Meu Coração quer Amar e ser Amado
De Luciy Moon
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Luciy Moon
Desde os 7 crio histórias para me divertir. Com o intuito de melhorar a escrita, participei de curso de escrita criativa, desafios na internet e atualmente faço Marketing Digital para divulgar minhas obras.
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Meu Coração quer Amar e ser Amado - Luciy Moon
Meu Coração
quer
Amar e ser Amado
Escrita por Luciy Moon
Direitos autorais do texto original
Luciy Moon
Todos os direitos reservados 2010
Para Sophia Almeida tudo começou com uma grande confusão, em um momento seu coração amargava a perda de seu grande amor não correspondido e no outro batia desenfreado contra o peito do rapaz mais disputado do colégio, suplicando por algo que lhe era negado.
Para Miguel Rodrigues não importava como começara ou como o seu coração e o dela se sentiam, a desejava ha muito tempo e finalmente conseguira uma brecha. Porém, logo compreenderia que seu coração quer mais que bater de desejo.
— Sophia ama o André, que ama a Marina, que ama, junto com a maior parte das garotas do colégio, o Miguel, que não ama ninguém — recitou aumentando o sorriso. — Como terminará essa história?
Sumário
Confusão
Quadrilha
Cansada
Fofoca
Beijo
Música
Problemas
Enfermaria
Declarações
Fotografias
Cinema
Verdade
Presentes
Vídeo
Delicada
Unhas
Princípio
Fofo Gostosão
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Confusão
A sabedoria consiste na antecipação das consequências
Norman Cousins
O primeiro dia de aula na escola estadual Gilberto Flores, prometia ser o segundo pior dia para Marina Limeira naquele começo de semana.
Nem bem a bela jovem de cabelos castanhos avermelhados, olhos verdes e corpo magro pisou os pés na sala, foi logo motivo de gozação da turma, tudo porque algum filho da mãe, desgraçado e sem noção, fizera um horrível desenho dela na lousa com uma testona e corpo reto e escrevera com letras garrafais:
Marina testuda e plana, não passa de uma... XD
Sentiu uma vontade louca de arremessar as carteiras nos colegas, que riam sem parar.
Para tentar se controlar apertou os punhos com força, mantendo os braços esticados ao longo do corpo, mas seu esforço foi em vão, pois sua colega de classe Leona, uma ruiva, quatro olhos, mau caráter, bipolar e ignorante, decidiu humilha-la ainda mais.
— Aposto que o que completa a frase é o que melhor te descreve, piran...
Antes que a infeliz debochada terminasse de falar, Marina lhe desferiu um soco, fazendo a colega praticamente voar com brutalidade alguns metros adiante, derrubando carteiras e caindo estatelada no chão.
Para seu azar, que não estava sendo pouco naquele comecinho de semana, a professora casca grossa de biologia, Roberta Campos, uma morena alta, de corpo escultural, olhos escuros e cabelo preto preso num coque com alguns fios arrepiados soltos, entrou naquele exato momento. Resultado:
— Marina e Leona já para a diretoria!
Assim que Marina e Leona se retiraram da sala, um jovem loiro, pele bronzeada e brilhantes olhos azuis, se levantou indignado.
— Professora Campos, não é justo mandar a Marina pra diretoria. Ela foi atacada pela Leona.
Campos encarou o jovem com um leve sorriso.
— André Marinho sente-se, já vou começar a aula.
Sua voz tinha um tom alegre, mas quem a conhecia bem, o que não parecia ser o caso do jovem loiro, saberia que ela queria poder estrangular o jovem petulante.
— Professora, Marina só revidou, não merecia ser mandada pra diretoria.
— Marinho, se todos forem resolver as coisas na base do olho por olho, dente por dente, logo só haveriam cegos desdentados no mundo.
— Como...?!
Estava na cara que André não entendera o que a professora pretendera dizer, o que causou uma onda de gargalhadas.
— André, seu idiota, senta de uma vez.
