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Páginas em Branco
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E-book496 páginas6 horas

Páginas em Branco

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Sobre este e-book

~Sara dedicou dez anos de sua vida a Rodrigo Montenegro, seu marido~— Gritar não resolverá nossos problemas, só me irrita, Sara.— Tudo te irrita — retrucou farta de lutar por aquele casamento. — Queria nunca ter me apaixonado por um egocêntrico sem sentimentos... Te apagar para sempre do meu coração...Nem terminou de descarregar sua raiva e frustração quando, ao passar sobre uma poça d'agua, o carro derrapou.~Tempo que um acidente apagou de sua memória~Assustou-se e afastou a mão ao ver, em pé ao seu lado, um desconhecido alto e de porte imponente.— Ainda zangada? — Ele deslizou os dedos pelo cabelo curto, o tom seco evidenciando o desagrado com a atitude dela. — Sara, vamos parar com essa briga estúpida.— Não sei do que o senhor esta falando. Nem te conheço.~Em busca de respostas, resgata antigos relacionamentos~— Há quanto tempo. — Mantendo as mãos na cintura dela, ele a olhou de cima a baixo com interesse. — Está muito bonita.— Obrigada. — Sara sorriu acanhada.O tempo foi generoso com Robson, seu ex-namorado estava mais másculo, bonito e charmoso.~Enquanto cai de amores, novamente, pelo marido~— Nunca cansarei de fazê-la minha, Sara — Rodrigo confessou acariciando a face dela.Sara não se lembrava de ninguém a ter devorado daquela forma. Aquele, definitivamente, era um bom motivo para ter se casado com ele, pensou em meio à névoa de paixão que envolvia sua mente e corpo.
IdiomaPortuguês
Data de lançamento9 de nov. de 2022
ISBN9781526041968
Páginas em Branco
Autor

Luciy Moon

Desde os 7 crio histórias para me divertir. Com o intuito de melhorar a escrita, participei de curso de escrita criativa, desafios na internet e atualmente faço Marketing Digital para divulgar minhas obras.

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    Páginas em Branco - Luciy Moon

    Páginas em Branco

    Luciy Moon

    Direitos autorais do texto original © 2018

    Mundo Luciy

    ISBN: 978-65-998209-6-0

    Todos os direitos reservados

    Sumário

    Luciy Moon

    Prólogo

    Onde estou?

    O que aconteceu comigo?

    Dez Anos

    Quem é você?

    Passado/Presente-em-sua-mente

    Oferta

    Marido

    Bem Vinda

    Desfazendo do título

    Fingindo

    Senhora Montenegro

    Pesadelo

    Mulher de vermelho

    Sumiu

    Sem rumo

    Irônico

    Não te reconheço

    Iceberg tentador

    Velho amigo

    Eu lembro

    Minha novamente

    Pequena lembrança

    Figura Acinzentada

    Era você...

    Bom marido

    Insegurança

    Casamento perfeito

    Senhor leonino

    Controle

    Só com você

    Jogo duplo

    Pedido

    Rumo Tempestuoso

    Não era assim

    Culpa

    Revista

    Diferente

    Histórico amoroso

    Cuidado

    Prefiro você

    Inimiga

    Homem certo

    Inconsequência

    Eterno namorado

    Homem das cavernas

    Ordem

    Rosa-choque

    Surpresa

    Preso

    Apelido

    Caixinha de surpresas

    Veneno

    Rotina

    Poético

    Marionetes

    Regredi no tempo

    Aprovou

    Meio termo

    Minha irritante

    Fragmento

    Vitória

    Importantes

    Charada

    Libertar

    Perdão

    Enfeitada

    Atormentada

    Visões

    Vermelho

    Limbo

    Não pense

    Desforra

    Efeito dominó

    Esperança

    Castelos de cartas

    Preço

    Decisão Final

    Conseguiu

    Algazarra

    Pedido de divórcio

    Conselho

    Não faz sentido

    Erros e Acertos

    Queda

    Impacto

    Mereci

    Vítima e vilã

    Infinitamente

    Choupana

    Não te esqueças de Mim

    Epílogo

    Luciy Moon

    Desde os 7 crio histórias para me divertir, a cerca de 10 anos posto histórias com o pseudônimo de Luciy Moon, K. L. Moon e K. Luciyn. Com o intuito de melhorar meu trabalho no mundo literário, participei de curso de escrita criativa, desafios na internet e me formei em Marketing Digital.

    Agradeço imensamente o apoio imenso da minha mãe e dos meus leitores.

    Amo ler o que meus leitores têm a dizer e sugerir, sem vocês, estrelas da minha vida, sou só o rascunho de uma escritora.

