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Poeira e Sol
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E-book491 páginas7 horas

Poeira e Sol

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Sobre este e-book

Num dia de festa para a pequena cidade de Stone River, de famílias tradicionais e vidascotidianas em comunhão com a igreja, os cidadãos se unem na rua principal para celebrar achegada do avanço e do progresso para a cidade. Era a construção da ferrovia que se iniciaria.Um marco para a cidade, que implicaria em um novo desenvolvimento econômico. Stone Riverera uma cidade do oeste americano, escondida de todo país, atrás de grandes paredõesrochosos e uma grande fenda.Mesmo com o sol a pino, fazendo um calor seco, todos estavam felizes e ansiosos pelanovidade. Porém, a alegria foi interrompida por um rapaz que entrou cavalgando pela ruaprincipal, anunciando aos gritos que Josh Klauss, filho de uma Família tradicional e irmão doPrefeito, foi assassinado na mina da cidade. A partir deste momento, a pacata cidade de StoneRiver deixa de velar seus segredos e passa a dar lugar aos mistérios que corrompem a fé e atradição da pequena cidadezinha do oeste. O Jack da Mina estava a solta.Com um grande enredo composto por personagens marcantes, a história é tecida a partir deuma briga política, atrelada a mistérios cobertos de muito sangue derramado em detalhes epistas, que se sobrepõem à esse pano de fundo. Com um único bilhete, a história te convida adesvendar esse assassinato junto do Sheriff Klimber. É uma viagem de ida, mas sem volta.
IdiomaPortuguês
Data de lançamento23 de mar. de 2021
ISBN9786500090123
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    Poeira e Sol - Rogério Marcondes

    PRÓLOGO

    Havia dado a hora de sair. Todos os trabalhadores da mina colocaram suas ferramentas no carrinho e começaram a se preparar para a subir para superfície. Demoraria ainda 10 minutos de subida, pelos túneis escuros da mina, para então ver o resto do dia que estava terminando. Trabalho em mina não é fácil, não se vê muito a cara do sol. Basicamente se vive mais no escuro. Todos tem aquela cor pálida, desbotada. É a falta da luz do sol para a vida.

    Os homens não param um minuto de falar e festejar, já que passarão um dia sem trabalhar. O prefeito da cidade declarou feriado, um dia onde todos irão aproveitar das festividades para a chegada da locomotiva. Os ingleses inventaram essa geringonça que dizem ser como os cavalos, mas que não se cansam e correm muito mais. Tudo o que a cidade sabe falar é no progresso, na prosperidade, no dinheiro e na locomotiva. O dia será repleto de solenidades, montaram um palco na rua principal, de frente ao banco, entre a pensão, o bebedouro e os cochos de cavalos. Haverá música, alegria e esperança de melhorias. Sendo assim, todos os trabalhadores estavam empolgados e mais que depressa foram seguindo rumo à saída.

    As vozes foram diminuindo, diminuindo, até que o silêncio tomasse conta da mina. Todos partiram e nem se deram conta que o responsável pelo lugar continuará ali, a olhar para as novas formações de túneis que partiriam do grande salão formado pelas rochas dentro da mina.  Estavam a mais de 500 metros dentro de túneis debaixo da terra e qualquer ação errada poderia levá-los à ruína, visto que a mina poderia desabar sobre as cabeças de infelizes trabalhadores, que ofereciam a dor do seu suor por míseros trocados. O homem, perdido em seus pensamentos não notou que ao longe podia se ouvir pequenos movimentos na terra, passos, que foram aumentando e aumentando. Era fato, o homem estava distraído, olhando para as paredes do salão. Devia ter uns cinco metros de altura o novo salão daria origem a três novos caminhos, quase se aproximando de 50 metros quadrados e era suportado por estruturas de ferro que ali foram colocadas. Não se pode dizer ao certo como simples vigas de ferro suportam tanta terra, mas o fato é que sempre foi assim e sempre será.

    Enquanto o homem, perdido em seus pensamentos, passava as mãos nas paredes tentando encontrar localizações para os novos caminhos, o barulho de passos começou a aumentar, era apenas um par de botas chocando-se contra a poeira dos corredores da mina. Com o barulho dos passos se propagando cada vez mais pela sala, o homem se deu conta de que estava sozinho, todos os outros partiram e levaram todas as ferramentas. Ele ficou para trás. Está certo que ali era um lugar tranquilo, mas sempre é bom se precaver. Então percebeu que junto dos passos crescia no salão uma luz que vinha do túnel. Mais que depressa, ele se abaixou e pegou uma pedra de tamanho considerável, que se não oferecesse segurança, ao menos lhe ofertava uma vantagem na corrida. Ficou esperando ao lado da saída do túnel. Uma hora o dono dos passos precisaria chegar.

    Foi então que a figura de um rapaz adentrou ao recinto,  que para alívio do homem era apenas o responsável das luzes.

