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Novelas Policiais 6: Coletânea
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Novelas Policiais 6: Coletânea
E-book320 páginas4 horas

Novelas Policiais 6: Coletânea

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Sobre este e-book

Novelas Policiais de L P Baçan, o Mago das Letras, com todos os ingredientes tradicionais que fazem do gênero um dos preferidos da maioria dos leitores.O Retorno de uma AssassinaO Tênue Fio da SuspeitaO Vingador do Apocalipse.
IdiomaPortuguês
Data de lançamento9 de mar. de 2022
ISBN9781526053374
Novelas Policiais 6: Coletânea

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    Novelas Policiais 6 - L P Baçan

    O Retorno de uma Assassina

    D:\- EBOOKS\MY BOOKS\NOVELAS POLICIAIS\O RETORNO DE UMA ASSASSINA\001.jpg

    O ônibus percorria uma paisagem conhecida, embora muita coisa houvesse modificado após todo aquele tempo. Olhando pela janela, podia reconhecer o Rancho Fence, os silos de Angus MaccDowal, o trator velho e fumegante de Bob Travis ou a velha casa amarela e desbotada da viúva Holmes, à beira de um lago, no sopé de uma colina. As plantações continuavam as mesmas, como se a paisagem tivesse sido congelada: milho, aveia, trigo, os lotes se mantinham os mesmos de antes. Dava para saber o que estivera plantado ali, o que estava sendo, o que brotava e o que ainda seria posto naquela terra.

    Tudo igual, no fundo, exceto a árvore que crescera mais, o capim na beira do rio, uma e outra casa nova, a estrada alargada, uma cerca nova de arame farpado, detalhes que, somados, representavam muito naquela paisagem que ela trazia gravada em sua memória, quando deixara o lugar. Sara Henderson estava de volta, chegando discretamente, no ônibus estadual. Poucos a notaram, quando desceu na estação rodoviária e tomou o velho táxi de Bryan Dunlap. Nem precisou dizer para onde queria ir.

    Ele tomou logo o caminho da velha mansão no topo da colina ao lado da cidade. Se muita coisa havia se transformado em Starkville, Sara não mudara muito. Estava apenas mais madura e mais bonita. Bryan reparou isso logo que a reconheceu, no momento em que ela entrou no táxi. Pelo retrovisor ele examinou aquele rosto que lhe era familiar. Enquanto punha as malas no carro, dera uma boa olhada naquela mulher ainda jovem e atraente.

    — Esteve muito tempo fora, Sra. Henderson — comentou ele, num tom casual, como se ela tivesse estado fora de casa por uma semana ou quinze dias.

    — Sim, Bryan. Estive fora por três longos anos — respondeu ela e havia mágoa e sofrimento em sua voz.

    — A Srta. Falk tomou conta de tudo por lá. Deve ter feito um bom trabalho. Dizem que manteve tudo como sempre foi...

    — Sim, sei disso. Ela me escreveu com frequência durante o tempo em que estive fora.

    — O que me diz da cidade? Acha que mudou muito?

    — Não, no fundo acho que nada mudou, Bryan. Um pouco de tinta aqui, madeira nova ali, mas no fundo é a mesma ainda — afirmou ela.

    — Tem razão, Sra. Henderson. A cidade não mudou muito mesmo. Sabia que Kenney foi reeleito xerife?

    — Sorte dele! — respondeu ela, rispidamente.

    Lembrava-se bem do velho Bryan. Era do tipo curioso, mas detestava ir direto ao assunto. Ficava fazendo rodeios, sugerindo, jogando verde para colher maduro, arrancando as informações aos poucos. Percebeu onde ele queria chegar. Bryan queria, fatalmente, relembrar os velhos tempos, coisa que soava um tanto amarga para ela. Os tempos não eram tão velhos assim. Acontece que, quando se passa três anos em uma prisão estadual, tudo parece ter acontecido há muito tempo atrás. O tempo na prisão tem uma particularidade especial, que Sara descobriu dolorosamente. É um tempo onde uma pessoa só tem a si mesmo e a seus pensamentos, tudo se repetindo monotonamente, dia após dia, até que as ideias se tornam confusas, as imagens começam a ficar distorcidas e daí se perde a noção de tudo.