    ~

    Encontre-me:

    Instagram / Kwai / TikTok: @mundoluciy

    Twitter: @Luci_0285

    Dreame / Buenovela / Hinovel / Fizzo: Luciy Moon

    Wattpad: @LuciyMoon

    UICLAP (Livro Físico): mundoluciy

    Prólogo

    Em seus vinte e sete anos, Sara cometeu muitos erros, a maioria por amor. Rastejou e escavou tão fundo por amor que se tornou impossível enxergar uma saída, uma forma de reverter os atos impulsivos e perversos que cometeu. Arrependia-se? Normalmente a resposta seria um alegre e confiante Não, mas naquele dia o Sim dilacerava seu coração, da mesma forma que Rodrigo Montenegro, seu amado e idolatrado marido, acabara de fazer.

    Apertando sua bolsa preta junto ao corpo magro coberto por um vestido vermelho, saiu do elevador a passos largos, o salto fino ecoando pelo estacionamento da empresa do marido. Próxima ao seu Corvette Vermelho, estacionado em uma vaga privilegiada perto dos elevadores, apertou o botão para destravar o veículo e desarmar o alarme. Eram uma das poucas vantagens obtidas após casar com o insensível Montenegro, algo que trocaria sem pensar duas vezes por uma vaga no coração dele.

    Entrou no carro, batendo a porta com força excessiva, e, após lançar sua bolsa no banco ao seu lado, colocou o cinto de segurança e jogou o corpo contra o assento. Inspirou fundo e esfregou os dedos nos olhos, tentando tranquilizar-se e secar as lágrimas que não paravam de brotar. Foi em vão, o único resultado obtido foi transformar a maquiagem, sempre perfeita, em borrões manchando seu rosto e mãos.

    Não aguentava mais sua vida vazia, seu casamento frígido, amar sem ser amada. Não queria mais viver assim.

    Desistindo de controlar as lágrimas e precisando fugir do que lhe causava sofrimento – o homem amado -, deu partida no carro. Saiu furiosamente para as ruas molhadas pela chuva que caia desde manhã. Com a vista prejudicada pelo choro, enxergava a pista borrada, as luzes e carros embaçados.

    — Cretino... Como pode...? — balbuciou batendo a mão direita furiosamente no volante, sentindo a garganta dolorida e o coração em frangalhos.

    Sentia-se perdida e com as emoções fora de controle. Acima de tudo, sentia-se traída e abandonada.

    De dentro da bolsa, seu celular tocou. Sabia quem era e não atenderia de jeito nenhum.

    — Safado... Quem ele pensa que é...?

    Não merecia tamanho desrespeito, não vindo da pessoa que a fez desistir de seus sonhos, para quem dedicou cada segundo de sua vida desde que o conheceu. Rodrigo, o amor de sua vida, tomara posse de seu coração, o manipulara e agora - quando tudo que ela tinha no mundo era ele - o tirou do peito dela e pisoteou sem dó.

    O toque do celular persistia, enfurecendo-a. O desgraçado sabia ser insistente quando queria.

    Nervosa, segurou o volante com a mão esquerda e com a direita abriu a bolsa, vasculhando seu interior em busca do aparelho. Agarrou o objeto retangular e olhou para a tela, em busca do nome confirmando a pessoa que ligava. As lágrimas impediam que enxergasse com clareza, restando somente à opção de atender. Ao fazê-lo reconheceu de imediato à voz grave.

    — Sara, o porteiro avisou que você saiu em alta velocidade. O que pretende? Se matar?

    — Ah, vocês adorariam isso... Assim estariam livres de mim... — zombou furiosa, a voz dolorida e a alma em pedaços.

    Com a vista encoberta pelas lágrimas e os sentidos descontrolados, pisou fundo no acelerador. Doía tanto ama-lo, escrever em sua mente uma vida inteira de felicidade ao lado dele e perceber que nunca se realizaria. Ele jamais a amaria e desejaria como amava e desejava a outra.

    — Não diga tolices e nem seja inconsequente. Volte para conversarmos.

    Sempre repetiam o mesmo roteiro. Ele a magoava com seu desamor e depois dizia que ela era irracional. Dessa vez não o obedeceria, não engoliria seu orgulho e seu amor próprio para satisfazê-lo. Nunca mais se ajoelharia pedindo perdão e uma chance de mostrar que podia ser suficiente.

    — Inconsequente... Tolice...? — Riu com amargura, os dedos fechando-se com força no volante, o pé afundando ainda mais no acelerador. — Fiz de tudo para te agradar... Abandonei meus sonhos por amor a você... E veja como me agradeceu... E eu que sou a inconsequente...? — gritava com toda força que ainda lhe restava para que sua voz saísse em meio ao choro. — Você não presta... Te amar é o maior erro da minha vida...

