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As Senhoras Da Catedral De Saint Brendan
As Senhoras Da Catedral De Saint Brendan
As Senhoras Da Catedral De Saint Brendan
E-book189 páginas2 horas

As Senhoras Da Catedral De Saint Brendan

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Sobre este e-book

As Senhoras da Catedral de Saint Brendan nos mostra como a verdade por trás de um mito pode ser inesperada e como devemos abrir nossas mentes para entender sem julgamentos os atos de nossos antepassados que tiveram em suas vidas cenários tão desoladores como a fome, a peste e as guerras, independentemente dos lugares onde viveram. As mulheres personificam em suas vidas a força feminina e superam as adversidades em nome do amor. O amor que é o fluxo vital que eleva a alma humana tirando o véu de nossos olhos e revelando que tudo é possível quando somos unidas em uma grande irmandade que prospera através dos séculos. Os abusos, a violência contra as mulheres não são tristes fatos do passado. Os horrores vividos pelas personagens estão presentes em nosso cotidiano estampando as capas de jornais, televisores e nas redes sociais e cabe a nós fazer germinar e transmitir a semente de nossa força, para que um dia vejamos prosperar a igualdade libertadora a toda a humanidade.
IdiomaPortuguês
Data de lançamento22 de mar. de 2021
As Senhoras Da Catedral De Saint Brendan

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    As Senhoras Da Catedral De Saint Brendan - Simone Consentino Jús

    As Senhoras da Catedral de Saint Brendan

    Simone Consentino Jús

    Copyright © 2021 Simone Consentino Jús

    Todos os direitos reservados.

    ISBN: 978-65-00-17945-3

    As Senhoras da Catedral de Saint Brendan

    As Senhoras da Catedral de Saint Brendan nos mostra como a verdade por trás de um mito pode ser inesperada e como devemos abrir nossas mentes para entender sem julgamentos os atos de nossos antepassados que tiveram em suas vidas cenários tão desoladores como a fome, a peste e as guerras, independentemente dos lugares onde viveram.

    As mulheres personificam em suas vidas a força feminina e superam as adversidades em nome do amor.

    O amor que é o fluxo vital que eleva a alma humana tirando o véu de nossos olhos e revelando que tudo é possível quando somos unidas em uma grande irmandade que prospera através dos séculos.

    Os abusos, a violência contra as mulheres não são tristes fatos do passado. Os horrores vividos pelas personagens estão presentes em nosso cotidiano estampando as capas de jornais, televisores e nas redes sociais e cabe a nós fazer germinar e transmitir a semente de nossa força, para que um dia vejamos prosperar a igualdade libertadora a toda a humanidade.

    Para todos aqueles que amam a alma feminina.

    Parte I

    CAPÍTULO 1

    Se todos os nossos infortúnios fossem colocados juntos e, posteriormente, repartidos em partes iguais por cada um de nós, ficaríamos muito felizes se pudéssemos ter apenas, de novo, só os nossos.

    Sócrates

    Era apenas uma garota vivendo em tempos difíceis, em uma terra hostil para qualquer ser vivo, mas ela não tinha essa consciência. Desde que abriu os olhos, aquele lugar e aquelas pessoas eram tudo o que conhecia e quando havia algo para comer a casa tornava-se alegre.

    Sentada ao lado da mãe, uma jovem envelhecida pelo trabalho duro na terra, Bridget sentia sua boca se encher de saliva olhando para o único pedaço de pão que sua mãe dividia aos quatro filhos.

    Claire, a mãe, era apenas quinze anos mais velha que a filha, mas recordava-se de uma época em que sempre havia alimento na mesa e energia de sobra para cumprir a dura rotina de levantar antes do amanhecer para cuidar dos animais e acompanhar os pais na lavoura de batata, na pequena propriedade do Sr. William Mac, homem bom, que arrendava a terra aos pais e deixava que criassem animais para ajudar no sustento da família, sem cobrar a mais por isso, diferente de outros proprietários da região. 

    Era um pouco mais velha que a filha quando conheceu seu marido. Em um jantar, os pais a apresentaram para Rian Connor. O rapaz perdera sua esposa no parto e precisava de alguém para cuidar do bebê. O acordo foi firmado rapidamente e Claire se sentiu feliz porque continuaria morando perto de seus pais, ao contrário das irmãs que ao se casarem, partiram para longe e nunca mais mandaram notícias.

    Rian era bondoso, desde que Claire cumprisse todas as tarefas domésticas e fizesse o bebê ficar calado para não atrapalhar o sono do marido, ela não teria problemas.

    O bebê, um menino de baixo peso e cabelos ruivos como seu pai, não colaborava com a garota, e ao cair da noite chorava, obrigando Claire a passar muitas noites frias, acordada, com o pequeno bem enrolado em cobertores, na cozinha da casa, andando de um lado para outro apertando a pequena criatura contra seu corpo para acalmá-la. 

