O Feitiço do Mago
De Paulo Mateus
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O Feitiço do Mago - Paulo Mateus
Capítulo 1
Uma brisa leve soprava sobre a única árvore ao lado da casa, parecia antiga e intocada, emanava um ar de respeito e beleza. Um carro estava estacionado em frente à casa, algumas pessoas iam e voltavam carregando caixas de papelão, algumas pareciam ser bem pesadas. Deixavam algumas no chão enquanto abriam outras e tentavam ajeitar as coisas, parecia que a mudança não iria acabar nunca.
— Nunca pensei que tivéssemos tanto lixo guardado – disse Lucas.
Lucinda estava ao lado ajeitando as coisas na estante, estava tudo uma bagunça. Ana estava no andar de cima terminando de arrumar suas coisas no quarto novo. Ela colocou o notebook e mais algumas coisas em cima da mesinha e foi até o outro lado abrir a janela, deu de cara com a árvore imponente e majestosa. Sentiu o vento roçar seu rosto e pensou que talvez fosse gostar dali, mais do que imaginava.
— Você acha que ela vai se adaptar aqui? Por causa da escola e...
— Vamos ser otimistas, ela nunca foi uma garota problemática – disse Lucas interrompendo. – Talvez fazer novas amizades seja um problema, mas ainda é cedo para nos preocuparmos com essas coisas.
— Sim, mas é que ela não está acostumada com mudanças, pode ser um pouco difícil pra ela.
— Não há nada com o que se preocupar – ele a abraçou pela cintura –, isso vai ser bom pra todos nós.
Ana se jogou na cama tentando descansar um pouco, escolheu uma música aleatória no celular e ajeitou os fones, estava tão cansada que logo caiu no sono. Depois de algumas horas finalmente a casa estava com tudo em seu devido lugar, Lucinda não quis incomodá-la com o jantar e a deixou dormindo, enquanto eles faziam a primeira refeição na nova casa. Quando ela finalmente acordou sentiu um vento gélido soprando em seu rosto, já era noite e estava tudo escuro, ela tateou a parede até achar o interruptor e depois percebeu que havia deixado a janela aberta. Foi até ela, mesmo escuro pôde perceber os contornos da árvore, e mais além as luzes das casas dos vizinhos. Já ia fechá-la quando notou algo em um dos galhos altos da árvore, parecia um vagalume pelo brilho, mas estava imóvel e o brilho era tão intenso que ela questionou se seria mesmo um inseto.
Depois de alguns instantes admirando aquele brilho misterioso ela fechou a janela, olhou as horas no celular e acendeu a luz, eram quase nove da noite. Um som abafado entrava pela porta quase inaudível, era a televisão lá em baixo. Ana foi até a cozinha e voltou com um pacote de bolachas, sua barriga roncava. Passou o resto da noite comendo e mexendo no celular, nem percebeu quando pegou no sono de novo.
O sol da manhã batia em seu rosto e iluminava os longos fios loiros de seu cabelo, ela estava sentada no degrau da entrada, com os pés sobre a grama. Estava se perguntando o que fazer, mas não parecia ter muitas opções além de ficar em casa mesmo.
Ana deu a volta na casa e ficou aos pés da grande árvore, a luz do sol trespassava as folhas e os galhos; nada de estranho brilhava lá em cima. A grama embaixo da árvore estava coberta de folhas secas, ela esmagou algumas enquanto voltava para dentro de casa. Enquanto virava a tarde no computador ela ouvia de vez em quando um carro passando, barulho de crianças brincando, vozes que pareciam vir de muito longe. Detalhes de uma tranquilidade que ela não tinha na sua antiga vida, mas que estava começando a gostar.
Já era tarde e Ana estava sozinha em casa, seus pais haviam saído para fazer algumas compras e voltariam logo. Ela continuava lá em cima matando o tempo, o tédio é maior ainda quando se tem dezessete anos e você fica o dia todo trancada dentro de casa. Ela estava concentrada em algo na tela do notebook quando um ruído a fez desviar o olhar, o som parou por um momento, mas logo voltou com mais intensidade e ela viu de onde vinha. Levantou-se devagar da cadeira e foi até o canto oposto do quarto, do outro lado da cama. O som vinha de algumas caixas de sapato jogadas no chão, parecia que algum inseto estava preso em uma das caixas. Com receio do que poderia estar ali ela esticou o pé para abrir a caixa, como estava descalça o medo de que algo a picasse era grande.
Levantou a tampa da caixa e deu um passo para trás, adiantou-se novamente para olhar melhor, mas parecia vazia. Achou estranho, pois tinha certeza de que o som vinha daquela caixa. Percebeu novamente o barulho de patas rastejando e olhou para o lado, soltou um grito quando viu o que saía da outra caixa de sapatos, quase tropeçou na cama quando saiu correndo em direção as escadas. Uma aranha do tamanho de uma mão humana escorregou para fora da caixa, ela era de uma cor âmbar resplandecente, suas oito patas se moviam numa sincronia lenta e perfeita, como se ela estivesse analisando o lugar onde estava.
Ana trancou a porta da casa e esperou do lado de fora até seus pais chegarem, ela tentou explicar o que estava acontecendo e seu pai foi ver o que era. Ela e sua mãe esperaram na sala por alguns minutos até ele voltar.
— Não encontrei nada lá em cima – disse ele descendo as escadas. – Tem certeza do que viu?
Ana fez que sim com a cabeça.