    — Gritar não resolverá nossos problemas, só me irrita, Sara.

    Gargalhou histérica, tirando a outra mão do volante para esfregar os olhos e secar o mar prejudicando sua visão.

    — Tudo te irrita — retrucou farta de ser apontada como o problema do relacionamento deles, de lutar por aquele casamento. — Nada te deixa contente... Cansei de tentar... Queria nunca ter me apaixonado por egocêntrico sem sentimentos... — Sentindo o carro mover-se para o lado e ouvir a buzina alta do veículo atrás do seu, voltou à mão livre a direção, ainda sem conseguir enxergar nada a sua frente. Tinha dado tudo de si para Rodrigo e, em retorno, não recebeu nada. — Se eu pudesse, passaria uma borracha nos últimos anos e te apagaria para sempre do meu coração...

    Nem terminara de descarregar toda sua raiva e frustração quando, ao passar sobre uma poça d'agua, o carro derrapou. Largando o celular, Sara agarrou o volante com força e pisou fundo no freio, o que se mostrou um erro. O carro empinou para frente, capotou várias vezes e, em alta velocidade, chocou-se com força contra um muro, o estrondo assustador erguendo-se acima do barulho da chuva e dos outros carros freando para não se chocarem contra o veículo desgovernado.

    Com o impacto desmaiou instantaneamente, a cabeça caída para frente, o sangue escorrendo sobre sua face, o corpo preso nas ferragens. Não viu os carros freando e parando ao redor do acidente, não escutou os gritos das pessoas tentando acordá-la e nem as sirenes. Também não ouviu a voz sempre fria e controlada, do outro lado do aparelho telefônico, lançado para fora do veículo durante o impacto, aumentar o tom e demonstrar, pela primeira vez em dez anos, preocupação por ela.

    — Sara que barulho foi esse? O que aconteceu? Sara, me responda, por favor!

    Onde estou?

    O corredor a sua frente era longo, o piso, as paredes e o teto eram brancos cobertos por douradas inscrições pequeninas. Sara tentou ler o que diziam, mas não conseguia, pareciam desbotar a cada esforço que fazia para compreendê-las.

    O local era bem iluminado e havia enormes livros de cada lado, todos com números enormes no meio e o seu nome, Sara Almeida, em brilhantes letras de ouro. Sentindo-se minúscula perto dos grandes encadernados, Sara caminhou devagar.

    Ao parar na frente de um livro, ele se abria. Folhas viravam lentamente, letras formavam palavras, frases e se mesclavam até que, como mágica, Sara era transportada para alguma cena referente ao número do livro.

    No volume sete, viu-se pequena olhando para sua mãe falando no telefone. Sua mini versão admirou a roupa imaculadamente branca - uniforme de trabalho no hospital geral de Cezário -, assim como o cabelo castanho claro preso em um coque.

    O rosto de Minerva Almeida estava vermelho, os olhos furiosos e a voz irritadiça aumentava a cada segundo da ligação. Preocupada, a pequena Sara caminhou até a mãe, que a repeliu sem nem mesmo olhar, sem reparar que a rejeição encheu os olhos verdes da filha com lágrimas.

    A pequena Sara correu, passando pela Sara observadora, entrando no quarto, se jogando na cama e dando vazão ao choro. Minerva encerrou a ligação minutos depois e chamou a filha. Sua versão menor engoliu o choro e foi até a mãe esperando um abraço, uma demonstração de afeto. No entanto, sempre apressada, Minerva a levou até a vizinha, para quem pediu que olhasse a filha enquanto trabalhava.

    Amargando a recordação da constante falta de carinho da mãe, a Sara observadora continuou a andar, vendo outros momentos tristes, felizes, de bobeira, de silêncio de sua vida em cada volume.

    No de numeração doze, observou sua versão adolescente caminhar de mãos dadas com seu primeiro namorado. Sorriam, o sol iluminando sua face, seu corpo aproximando-se do rapaz. Podia sentir, como se eclipsando as reações da lembrança, o rosto dolorido de tanto sorrir.

    No quinze estava no quarto do segundo namorado. Mãos afobadas, roupas sendo jogadas longe, uma tarde de descobertas na casa dele após, inconsequentemente, faltarem à aula.

    No dezesseis chorava copiosamente. Sua mãe a reprovava, dizia que era fraca, emotiva, que devia se dar o valor.

