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Yandra
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E-book103 páginas1 hora

Yandra

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Sobre este e-book

Yandra nasceu, cresceu e sempre viveu em Miranda, no Mato Grosso do Sul. Graduou-se em letras e lecionou na escola da cidade até se aposentar. Depois de aposentada decidiu se aposentar também do marido e seguir novo caminho.
IdiomaPortuguês
Data de lançamento11 de abr. de 2023
ISBN9786500424089
Yandra

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    Yandra - Aparecido Klai

    Yandra

    Yandra veio ao mundo exatamente às doze horas do dia oito de março. Por sua hora de nascimento recebeu esse nome que, segundo seu pai lhe dizia, significa metade do dia. E também por ter algum ancestral indígena na família.

    Nasceu mirandense, cresceu e viveu sempre na mesma cidade, alheia aos acontecimentos dos grandes centros do país. Mesmo Campo Grande, a capital de Mato Grosso do Sul, que só foi conhecer no final da adolescência.

    Quando menina e até atingir sua fase adulta, os estados de Mato Grosso e Mato Grosso do Sul formavam um único ente da federação, de modo que, além de mirandense, nasceu mato-grossense, mas, depois de sua maioridade, tornou-se sul-mato-grossense.

    Iniciou sua experiência como professora já durante o curso de Letras, no último ano da Licenciatura. Ela e uma amiga, Lúcia Terena, com a qual teve toda a trajetória de sua vida escolar ligada desde os anos primários até a graduação.

    A primeira lembrança que sempre lhe ocorreu dessa amiga Terena foi de um dia em que um grupo de quatro ou cinco meninos as incomodavam na saída da escola.

    Fizeram um círculo e empurraram-nas, puxaram seus cabelos lisos e negros, derrubaram seus materiais de escola.

    As duas só conseguiam fazer era chorar e torcer para aquela violência sem nenhum sentido terminar logo ou para algum adulto ir socorrê-las.

    Os meninos caçoavam das duas e ainda as ameaçaram:

    ─ Se contar para a professora, amanhã, na saída, tem mais.

    De repente, sem que vissem de onde, surgiu uma menina um pouco mais alta e mais forte do que elas e derrubou dois daqueles garotos. Os que permaneceram em pé conseguiram correr e não se arriscaram a interromper a fuga.

    Irascível, a heroína ainda espalhou os livros, cadernos, lápis e borrachas dos dois agressores pela calçada.

    Agarrou cada um deles pela camisa e sacudiu, provocando a queda de alguns botões, depois fuzilou-os com o olhar e disse:

    ─ Se contarem para a professora, amanhã, na saída, tem mais.

    Eles não contaram para professora alguma, mas um deles, Demétrius, teve que explicar para sua mãe como amarrotou e perdeu os botões da camisa.

    Preferiu nada dizer sobre as duas meninas que ele e seus amigos agrediram. Disse apenas daquela que lhe impôs tamanha humilhação.

    A mãe daquele pobre menino que violenta, injusta e covardemente fora agredido sem que pudesse se defender, segundo ela disse à diretora, se queixou e exigiu providências.

    ─ Esse não é um ato digno de uma pessoa civilizada, muito menos de uma menina e não pode ficar sem punição.

    A agressora foi identificada, não lhes deram chance alguma de se explicar, recebeu uma advertência por escrito e o aviso de que se houvesse reincidência, ela seria sumariamente suspensa. 

    Nos próximos dias, durante o recreio, ela procurou até encontrar Demétrius, o delator. Não teve dúvidas em ratificar o dito do dia anterior.

    Com o dedo indicador teso e praticamente lançado em direção ao rosto dele, que teve de curvar o corpo para trás para não ser atingido.

    ─ Te espero na saída. Quero ver se você é mesmo homem ou vai trazer a mamãezinha para te proteger.

    ─ Eu vou. Você vai se arrepender do que fez com os botões de minha camisa e com meu material escolar, sua moleca encrenqueira!

    Ele realmente a esperou. Como ainda era só um menino, se sentiu no direito de levar reforços, juntou outros nove fiéis escudeiros e dezenas de testemunhas curiosas.

    A menina surgiu no outro extremo do quarteirão, olhou para aquela multidão e não se deixou intimidar. Seguiu em direção ao dedo duro que, sorridente, acenava para que se aproximasse.

    Ao iniciar aquele último trecho de aproximação, um puxa-saco do delator tentou interromper o seu trajeto. Ela passou-lhe um rodo, pisou em sua mão e estampou a sola de seu sapato na camisa branca do infeliz. Olhou para o rosto aflito dele e mandou que sumisse dali.

    Ele desapareceu. Ou se escondeu.

    Demétrius assistiu aquela cena com tamanho espanto que aquele seu largo sorriso se encurtou e passou a ocupar uma área menor do seu rosto.

    Dois outros meninos caminharam decididos e apressados em sua direção e, quando chegaram ao alcance dos seus punhos, cada um deles levou um soco. O primeiro foi atingido pelo punho direito na boca, provocando um corte no lábio superior. O segundo foi atingido pelo punho esquerdo exatamente no septo nasal.

    ─ Você quebrou o meu nariz! Está sangrando. Vou contar para minha mãe. Você vai ver.

    Ela ignorou choros, queixas, sangramentos e lamentações, seguiu caminhando e olhando diretamente para o rosto daquele que lhe despertou tamanha fúria.

    Ao seu redor só percebia vultos assustados e se afastando de seu caminho.

    Um desavisado fez ainda uma última tentativa, começou a argumentar pela trégua, mas não teve tempo de concluir uma única frase. Tomou um tapa que lhe virou o rosto e recebeu uma carinhosa frase de incentivo.

    ─ Se não quiser levar outro, é melhor você sumir daqui. Seu covarde!

    Quando ela alcançou o garoto, ele já não sorria nem tinha mais comparsas, só algumas testemunhas. Ela arrancou o livro que ele mantinha debaixo do braço e deu com o livro com tanta força no rosto do menino, que derrubou um dos incisivos de leite e afrouxou outros mais.

    Depois saiu caminhando por entre o que sobrou daquele bando de alunos assustados, que se afastaram abrindo caminho para ela passar. Quase todos calados, mas ainda pôde ouvir algumas expressões de apoio:

    ─ É isso aí!

    ─ Esse briguento estava muito folgado, alguém precisava dar um troco a ele.

    Assim que ele chegou em casa com um dente a menos na boca e a camisa suja de sangue, a mãe quis saber o que aconteceu.

    ─ Meu dente de leite estava mole e caindo, eu puxei e sangrou um pouco.

    A mãe observou o aspecto geral do garoto, suas roupas sujas e rasgadas, seus livros e cadernos também sujos e rasgados, olhou para o relógio da parede, catou-o pela orelha e disse exatamente o que foi que aconteceu.

    ─ Seu mentiroso! Você ficou foi jogando bola com seus amigos e me chega assim, nesse estado. Acha que sou boba?

    Ele permaneceu calado.

    Foi desse modo que Yandra conheceu Adalgisa a quem carinhosamente se habituou a chamar de Gisa. E assim também conheceu Demétrius, sem imaginar que quase uma década e meia mais tarde aqueles dois estariam casados.

    Mesmo tendo uma

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