    — Estou tão acostumado a sair junto dos outros que me esqueci que as luzes precisam ser apagadas – disse o homem. Nesse exato momento o garoto golpeou em direção à ele com uma grande tocha que levava em suas mãos. – Acalme-se garoto. Sou eu.

    Ao clarear, o garoto percebeu que era a imagem de Josh Klauss, o responsável pela mina.

    —Senhor Klauss, não sabia que o senhor tinha ficado aqui embaixo ainda.

    — Fiquei. Me distrai olhando para essas paredes.

    — E o senhor não se cansa de olhar pra essas paredes?

    — Não menino, vivo em minas há mais de 50 anos. Comecei ainda moleque, mais novo que você. - Josh era o mais velho dos irmãos Klauss, tinha seus 58 anos, mas aparentava ser mais novo, diferente de todos os outros homens da mina. Não deixou se abater pelo trabalho pesado. Era um homem forte, robusto, com barba meio preta meio branca, pai de três filhos, dois levados pela peste, assim como sua mulher. Era um homem solitário na maioria do tempo. Seu filho mais novo, devia ter uns 27 anos hoje em dia, foi levado para Santa Fé para se tornar padre, antes que a peste o levasse também. Foram tempos difíceis aqueles. Josh era irmão de Robert Klauss e Kim Klauss. Robert era o do meio, se tornara prefeito da cidade, e Kim, a única coisa que ele ouviu pelos corredores de sua casa é que Deus castigou a família e castigou Kim. Ele não lembra, não a conhecera. Os Klauss eram de uma família tradicional na cidade, os mais ricos. Seu pai morrera no desabamento da primeira mina. Assim como ele, o pai também era o responsável pelos trabalhos em mina ali na cidade, porém o pai errou, uma única vez e custou a vida de muitos homens dali. A matriarca da família Violet Klauss ainda está viva, porém as desgraças da vida fizeram com que ela ficasse cega, alguns ousam dizer que está fora de seu juízo perfeito. – Essas paredes são minha vida.

    — Me desculpe, mas voltei para apagar os lampiões – sentenciou o menino.

    — Vamos, subirei com você enquanto apaga.

    O menino apagou os seis lampiões do salão e os dois partiram pelos corredores tortos e inclinados, rumo à superfície. Em silêncio.

    Somente os passos ecoavam pelos corredores, ora largos, ora menos largos, a frente com luzes de lampiões, atrás sem luz alguma. Um verdadeiro breu. Perdido nos seus pensamentos, Josh começou a ouvir os barulhos e identificou os seus passos, os passos do garoto e... Um, dois, três! Não era possível. Sem alarmar, ele reduziu a velocidade de suas passadas e com isso os ruídos. Eram três passos. Naquela altura do caminho não existia mais eco e se fosse eco, seriam de dois passos, não somente de um.

    — Cansado Senhor Klauss? – Indagou o menino.

    — Silêncio, continue andando e me entregue a tocha. – Sussurrou Josh.

    — Por que está falando tão baixo Senhor...?

    — Calado menino. – Disse Josh repreendendo-o, quase sussurrando. – Ouvi passos. Alguém está nos seguindo.

    — Ah! Não precisa se preocupar, o eco assusta mesmo. – Disse o jovem soberbo de si.

    Josh pegou a tocha das mãos do menino, o que fez com que toda confiança do menino se apagasse como se apaga uma vela. Os dois continuaram andando, até que Josh resolveu parar e enfrentar o intruso.

    — Quem está aí? – Disse Josh virando de frente com a escuridão.

    No mesmo instante que ele virou, um jato de água deu conta das chamas fracas da tocha. Aquilo tudo virou um breu. Percebeu que um passo mais que leve afofava a terra e estava muito próximo. O próximo lampião ficava longe de onde estavam, o que não facilitava nem um pouco para os olhos cansados de Josh. No mesmo instante o jovem assustado sem entender começou a se retirar. Então um vulto grande, mais alto que Josh rompeu a escuridão, e começou a se movimentar depressa. O campo de visão era restrito, mesmo com suas pupilas inteiramente dilatadas, nada poderia ser feito.

    — Quem está aí? – Gritou Josh como um rugido, deixando transpassar grande sobrecarga de ferocidade na voz. Ninguém respondeu. – Corra menino. – Disse já partindo, em sua fuga, do lugar escuro.

    O jovem começou a correr e a gritar por socorro quando em meio ao escuro ouve-se um clac em alto e bom som, algo havia sido quebrado e jogado no chão. Os passos do garoto desaparecerá enquanto Josh não sabia se voltava ou terminava a sua corrida até a luz. Chegando ao claro ele ouviu sussurros clamando por socorro. Não sabia ao certo o que estava acontecendo.

    — Garoto? Quem está aí? Responda seu covarde! Apareça na luz! Seja homem seu desgraçado. – Gritava Josh, consumido em raiva e medo. Sim ele tinha medo. Foi então que um grito mais alto ecoou pela mina. – Apareça covarde, ele é só uma criança. Veio atrás de mim, não foi? Estou aqui! Venha me pegar.