    O seguinte, de número dezessete, não se abriu, não folheou e nem mostrou alguma cena para a Sara observadora. Curiosa, caminhou até ele e o abriu com as próprias mãos, tendo que colocar toda sua força devido o tamanho descomunal da capa e das folhas. Na primeira folha, no lugar de serem douradas, as letras eram acinzentadas, fixas, mas que mesmo assim Sara não conseguia ler. Virou mais e mais folhas, mas todas estavam do mesmo jeito. Não havia lembranças, não conseguia ler o que havia escrito e quando forçava os olhos e a mente para compreender algo, as letras sumiam e só restavam páginas e mais páginas em branco.

    Seguiu para os outros volumes, sentindo uma sensação opressora no peito, um sentimento de erro, de falta, e, assim como o dezesseis, os demais a partir dele estavam do mesmo jeito. Letras acinzentadas que sumiam quando se forçava a lê-los. Reparou que os números e o nome na capa também tinham coloração diferente das anteriores, estavam acinzentados, quase apagados.

    Angustiada, virando mais e mais páginas do volume vinte, cujas palavras desapareciam assim que as olhava, assustou-se quando as luzes piscaram e um eco aterrorizante reverberou pelo corredor.

    — Dentro destas páginas só há palavras que doem e sangram.

    Foi quando a viu, em pé em frente ao último volume no corredor, sua mão pousada no meio do grande número vinte e sete. Aquele volume, diferente dos demais, tinha a numeração em vermelho e o sobrenome estava apagado. Não conseguia ver o rosto da mulher, tanto por causa da distância quanto por ela estar voltada para o número. Mas conseguia perceber que usava um vestido vermelho na altura dos joelhos, os pés descalços, o cabelo uma massa de desordenados fios acobreados.

    — O livro do amor é como um jogo cruel. Você o ganha apenas para perder. — A voz triste e chorosa ecoava pelos corredores, causando um frio em sua espinha. — Perco meu tempo vendo os dias passarem, me sentindo insignificante, esperando que pense em mim, que diga que me ama.

    A mulher caiu de joelhos no chão, às mãos no rosto, lágrimas pingando em seu vestido.

    O choro aumentou de intensidade, perturbando Sara. Quis se aproximar, mas sentiu as pernas pesadas e os pés presos no chão. Abriu a boca, querendo consolar, perguntar o que abatia a mulher de vermelho, mas nenhuma palavra passava por sua garganta.

    A mulher ergueu os olhos, dois brilhantes círculos verdes, voltados para Sara, a face retorcida de dor e ódio flamejante.

    — Se eu pudesse, passaria uma borracha nos últimos anos e te apagaria para sempre do meu coração.

    Aquelas palavras atingiram Sara como socos por todo seu corpo, empurrando-a para trás com força descomunal, golpeando violentamente sua cabeça. Sua vista escureceu e tudo ao redor sumiu, mas ainda conseguia ouvir o choro doloroso da mulher de vermelho misturado com um ruído agudo.

    ~*~

    Um ruído irritante e insistente se infiltrou em seus ouvidos, alastrando-se, latejante e dolorosamente, da raiz dos cabelos até às sobrancelhas. Forçou as pálpebras a se abrirem. Uma fresta foi o suficiente para gemer, a luz aumentando a dor por cada centímetro de sua cabeça, e fazê-la cerrar os olhos com um gemido trêmulo.

    Confusa, com uma sensação pastosa na língua, braços e pernas pesando como chumbo, Sara insistiu e, piscando para se adaptar a claridade, conseguiu ver o que a cercava. E não reconheceu nada.

    Tentou se mover, mas, além de pesarem, seus braços tinham fios, agulhas, gazes e tanto aparato que teve medo do que aconteceria se os desconecta-se sem ajuda.

    — Onde estou...? — perguntou, a voz saindo esganiçada, a garganta seca e cortante.

    A falta de resposta a desesperou, assim como as dores por todo seu corpo. Não compreendia como acabou naquela situação.

    O que aconteceu comigo?

    Para o alívio de Sara, uma mulher toda de branco apareceu em seu campo de visão ainda embaçada. Assim como sua vista, sua audição estava prejudicava, pois ela movia os lábios, mas nada parecia compreensível para a mente confusa de Sara.

    — Onde estou? — repetiu a pergunta com esforço, a garganta seca e dolorida dificultando a fala.

    No lugar de fazer Sara compreender o que falava, a mulher se afastou.

    O barulho da porta fechando retumbou dolorosamente nos tímpanos de Sara, que se encolheu na cama, no rosto uma máscara de dor.

    Fechou os olhos e inspirou profundamente, tentando acalmar o coração e não surtar. Erguei a mão devagar, levando-a ao rosto ao notar que havia algo em seu nariz. Mais tubos. Continuou a explorar e seus dedos encontraram um pano em volta de sua cabeça. Bandagens, supôs, concluindo que as pontadas na cabeça se deviam a alguma ferida ali.

