Poemas de muitas faces
De Aléxia Moura
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Sobre este e-book
SOBRE A AUTORA
"Levo comigo um pouco de tudo que li e de todos os grandes autores que já admirei, desde que me encantei pelos livros, aos nove anos. Ao descobrir a biblioteca da escola, comecei a ler por amor, incentivada por minha mãe e, por uma grata coincidência, logo me apaixonei pela mesma obra que ela, dentre os clássicos de Machado: O Alienista. Depois disso, comecei a escrever em casa, e de frase em frase esbarrei nos versos. Aos 11 anos, venci meu primeiro concurso literário, com poesia, e nunca mais parei de escrever. Sou pernambucana de Serra Talhada, tenho 26 anos, sou advogada, especialista em ciências criminais, e bancária. Mas é na escrita que me encontro. Em 2019, o destino felizmente fez com que encontrasse a Absurtos, e publicasse, apenas pela segunda vez, um poema em antologia nacional. De lá pra cá foram mais três participações, e agora a realização de um sonho, concretizado em folhas e tinta. Meu sonho tem cheiro de livro!"
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Poemas de muitas faces - Aléxia Moura
Insuspeito
Página de jornal – um verso foi furtado
Não há o que tome o seu lugar
Vai o pobre furtado verso
Com ele Jairo, sem fala, o tipógrafo
Jairo, o sem beira nem lar
Suspendam o ato
Extra, extra! Que paire no ar
Você com a maleta parda
Aonde pensa que vai com essa palavra?
Ora, larguem. Ora, larguem
Quem se queixa?
Ouçam, ouçam!
Ela é minha, a palavra
Ora, vejam, se a subjuguei
Aos ares plúmbeos das minhas quimeras!
Página de jornal – um verso foi furtado
Não há o que tome o seu lugar
Vai o pobre furtado verso
Com ele Jairo, sem fala, o tipógrafo
Jairo, o sem beira nem lar
Quem me dera, quem me dera
Fosse outro o existir mesmo que tenho
E não fosse o silêncio tão ferrenho
Ainda outro o pecado, que não ela
PARTE 1
O Julgamento de Jairo
Decerto recordam que Jairo
Em meados daquele dia
Foi flagrado e consigo trazia
Palavra de que não era dono
Posto o enfado pelo qual me tomem
Nem precisarei dizer que este homem
Não passa de um gatuno medonho
E como bem devem saber
Manda a etiqueta desta capital
Que de cada capa de jornal
Metade bajule o sangue nobre
E a outra metade julgue esta ala pobre
Que, a não me falhar a memória
Devo ter dito ao começo da história
Batizaram marginal
Queridos amigos
Cidadãos de bem
Acaso me digam quem tem
Deste um qualquer defesa
Eu por mim pulo a janta e a sobremesa
Será tirar as algemas dos pulsos
E pedir deste Jairo a cabeça
Ouçam, ouçam! Vejo um braço
Por acaso
Este moço, todo em requinte, pomposo
Quer endossar minha fala?
Mas que é disto? E quem me cala?
Quem vos deu tal incumbência?
Excelência!
Um favor, digo a vocês
Eu não entendo de leis
Eu só entendo de prensa
E disse a Jairo que compensa, desde logo, perder sangue
Por ver a ferida estanque
Esta lepra que nos fere, qual larva
E direi que a palavra, quem deu a Jairo fui eu!
Eu quem a prometeu
Eu quem o disse: leva! Semeia e verás, qual erva
É palavra em solo firme
Sendo assim não vejo o crime
Que vos ocupou a tarde
Não passa de outro alarde
Que se puna quem mereça
Querem com isso é que se esqueça
Da fome, da desonesta sede
Pela qual o homem com capital
Aquela capa de jornal
Joga um Jairo na cadeia
Com uma mão e com a outra
Ceia
Ateando os farelos para debaixo do tapete
Protesto, protesto
Excelência!
Protesto perante a audiência!
Posto não ser permitido
A falar tal cidadão
Achegado à