— É melhor ficarmos de olho aberto, ela não deve ter saído desta casa e uma hora vai acabar aparecendo.
Ela subiu as escadas devagar e parou quando chegou à porta do quarto, com medo de que ela ainda estivesse ali, escondida em algum lugar. Entrou e se sentou na cadeira da escrivaninha, tentou prestar atenção na tela do computador, mas um pensamento não saía da sua cabeça: Aquela coisa não é deste mundo
.
Capítulo 2
Alguns dias depois na segunda-feira de manhã, Ana já estava de pé se arrumando para ir à escola, terminou de tomar o café, se despediu de sua mãe e saiu. Caminhou uns dez minutos até chegar ao ponto de ônibus, quando ele chegou Ana se sentou bem atrás e ficou olhando pela janela. Imaginando como seria a nova escola, o ano letivo ainda estava no começo então teria tempo de sobra para se acostumar com os novos colegas. O ônibus acelerou bem no momento em que algo surgiu aos olhos dela, em uma lixeira do outro lado da rua. Parecia a mesma aranha esquisita, ela a seguiu com os olhos até perdê-la de vista quando o ônibus ganhou velocidade. Ana ficou em choque, pensou que aquilo a estava seguindo, o que aconteceria quando ela descesse do ônibus? Ou pior, e se fosse atacada por aquela coisa?
Tentou afastar esses pensamentos até chegar à escola, quando o ônibus parou ela foi a última a descer, ficou um momento fitando a rua movimentada. Não viu nada que indicasse que aquela coisa estava por perto, caminhou para a entrada da escola e se misturou aos outros alunos.
Ao lado da casa os galhos da enorme árvore começavam a balançar com o vento, parecia que uma tempestade estava vindo, o céu já começava a escurecer.
— Parece que o céu vai cair daqui a pouco – disse Lucinda quando um trovão ecoou pelas redondezas. – Veja se não há nenhuma janela aberta no andar de cima.
Lucas subiu as escadas enquanto ela fechava a janela da cozinha, alguns pingos de chuva já começavam a escorrer pelo vidro.
Ela até que conheceu algumas pessoas legais no primeiro dia, gostou de quase todos os professores, com exceção da professora de matemática. A qual parecia não ter vocação para lecionar e seu semblante parecia ao mesmo tempo triste a amedrontador, mas os outros alunos já pareciam estar acostumados com isso, até deram algumas dicas do que não fazer quando ela estivesse por perto.
Depois do intervalo ela se sentou em seu lugar e olhou para além da janela, parecia um mundo completamente diferente de onde estava. Ali dentro estava confortável e quente, mas lá fora a chuva caia sem parar e o céu estava tão escuro que parecia noite.
Quando chegou em casa ainda estava chovendo muito, seu pai estava trabalhando e sua mãe estava almoçando, não queria comer nada e foi direto para o quarto. Lucinda trabalhava em casa através do computador, então não teria que se preocupar muito com a tempestade lá fora. A não ser que a energia elétrica acabasse e não houvesse mais acesso a internet.
Ana jogou a mochila no canto do quarto e se deitou na cama, o primeiro dia de aula na nova escola foi mais cansativo do que ela imaginou que seria, passou um bom tempo ouvindo a chuva cair lá fora, por algum motivo isso a relaxava. Os trovões eram tão altos e fortes que as janelas até vibravam, um raio caiu por perto e produziu um estrondo ensurdecedor, logo depois as luzes se apagaram. A energia se foi. A casa ficou na penumbra, ela foi até o guarda-roupa fuçar nas gavetas à procura de uma lanterna, achou uma bem antiga, mas que ainda funcionava. Não havia muito o que fazer, a não ser esperar a tempestade passar e a energia voltar.
O vento assobiava e os galhos da árvore se contorciam, quase tocando o vidro da janela. Um barulho alto seguido de vento e estilhaços de vidro fez Ana saltar da cama, a janela estava quebrada, algum galho da árvore deve ter batido no vidro
pensou. Mas quando chegou mais perto viu que havia algo mais, escondida na penumbra abaixo da janela estava a aranha. Ana apontou a lanterna para ela, parecia brilhar de um jeito estranho e assustador. Fez a única coisa sensata a se fazer: correr. Correu o mais rápido que pôde em direção a porta, com a luz da lanterna dançando ao seu redor, sentiu algo quente em sua perna e então caiu. Batendo com a cabeça no batente da porta e desmaiando, ou talvez já estivesse inconsciente quando a aranha picou sua perna.
Capítulo 3
Uma centelha de consciência invadiu sua mente e ela abriu os olhos, fitou o teto e as paredes simples, havia uma pequena janela por onde uma brisa fria entrava. Ela estava deitada em um catre e alguns cobertores a protegiam do frio. Ouviu um rangido e a porta de madeira do outro lado do quarto se abriu. Uma moça jovem entrou carregando algumas toalhas e um pequeno frasco de vidro.
— Vejo que já está melhor – disse a moça sentando-se ao lado.
— Onde estou?
— Em Cairum, a cidade mais ao norte do continente.
— An? – Ana não conseguia entender do que ela estava falando.
Ela puxou os cobertores até a perna direita de Ana ficar a amostra, desenrolou a toalha que estava cobrindo uma parte da perna e a colocou no chão. Quando ela viu o machucado na perna começou a se lembrar aos poucos do que havia acontecido.
— Pode doer um pouco, mas passa rápido – a moça pingou algumas gotas do conteúdo do