amizade que tivemos quando encarnados, pelo contrário ela só contribui para que esses laços sejam cada vez maiores.
- Tio Pedro, posso pedir um grande favor?
- Sim de que se trata?
- Eu desejo continuar a ajudar a nossa irmã Maria Raimunda e tomar conhecimento de sua estória, creio que vou Ter bastante assunto para contar no meu novo livro, posso?
- Meu filho você não só pode como deve. É sempre útil que passemos aos leitores fatos como os que você irá narrar para que possam tirar exemplos e ensinamentos, vá em frente.
Procure o Josias no departamento de assistência e diga que eu o autorizei a acompanhar o tratamento e também que possa tomar parte na regressão que farão em nossa irmã, para que aceite com paciência e resignação todo sofrimento por que tem passado.
- Obrigado tio Pedro, vou correndo quero logo começar a escrever alguma coisa sobre Maria Raimunda e seus filhos. Espero que consiga passar para o papel o que vou escutar e ver sobre essa pobre irmã.
Vá em paz Luigi, volte sempre para contar como vai indo sua pesquisa.
Saí apressado a procura do departamento de assistência e do seu responsável, o irmão Josias.
Antes, porém, desejo contar a vocês que estou fazendo um estágio em uma colônia situada no nordeste, mais precisamente no estado da Paraíba. Somos um grupo de sete: eu Maria Luisa, José, Ricardo, Isabel, Teresa e Osvaldo.Não somos todos da mesma colônia, cada um de nós vem de um lugar e somos acompanhados pelos colegas que trabalham no hospital da colônia ‘Raio de Luz , onde estamos estagiando
.
‘E, uma bela colônia, como são todas as colônias daqui, mas cada uma tem suas próprias características dependendo de onde estão situadas. Quais as suas prioridades de atendimento, isto é: existem as que se dedicam em atender a músicos, outras que abrigam escritores, existem ainda aquelas que tratam de doenças específicas, como, a AIDS, hanseníase e outras.
Outras são especialistas em cultivar flores, há as que cuidam das árvores e frutas, das águas.
Etc. enfim, são várias colônias e cada uma tem seus gostos e tendências, dependendo do motivo para o qual foram criadas. Isso não quer dizer que só podem morar nestas cidades os que tiverem essas qualificações
Pôr exemplo, um músico, um artista, ou um escritor pode morar em uma colônia que não seja especifica para sua categoria, podemos morar onde temos alguma afinidade ou alguém de quem gostamos. Isso, no entanto vai depender de nosso merecimento, e