    — Não, por favor, me deixe. – Ouviu-se o grito do menino da escuridão.

    Uma pancada forte foi ouvida, seguida de mais um grito.

    — Venha aqui desgraçado. – disse Josh, começando a derramar lágrimas, não sei se de raiva ou desespero pelo que estava passando. Mais uma golpeada e um clac, o menino não falou mais. – Estou aqui esperando, venha me buscar, venha me matar, estou esperando!

    A silhueta veio um pouco mais perto, sem emitir som algum. Nem mais um passo. Ela se abaixou e atirou algo em direção à luz. Ao cair a poucos metros de distância, Josh identificou ser o braço do menino, cortado próximo ao ombro, com parte da pele rasgada, como se fosse arrancado, com os ossos quebrados e estilhaçados, jorrando todo sangue que restava naquela pedaço. O punho estava serrado. O primeiro braço foi seguido do outro, desta vez o esquerdo, arrancado mais próximo ao cotovelo, com a carne despedaçando e o músculo com as veias saindo da pele, como se não coubesse mais. Aquilo fez uma poça grande de sangue. Quando Josh pretendeu virar-se para sair, percebeu que algo fazia barulho de rolar, como estava em um local mais plano, a cabeça do garoto não deve dificuldades de chegar até ele e ensanguentar um caminho até seus pés. Aquele vulto além de esquartejar os membros do garoto, havia também arrancado sua cabeça. Os olhos vieram violados por buracos grandes, certamente o animal havia enterrado os dedos para fazer a cabeça rolar com mais facilidade.

    Ao ver aquela cena, Josh não pensou duas vezes ao sair correndo, com o desespero tomando conta de si, ele virou-se e disparou na corrida, ouvindo desta vez os passos atrás dele.

    — Seu animal, desgraçado. – Gritou Josh, já em prantos. Seu corpo não obedecia mais, mesmo com boas condições físicas a idade não o ajudou e seus passos foram diminuindo lentamente, quando o último barulho ouvido foi o de algo girando em alta velocidade pelo vento. Não deu nem tempo de pensar se seria uma perna ou outra parte do cadáver do garoto. O machado abriu seu crânio. Derrubando o futuro corpo no chão. Não sabe se ainda em vida, mas Josh ouviu, ou sentiu, os pés da silhueta pisarem sobre suas costas e puxar para fora o machado. O último golpe fora dividindo suas costelas em dois, onde a mão daquele ser demoníaco entrou e arrancou seu coração, a fim de usá-lo como pincel na escrita uma mensagem e não uma pintura rupestre.

    UM

    O povo já aguardava ansioso pelas festividades da chegada da locomotiva. O dia estava bonito, o céu bem azul quase sem nuvens, uma brisa fresca no ar. O sol estava a pino quando a frente do palco montado já estava cheia de cidadãos animados, falantes e esperançosos. Famílias inteiras vieram ver o evento, afinal nunca algo parecido havia acontecido por aquelas redondezas. De um lado mulheres bem vestidas, com suas sombrinhas para proteger do calor, como se seus longos vestidos, com mangas bufantes e saiotes imensos com espartilhos, que apertavam até sentirem a conexão do corpo e da alma. Elas se cumprimentavam com pequenos acenos de cabeça, quanto menor o aceno, maior seu requinte. Toda dama que se prezasse trazia junto de si sua ama de companhia. Uma antiga  escrava, mas hoje empregada doméstica, sempre bem arrumada, que lhe ajudava todo o tempo com afazeres mais urgentes, coisas que só uma mulher poderia fazer pela outra: amarrar o cadarço do espartilho, carregar os bebês, levantar a saia para que usem o banheiro, segurar as sombrinhas, buscar água para matar a sede, entre muitas outras tarefas. Sempre junto das damas havia os filhos. Quanto mais filhos a família tinha, mais viril era o chefe da família. O que não impedia o mesmo de se deitar com outras mulheres, empregadas, frequentar o saloon ou até mesmo assediar as mulheres e filhas de outros homens.

    Se por um lado encontravam-se as mulheres casadas, filhas, damas e até mesmo as religiosas, no outro extremo havia as cortesãs. Mulheres que por algum intermédio do destino foram acabar suas vidas saciando prazeres carnais dos homens que fugiam de suas esposas. Elas eram senhoras bem arrumadas, com maquiagens, enfeitadas com brilhos, roupas provocantes, e sorrisos no rosto. Uma dançarina sempre deve sorrir. As que eram melhores quistas pelos frequentadores do saloon, usavam até águas de cheiro. Eram bonitas, porém desgraçadas. Na hora do trabalho eram as mais cobiçadas. Somente as arrematava quem tinha um poderio financeiro mais alto. Fora do trabalho não passavam de simples mulheres de vida fácil, sem honra, sem dignidade, sem direito algum de andar nas ruas como qualquer outro cidadão.

