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Malta: O naufrágio
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E-book239 páginas3 horas

Malta: O naufrágio

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Sobre este e-book

Como sobreviver aos naufrágios da vida? Essa é a pergunta para qual Heitor de Creta busca uma resposta após sofrer um terrível atentado político.Este épico romance ambientado no primeiro século da era cristã levará o leitor a se emocionar com uma jornada de fé e esperança. Veremos um dos episódios mais marcantes do novo testamento através dos olhos de um pagão que questiona a soberania dos 'deuses'.Muita coisa pode acontecer durante a luta pela sobrevivência; discussões sobre fé e filosofia, o conceito do bem e do mal, a queda de homens num império corrupto, o alvorecer de uma igreja e o encontro marcante com um apóstolo de Cristo.
IdiomaPortuguês
Data de lançamento5 de abr. de 2021
ISBN9781526040565
Malta: O naufrágio

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    Malta - Cleyton Duarte Carriço

    PARTE I

    I

    PARA CRETA, UM CRETENSE

    Ilha de Creta – 60 d.C.

    Havia no Sul de Creta, próxima à Laseia e nos arredores de Gortina, uma das maiores oliviculturas da província. Ela pertencia a um velho rico chamado Jano, porém quem a administrava era o seu sobrinho Heitor. Jano havia criado e educado o sobrinho desde novo quando este perdera seus pais; ele o ensinou a ler e a tocar os negócios. Heitor havia se tornado um homem inteligente, quase um erudito, e estava à frente dos negócios desde que o tio ficara doente. Heitor contava com ajuda de Chibale, alexandrino que chegou em Creta como escravo, mas foi comprado e libertado por Jano ainda pequeno. Ele também foi educado e acabou se tornando o despenseiro da propriedade. A casa de Jano era enorme, a porta principal dava para as ruas movimentadas da cidade, no átrio tinha uma clareira, uma abertura superior que permitia que a luz do sol o invadisse, de lá dava para contemplar parte das plantações; nos fundos estava a fazenda, suas enormes terras, plantações de oliveiras, celeiros e toda a linha de produção de azeite, óleos e derivados da oliva, ali também haviam os Portões da Vila, por onde entravam os servos e trabalhadores do campo.

    É mais um dia comum na enorme fazenda de Jano, seu sobrinho e ele estão no triclínio, uma sala de jantar, à mesa para o desjejum. Eles tomam lugar nos clines ao redor da mesa, que são assentos como poltronas onde se reclinam em almofadas enquanto são servidos por Nídia, uma bela serva que, apesar de jovem era uma das principais da propriedade. 

    _É bom ver que o senhor está melhor, tio. _diz Heitor.

    _Eu lhe falei que essa doença não era grande coisa. Com a graça dos deuses em breve estarei forte o suficiente para voltar a auxilia-lo. _diz Jano levando um pedaço de pão à boca.

    _Não apresses tua melhora, tudo vai acontecer no tempo certo; deixe que eu me encarrego das tarefas. No momento, tu deves descansar. 

    _Teu sobrinho tem razão, mestre Jano. _diz Nídia enquanto os serve.

    Chibale se aproxima com algumas tábulas em mãos.

    _Chibale! _exclama Heitor. _Sente-se conosco, nos acompanhe no desjejum.

    _Não sei se isso seria apropriado... _diz Chibale, mas Jano o corta.

    _Deixe disso, Chibale. Sente-se conosco. _diz Jano.

    _Já que insistem. _ele toma o terceiro lugar que estava vago, meio atrapalhado e tímido se reclina sobre a almofada. _Trouxe o resumo do último mês como me pediram. Hasani mandou avisar que virá renegociar os valores.

    _Maldição! _exclama Heitor. _Aquela cobra do mar está se achando o dono da frota romana.

    _Não aceite nenhum valor exuberante. _Aconselhou Jano _Há muitos barqueiros que podem levar nossas especiarias para o outro lado.

    _Fique tranquilo, meu tio. Já aprendi a lidar com Hasani. _diz Heitor. Nídia serve vinho a Chibale, ambos trocam olhares. Heitor repara. _O que fará hoje à noite, Nídia?

    _Perdão, senhor?!

    _O festival a memória de Minos começou; haverá uma apresentação hoje no anfiteatro da cidade, você poderia ir com Chibale.

    Chibale que estava levando uma taça à boca se assusta.

    _Senhor, eu não... Não sei se... Tenho muito trabalho e...