    Quando deixara Starkville, tencionava mesmo esquecer tudo o que ali passara. O processo, o julgamento, a angustia em provar sua inocência sem consegui-lo, a acusação daquela cidade que nunca a imaginou inocente. Para todos dali, Sara Henderson havia assassinado seu marido com requintes de perversidade, quase desintegrando-o com dois tiros de uma espingarda de caça de grosso calibre.

    — Ali fizeram uma nova casa — disse Bryan, chamando-lhe a atenção.

    Ela olhou naquela direção, tentando esquecer tudo que lhe vinha à mente num turbilhão, quando começava a pensar no assunto. A raiva diante da imponência em provar sua inocência ainda persistia. Ficou olhando para aquela casa nova, tentando esquecer tudo e se concentrar apenas na paisagem, acreditando que estivera fora por alguns dias e que nada mudara. Tudo continuava o mesmo. Ficou pensando em como as pessoas da cidade reagiriam se a tivessem visto voltado. Seria difícil para ela encarar aqueles rostos novamente. Não podia esquecer que em cada um vira, um dia, a acusação, a ingratidão e o desamparo.

    — Sabia que o velho celeiro pegou fogo? — indagou Bryan, sempre curioso, levantando a cabeça para olhá-la pelo espelho retrovisor.

    — Não, não sabia. a Srta. Falk nada me disse a respeito disso — falou ela, esforçando-se para parecer natural.

    — Pois pegou fogo mesmo. Foi durante uma tempestade. Um raio caiu e...

    — Imagino mesmo. As tempestades sempre foram violentas por aqui, principalmente na colina...

    — Vai continuar morando lá?

    — Sim, por que não?

    — Bem, pensei que não gostaria de ficar lá sozinha, depois de tudo.

    Ela percebeu que ele estava chegando próximo do assunto e que, na verdade, gostaria de comentá-lo. Resolveu descartá-lo. Não queria falar sobre aquilo com ninguém mais.

    — Não me importo com isso, Bryan. Se há algo que aprendi nesses três últimos e longos anos foi não ter medo de nada — falou ela, com convicção.

    Bryan calou-se, mas Sara podia ler seus pensamentos. Sabia que isso aconteceria com todos que se aproximassem dela de novo. Para aquilo, três anos ainda erma pouco tempo. A lembrança ainda estaria viva em muitos deles. Não se importou com o motorista. Tinha outras preocupações em mente. Preocupava-se com sua vida e com sua propriedade. Haveria muito que fazer na velha casa e na plantação. O taxista engatou uma marcha pesada no carro e acelerou forte para subir a estrada que avançava colina acima, até a casa lá no alto. Uma emoção forte bateu no peito de Sara Henderson, reconhecendo seu ambiente.

    — Aqui estamos, Sra. Henderson — disse o motorista, estacionando o carro diante da mansão.

    Ele desceu e foi abrir a porta para ela.

    — Obrigada, Bryan. Pode ficar com o troco — disse, dando-lhe uma nota.

    Ele foi descer a bagagem e levá-la até a porta.

    — Quer que a ajude a levá-la para dentro? — perguntou.

    — Não, pode deixar aí mesmo, Bryan. Eu as levarei depois — falou ela, caminhando pelo jardim, respirando aquele ar que ela conhecia tão bem e de que tivera muita saudade.

    As flores perfumavam o ar familiarmente. Fechando os olhos, podia até imaginar que jamais saíra dali, que nada daquilo havia acontecido. Podia até sonhar que tudo não passara de um pesadelo que havia chegado ao fim. Cruzou os braços diante do peito e ficou olhando as flores do jardim. Sentira uma saudade enorme de tudo aquilo, de cada canteiro, de cada perfume. Voltou-se e olhou a casa. Havia cortinas novas nas janelas, apenas isso. O resto nada mudara. Concluiu que a Srta. Falk fizera um bom trabalho. O jardim estava impecável e a casa parecia ótima na aparência. Antes de entrar, decidiu caminhar um pouco pelo jardim até um ponto de onde pudesse ver a plantação.