    Aprendeu sobre sexo com os animais e quando o marido a possuiu não sentiu desejo, amor ou qualquer sentimento nobre. Apenas se entregou em um dolorido ritual e meses depois seu corpo todo se transformou.

    Viu o ventre estendido, os seios maiores e doloridos e quando sentiu as primeiras dores estava sozinha com o garotinho, então foi até a casa da mãe que a ajudou com o parto.

    Ouvia através da porta do quarto, que estava entreaberta, para facilitar o trabalho da mãe que trazia bacias com água quente, a discussão do pai com marido, que dizia não ter sorte, mas que não ficaria com mais uma criança, caso Claire morresse.

    A mãe a consolou dizendo que ela não iria morrer, o parto estava difícil porque seu corpo ainda era muito infantil, mas eram mulheres fortes. Ela fechou a porta, segurou as mãos da filha e invocou a Deusa Macha, usando a língua antiga, proibida pelo marido, ela iniciou um cântico enquanto massageou com um óleo a barriga de Claire:

    - Oh Macha, filha de Ermmas e Aed, cheia de generosidade e doçura. Nos ampare nesta hora com seu poder de transformação, mostre-nos a face de Morrighan, a maravilhosa Deusa da guerra para dar a Claire a força necessária para expulsar de seu ventre essa nova vida que lhe oferecemos.

    Claire sentiu o seu corpo rasgar, em seguida ouviu um choro alto e enfim conseguiu relaxar. Dormiu até o amanhecer, um sono pesado e sem sonhos. Ao acordar, o corpo saído de uma grande batalha trazia as dores como lembranças.

    A mãe velava pela filha segurando a neta. A pele rosada, os pequenos lábios vermelhos e os olhos azuis tornavam a menina linda. Claire segurava a criança e a mãe a ajudava com a primeira mamada.

    A bebê era forte e sugava com voracidade. Claire queria que ela se chamasse Bridget e a mãe a orientou a primeiro consultar o seu marido.

    Rian entrou no quarto, sentou-se ao lado da cama e agradeceu pela vida de Claire, teria sido muito ruim se ela morresse por uma menina. Dizendo que precisava retornar as tarefas, concordou com o nome da filha e deixou Claire com sua mãe até que pudesse voltar para casa e retomar seus afazeres.

    Alimentada com caldos feitos com batata e carne de porco e usando os unguentos preparados pela mãe, Claire voltou para a casa refeita e preparada para a rotina de noites acordadas com outro bebê, mas a pequena Bridget a surpreendeu.

    A garotinha mamava, dormia e sorria. Ensaiava um chorinho quando sujava as fraldas e ao ser limpa agradecia com sorrisos.

    O garoto parecia gostar da bebê, e enquanto Claire cozinhava, lavava, passava e cuidava dos animais, ele brincava com a irmã balbuciando suas primeiras palavras.

    Foram meses tranquilos em que Claire se lembrava com alegria. Rian voltava do campo cansado, se alimentava e dormia deixando a moça livre para cuidar das crianças no outro quarto.

    Em outras noites Rian voltava mais tarde cheirando a cerveja, encontrava o alimento preparado, comia e pedia que Claire se deitasse com ele.

    O cheiro do hálito do marido impregnado de álcool e carne de porco faziam Claire se sentir enjoada, mas ele era rápido com seu trabalho e dormia imediatamente após o ato, roncando alto e ela se via livre para ir dormir no quarto de seus filhos.

    A casa era pequena, só haviam três cômodos, dois quartos e a cozinha com um fogão de lenha. O banheiro era para fora, um cercado de tábuas velhas que davam privacidade para quem fosse usar a cadeira de madeira que tinha um buraco no assento e os dejetos caiam direto em uma fossa que exalavam um odor horrível. Claire tentava amenizar o odor mantendo o furo tampado com um pedaço de madeira e pendurando ervas aromáticas na porta.

    A propriedade era toda aberta com apenas uma cerca de arame farpado com um pequeno celeiro que abrigava algumas galinhas, uma vaca e duas ovelhas.

    Nos arredores haviam outras propriedades semelhantes que juntas a uma pequena igreja e um armazém, onde os agricultores entregavam toda a safra de suas lavouras, formavam um vilarejo.

    Neste armazém funcionava o comércio local. Os agricultores recebiam um pequeno percentual sobre a venda de sua colheita e deixavam quase toda a quantia recebida no mesmo local, comprando principalmente aveia, óleo e milho.

    Eram raros os proprietários mais generosos que permitiam aos colonos plantarem pequenas hortas ou criarem animais em suas propriedades para a alimentação da família.

    A caça e a pesca estavam proibidas e quem desafiasse as leis poderia ter penas severas e padecer nas prisões de Drogheda.

    Os pensamentos de Claire eram voltados totalmente para todos os trabalhos que seu corpo miúdo precisava cumprir e a cada ano suas energias diminuíam exauridas com um parto difícil.

    Nem todos os filhos sobreviveram. Houvera abortos espontâneos e bebês que nasceram roxos enrolados no cordão.