Ordenou o melhor amigo e rival de André, Miguel Rodrigues, um jovem de pele clara, cabelos negros e orbes cor de ônix, que se encontrava sentado ao lado da carteira do jovem hiperativo com as mãos em frente à boca e o olhar indiferente.
Sua voz grave fez várias garotas suspirarem abobalhadas, mas em André só causou mais revolta.
— Miguel, seu imbecil, porque não faz alguma coisa? Marina é nossa amiga.
— Ela é mais forte que nós dois juntos, pode resolver isso sozinha. — Seu olhar passou de indiferente para irritado. — E não me chame de imbecil, seu idiota.
Todos observaram André colocar as mãos espalmadas em cima da carteira de Miguel e aproximar seu rosto ao do amigo/rival.
— Ah, e você pode me chamar de idiota, né imbecil? — gritou André com raiva.
— Não grite, imbecil — retrucou Miguel com a voz controlada, mas pronto para brigar.
Fora de controle André agarrou Miguel pela gola do uniforme preto, obrigando o amigo/rival a se levantar. Ambos já preparavam o punho para brigar quando a professora Campos abraçou André pelas costas, um braço em sua cintura, o outro em seu pescoço, o rosto colado ao do surpreso Marinho.
Ao falar a voz da professora saiu mansa, mas com o tom cruel, causando um arrepio na espinha do jovem aluno.
— Já que não fui suficientemente clara, você e seu coleguinha Rodrigues também vão pra diretoria.
— Mas... — começaram ambos a replicar.
— Sem mas
, ou então...
Diante dos olhos sanguinários, que mais pareciam de uma cobra pronta para dar o bote, e do tom maquiavélico, os garotos pegaram seus materiais e foram apressados para a diretoria.
Vendo satisfeita o encrenqueiro Marinho e o prepotente Rodrigues saírem apressados da sala, a professora Campos se voltou para os outros alunos com um sorriso radiante. Adorava mostrar que era ela quem mandava.
Voltou-se para a lousa, que fora limpa durante a confusão, e começou a escrever... Porém alguém teve a audácia de lançar uma bolinha de papel em sua cabeça.
As risadas recomeçaram com força total.
A professora abaixou devagar, as costas tensas e o humor dissolvendo-se, agarrou o papel, o desdobrou e viu o desenho de uma serpente com o seu rosto.
Uma nuvem negra parecia cobrir seu rosto ao olhar para seus diabólicos alunos, a língua deslizou pelos lábios ressequidos dando espaço para um sorriso sombrio.
Todos que estavam rindo ficaram sérios, o silêncio foi geral, alguns até seguravam o ar diante da expressão hostil e da aura maligna que a rodeava a professora.
— Quem fez este desenho? — perguntou com voz arrastada e feroz, as mãos estendendo a folha aberta para os alunos.
Ninguém respondeu.
Impaciente e cega de raiva, a professora Campos se voltou para o primeiro aluno á sua frente.
— Já pra diretoria!
A jovem de pele pálida, longos cabelos pretos e olhos cor de mel tentou se defender.
— M-mas... mas... prof... professora não fui eu... — gaguejou trêmula.
— Diretoria, agora! — berrou a professora a pleno pulmões.
Apavorada, Sophia Almeida correu porta afora como se mil demônios a perseguisse. Correu tão rápido que ultrapassou Miguel, André e até mesmo Marina e Leona, até entrar na diretoria quase sem ar e cair sentada, e desmaiada, na frente de uma surpresa diretora.
Quadrilha
"Amar sem ser amado é navegar num barco furado."
Despois de uma breve discussão para decidir quem seria o primeiro a falar, que resultou num enorme galo na cabeça de André, porque esse decidira impedir Marina de bater novamente em Leona, entrando na frente da colega ruiva e recebendo a porrada no lugar dela, a diretora decidiu que seria Miguel, que ficara em silêncio todo o tempo e não se envolvera na briga, que explicaria o que todos eles faziam ali.
Todos sentaram em frente à diretora, Leona na ponta à direita, seguida de André, Sophia, Miguel e por fim Marina na ponta esquerda.
