Mar de baratas
De Marco Sevla
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Sobre este e-book
A vida nessa comunidade, conhecida como Kapa, prospera à sombra de uma cortina densa de individualidades e mistérios. Ela cresceu e floresceu, mantendo-se reservada quanto a aceitar novos habitantes de outras partes da nação. No entanto, tudo começa a mudar com a chegada de Catherine, uma jovem de Belgrado que busca refúgio na casa de sua tia nessa misteriosa comunidade.
Nesse emaranhado de conspirações e intrigas, sacrifícios foram e ainda serão feitos para manter a cortina de segredos e garantir que os responsáveis por atrocidades permaneçam impunes. Catherine assume a árdua missão de descobrir e denunciar esses crimes à justiça, colocando em xeque sua própria sanidade mental, integridade e fé.
Aqueles que convenceram a comunidade de que a impunidade é eterna e que a justiça é mais bem aplicada por meio de seus próprios atos criminosos agora se tornam os obstáculos que Catherine enfrentará em sua investigação sombria. À medida que ela desvenda segredos sádicos e obscuros, a verdadeira natureza de Kapa se revela, e Catherine deve decidir se está disposta a sacrificar tudo em busca da justiça.
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Mar de baratas - Marco Sevla
Sinais de chuva
Ao entardecer em Kapa, as nuvens chegam obscuras e com grandes lampejos; no solo, há uma grande abundância de vida, que se mistura ao concreto acinzentado, e as famílias constituídas, em sua maioria, por mulheres, integram uma grande rede de casas, um vilarejo.
Com requintes Noir, alvenaria e tijolos alaranjados, os sobreviventes e subservientes do sistema social igualitário residem nessas casas.
Catherine Kosvack é uma mulher nascida em Belgrado, e sua família é remanescente desse mesmo lugar. Seu pai foi um militar que serviu o país e se aposentou por questões de saúde, que estava se deteriorando. Com o passar dos anos, o convívio de Catherine com seu pai não era o mesmo; decidida e ao mesmo tempo arrependida, ela parte em uma viagem em direção a Moscou, deixando seu pai num asilo a oeste de Belgrado.
Partindo de Moscou e indo a Kapa, Catherine, em seus breves pensamentos e lembranças em um dos módulos do vagão, começa a dialogar consigo mesma, era uma mania dela que a confortava. Sua tia, Judith, já a esperava no vilarejo enquanto o caminho era percorrido.
Catherine desfigurava-se em pensamentos otimistas a respeito de Kapa e sua tia.
Chegando lá, sua tia a recebe com os dizeres:
— Querida, você está ótima! Como foi a viagem?
Catherine responde:
— Tia, foi uma viagem longa e bastante enriquecedora no sentido de refletir sobre Kapa.
— Que bom, querida, espero ser um ombro amigo, e que minha casa possa agradá-la de alguma maneira, ela é simples, mas não falta amor.
Catherine se sente bem no percurso feito pelo ônibus intermunicipal da estação, que passa tanto pelo vilarejo de Kapa quanto pelos vilarejos vizinhos de Borea e de Danka.
Kapa é a primeira cidade do roteiro de circulação da companhia de transporte público; a empresa Movius é conhecida por oferecer esse serviço à população desses vilarejos. Ao chegar a Kapa, Catherine se desloca à residência de sua tia. Enquanto caminha em sua companhia, as paisagens da cidade fazem-na admirar o local e o jeito simplista como a população vive.
Sua tia serve como uma guia turística pelas ruas de Kapa e do comércio. Ela a introduz ao açougueiro da cidade, Yuri, um senhor de meia-idade simpático e bastante acolhedor, que se apresenta a Catherine:
— Bem-vinda à cidade mais acolhedora da Rússia. Você está em frente ao melhor açougueiro e ao melhor açougue do país, o Açougue e Mercearia Irmãos Yuri.
Catherine replica com os seguintes dizeres:
— Que maravilha! Prazer em conhecê-lo, serei sua cliente número um. Até mais, foi um prazer.
Seguindo o caminho do vilarejo, há muitas quitandas, e a mais conhecida por todos é a da senhora Beth, uma senhora de um belo sorriso. De descendência alemã, sua família foi buscar uma melhora de vida saindo da Alemanha em 1926 e partindo, então, para a União Soviética, que viria a ser a Rússia.
Judith apresenta Beth a Catherine, uma mulher que tem seus próprios credos e que acredita no sobrenatural.
— Filha, fique atenta aos sinais vindos de todos os lados. Essa cidade costuma nos pregar encontros e desencontros, mas você irá gostar, a cidade é bem hospitaleira e convidativa durante o vigoroso inverno russo.
Catherine, entusiasmada com carinho do povo de Kapa, diz:
— Tia, me sinto muito contemplada e um pouco curiosa para saber como vai ser minha estadia aqui.
Chegando à casa simples, Catherine se depara com janelas de madeira, porteiras de madeira do século XVIII, em um imóvel de dois andares. No primeiro andar, está a sala de estar, que dá continuidade à cozinha, decorada com móveis de padrão simples os quais contrastam com a pia de acabamento de mármore rústico. O banheiro agrega um box simples e uma pia de mármore, o mesmo material da pia da cozinha. Ali, exalava um cheiro bem atípico, comum à presença de baratas, mas o odor agravante não interferia na beleza dos azulejos do banheiro que contrastavam com as paisagens do campo.
No andar de cima, três quartos. Um reservado à Catherine, outro de sua tia e mais um de hóspede. Como não há tantas visitas, ele foi reutilizado como um quarto de costuras pela dona.
As teias de aranhas no quarto e o cheiro de naftalina constatam o abandono, mas Catherine está convencida de que possa se estabelecer nesse cômodo abandonado.
— Com uma bela faxina e uma boa pintura, posso reerguer esse cantinho da casa — sussurra Catherine para sua tia.
Ao cair da noite, nuvens carregadas aparecem