    _Não seja tolo, rapaz. _intervém Jano. _Acho uma ótima ideia irem a esse espetáculo; estão dispensados das atividades noturnas.

    _Bom, temos que ver se a moça aceita e...

    _Eu aceito. _diz Nídia entusiasmada cortando Chibale. _Digo, eu posso lhe acompanhar. 

    _Ótimo. _diz Chibale soltando um sorriso que é retribuído por Nídia.

    Heitor e o tio riem do jovem casal. Jano de repente é acometido por uma forte tosse, Heitor e Chibale vão até ele para o acudir, Nídia chama por socorro e outros servos vem e o ajuda a ir até a cama. Heitor está ao lado do tio que agora repousa em seu quarto, Chibale está de pé na porta.

    _Chibale?! _chama Heitor.

    _Sim, mestre Heitor!

    _Vou precisar que cuide de tudo hoje por mim.

    _Não. _diz Jano ainda fraco. _Há muito trabalho a ser feito, ele não pode parar. Eu vou ficar bem, qualquer coisa peço aos servos.

    _Tens certeza? _pergunta Heitor preocupado.

    _Claro. Não precisa parar por minha causa. Onde está Nídia?

    _Ela foi até a cidade buscar o médico, senhor. _respondeu Chibale.

    _Ótimo... Ótimo. Podem ir, eu vou ficar bem.

    Heitor reluta, mas é convencido pelo tio a seguir com as atividades.

    Chibale e ele andam pela enorme propriedade, inspecionando todas as partes da produção de óleos. Eles param numa elevação de onde observam a enorme plantação de oliveiras, alguns empregados colhendo olivas e outros arando a terra para lançar mais sementes. Chibale percebe que Heitor está com a cabeça longe e pouco concentrado.

    _Pensamentos longe, mestre Heitor? _Pergunta Chibale.

    _Perdoe-me Chibale. Estou preocupado com meu tio.

    _Tem certeza que não quer deixar tudo por minha conta?

    _Não. Eu estou bem. Preciso ocupar minha mente. Como andam as coisas aqui?

    _Vão bem. Temos aqui uma das maiores plantações de oliveiras de toda Creta. Se o seu tio não mantivesse os impostos em dia o Governador já tinha se apropriado dessas terras.

    _Graças aos deuses o tio Jano mantém uma boa relação com Bruttidius. Parte da nossa produção vai pro governo, além dos impostos.

    Enquanto eles conversam dois homens do mar, Hasani e um companheiro invadem a propriedade aos gritos, alguns homens que guardavam a fazenda tentam impedir o seu caminho. Heitor e Chibale se deparam com a cena.

    _Está tudo bem! _grita Heitor. _Deixe-o passar.

    Hasani se aproxima, mas deixa seu companheiro aguardando de longe.

    _Disse que viria apenas mais tarde. _resmunga Chibale.

    _O mar não espera, meu amigo alexandrino. _responde Hasani.

    _O que quer aqui, Hasani? Não vai conseguir me extorquir. _diz Heitor.

    _Te extorquir? Acha que é fácil levar seus barris para outro lado com os malditos romanos fazendo perguntas?  Eu ainda cobro pouco.

    _Não fazemos nada ilegal; _diz Chibale _entregamos a parte do Governador e a outra parte negociamos como e com quem bem entendermos.

    _Tudo bem, essa discussão não nos levará a lugar nenhum. _diz Heitor. _Quantos denários a mais você quer?

    _Trinta e cinco. _responde Hasani.

    Heitor ri.

    _O que? Ficou louco? _pergunta Chibale. _Te pagamos uma pequena fortuna em áureos da última vez.

    _Vocês foram generosos, mas as coisas estão ficando complicadas nas outras províncias. Muitas confusões e revoltas, essa nova religião judaica que está surgindo tem deixado algumas autoridades um tanto quando insatisfeitas e paranoicas. 

    _Me poupe de suas histórias. _diz Heitor. _Meu tio me autorizou a pagar a você, além do combinado, apenas mais dez denários. É isso ou negociamos com outro barqueiro. O que me diz? É pegar ou largar.

    Hasani pensa expressando insatisfação e em seguida conformação.

    _Tudo bem, grego. _diz ele _Mais dez denários.

    _Venha comigo. _diz Heitor.

    _Mas quero denários romanos, com o rosto de Nero. Nada dessa moeda com desenho de vaca que vocês têm nessa ilha... _diz Hasani seguindo Heitor.