    Claire não tinha tempo para remoer suas amarguras e apenas em pesadelos recordava dos rostinhos das crianças que nasceram sem chorar e nessas noites derramava todas as lágrimas presas em algum lugar no interior de seu ser, porém silenciosamente, não eram permitidos soluços.

    Naquela manhã em que dividia o pão enegrecido com suas quatro crianças ela sentia medo.

    Há dias que precisava racionar os alimentos e já não restava quase nada. Restava um pouco de aveia e de trigo vermelho que um vizinho lhe trouxera do Porto de Drogheda.

    Fazia pouco tempo que enterrara seu bebê de trinta dias nos fundos da propriedade. Era uma menina de cabelos ruivos iguais aos do marido. Estava aliviada porque já não ouvia o choro estridente que reclamava pelo seu leite, que a fome secara. Misturara um pouco de aveia com água morna, mas a criança não aceitava e continuava a chorar e sugar seu peito magro e seco. A agonia durou semanas e então um dia ela se acalmou e morreu em seus braços, lhe dando uma sensação de paz.

    Os animais já haviam sido abatidos. Rian partira para vender alguns equipamentos de caça e pesca que mantinha escondido para que pudessem pagar o aluguel.

    Alguns vizinhos já foram despejados e partiram com seus poucos pertences, famintos em direção a cidade.

    Seus pais partiram. Soube que o pai guardara algumas economias e comprara passagens para ele e a esposa para a América, onde encontrariam com sua irmã mais velha que há alguns anos tinha se casado e acompanhado seu marido.

    Sua mãe lhe entregou duas galinhas antes de partir. Ela escondeu as aves para que o pai não as vendesse e ao amanhecer levou para a casa da filha.

    Claire podia sentir o aroma da carne cozida ao recordar-se das aves e engoliu sua saliva olhando as crianças comerem o pão.

    - Mastiguem bastante e bebam muita água. Depois quero que deitem e fiquem quietos em suas camas porque eu vou sair.

    As crianças obedeceram sem reclamar, Claire lavou-se e saiu da pequena casa em busca de alguma ajuda.

    O cenário era desolador. Crianças em farrapos imploravam por comida, cães magricelas dormiam pelos cantos sem energia para levantar o olhar para os transeuntes.

    Após o nascimento de sua primeira filha, Bridget, recebera alguns ensinamentos de sua mãe quanto ao uso de ervas para amenizar desde pequenas cólicas intestinais até sérias infecções como em seus seios que durante o período de amamentação costumavam ficar vermelhos e febris.

    Aprendeu a curar os ferimentos do marido, quando por qualquer descuido ele se feria na plantação, desinfetando seus cortes com um pouco de uísque e servindo-lhe um chá que baixava rapidamente a febre e lhe devolvia o vigor em pouco tempo.

    Atenta a tudo não demorou a perceber que era mais fácil deitar e deixar sua mente flutuar sob as águas dos lindos rios que conhecia e visualizar o azul infinito do céu. Com seu corpo solto e livre de seu espirito, ficava mais úmida e facilitava o trabalho de Rian que após duas ou três estocadas dormia profundamente e ela podia banhar-se com algumas ervas.  Descobriu que quanto mais rápido fizesse seu asseio, mas chance teria em impedir que a semente do marido germinasse em seu ventre.

    Sua mãe lhe aconselhou, antes de partir, que se as coisas ficassem muito difíceis, que ela procurasse por um velho aldeão que costumava ir com frequência à cidade e não recusava ajuda a mocinhas sozinhas, em troca de alguns carinhos. Em seus ouvidos a mãe explicou tudo o que deveria fazer e recomendou que fosse discreta e não fosse descoberta, porque seu castigo poderia ser pior que a própria fome.

    Por obediência não questionou a matriarca, mas jurou que jamais faria tais coisas mesmo em troca de comida para os filhos. Agora com a ausência de Rian e o estômago roncando, sentiu a coragem invadir o seu ser e como uma leoa selvagem deixou-se dominar pelo instinto maternal e resolveu que não voltaria para casa sem algum alimento para as crianças.

    Encontrou o velho agachado colhendo tomates. Ao ver o fruto vermelho teve o ímpeto de se atirar na pequena plantação e devorá-los, no entanto, se conteve e chamou- o pelo nome.

    O velho entendeu na hora o que a mocinha desejava e a convidou para entrar. Ofereceu um copo de leite e um pedaço de pão. Ela bebeu um terço do leite e comeu metade do pão, dizendo que queria levar para os filhos. Ele mostrou uma garrafa com quase um litro do precioso líquido e Claire sentiu os olhos marejados, pensando que se tivesse ido antes pudesse ter salvo seu bebê.

    Ela limpou a pequena casa, cozinhou uma sopa de legumes e lavou algumas peças de roupas. Depois o velho a fez deitar na cama e apenas tocou em seu corpo de uma maneira que nunca havia sido tocada e naquele momento ela o amou.

    Voltou para a casa com um pouco da sopa, um pão e o leite escondidos em uma trouxa de roupas

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