    Piscou para aclarar a vista e a mente, forçando-se a captar os objetos. Aos poucos focalizou as coisas ao redor. Estava em um quarto espaçoso, com paredes, chão e móveis brancos. Do seu lado direito havia uma máquina emitindo um barulho incomodo, dela saiam vários fios que se conectavam ao seu corpo. A esquerda tinha uma cômoda, lotada de vasos com vários tipos de flores, cartões e ursinhos, uma janela fechada e uma poltrona. Na sua frente, acomodada em um suporte no teto, uma televisão ligada, transmitindo a conversa de um grupo de pessoas. Ficou evidente que estava em um quarto de hospital.

    O que aconteceu comigo?. Nenhuma informação coerente lhe vinha à mente, nada explicava como acabara naquela situação, por mais que se esforça-se.

    Gemeu, fechando os olhos com força quando uma dor intensa fez tudo a sua volta rodopiar.

    Não soube quanto tempo depois, mas, ouvindo passos se aproximando, abriu os olhos e viu, passando pela porta aberta duas mulheres. Uma era baixinha, de cabelo castanho preso em um coque alto, trajando um vestido branco. A outra, usando calças e jaleco branco, era alta e tinha longo cabelo loiro preso na nuca. Não conhecia a primeira, mas identificou rapidamente a segunda.

    — Madrinha...? O que... Aconteceu...? — perguntou com dificuldade, a garganta seca e a língua grudenta atrapalhando sua fala.

    Tatiana Santana, a melhor amiga de sua mãe, sua madrinha e uma médica renomada na capital de São Paulo, se aproximou com um sorriso aliviado.

    — Estamos no hospital, querida. — Segurou a mão de Sara com carinho. — Você ficou em coma por duas semanas após o acidente. Deixou todos apavorados. — Sua voz transmitiu preocupação e reprovação ao questionar: — No que estava pensando, Sara? Você sabe o que acontece com quem dirigi em alta velocidade. Podia ter ferido outras pessoas ou morrido. Não faça isso novamente, eu te proíbo.

    Como médica, Tatiana sabia que devia confortar os pacientes, mas aquela jovem era sua pupila, afilhada e filha de sua melhor amiga, falecida em um acidente semelhante ao sofrido por Sara. Tinha que colocar um pouco de juízo na cabeça dela.

    — Que acidente...? — questionou sentindo a cabeça rodar ao tentar entender o que ouvia. Parecia que tinha chumbo por todo seu corpo, pressionando seu cérebro, empurrando-o para o vazio da incompreensão, esmagando seu corpo e mantendo-o preso ao leito.   — Nem sei dirigir — comentou baixinho, confusa com a acusação. Não fazia sentido.

    — Não se preocupe. É normal esquecer alguns fatos após tanto tempo em coma. — Tatiana acenou para a outra. — Essa é sua enfermeira particular, Silvia Vasques — apresentou, antes de declarar sorrindo: — O Rodrigo fez questão de contrata-la para ficar ao seu lado o tempo todo. Ele fez de tudo para garantir seu conforto — declarou esperando que a informação alegrasse sua afilhada, afinal, o mundo dela girava em torno do marido.

    — Quem é Rodrigo? — Sara questionou confusa, sem reconhecer o nome ou que importância teria em sua vida.

    Os olhos da médica se estreitaram, analisando Sara com ainda mais atenção e preocupação. 

    — Sara, qual é o último fato importante de que se lembra?

    Ao pensar no assunto, Sara sentiu a mente embaralhada, a cabeça pesava e novamente uma dor imensa quase a fez desmaiar.

    — Como assim? De que tipo? — perguntou com as pálpebras fechadas, massageando a fronte com a mão, o alívio não vindo como o desejado. Ao contrário, até seu toque parecia agulhas espetando sua pele.

    — Aniversário, formatura, enterro, batizado ou casamento. — A médica indicou atenta a qualquer mudança na expressão da afilhada às palavras citadas. Não viu nada, nem mesmo um brilho de que alguma delas a impactava de alguma forma.

    Sara não entendeu muito bem o porquê, mas teve a ligeira impressão que sua madrinha deu ênfase na última palavra.

    Fechou os olhos, inspirou fundo, expirou devagar, método que sua mãe dizia servir para alinhar os pensamentos, e tentou lembrar-se de algo, sua mente estava lenta, mas, por fim, aproximou-se de uma resposta.

    — Teve a festa de pijama na casa da Isabel. — Olhou para cima pensativa antes de continuar — Ela conseguiu ser aprovada em matemática ou física... Não lembro direito em qual matéria... Isabel, Laura e eu comemoramos ouvindo música, dançando e comendo pipoca.