    Heitor e Chibale vão até o lugar onde guardam alguns depósitos e acertam o valor com Hasani que imediatamente deixa o local, em seguida eles vão checar o lugar onde armazenam o óleo já pronto e acabam encontrando duas ânforas com defeito. Antes de darem seguimento com as atividades, Heitor vai até a residência se encontrar com Édipo, um dos médicos mais conhecidos da região.

    _E então, como ele está? _pergunta Heitor ao ver o médico limpando as mãos numa toalha trazida por Nídia.

    _A situação do seu tio se agravou; preparei pra ele um chá de ervas com propriedades analgésicas. Após a refeição ele deve mastigar uma pasta que eu deixei próxima a cama, sua serva sabe qual é.

    _Tem mais algo que possa ser feito?

    _Infelizmente não, só resta esperar. Peça aos deuses por sua melhora e faça o tratamento como lhe recomendei.

    _Obrigado. _agradece Heitor.

    O médico deixa o lugar na companhia de uma das servas. Nídia percebe a expressão de tristeza no rosto de Heitor.

    _Fique calmo, mestre Heitor; _diz ela tentando confortá-lo _ele é forte, vai se recuperar. E é teimoso demais para morrer.

    Heitor solta um sorriso ainda triste e agradece as palavras da serva.

    -I-

    Não muito distante dali um grupo de soldados romanos, veteranos e recrutas, se reúnem num campo aberto para uma espécie de treinamento. A frente deles está Maximus, um Tribuno romano. Ele caminha em frente seu exército encarando os homens.

    _Ave César! _brada ele para os soldados.

    _Ave Nero! _a tropa brada de volta seguida de uma saudação romana, a famosa batida no peito seguida da elevação frontal do braço com a palma para baixo. _Hoje estão aqui porque muitos de vocês escolheram servir, outros foram obrigados a servir, outros não tinham outra opção a não ser a de servir. O motivo de estarem aqui não me interessa, o que interessa é que a partir de agora seus corpos e suas almas não pertencem mais a vocês, nem a seus pais, nem a suas esposas, nem mesmo a mim. Suas almas e seus corpos pertencem à Roma e ao imperador Nero. _disse Maximus seguido pelo brado da tropa. _Formem duplas e fiquem em posição de combate, serão instruídos por meus capitães Magno e Ícaro. Formação!

    Os capitães avançam seguindo as ordens do Tribuno, um emissário do Governador se aproxima e vai até Maximus.

    _Ave César! _diz o mensageiro.

    _Ave! _responde Maximus.

    _Venho em nome do Procônsul, ele solicita sua presença agora mesmo no Pretório.

    _Do que se trata? _pergunta Maximus curioso.

    _Saberá quando chegar lá.

    Maximus avisa seus companheiros, toma seu cavalo e parte para o Pretório, o palácio do Governador Sabinus. Este, por sua vez, está em uma das salas de banho público na companhia de dois senadores. Eles se banham na terma, uma espécie de piscina, enquanto conversam sobre política e assuntos da província. _Fico feliz que atenderam ao meu convite de última hora. _diz o Governador.

    _Estamos sempre as ordens de nosso Procônsul, meu senhor. _responde um dos Senadores. _Peço que satisfaça a nossa curiosidade revelando o motivo de tão repentina reunião.

    _Expansão. _diz o Governador. _Responda-me, se eu lhes perguntasse agora qual o celeiro do império, o que me responderiam?

    _Certamente Alexandria. _diz o senador

    _Acho que Cartago, ou qualquer das cidades de tal província. _respondeu o outro presente.

    _Ambos estão certos. Tais províncias são mui ricas e insubstituíveis para o glorioso império. Nossa Creta também é rica, e além de nossas riquezas e cultura estamos em posição estratégica política, econômica e militarmente falando. É por isso que quero apresentar a vocês o meu projeto de expansão. _diz o Governador.

    _Expansão? _pergunta o senador, um pouco confuso.

    _Expansão econômica de nossa província. Temos os melhores artesãos do império, nossas terras são ricas, exportamos cerâmica e especiarias a base de óleo para todo o domínio romano. _diz o Governador.

    _Até agora está apenas exibindo as virtudes de Creta, meu senhor.