    Uma expressão de dor estampou-se em seu rosto ao ver aquelas terras sempre férteis tomadas pelo mato. Os canteiros haviam sumido, os barracões estavam em péssimo estado e tudo dava uma impressão geral de abandono e desolação.

    — Que bom que voltou, Sra. Henderson — falou alguém atrás dela.

    Sara se voltou para encarar o rosto sorridente e afável da velha Srta. Falk.

    — Olá, Emma! Estou contente em vê-la também — disse, indo abraçá-la.

    — Desculpe-me não ter vindo logo, mas não ouvi o barulho do carro. Estava no fogão preparando aquela sua torta predileta — falou Emma Falk, com lágrimas nos olhos.

    — Obrigada, Emma! Muito obrigada mesmo! Fez um ótimo trabalho aqui! — elogiou, depois soltou-a para limpar as lágrimas que se acumulavam nos cantos de seus olhos.

    Voltou-se e ficou olhando a plantação.

    — É uma pena, Sra. Henderson, mas ninguém quis cuidar dela. O mato cobriu tudo e...

    — É, é realmente uma pena, mas o que se há de fazer? Não vai ser fácil, mas eu ainda a terei de novo, como era antes ou, até, melhor! — falou Sara, convicta.

    — Vai recomeçar tudo mesmo?

    — Sim, Emma. Vou!

    — Bem, todos pensavam que você só voltaria aqui para vender tudo, antes de ir embora para sempre...

    — É o que eles queriam que eu fizesse — comentou Sara, com mágoa. — Mas isso não me passou pela cabeça em momento algum.

    — E como vai reconstruir tudo?

    — Sempre se pode recorrer aos bancos, não?

    — Acha que eles vão ajudá-la?

    — E por que não? Se eu nada conseguir, eles terão a minha propriedade em troca. É algo que sempre desejaram, não? Tenho certeza que vão investir nessa hipótese.

    — É, imagino que sim.

    — Mas ainda é cedo para pensar nisso tudo. Primeiro quero tomar um bom banho e descansar bastante. É irônico isso, não?

    — O que é irônico, Sara?

    — Passei os últimos três anos de minha vida praticamente descansando e ainda me sinto cansada.

    — Deve ser o cansaço da viagem...

    — Não, Emma. É um cansaço diferente. É um cansaço aqui dentro, na alma — falou Sara, amargamente.

    — Não pense mais nisso. Vou lhe preparar um banho, que tal?

    — Ótimo! Para ser franca, sinto-me suja mesmo, muito suja. A prisão tem um cheiro que parece grudar-se na pele da gente. Por mais que se lave e se esfregue, ela continua ali.

    — Compreendo...

    — Não, Emma, você não compreende e nem poderia compreender — comentou Sara, ainda naquele tom amargo.

    — Desculpe-me então, Sra. Henderson!

    — Não, não precisa se desculpar, Sara. Esqueça tudo o que eu falei. Por favor, venha me ajudar com as malas, sim?

    Ela entrou na casa caminhando devagar, evitando as lembranças acumuladas em cada móvel e em cada objeto. As vidraças estavam fechadas e o ambiente era de absoluto silencio. Sara começou a levantar e abrir as vidraças.

    — Ajude-me, Emma. Quero tudo aqui aberto, com sol e brisa ao mesmo tempo. Não quero me sentir presa novamente, agora que estou em minha própria casa.

    Ao abrir uma das vidraças, os olhos de Sara caíram sobre os esteios enegrecidos do que fora o celeiro. Ficou imóvel, olhando naquela direção, querendo fugir à lembrança que a assava irresistivelmente.

    — O que houve com o celeiro? — indagou.

    — Apenas pegou fogo numa tempestade.

    — Conseguiu salvar alguma coisa?

    — Não, nada. Eu sinto muito.

    — É uma pensa. Havia ferramentas e máquinas lá dentro, não? Seriam importantes agora.