    No meio ficavam os homens, falantes, bem vestidos, de paletó e gravata, com cartolas, uns mais gordos, outros mais velhos, alguns jovens de olhos nas curvas das moças, perdidos em olhar, ou não, para as dançarinas, os mineiros vestidos mais simples, mas ainda assim homens de honra. Todos confraternizando. Alguns fumando entre amigos, outros tentando se afastar de suas esposas e filhos. O que havia em comum com todos era o assunto do dia, a ferrovia. Até então, nada fora falado à população, apenas solicitado que todos participassem da festividade para comemorar o avanço. O povo estava feliz, o progresso havia chegado a Stone River.

    Stone River era uma cidade com cerca de 900 habitantes. Cidadezinha típica da região, porém pequena demais para que os ingleses voltassem seus olhos para expandir a linha férrea até lá. Pelo contrário, aquele lugar não tinha nada de bom para contribuir. A cidade mais próxima estava a 90 milhas de distância. Era um pequeno vilarejo, com cerca de 300 pessoas, que se chamava Edge Gates. Albuquerque era a maior cidade por ali, mas estava a 197 milhas, ou dois terços de dia a cavalo, como os cidadãos de Stone River costumavam dizer.

    Caminhando pelo deserto, acompanhados de urubus, corvos, serpentes e terra, seguindo em direção ao extremo oeste, certamente chegaria à Stone River, ou terra do nada como chamam os viajantes.

    O sol escaldante já matou muitos desses azarados e despreparados para tal travessia. A cidade foi fundada como pouso de viajantes que seguiam para o México, e assim ela ficou. Um repouso de estranhos. Ela se localiza exatamente no meio do nada, perto do nada, virando a esquina do nada. Quando se aproxima da cidade, vindo de Edge Gates, avista-se um grande paredão com uma fenda no meio, essa fenda é a única passagem para Stone River. Ao se aproximar da fenda, a estrada apresenta um terreno acidentado. O lugar é perigoso, um terreno indígena, da tribo de Apaches. Muito se ouviu falar dos índios, mas até hoje nenhum foi visto, a única prova de que podem existir, são alguns cadáveres, tanto de animais, como humanos encontrados durante a passagem pela fenda, dentro do paredão rochoso. O local ainda permite que os viajantes apreciem grande quantidade de ossos e esqueletos, ali parados vendo o tempo passar. O cheiro não é nada agradável, porém muito apreciado por grandes urubus que vivem disputando seu pedaço de carniça. São restos de desconhecidos. Ninguém sabe seus nomes, de onde vem, para onde iam, só se sabe que estão ali. Para sempre. Esse pode ser um dos motivos para a expansão ter acabado antes da fenda, e deixado Stone River para trás. A fenda é larga, é possível passar tranquilamente sem ver nenhuma dessas bizarrices encontradas nas encostas do morro, porém é o mais estimulante para os viajantes. Um pouco de emoção não mata ninguém. Poderia matar alguém que eventualmente tenha o azar como aqueles cadáveres.

    Atravessando a fenda, ao olhar para o horizonte já é possível ver Stone River, mas a paisagem continua em terras, pedras, pequenos arbustos, e mais pedras e mais terra, um animal vivo, mas é raro, ora um coiote, ora uma serpente, mas até esses animais renegados se esquecem de visitar a cidade. Assim que se sai da fenda existe uma bifurcação com duas placas. À direita Stone River, à esquerda, nas encostas do grande elevado, minas de Stone River.

    O caminho das minas é extremamente acidentado, com buracos, declives e barrancos. Anda-se cerca de 1 milha  para chegar na zona das minas. Existem três. A primeira e mais antiga está inativa, há anos atrás houve um grande acidente que matou vários trabalhadores, inclusive o responsável pela mina, o senhor Klauss, que deixou sua mulher e três filhos, sendo eles Josh com 19 anos, Robert com 15 anos e Kim, que não se sabia sua história. A segunda mina era um pouco mais a frente, seguindo uma trilha que levava a um paredão rochoso. Essa era a maior delas, já explorada quase que em sua totalidade, era extensa e ainda tinha atividades.

    Longe dali, seguindo as margens desse paredão, encontrava-se a terceira mina. Essa, por sua vez, era mais nova que as duas anteriores e estava em plena atividade. Anos depois do falecimento do senhor Klauss, seu filho Josh assumira o comando da mina. Era dali que a cidade atualmente tirava o seu sustento. Materiais como minérios de ferro, e até mesmo ouro, eram retirados daquelas escavações. No final do paredão rochoso encontrava-se a entrada para terceira mina, chamada de Diamond. Existem boatos que essa região no oeste é repleta de diamantes, mas nunca, em nenhuma das minas fora encontrado um vestígio sequer de sua existência. Porém, todos os trabalhadores eram motivados a encontrá-los. O mineiro que encontrasse primeiro, poderia ficar rico, com a promessa de que receberia para si, parte do achado.

    Seguido à direita das placas, o terreno diferentemente do caminho das minas é mais plano. A vegetação rasteira dá lugar a pequenas pedras e um grande arado reto, no formato de uma estrada que segue cada vez mais direção ao oeste. Alguns metros dali já se consegue avistar bem melhor as pequenas construções de Stone River.

