Ato Poético: Poemas pela Democracia
De Luis Maffei e Márcia Tiburi
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Ato Poético - Luis Maffei
© Oficina Raquel, 2020
Editora
Raquel Menezes
Assistente editorial
Yasmim Cardoso
Revisão
Oficina Raquel
Apoio editorial
Evelyn Rocha
Capa, projeto gráfico e tratamento de imagens
Leandro Collares – Selênia Serviços
Ilustração da capa
Fundo e tiras foram produzidos com recursos de Freepik.com
Ilustração do verso da capa
Laerte
Produção de ebook
S2 Books
DADOS INTERNACIONAIS PARA
CATALOGAÇÃO NA PUBLICAÇÃO (CIP)
A881 Ato poético / organizado por Marcia Tiburi e Luis Maffei. – Rio de Janeiro : Oficina Raquel, 2020.
160 p. ; 23 cm.
ISBN 978-85-9500-048-3
1. Poesia política brasileira I. Tiburi, Marcia, 1970- II. Maffei, Luis, 1974-.
CDD B869.1
CDU 821.134.3(81)-1
Bibliotecária: Ana Paula Oliveira Jacques / CRB-7 6963
www.oficinaraquel.com.br
@oficinaeditora
oficina@oficinaraquel.com
Sumário
Capa
Folha de rosto
Créditos
Um ato em poesia
Luis Maffei
Entrada com música (de braço dado a Marielle)
MC Carol
1. Desilusão
Rita Isadora Pessoa
Clarissa Macedo
Horácio Costa
Patricia Porto
Manoel Ricardo de Lima
Tarso de Melo
Dora Dacosta
2. Horror
Carla Andrade
Zé Luiz Rinaldi
Rodrigo Garcia Lopes
Wanda Monteiro
Elves França
Haroldo Ceravolo Sereza
Carlos Orfeu
Dani Balbi
3. Estupefação
Alice Ruiz S e Thiago Rodrigues
Wilson Alves-Bezerra
Adriane Garcia
Bruna Kalil Othero
Evando Nascimento
Luciany Aparecida
Ismar Tirelli Neto
Leonardo Gandolfi
Paula Glenadel
Natasha Felix
Guilherme Gontijo Flores
4. Exasperação
Bruna Mitrano
Armando Freitas Filho
Ricardo Vieira Lima
Ana Chiara
Adalberto Müller
Camila Assad
Flavia Rocha
Marcelo Reis de Mello
Priscilla Campos
Márcia Wayna Kambeba
Renato Rezende
Talles Azigon
5. Trânsito
Tatiana Pequeno
Júlio Machado
Mariano Marovatto
Nina Rizzi
Rafael Zacca
Masé Lemos
.rômulo-silva.
Annita Costa Malufe
Hélio de Assis
6. Combate
Maiara Gouveia
Claudio Daniel
Jussara Salazar
Leonardo Tonus
Helena Arruda
7. Escárnio
Paulo Franchetti
Luis Maffei
Marcia Tiburi
8. Afago
Ana Kiffer
Sérgio Nazar David
Paloma Franca Amorim
Eliza Araújo
Marcos Siscar
Heleine Fernandes
Roberta Ferraz
9. Futuro
Janice Caiafa
Ana Cristina Joaquim
Ronaldo Cagiano
Danielle Magalhães
Rafaela Figueiredo
Leila Danziger
Éle Semog
Beatriz Azevedo
Saída com música
Marcelo Sandmann
Marcia Tiburi
Minibios
Um ato em poesia
Poesia é ato, concreto como um afago, uma banda, um encontro, um gol. Sempre que alguém lê o que alguém escreveu, o texto, o poema, renasce, tragicamente, indicando que a condição humana é constante luta contra a morte, ou melhor, pela vida, o que pode incluir uma luta pelo direito à morte. Falo da condição humana e me lembro da ideia de vita activa que Hannah Arendt relaciona, de modo não distante do opositivo, à de vita contemplativa. Citando esta pensadora nuclear do nosso século XX, queremos apenas indicar que a poesia é contemplação + ação, e pensamento que se sente e sentimento que atua.
Lutar pela vida, incluindo a luta por uma morte digna, é tarefa que não se faz sem a linguagem. E a linguagem, sem a poesia, se torna, não desastrada, mas desartada, desatada de liames complexos com a vida, a morte. E o tempo. E o tempo que somos obrigados a ver como história. Política, é claro. Nosso momento político nos convoca a gestos, talvez de resistência, mas, acima disso, de existência. Sente-se reivindicada nossa atenção, nosso corpo, torna-se premente criarmos lugares.
Neste livro encontra-se gente que escreve. É uma nossa condição. Humana. E essa condição é política, queiramos ou não. A política, nestes tempos (assombrados? Assassinos? Desonestos?) em que muito do que nos assola quer justamente dirimir a força da política através da encenação de uma não política que é, no fundo, a pior espécie de política, precisa ser refeita. Escrita, reescrita. Com mãos e vozes que intervenham, pensem e se deixem afetar, propondo possibilidades novas de comum. Este tempo o exige.
Vivemos, nós, gente da linguagem (e este nós é também você que nos lê agora), um desafio gigantesco: parte grossa de muitos dos poderes quer amputar também a própria linguagem, infertilizando nosso terreno partilhado a fim de esvaziar sentidos, fomentar indiferenciações, justificar indiferenças, fazer definhar o pensamento.
Mas, já que poesia é ato, é com a poesia que nos lançamos a este enfrentamento. A história, hoje, exige-nos dizer presente!
, e é assim que damos este coletivo passo, neste coro que atende a dissonâncias mas goza de uma solidez democrática e antifascista.
Brasil, RJ, Tijuca (palavra tupi para lameiro, água podre), verão, princípio de 2020
Luis Maffei
Marielle Franco
Vocês querem nos matar, nos controlar
Vocês não vão nos calar
Mesmo sangrando a gente vai tá lá
Pra marchar e gritar
Eu sou Marielle, Cláudia, eu sou Marisa
Eu sou a preta que podia ser sua filha
Solidariedade, mais empatia
O povo preto tá sangrando todo dia
Eu não aguento mais viver oprimida
Nesse país sem democracia
Eu tô me sentindo acorrentada, desmotivada
Eu também naquele carro fui executada
Eu tenho ódio, pavor, eu sinto medo
A escravidão não acabou, estão matando os negro
Estão cansado de ser esculachado, roubado
Oprimido, preso, forjado
Preto aqui não tem direitos, não tem direitos
Mulheres pretas aqui não têm direitos, não têm direitos
Temos que aguentar a dor
Sou obrigada a parir o filho do meu estuprador
O poder é opressor, manipulador
Eles batem até em professor
Nem sempre eu sou tão forte
Mas vou tá lá gritando contra a morte
Gritando contra o poder machista branco
Presente hoje e sempre, Marielle Franco
Preto aqui não tem direitos, não tem direitos
Mulheres pretas aqui não têm direitos, não têm direitos
MC Carol