    Sua resposta pareceu não agradar sua madrinha, pois torceu os lábios com claro desgosto.

    — Sabe em que ano estamos, Sara?

    Essa pergunta era fácil.

    — 2008.

    De novo a cara de desgosto. Pelo jeito essa resposta também não agradara, porém, ela não fez outras.

    Com a ajuda da enfermeira Silvia, Tatiana a examinou e, ao fim, a enfermeira saiu e quando voltou entregou um vidrinho para Tatiana.

    — Tome esse remédio e descanse um pouco — sua madrinha comandou estendendo um comprimido e um copo de água. — Mais tarde farei novos exames.

    Obedeceu, tanto pelo tom de Tatiana, que nunca aceitava não como resposta, quanto por sentir o corpo pesado e dolorido. Tomou o medicamento, se endireitou na cama e fechou os olhos. Descansar parecia uma ótima ideia.

    Dez Anos

    Sara mergulhou em um tranquilo mundo sem sonhos e despertou com um agradável calor em sua mão, junto com caricias na palma, fazendo sua pele se arrepiar a partir daquele ponto.

    Abriu os olhos sorrindo, esperando ver seu namorado ao seu lado. Assustou-se e afastou a mão ao ver, em pé ao seu lado, um desconhecido alto, de porte imponente, vestindo blusa social branca, calça risca de giz e paletó do mesmo material.

    — Vim o mais rápido que pude — ele disse os olhos cor de carvão analisando Sara de um modo intenso e estranho.

    Encolheu-se no leito, levantando o lençol até o pescoço.

    Não notando, ou não ligando, para o medo refletido em seus gestos, o homem inclinou-se. Apavorada por perceber que ele planejava beija-la, mesmo com o corpo fraco e mole, em um ato de proteção, Sara espalmou as mãos no tórax do estranho e o emburrou.

    — Ainda zangada? — Ele deslizou os dedos pelo cabelo curto, o tom seco evidenciando o desagrado com a atitude dela. — Sara, vamos parar com essa briga estúpida.

    — Não sei do que o senhor esta falando. Nem te conheço — revidou assustada com o jeito que ele falava com ela e com a tentativa de beija-la.

    Confuso, o homem a encarou fixamente como se quisesse ler seus pensamentos.

    Uma pressão no peito de Sara a fez arfar, sua garganta ardia e tinha uma vontade intensa de chorar. Desesperada por ter um estranho em seu quarto, em pânico Sara olhou ansiosa ao redor, identificando Silvia sentada perto da janela.

    — Por favor, chame a minha madrinha — pediu apavorada, apontando o homem ao seu lado. — E leve esse senhor com você.

    Silvia olhou de um para o outro com olhos arregalados, abria e fechava a boca, mas nada dizia e nem fazia o que lhe foi pedido. Sara estava a ponto de gritar com a enfermeira quando Tatiana entrou no quarto.

    — Madrinha... — Sara chamou sentindo-se sem ar e trêmula.

    Tatiana foi para perto, examinando-a. Percebendo que Sara olhava apavorada para o homem parado observando-a, pediu:

    — Rodrigo, me espere em minha sala.

    O estranho titubeou, a expressão fechada fitando Sara. Exasperada com a resistência do homem em fazer o que pediu, Tatiana praticamente o colocou para fora do quarto e, depois de fechar a porta, retornou para o lado de Sara.

    — Quem era aquele homem? Ele tentou me beijar.

    — Querida, descanse um pouco. Daqui a pouco conversaremos — Tatiana prometeu antes de deixa-la em companhia da enfermeira.

    Dessa vez, incomodada com a estranha visita, não conseguiu fazer o que lhe foi pedido. Estava em um hospital e, com exceção de Tatiana, estava sem nenhum de seus conhecidos por perto.

    Olhou para as flores, cartões e ursos no quarto, sinal de que tivera visitas.

    — Silvia, por favor, pegue aqueles cartões pra mim.

    A enfermeira rapidamente pegou todos e levou até ela.

    Sara abriu cada um, eram cinco no total. Um era de Laura, sorriu ao lembrar-se da amiga de infância. Estranhou que a assinatura dela e os desejos de melhoras vinham junto ao nome Júlio. O único rapaz que conhecia com esse nome era um colega delas do colégio, por quem Laura era secretamente apaixonada. Estavam juntos, agora? Quanto tempo passou desacordada? O que perdeu nesse tempo?

    Inspirou e espirou para conter a aflição que fazia suas mãos tremerem e um frio subir por sua espinha.

    Abriu o segundo cartão, não havia assinatura e a mensagem era estranha, sobre ela ter conseguido o palco que sempre desejou.