A diretora Patrícia Flores, uma loira de olhos caramelados, ouviu atentamente o Rodrigues. Depois de terminada a explicação, resumiu todos os acontecimentos, para ver se entendera bem, pois não conseguia acreditar que no primeiro dia de aula já houvesse problemas para resolver.
— Então, Leona riu de um desenho ofensivo que fizeram da Marina e por isso apanhou. A professora Campos chegou e as mandou para a diretoria. Insatisfeito, André correu pra defender a colega e pediu a sua ajuda, mas você não gosta de se meter nos problemas dos outros e deixou isso bem claro pra ele, que se voltou contra você. A professora Campos apartou o começo de uma nova briga e os mandou pra diretoria também, só isso?
Como se fosse pouco
, pensou Miguel confirmando com a cabeça.
A diretora encarou um por um ao perguntar, somente Sophia, que continuava desmaiada, não confirmou.
— Agora, alguém me explica porque a senhorita Almeida também está aqui — mandou apontado para a jovem estirada na cadeira entre Miguel e André.
— Não faço a mínima ideia — declarou Miguel indiferente.
— Ela passou por nós como um furacão sem dizer nada, diretora Patrícia. — lembrou Marina com uma ponta de curiosidade.
— Deve ter vindo atrás do André — Leona presumiu com um sorriso cheio de malícia.
— Hein...! De mim, porque ela faria isso?
Para variar André não entendia nada.
— Aff... Imbecil.
— Isso foi pra mim, Miguel?
André se levantou irritado com o amigo, de novo, caçando briga, de novo, quando ouviu um murmúrio baixinho e viu Sophia abrir os olhos dourados e passar a mão na franja espessa.
Ao despertar, ela percebeu que todos na diretoria a encaravam com atenção e que estava do ladinho de André, seu amor platônico desde a quarta série, isso a fez corar imediatamente.
— Senhorita Sophia, posso saber por que está aqui. — Era um comando não uma pergunta.
Por um breve instante, bem breve, Sophia pensou em dizer a verdade: que fora vítima do mal humor da professora de biologia. Mas só de lembrar o olhar assassino e a raiva da professora Campos, que aumentaria se fosse repreendida pela diretora - outra casca grossa só que com mais poder -, decidiu mentir. O ruim era que não sabia mentir muito bem.
Desviou o olhar para suas mãos pálidas, que estavam com os indicadores batendo um contra o outro, o que era um mau sinal, pois só fazia isso quando estava nervosa ou desconfortável com alguma situação.
— E-eu...eu... — Droga, estava gaguejando, outro mau sinal. Engoliu á seco e juntou forças para falar mais claramente. — Eu fiz um desenho. — Deu um grande sorriso bobo e parou de bater os indicadores. Era uma ótima ideia assumir o desenho, pelo menos agora tinha uma explicação para estar na diretoria. — É eu fiz um desenho!
Todos a encararam como se ela tivesse ficado louca, o que fez que ficasse vermelha como um tomate maduro.
— Foi você que me desenhou na lousa? — perguntou Marina.
A jovem encarou a colega com desconfiança, os punhos fechados com força. Seja quem fosse, mesmo a doce Sophia, o autor do desenho sentiria na pele o tamanho do seu ódio e humilhação.
— Não seja irritante, Marina! Tá na cara que não foi a Sophia, ela jamais ofenderia alguém.
Todos estranharam Miguel defender Sophia, até mesmo ele, que fechou a cara e cruzou os braços, fingindo que não falara nada demais.
— Não é esse desenho, Marina, o outro — esclareceu Sophia voltando a ser o foco de todos.
— A professora Campos te mandou para cá por causa de um desenho? — questionou Patrícia exasperada.
Tudo aquilo estava começando a irritar a diretora, percebia que a Almeida estava mentindo ou pelo menos omitindo, a garota era mais transparente que um cristal.
— Era um desenho feio. — Pelo menos isso não era mentira. — Era uma serpente com a ca... — Só de lembrar do desenho Sophia travou. — Co-com a ca... cara da prof... profe...