    A cidade não é das mais bonitas, ela segue os clichês dos padrões convencionais do oeste. Elas são construídas de madeira, normalmente avermelhadas, marrons e com detalhes em branco. Ela possui algumas ruas, sem nomes, apenas localizadas com pontos de referências. Existe a rua principal onde se localizam o banco de frente com a casa da prefeitura ao fim da rua. Lá existem dois cochos, um de cada lado da rua para os cavalos beberem água. Havia um grande espaço ali. Esse era o final da cidade. A única construção fora dos padrões, que ficava de frente para a rua principal, no mesmo largo dos cochos, era a igreja de St. Paul. Existia ali também a cadeia do Sheriff. Mais distante das casas de família, quase em uma outra saída da cidade, na direção do nada, encontrava-se o Saloon. Outra rua conhecida era a da casa dos Klauss, uma casa de dois andares, assim como a Prefeitura, o Saloon e o Banco. As únicas edificações que não permaneciam no térreo. Era fácil se localizar.

    Os cidadãos eram amistosos e viviam, apenas isso. O banqueiro, senhor Jones, era um explorador fascinado por dinheiro. Gordo, baixo, careca, cheirava forte pelo calor, mal escovava os dentes, mas tinha dinheiro. Recebia todos os investimentos da cidade e da mina, proporciona o investimento em mercado para câmbio dos minérios de ferro, logicamente que com sua margem de lucro altíssima. Era fato que o homem mais rico das redondezas era o senhor Jones. A não ser que algum índio possuísse alguma reserva de diamantes, mas era pouco provável por dois motivos: não era certeza a existência de nenhum dos dois. Ele era um homem avarento, agiotava dinheiro ao invés de agenciar. Morava em uma casa atrás do banco, vivia fazendo câmbio de serviços de seu banco em troca de leite, pães e alimentos. Raramente pagava e ainda conseguia lucrar, bem mais que os donos dos produtos. Não tinha amigos, apenas clientes. Não tinha família, apenas investidores. Não tinha outros a quem pudesse querer bem, somente seu dinheiro. Com a chegada da ferrovia, o senhor Jones viu seu negócio expandir e lucrar, muito mais. Novos moradores, novos viajantes, novos investimentos. Era um dos principais interessados no avanço que estava chegando.

    O Sheriff Klimber era um homem robusto, forte, tinha o bigode preto e grosso, os olhos tão pretos quanto o bigode e os cabelos juntos. Tinha a pele morena que ficava mais bronzeada com o sol que habitualmente tomava. Aparentava ter seus 45 anos, e vivia pra cima e pra baixo com trovoada, seu cavalo preto. Se orgulhava de Stone River ser uma cidade pacata, o último marginal a ser preso foi há muitos anos atrás. Ele nem nascido era. A cidade ficava no meio do nada, não tinha saqueadores e nem forasteiros mal encarados, em busca de briga e violência. Ele era casado com a senhora Katelyn Klimber, uma dama alta, delicada, loira, de voz suave e marcante, traços delicados que acentuam sua beleza. Ela era uma mulher extremamente bonita, que viera do continente velho, o que implicava em toda uma educação rigorosa que lhe proporcionou ser uma dama. Ela era Londrina e viajou muito moça para América. Sua família se fixara em Stone River, pois seu pai era um dos caçadores de diamantes que correram para o oeste em busca de sonhos. Ele faleceu no desabamento da primeira mina. Katelyn era uma menina ainda, mas como era a filha mais velha foi obrigada a se casar para salvar a família da ruína. Seus dois irmãos cresceram e fugiram de Stone River, não queriam o mesmo fim do pai deles. Soterrado, asfixiado e morto pelo desabamento da mina. Sua mãe morrera alguns anos mais tarde, de desgosto e solidão. Agora era somente ela e o marido. Eles não tiveram filhos, Deus quis assim. O casal era visionário e sempre apoiou a modernidade, porém a locomotiva era um assunto que dividia suas opiniões. Katelyn apoiava, pois acreditava que a cidade deixaria de ser atrasada viriam novas pessoas, a cidade estaria em constante movimento, pessoas de fora trariam investimentos para o local, a cidade prosperaria. Contudo, era isso o que inquietava o Sheriff, junto da prosperidade vem a inveja, sempre que alguém consegue frutos do trabalho árduo, este é invejado. Com isso, olhares maldosos se voltariam para Stone River, onde teriam melhor acesso, melhores informações, seriam alvo saqueadores, arruaceiros e forasteiros. Seu trabalho em proteger a cidade aumentaria. Quem sabe não precisasse de ajudantes? Ele não gostava de admitir, mas não daria conta de tudo, o tempo estava passando para ele, hora ou outra deixaria esse posto. Isso o afligia.