    Os outros dois tinham mensagens genéricas dos próprios cartões com a assinatura de Rodrigo Montenegro. Reconhecendo o nome que Tatiana usara com o estranho, perguntou-se quem seria. Um médico? Amigo de sua mãe? Mas, se assim era, por qual motivo tivera coragem de tentar beija-la?

    — Só tem esses? — perguntou para a enfermeira, estranhando não ver cartões assinados por seus amigos do colégio, por sua mãe e nem pelo namorado.

    Silvia remexeu entre os vasos e ursos, depois confirmou que eram os únicos.

    Afundou a cabeça o travesseiro, respirou fundo e pediu a si mesma calma, logo Tatiana retornaria e perguntaria tudo sobre seu estado, o tal acidente e pediria pra acharem sua mãe. Tinha quem manter a calma até Tatiana voltar com respostas, se exigiu fitando o teto, os dedos batendo impacientes no colchão.

    ~*~

    Andando de um lado para o outro do escritório de Tatiana, Rodrigo Montenegro tinha todos os pensamentos voltados para a esposa.

    Quando recebera a notícia que Sara despertara, através da enfermeira que contratou, largou o trabalho e dirigiu para o hospital o mais rápido que lhe era permitido por lei. Encontrava-se ansioso em rever os brilhantes olhos esverdeados e resolver definitivamente os problemas entre eles.

    Devido ao que ocorrera antes do acidente, não esperava uma recepção calorosa. Mas o que vira estampado na face dela não fora raiva ou ressentimento, longe disso. Sara parecia ter medo dele e não reconhecê-lo.

    Podia ser fingimento. A esposa tinha a péssima mania de transformar tudo em uma tragédia grega. Mas, por qual motivo ela fingiria não conhecê-lo?

    A resposta apareceu veloz e na voz furiosa da esposa antes do acidente.

    Te amar é o maior erro da minha vida.

    Aquelas palavras tinham perturbado seus dias e noites, pois se sentia culpado pela constante instabilidade dela. O amor obsessivo da esposa o sufocava, mas jamais desejou vê-la machucada e inconsciente em um leito de hospital.

    Ouviu o barulho da maçaneta e observou com ansiedade Tatiana entrar na sala, que ela ocupava como diretora do hospital particular Santana, situado no centro da capital paulista.

    — O que Sara têm? — questionou colocando-se na frente da médica.

    Mesmo compreendendo a angústia de Rodrigo, afinal, ele tinha grande parte da culpa pelo que ocorrera, Tatiana não gostou do jeito que lhe abordou, como um policial interrogando um criminoso. Se o gênio do Montenegro era ruim o seu era pior, porém decidiu colocar Sara a frente de suas diferenças.

    — Farei alguns exames para ter certeza, mas, previamente, creio que está com perda parcial de memória; — Seu tom era profissional e distante, quando por dentro estava preocupada. — É comum após um longo tempo inconsciente, principalmente se levarmos em conta o forte estresse na hora do acidente e o ferimento na cabeça. — Por sua culpa, pensou em acrescentar, mas se conteve. Esse tipo de acusação não ajudaria à afilhada.

    Não simpatizava com Rodrigo. Por causa dele Sara perdera o amor próprio e passara a viver para agradar o marido, mesmo que significasse esquecer que também precisava ser agradada. Duvidava que a afilhada soubesse o que era ser amada de verdade.

    — Comum? Como perder a memória pode ser considerado comum?

    — Em alguns casos a memória volta em algumas semanas, meses... — A voz profissional falhou fazendo Rodrigo a encarar interrogativo.

    Percebeu que havia algo a mais que Tatiana evitava contar. Toda aquela situação, formada ao ser comunicado que sua esposa saíra em alta velocidade da sua empresa, o deixava nervoso, estressado e, não conseguia mais negar, preocupado.

    — Se tem algo a dizer, o faça logo — ordenou, o tom imperativo de um homem acostumado a ser obedecido.

    Tatiana sentou em sua poltrona marrom e apontou a cadeira a sua frente, indicando que ele também sentasse. Rodrigo o fez visivelmente irritado.

    — Devo prepara-lo para o fato de que pode demorar anos para isso ocorrer.

    A informação fez Rodrigo gelar.

    — Ela nunca se lembrará de nada?

    — Só parte da memória foi apagada, o que aumenta as chances de que logo se recorde de tudo ou boa parte do que esqueceu.

    Algo lhe dizia que não iria gostar da resposta, mesmo assim perguntou:

    — O quanto ela esqueceu?

    — Dos últimos dez anos.

    Quem é você?

    A resposta não agradou a Rodrigo. Há dez anos, ele e seu irmão Izaque, se mudaram da capital de São Paulo para uma pequena cidade do interior do estado chamada Cezário. Lá conheceu várias pessoas, entre elas, Sara, sua esposa.