    — Certamente que sim, Sra. Henderson...

    Sara continuou olhando para o celeiro, lutando para evitar que aquela lembrança aflorasse. Era algo de que fugia, de que havia conseguido fugir todo aquele tempo na prisão. Ali, no entanto, tão perto, percebeu que isso seria impossível. Não havia como não recordar aquela maldita noite que parecia ter sido havia muitos anos, mas que estava tão viva ainda em sua memória.

    Chovia forte e ela estava naquela mesma janela. Podia ver as nuvens baixas e escuras quando os raios clareavam toda a região, e os trovões faziam estremecer os alicerces da casa violentamente.

    A chuva descia torrencialmente pela vidraça, enquanto ela esperava. percebeu as luzes dos faróis. Jim, seu marido, voltava para casa de mais uma de suas loucas noitadas na cidade. Com certeza estaria bêbado e sem nenhum tostão no bolso. Ele vinha jogando muito nos últimos tempos. Não falava sobre as finanças da casa, mas Sara suspeitava que ele já houvesse perdido todas as economias do casal.

    Ouvira um comentário que ele estava agora contraindo dívidas, assinando cheques sem fundos e promissórias sem garantias. Ela o viu chegar e entrar no celeiro. Esperou mais algum tempo para vê-lo sair cambaleando de lá. De repente, porém, o celeiro se iluminou, como se um raio tivesse caído lá dentro. Em seguida, dois estampidos soaram ao mesmo tempo, ecoando na noite como um par de trovões. Ela se assustou. Viu aquele vulto sair correndo na chuva. Tentou reconhecê-lo, mas foi impossível, a chuva atrapalhou sua visão, tornando aquele vulto algo indistinto.

    Ela correu, então, para o celeiro. Encontrou Jim praticamente partido ao meio pelos disparos. Ao seu lado, ainda fumegante, uma enorme espingarda de caça. Sara a apanhou, assustada e aquilo foi a sua perdição. Apenas suas impressões foram encontradas na arma. A chuva apagou todos os traços daquele mistério vulto que ela vira sair do celeiro.

    A polícia, alertada pelos empregados, chegou logo depois e tudo a incriminou. Ninguém acreditou em sua história. As provas eram contundentes. Ela tinha motivos para matá-lo. Seu rosto e seu corpo ainda estavam com as marcas da última surra que ele lhe dera quando discutiram por causa das loucuras dele.

    O tribunal foi complacente e considerou as atenuantes. Sara foi condenada a seis anos apenas, mas conseguia sair antes disso, em liberdade condicional, por bom comportamento.

    Lembrando-se de tudo isso, naquele momento, Sara só podia considerar que passara por um pesadelo. Apenas um pesadelo que chegara ao fim.

    — A senhora me ouviu? — insistiu Emma, atrás dela.

    — Desculpe-me, Emma... Não estava prestando atenção...

    — Perguntei se gostaria de jantar logo em seguida.

    — Primeiro vou tomar aquele banho. Pode prepará-lo para mim? Vou levar a bagagem para cima...

    — Eu a ajudo. Quer que eu as desfaça e as guarde?

    — Não é necessário, Emma. Verá que não trouxe muita coisa nas malas. Vou ter que comprar roupas novas para mim. O guarda-roupa da prisão era muito restrito e a moda não mudava nunca — brincou ela.

    — Desculpe-me perguntar, Sara, mas como está você de dinheiro? eu tenho minhas economias e...

    — Esqueça, Emma. Antes de ir para a prisão, vendi minhas joias, as que consegui esconder de Jim e mandei aplicar o dinheiro. Além disso, fazíamos trabalhos na prisão. Eu conseguia pagar você e ainda sobrava alguma coisa.

    — Se precisar...

    — Obrigada, Emma! Eu sei que sempre poderei contar com você, querida!

    — Vou prepara a banheira e depois ver a torta. Seja bem-vinda, Sara!

    Ela sorriu, confortada. Emma sempre fora uma amiga especial, não uma empregada. Antes de subir, andou pela casa, reconhecendo tudo. Emma conservara tudo como sempre fora.