    Normalmente o posto de Sheriff em Stone River realizava rondas, duas vezes pela manhã, uma vez no meio da tarde e a noite mais uma. Na verdade, a ronda da noite era uma desculpa. Todas as noites, os homens de Stone River se encontravam no Saloon da cidade. Inventavam desculpas mirabolantes às suas mulheres e iam para lá. Muitas vezes as mulheres se reuniam em suas casas, com outras esposas deixadas, mas nunca falavam sobre esse assunto. Era como se fosse algo proibido. Elas aceitavam, afinal o homem era quem mandava na casa. Muitas sentiam cheiros de perfumes franceses baratos, de outras mulheres, mas não faziam nada. Outras choravam e nunca falavam.

    Madam Augustine Bellevaux, era uma francesa, famosa por seu distinto trabalho, era dançarina. Homens de toda França iam à Paris para vê-la dançar e os encantar. Com a peste negra chegando a Europa, Augustine fugiu para o novo continente. Também teve muito sucesso no leste, enlouquecendo homens casados, ganhando muito dinheiro e vivendo uma vida de luxo e prazer. O tempo chegou para ela, que foi facilmente substituída por francesas mais jovens, loucas por dinheiro, que viram na América uma oportunidade de riqueza. Augustine tinha uma grande reserva de dinheiro e sede de fama, glamour. Com a expansão para o oeste, a nova oportunidade de começar do zero. Mesmo que o tempo tivesse passado, ela esperava conseguir ser novidade por lá. Passou muito tempo se perdendo nas novas cidades do oeste, gastando com cigarros, bebidas e roupas novas vendidas por viajantes, na busca de se tornar de novo a rainha das noites. Essa nova esperança só fez com que ela se tornasse amargurada, pois todos os dias novas e novas mulheres descobrem os prazeres da fama da noite. Mesmo velha, ela não ficava para trás. Tinha os cabelos castanhos, sempre arrumados cacheados, olhos expressivos, lábios finos que combinavam com as maçãs do rosto, era uma moça de estatura mediana, com um corpo bem delineado, moldado nos vestidos de cores fortes, brilhos, mangas bufantes e decotes acentuados, com uma pele branca, um pálido de quem não vê o sol. Uma mulher de presença que estava sendo esquecida por culpa do tempo.

    Entretanto, toda a vida noturna proporcionou à Madam Bellevaux uma esperteza sem limites. Em suas andanças ela conquistou com sua inteligência, elegância e modo de falar, além do esperado para o novo continente, meninas recém acolhidas pela noite, oferecendo o luxo, a fama e a segurança de um lar. Isso fez com que ela criasse uma comitiva que trabalhasse para ela, que por sua vez, apenas colheria os frutos do trabalho das meninas. Há pouco tempo atrás, em busca de chegar ao México, sua caravana chegou em Stone River. Era um lugarzinho pacato, uma cidade pequena, religiosa, que vivia apenas durante o dia. Augustine não pensou duas vezes e resolveu se instalar ali. Resolveu levar a noite para aquela cidade.

    Desde o começo a comitiva de Madam Bellevaux não foi bem vinda, as mulheres locais não aceitaram bem a notícia de que dançarinas estavam chegando. A infidelidade já começou a rondar. Nas minas não se falavam outra coisa, a não ser a abertura do Saloon. Com o grande sucesso das meninas nas outras cidades, a comitiva passou a guardar uma grande quantidade de dinheiro, o que facilitou a compra de uma casa velha na saída da cidade. Era uma choupana velha. Caindo aos pedaços. Elas tiveram muito trabalho. Carregaram madeiras, construíram m segundo andar, um bar, quartos, camarins, o palco e o salão. Lixaram, pintaram e tudo mais. Conseguiram a ajuda de alguns homens solteiros, em troca de olhares nos joelhos, beijos no rosto e toques nos braços e nas canelas. Aquela era, de fato, uma cidade religiosa.

    A comitiva era integrada por cinco meninas e dois homens. Jeff Wilson e Peter Mills eram saqueadores, viviam em bandos assaltando cidades. Certa vez cederam aos encantos de Madam Bellevaux e passaram a fazer a segurança pessoal dela e de sua comitiva. Jeff era um cara magro e alto, rosto fundo, aparentava ser velho. Algumas cicatrizes pelo corpo o deixavam perfeitamente com cara de bandido, sempre estava armado e quase nunca retirava seu chapéu, exceto na presença da Madam. Mills era mais baixo que Madam, forte e ágil, moreno queimado do sol e do deserto. Possuía uma cicatriz que outro bandido o fizera. Antes de ser encontrado por Madam, Mills era do bando de Búfalo Cinzento. Ele o traíra, junto de seus dois comparsas, Kid Gun e Little Sheep. O bando havia roubado dois bancos em Albuquerque, por isso estavam cheios da grana, quando Mills pediu para sair da gangue. Búfalo irritado não deixou que ele saísse com sua parte do dinheiro. Quando estavam no meio do deserto, Búfalo resolveu deixá-lo partir. Na hora da divisão do montante, Búfalo atirou em Mills. Ele caiu do cavalo e a pancada o desacordou. Como marca em suas mortes, Búfalo cortava a boca de seus cadáveres com sua faca super afiada, até que o corte chegasse ao lado de baixo da pálpebra, sempre um corte do lado esquerdo do rosto. Essa cicatriz faz com que Mills fosse marcado como um morto em vida. Nenhum dos outros marcados viveu para contar a história, exceto Mills.