    — Dez anos? Ela não se lembra de mim?!

    Bela conclusão, Montenegro, pensou Tatiana, gostando de ver a expressão normalmente indiferente ficar surpresa, confusa e até um pouco apavorada.

    — Temos de ter esperanças — aconselhou.

    Rodrigo se levantou furioso e bateu o punho fechado na mesa de Tatiana.

    — Esperanças? Estou tendo essa merda de esperança há dias. Estou farto de ouvir todos me dizendo para ter esperanças.

    A diretora do hospital também se levantou irada. Não era obrigada a aturar os ataques daquele esnobe que se achava o dono do mundo, nem ao menos gostava dele, então não precisava ser gentil.

    — Compreendo seu nervosismo, mas se descontrolar não ajuda em nada — praticamente gritou. — Sara vai precisar de nós, todos nós, quando se der conta do que está acontecendo. Se perdermos o controle quem sofrerá será ela. — Voltou a sentar, respirou fundo e recobrou o tom calmo e profissional, mas com um toque frio e cheio de cinismo. — Creio que você, mais que qualquer um, não quer que isso aconteça, estou certa, Montenegro?

    Rodrigo se deixou cair pesadamente de volta na cadeira.

    — Sim, está — falou apertando os punhos com força. — A culpa é minha, se não tivesse permitido que ela saísse da minha sala nervosa...

    — Não é hora de achar culpados — interrompeu Tatiana. — Nesse momento temos de ser fortes, por nós e por Sara.

    Mesmo dizendo isso, Tatiana achava que o Montenegro tinha a maior parcela de culpa. Uma pequena parte era da própria Sara, por dirigir em alta velocidade ao perceber que casara com um iceberg.

    — Droga! — resmungou o Montenegro.

    Cobrindo o rosto com as mãos, Rodrigo tentava não se culpar, mas não conseguia. Porque sempre afastava ou perdia as pessoas que lhe eram importantes?

    — E se ela nunca se lembrar de mim?

    Ver o Montenegro sofrer de culpa, ou algo semelhante, fez Tatiana ter pena dele. No fundo de seu coração e do seu modo, Rodrigo nutria bons sentimentos por Sara.

    — Ela vai lembrar. Sara te ama — acrescentou para conforta-lo.

    O Montenegro levantou a cabeça, nos lábios um sorriso triste.

    — Ela se esqueceu disso.

    Tatiana estendeu sua mão até à esquerda de Rodrigo e bateu o dedo indicador na aliança de casamento.

    — Mas você não.

    ~*~

    No que pareceu uma eternidade para Sara, Tatiana entrou em seu quarto novamente. Para estranheza da jovem, logo atrás da médica estava o homem que tentara beija-la. Ele estava muito sério e evitava seu olhar.

    Foi novamente examinada e respondeu novas perguntas. Percebeu que a cada resposta a cara bonita do sujeito ficava mais carrancuda.

    — A não ser pela ferida em sua cabeça, fisicamente você está ótima.

    — Então posso ir embora? — perguntou ansiosa em voltar logo para casa.

    — Daqui uns dias, sim. — Percebendo que aquele era o momento de revelar a situação para Sara, Tatiana segurou a mão da afilhada entre as suas. — O problema é que você perdeu parte de sua memória, querida.

    — Você disse que esquecer o acidente era normal.

    — Você esqueceu muito mais do que só o acidente.

    Sara estreitou os olhos esverdeados.

    — O que esqueci?

    — Fatos que ocorreram após 2008. Estamos em 2018.

    Sorriu com desconfiança. Tinha de ser uma brincadeira. No entanto, o olhar sério de sua madrinha não deixava dúvidas de que era verdade e isso a assustou.

    Fechou os olhos e tentou conter a vontade de chorar. Esquecer dez anos da sua vida era muita coisa, muitos acontecimentos.

    — Minha mãe... Eu quero a minha mãe — pediu num murmúrio.

    — Infelizmente ela morreu há cinco anos.

    — Não é verdade, não pode ser... — Abriu os olhos e fitou Tatiana desolada. — Como aconteceu? Quando?

    — Foi num acidente de carro. Um motorista bêbado em alta velocidade colidiu com o carro dela.

    Sentindo uma dor intensa no peito, não conteve as lágrimas. Embora fosse uma mulher reservada e rígida, sua mãe foi à única presença constante em seu crescimento. Nunca conhecera seu pai, que fugiu para não assumi-la, e não tinha parentes próximos. Tatiana não contava, pois, era só uma amiga de sua mãe que aceitara ser sua madrinha, não

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