— Desembucha logo, Almeida — gritou a diretora impaciente.
Sophia se assustou. A diretora Patrícia tinha o gênio mil vezes pior que o da professora Campos, todos tinham pavor dela, mesmo os pais dos alunos tinham medo de falar com ela, e Sophia não seria uma exceção.
Porque a brincadeira dos colegas sobrara para ela? Alguém realmente se divertia com sua desgraça. Devia ter grudado chiclete na cruz em outra vida.
— Vovó Patrícia, não grite com a Sophia — pediu André, fazendo Sophia corar e uma veia saltar na testa da diretora.
Era de conhecimento geral que Patrícia tinha mais de sessenta anos, mesmo se esforçando para esconder os sinais da idade, e muitos a chamavam de vovó pelas costas, somente André tinha coragem suficiente, ou burrice suficiente, para fazer isso na cara dela.
Ignorando o ódio nos olhos da diretora, André reparou o quanto a colega de olhos de mel estava vermelha.
— Acho que ela tá passando mal, tá tão vermelha, deve estar com febre.
Enquanto falava, André se inclinou na direção de Sophia, ficando com o rosto a milímetros do dela, e colocou a mão gentilmente por debaixo da franja espessa, tocando a testa da jovem para sentir se ela estava com febre como imaginava.
Ao ter o rosto de André tão próximo do seu e sentir o toque dele, Sophia ficou escarlate, se apavorou, jogou a cabeça com força para frente, na esperança de impedi-lo de ver seu embaraço, e acabou batendo sua cabeça na dele. Se pelo impacto, pela vergonha extrema ou pelo susto, nem ela saberia responder, o fato é que isso a fez cair desmaiada para o lado, bem em cima do colo de Miguel.
— Droga, tá satisfeito, idiota? Ela voltou a desmaiar e nem terminou de dizer o que faz aqui — reclamou Miguel abanando o rosto da colega.
— Mas o que foi que eu fiz? — quis saber André passando a mão no novo galo. — E até onde sei você nem tava interessado nessa história. — Olhou para o amigo com desconfiança.
Miguel encarou André com o olhar azedo.
— Bem, que seja. — Patrícia interrompeu entediada. — Tenho muito coisa para fazer, então como hoje é o primeiro dia de aula, só receberam suspensão e falta no boletim no dia de hoje. Mas, da próxima vez que vir qualquer um de vocês aqui chamarei seus responsáveis.
— Mas eu não fiz nada — retrucou Leona ajeitando os óculos e fazendo beicinho de choro. — A culpa é toda da Marina.
Ruiva bipolar desgraçada! Se te pego fora daqui te transformo em picadinho
, prometeu Marina em pensamento, a raiva transbordando em seu olhar.
— Não me importa — disse a diretora com pouco caso. — Vá cuidar desse olho roxo na enfermaria ou vá pra sua casa, mas suma da minha vista antes que me arrependa e chame seus pais.
Patrícia sabia muito bem que os pais adotivos de Leona, Antônio e Saulo, odiavam importunações durante o trabalho - o primeiro era um cientista e o segundo médico cirurgião -, eles sempre faltavam nas reuniões de pais por não gostarem de perder nem um minuto de trabalho, se os chamasse Leona estaria bem encrencada.
Leona já começou a imaginar o castigo que receberia se eles descobrissem que no primeiro dia de aula fora parar na diretoria, então decidiu ir para casa, cuidaria de seu olho lá enquanto imaginava uma desculpa esfarrapada para o mesmo.
— Vocês também vão embora — exigiu a diretora praticamente expulsando os alunos.
Marina e André se levantaram para sair, mas pararam ao perceber que Miguel continuar no mesmo lugar, com um braço apoiando a cabeça de Sophia e a outra mão abanando o rosto da colega na esperança de que isso a fizesse acordar.
— Mas e a Sophia? — quis saber o Rodrigues meio sem graça por fazer tal pergunta. — Ela vai continuar aqui?