    Desacordado e ensanguentado, Mills lembra-se de flashes, o corte, os risos, o sol escaldante, corvos, um homem magro de bigode e chapéu o colocando em cima de uma carruagem preta, alguns falatórios de mulheres.

    Ao acordar, Mills percebeu estar em uma estalagem. Estava com curativos no rosto e no peito, pouco acima do coração, e ataduras contornando a cabeça. Doía.

    — Bom dia dorminhoco. – Disse uma voz de mulher com sotaque forte.

    — Onde estou? – Questionou Mills com desconfiança.

    — Está a salvo. – Respondeu a mulher tragando o cigarro de uma piteira longa e soltando  fumaça em direção a ele.

    — Quem é você?

    — Pode me chamar de Madam Bellevaux, Augustine Bellevaux, encantada. – Disse segurando na saia e reverenciando o enfermo.

    — Não entendo.

    — Madam Augustine Bellevaux, será que o corte afetou seus ouvidos? – E riu. – Fuma? – Ele acenou que sim. Prontamente ela lhe passou o cigarro e um isqueiro.

    — Por que me ajudou? Não entendo o motivo de estar aqui. – Disse pegando e acendendo o cigarro. Aquele trago lhe trouxe de volta à vida.

    — Você está dormindo há cinco dias e meio. Te encontramos meio indisposto. Estava dormindo no deserto, um pouco ensanguentado. – E riu. Ela estava ao lado da cama, quando ele a agarrou pelo braço de forma violenta.

    — Me diga sua puta, o que você quer de mim? Me resgatou para brincar com a minha cara? – Ela se aproximou do rosto dele, enquanto ele ainda a machucava, apertando seu braço. Chegou próxima de sua boca e começou a sussurrar.

    — Sou uma dama, não me chame de puta. Seja cavalheiro. – E apagou seu cigarro em brasa no alto da maçã do lado esquerdo de Mills. Ele gritou alto de dor da queimadura e a largou. Quando ele teve o ímpeto de levantar para acertar suas contas com aquela mulher, ouviu somente o clique de engatilhar da arma e viu o cano na direção do meio de seus olhos. – Deite-se, está em recuperação. – Contra sua vontade ele se deitou e ela continuou. – Quero negócios com você. Sua cicatriz me despertou interesse, afinal, você não deve ser santo, devido ao estado em que te encontrei. Sabe que deve sua vida a mim. – Ele ouvia atentamente, porém insatisfeito – Então te proponho que fique comigo, seja meu segurança particular. Te pago pra isso. Até que você encontre quem fez isso. Se você o matar, terá sua vida de volta, se não matar fica comigo para sempre.

    Mills não tinha muitas opções, morrer ali como um covarde, numa cama ou ter a chance de se encontrar novamente com Búfalo Cinzento e lavar sua honra. Ele poderia fugir também, essa mulher não estaria a todo tempo o vigiando. Naquelas condições, ele ainda precisaria de cuidados médicos, ali tinha conforto, então resolveu aceitar. Com o passar do tempo percebeu que o trabalho era fácil, apenas vigiar um bando de mulheres. Para ele era até conveniente.

    As cinco meninas da comitiva eram Melanie Woods de New York, Katlyn Fox de Ohio, Isabela Garbo uma italiana, May Crowe da costa de Miami e Rosário Cruz uma mexicana. Todas belas e no auge da juventude.

    No primeiro passeio das meninas pela cidade, elas foram recebidas com olhares maldosos. As mulheres dali não as receberam como se recebe damas, em suas casas, com xícaras de café, biscoitos e bolos assados, desejando sempre que a amiga retorne. Portas batendo, mulheres apressando os passos arrastando crianças, conversas sussurradas com as mãos cobrindo os lábios. Um desconforto, mas as meninas da comitiva não se importavam. A população de mulheres do local não se fez de rogada ao saber que a comitiva se instalaria na cidade. Foi um falatório geral. O Senhor Jones, o banqueiro, se apressou em prestar os sentimentos de boas vindas. Carne nova na cidade era o mesmo que novos investimentos, o banco precisava mesmo de novas fontes de captação de verbas, nada melhor que um saloon pra fazer a economia movimentar. Prontamente foi ter uma conversa com a chefe da comitiva. Ainda em obras, chegou nas instalações e entrou no futuro salão, onde dois jovens martelavam madeiras de assoalho.

    — Ei meninos, me chamem o dono do local. – Disse sem saber que o dono se travava de uma mulher.

    — Dona. É uma dona, senhor Jones. – Disse um deles.