    _O problema é que hoje o comércio independente cresceu; temos sob nosso domínio um pouco mais da metade das terras cultiváveis. Voltemos um pouco no tempo. Há séculos atrás, quando ainda haviam reis em Creta, toda a base da civilização e da economia girava em torno dos palácios reais. De lá saía tudo o que o povo precisava, era o centro comercial, religioso, político e administrativo de toda a Ilha. _conta o Governador. _Hoje com a regência de Roma a nossa política é diferente, temos diversos comerciantes e nobres que administram muitas áreas, claro que todos pagam tributos e doam uma parte para nosso governo, mas acho que podemos fazer algo maior.

    _Quer que Creta & Cirene sejam referência de abastecimento do império assim como Alexandria e a província africana?

    _Acho que temos potencial para tal. _afirma o Governador. _Há muitos judeus e egípcios com pequenos negócios que muito lucram com nossas riquezas, talvez por terem um conhecimento maior na administração. Se a administração viesse do governo, não nos preocuparíamos tanto com estrangeiros ficando ricos à nossas custas.

    _E como pretende fazer tal coisa? Como tu mesmo disse, há liberdade comercial na província.

    _Eu disse que tenho tudo planejado. O projeto de nacionalização, centralização e expansão será o legado da minha carreira como Procônsul. Amanhã durante a celebração da festa à memória de Minos eu darei um banquete para os principais nobres e líderes de comércio de toda Creta, cidadãos romanos. Farei uma proposta irrecusável a eles. Muitos deles devem impostos e não estão em dia com o império, estes serão mais fáceis de serem convencidos.

    Maximus entra na sala, e cumprimenta o governador e os senadores.

    _Ave Nero! _saúda Maximus.

    _Maximus! Meu adorável tribuno militar. Junte-se a nós. _diz o Governador.

    _Estou em serviço, meu senhor. _responde Maximus.

    _E não estamos todos? _pergunta um dos senadores, eles riem.

    Maximus retira sua armadura com ajuda de uma serva, retira a túnica que vestira por baixo e entra na terma.

    _Ainda não ficou claro o que pretende fazer, meu senhor. _diz um dos senadores.

    _Pretendo comprar parte das posses dos comerciantes para termos melhor controle econômico de nossas riquezas. Acompanha-nos amanhã no banquete e garanto que tudo ficará claro.

    O governador faz sinal para as servas, e elas servem vinho a todos na terma.

    -I-

    A noite chega, Chibale termina seus afazeres e se prepara para ir ao anfiteatro com Nídia. Heitor está numa das salas da casa checando algumas anotações e colocando algumas coisas em ordem; ele ascende uma vela, senta diante de uma mesa e começa a anotar alguns gastos que tiveram. Chibale, já pronto, vai até a sala.

    _Precisa de mais alguma coisa, mestre Heitor? _pergunta Chibale chegando à porta.

    _Não Chibale, obrigado! _responde Heitor enquanto termina de escrever, em seguida olha para o servo. _Veja só você!

    _O que? Não estou bem?

    _Está ótimo, amigo. Divirtam-se.

    _Mais uma vez obrigado por me ajudar. Eu fiquei dias pensando em como falar com Nídia.

    _Ela já se aprontou?

    _Ela estava com seu tio.

    Neste momento Nídia chega às pressas e ofegante na sala.

    _Mestre Heitor! Mestre Heitor! _grita ela. Heitor assustado se levanta.

    _O que houve?

    _Seu tio... Ele arde em febre e não acorda.

    _Pelos deuses! _exclama Heitor, em seguida levantou-se e correu pelos corredores da casa, Chibale o acompanhava. 

    _Chibale, vá até a cidade e busque Édipo agora mesmo. _ordena Heitor.

    _Claro mestre Heitor. _diz Chibale indo imediatamente.

    Heitor entra no quarto do tio às pressas; com a ajuda de Nídia e outros servos começa a molhar toalhas e colocar sobre o corpo de Jano. Heitor tenta acordar o tio enquanto passa um pano molhado em seu rosto e cabeça. Chibale pega um dos cavalos mais rápidos, galopa velozmente até a casa do médico Édipo e o leva imediatamente até Jano. O médico pede o apoio de alguns servos, mas solicita que Heitor deixe o quarto, ele relutante é consolado por Nídia e Chibale que o convencem a esperar do lado de fora. Ele está sentado próximo ao quarto, Nídia está ao lado dele com o braço em seus ombros o confortando e Chibale profere palavras de esperança. Quase uma hora é passada, Heitor está impaciente, ele se levanta e vai até a imagem da deusa-mãe de Creta em um dos cômodos da casa e começa a rezar para a mesma, pedindo que ela e suas sete sacerdotisas intervenham. Ele nunca foi de acreditar muito em deuses,

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