Patrícia olhou para o Rodrigues intrigada. Nunca imaginara vê-lo preocupado com alguém, aquilo era muito interessante, ainda mais porque ele estava estranhamente corado.
— Podem leva-la pra enfermaria.
André se inclinou para pegar a colega, mas Miguel o fez antes dele, erguendo a pequena Almeida nos braços.
— Não acho que todos nós precisemos leva-la pra enfermaria, posso ir sozinho — disse o Rodrigues desviando o olhar.
— Pela primeira vez hoje concordo com você. — André se voltou para Marina com um sorriso enorme e os olhos azuis brilhantes em expectativa. — Que tal se fossemos ao Gelados? — convidou, referindo-se a lanchonete ao lado do colégio.
Marina, que até aquele momento olhava surpresa para o Rodrigues, se voltou para André, pronta para dizer que preferia acompanhar os colegas até a enfermaria, mas Miguel foi mais rápido e respondeu por ela.
— E lógico que a Marina vai, depois encontro vocês lá.
Ele virou as costas para os colegas e começou a caminhar em direção a enfermaria.
O comportamento de Miguel fez Marina se lembrar da conversa deles naquela manhã e uma suspeita fez seu coração gelar.
— Vamos, Marina! — disse André puxando a colega pela mão.
— Sim... — concordou aérea, sem tirar os olhos esmeraldas do Rodrigues caminhando com a Almeida no colo.
Com um leve sorriso nos lábios a diretora encostou-se a sua cadeira. O ano mal começara e a história daqueles quatro se repetia como uma poesia que certa vez ouvira, só precisava trocar os nomes.
— Sophia ama o André, que ama a Marina, que ama, junto com a maior parte das garotas do colégio, o Miguel, que não ama ninguém — recitou aumentando o sorriso. — Como terminará essa história?
Cansada
Gosto de um garoto, mas ele não se toca. Que culpa eu tenho de amar um idiota
A enfermaria ficava no final do corredor do primeiro andar do prédio do colégio, era um lugar bem afastado do barulho das salas de aula, que ficavam no segundo e terceiro andar. Suas paredes eram pintadas de azul bebê, que particularmente Miguel achava muito infantil, tinha um armário de medicamentos trancado com cadeado atrás da mesa da enfermeira do colégio, duas camas, uma poltrona marrom confortável para a enfermeira e três cadeiras de plástico desconfortáveis para os alunos, além de vários aparelhos que ele desconhecia o nome.
Miguel posicionou uma cadeira de plástico em frente a cama em que colocara Sophia, sentou e apoiou os cotovelos nas pernas, unindo as mãos na frente da boca e com as inexpressíveis olhos negros ficou admirando Sophia, ainda desmaiada. Sem dúvida nenhuma ela era uma das garotas mais lindas do colégio, adormecida parecia uma boneca de porcelana, perfeita e delicada, mas mesmo assim Miguel não conseguia entender as próprias atitudes em relação a jovem Almeida.
Internamente se fazia algumas perguntas.
Porque defendera Sophia quando Marina achara que fora a Almeida que fizera o desenho na lousa? Para ser bem claro realmente duvidava que Sophia fosse capaz de algo tão baixo. Além disso, Marina estava nervosa e espancaria qualquer um que ela achasse que fora o desenhista. O olho inchado de Leona era um exemplo disso.
Porque perguntara se a Almeida continuaria na diretoria? A resposta parecia ser simples: era sua colega, meio esquisita, mas não merecia ficar sozinha com a diretora.
Porque fizera questão de leva-la sozinho para a enfermaria? Simples também: alguém tinha que leva-la. André só faria escândalo e desde manhã queria distância de Marina.
Agora a pergunta que não queria calar, e para a qual não tinha uma resposta coerente: Porque diabos estava demonstrando preocupação pela colega com quem mal falava?
Devia ser um surto de loucura, porque não era do tipo que se importava com outra pessoa que não fosse ele mesmo. Se não estava enganado falara isso na diretoria. Sempre achou que cada um devia cuidar dos próprios problemas, era isso que mais o irritava em André, o colega se intrometia nas brigas dos outros o tempo todo.