    — Dona?! – Questionou já imaginando as possibilidades que lhe abririam, pois ele acreditava ser a pessoa mais inteligente do mundo. – Me chamem logo, tenho pressa, tenho coisas mais importantes pra fazer. – Ordenou com seu ar soberbo, já ajeitando seu paletó desalinhado, cobrindo a barriga saliente e enxugando a testa com a lapela.

    O jovem saiu por um dos corredores laterais do palco, provavelmente uma saída para os camarins, mas não importava, Jones estava contando com muitos investimentos. Ele somente ouvira falar da comitiva de mulheres, mas não sabia ao certo quem eram, ou o porquê estavam ali, sabia apenas que precisava desses investimentos.

    Logo viu o garoto retornou e atrás dele três mulheres adentraram o lugar. Duas jovens e outra uma mulher de meia idade que foi logo abrindo um sorriso. As três estavam bem vestidas, com roupas convencionais, como qualquer dama distinta, dessa vez sem exageros, apenas mulheres burras, como qualquer outra.

    — Bonjour Senhor Jones. – Disse Madam.

    — Vejo que já ouviu falar de mim? – Disse o banqueiro sustentando o peito aberto e a barriga murcha, ou pelo menos acreditava.

    — Não, apenas o garoto me disse que é o banqueiro, senhor Jones. – Disse virando a piteira com um cigarro apagado, para que uma das meninas acendesse. – Quem na verdade ouviu falar de alguém foi o senhor, senão não teria se desprendido do seu precioso banco para vir até aqui. – Ao ouvir a resposta, os dois jovens começaram a disfarçar que estavam pregando as madeiras no chão e ficaram atentos a conversa.

    — Claro. – Disse o banqueiro perdendo a sua pompa.

    — Estas são senhorita Woods e senhorita Fox. – Disse com as duas jovens frisando um leve acento de corpo para reverenciar o homem. – Me chamo Madam Augustine Bellevaux – Completou ela estendendo a mão, para ser beijada.

    — É um prazer conhecê-las. – disse ele de maneira desajeitada, beijando a mão da mulher, completando uma reverência também.

    — Agora que já nos conhecemos, o senhor disse que queria falar comigo? Espero que seja rápido, pois estamos meio a uma reforma e não tenho café ou biscoitos da hora para lhe oferecer.

    — Eu aceito um copo de água, assim podemos nos refrescar enquanto conversamos.

    — O senhor não aceita porque eu não ofereci. - Disse ela descendo do palco em direção ao senhor Jones. – Na verdade, só será convidado quando o Saloon inaugurar, como cliente, para consumir, não como convidado.

    — Vejo que está um pouco nervosa, deve ser a reforma. Mulheres não conseguem administrar. – Disse o banqueiro rindo.

    — O que as mulheres não conseguem fazer não é da minha conta. Se não se importa, tenho mais coisas para fazer. – Disse se voltando para a porta e estendendo o braço para indicar a saída.

    — Calma. – Disse o banqueiro colocando as mãos nos ombros de Madam Augustine.

    Com o reflexo da ação do banqueiro, ela reagiu o empurrando e fazendo o homem gordo cair. Os dois jovens pararam de vez o trabalho e ficaram olhando. Prontamente ela disparou até ele, pisando em sua barriga e arrancando por baixo do saiote um punhal que colocou abaixo de seu pomo de adão, que quase nem aparecia pela excessiva gordura do banqueiro. A simples pressão do punhal fez um corte pequeno que começou a sangrar levemente, tamanha afiação do objeto. O banqueiro tentou reagir, e prontamente ela pressionou sua perna para baixo, fazendo com que aquele homem gordo não pudesse sequer fazer uma curvatura abdominal.

    — Se você acha que pode vir aqui, mostrar sua superioridade, está enganado Senhor Jones. – Disse Madam Augustine com tamanha frieza, tão sutil e calma como mães que cantam cantigas de ninar. – Se pensa que irei fazer algum investimento em seu banco, está enganado. Eu cuido do meu dinheiro, mais ninguém. Você deve ser mais um daqueles banqueiros que gostam de roubar. Percebe-se pelo seu tamanho. Vive na fartura enquanto os idiotas daqui trabalham feito escravos naquela mina. Você somente criando um traseiro cada vez maior. Preste bem atenção no meu aviso, seu desgraçado, quero você longe do meu dinheiro e longe de mim. Jamais ouse colocar novamente essas mãos imundas em mim. Sou uma dama. E como toda dama eu sei matar. Agora dê o fora. – Disse saindo de cima do homem.

    Com toda dificuldade, senhor Jones se atrapalhou ao levantar, mas saiu depressa e cambaleando, em disparada ao seu cavalo que estava amarrado em um dos pilares da frente do Saloon. Madam Augustine foi até a janela mais próxima onde o banqueiro tentava subir no cavalo e inclinou-se para fora. Nisso, pela rua passavam Elisabeth e Kate Smith, mãe e filha que moravam na casa de família mais próxima do Saloon. Elas ficaram atentas ao banqueiro, em vê-lo sair às pressas do estabelecimento e a Madam que debruçou na janela.

    — Se vir o Sheriff mande-o lembranças,

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