Mas ao ver a delicada Sophia Almeida desmaiada por causa do amor deturbado que sentia por André, e que só o imbecil cego não via, sentira um estranho incômodo.
No principio achou que fosse piedade, mas logo se perguntou: piedade do que? Se a garota queria correr atrás do maior idiota da escola, que parecia ser o único em todo colégio que não via a adoração por ele nos lindos orbes cor de mel, era problema só dela.
Por isso preferiu considerar que o incomodo foi por ela cair em seu colo.
Não era cego como André - que parecia não notar Sophia de jeito nenhum -, já vira a garota com roupas mais atraentes que a saia preta e o casaco da mesma cor do uniforme escolar, mas especificamente o uniforme da aula de educação física, um short preto e uma camisa branca, que ficavam colados no corpo da Almeida como uma segunda pele, o que fazia vários garotos babarem ao vê-la. Podia não demonstrar, mas era um deles.
Achava impressionante que a saia de pregas do uniforme, que Sophia sempre usava bem abaixo dos joelhos, e o casaco de frio, que ela usava até nos dias mais quentes, escondessem um corpo cheio de curvas, com cinturinha fina, pernas roliças e durinhas, seios firmes e maiores que da maioria das garotas, a tentação com cara de anjo, tentação que tinha um perfume suave de flores que o embriagou desde o momento que ele sentara ao lado dela, que o fizera ter uma vontade louca de pega-la no colo, coisa que ele acabou fazendo, e leva-la embora, só que não pra enfermaria, para um lugar mais reservado, onde os dois ficassem sozinhos e...
— Miguel?!
Droga! Há quanto tempo Sophia estava encarando-o fixamente enquanto ele estava mergulhado em pensamentos nada inocentes que a incluíam?
— Oh, Sophia, acordou!
Pela surpresa da enfermeira da escola, uma morena, de cabelo curto preto e olhos negros, Miguel percebeu que fora há pouco tempo, o que foi um alívio.
Sophia se sentou na cama e passou as mãos pequeninas na saia para desamassa-la.
— Se sente melhor, senhorita Almeida?
— Sim, enfermeira Suzana — respondeu Sophia com um sorriso suave.
Suzana ainda avaliou um pouco a aluna antes de dispensa-la. Ao contrário da tia, a terrível diretora Patrícia, ela era um amor de pessoa, sempre gentil e prestativa com todos.
Sophia se levantou e começou a passar os dedos entre os fios lisos de seu cabelo preto azulado para ajeita-lo, percebendo depois de alguns segundos que o Rodrigues a observava com atenção e com um olhar estranho que a fez corar.
— An-André voltou pra sala?
Corou mais um pouco ao lembrar que André a tocou, na testa, mas tocou. Não conteve um suspiro apaixonado. Caso não fosse tão tímida talvez não tivesse desmaiado quando ele se aproximou muito.
Notou que o Rodrigues agora a encarava parecendo meio irritado. Se bem que ele sempre estava irritado com alguma coisa ou pessoa.
— Todos nós fomos suspensos. — Miguel fez questão de frisar o todos
, porque ela só parecia lembrar do seu adorado André.
— Su-sus... Suspensos...?
Sophia gelou até a alma só de imaginar a conversa entre seu pai e a diretora, realçando a cada momento o quanto ela era o desgosto para os Almeida.
— Não se preocupe. Ela não chamou nossos responsáveis — Miguel esclareceu ao perceber que ela estava mais pálida que de costume e ter uma leve ideia do motivo.
Isso tranquilizou em parte a Almeida. Agora tinha de pensar no que fazer até chegar a hora de voltar para casa ou em que mentira contar aos empregados, que estranhariam sua presença tão cedo em casa. E continuava sendo péssima em mentir.
— Pode me acompanhar ao Gelados.
Ao ouvir a proposta inusitada do Rodrigues, Sophia o encarou