    Subiu, então, para o pavimento superior, onde ficavam os quartos. Andou pelo corredor, até aquele que ocupava até a tragédia. Ao abri-lo, foi como se o passado ressurgisse repentinamente diante de seus olhos. Tudo estava como antes. Ali também nada havia sido mudado.

    Caminhou até a janela e admirou a paisagem. Aquilo era algo que fazia todas as manhãs. Gostava de olhar a cidade ao pé da colina e os empregados trabalhando na plantação, do outro lado.

    Respirou fundo, com tristeza. Foi desfazer as malas. Separou algumas roupas e foi para o banheiro. Despiu-se diante do espelho, depois, em pé, olhou-se.

    Tinha apenas vinte e nove anos e se sentia com quarenta, embora seu corpo desmentisse isso. Com exceção das olheiras produzidas pelo cansaço, Sara ainda exibia a mesma beleza de sempre, embora não conseguisse enxergar-se dessa forma. Sentia-se feia, magra, acabada e com rugas.

    Precisava daquela liberdade para se sentir bem. Precisava acordar cedo e olhar a paisagem, caminhar pela plantação e sentir o sol sobre sua pele. Sabia que precisava apenas disso para se sentir bem de novo. O importante era estar em casa.

    Sabia que as coisas não seriam fáceis para ela em Starkville, mas estava disposta a enfrentar todas as dificuldades. Tinha uma ideia fixa em sua cabeça e nada a afastaria disso. Antes de mais nada, queria provar a sua inocência e sabia, de uma forma ou de outra, conseguiria isso.

    D:\- EBOOKS\MY BOOKS\NOVELAS POLICIAIS\O RETORNO DE UMA ASSASSINA\inter.jpg

    Bryan parou o carro em frente à cadeia e desceu. Colocou um palito de fósforo entre os dentes e mascou-o, antes de entrar como quem não queria nada.

    — Olá, Bryan! — cumprimentou-o Michael Kenney, o xerife, sentado a sua escrivaninha.

    — Olá, xerife! Sabia que temos novidades na cidade? — comentou o motorista.

    O xerife sorriu. Sabia que Bryan só aparecia quando tinha alguma novidade para contar. Algumas vezes essas informações eram até úteis, por isso se dispunha a ouvi-las sempre.

    — O que tem para mim desta vez?

    — Sabe quem voltou?

    Michael pensou por instantes, desistindo logo em seguida.

    — Não consigo me lembrar de ninguém importante que tenha ido embora...

    — Sara Henderson está de volta...

    O xerife o olhou surpreso e indeciso.

    — Ela? — insistiu ele, com um sopro de voz.

    Bryan confirmou com movimentos de cabeça. O xerife se levantou e foi até a janela, olhara para a colina. percebeu as vidraças abertas, mostrando que alguma coisa mudara por lá.

    — Quando ela chegou? — indagou, sem se voltar para Bryan.

    — Há dez minutos eu a deixei lá.

    — Como estava ela?

    — Um pouco cansada, mas muito mais bonita. Eu diria até que a prisão fez bem para ela...

    — Ela disse o que pretende fazer aqui? Se veio só para vender a propriedade?

    — Pelo que ela deu a entender, parece que não vai vender nada...

    — Não vai? — estranhou Michael.

    — Acho que ela pretender ficar. Isso vai incomodar um bocado de gente. O que acha disso?

    — Não acho nada, Bryan — disse ele, pensativamente. — Ela tem todo o direito de fazer isso. Afinal de contas, aqui é o lugar dela, não?

    — Não sei, mas se ela ficar, vai dar encrenca.

    — Como pode afirmar isso?

    — Não sei. Ela tinha uma expressão estranha no rosto, Kenney. Acho que ela voltou para se vingar de toda a cidade.

    — Que ideia mais idiota, Bryan.

    — Bem, xerife, você acompanhou o julgamento. Ela sempre jurou inocência. Quem pode saber o que se passa na cabeça de uma pessoa, depois de tanto tempo na prisão? Tive um primo que...

    — Deixe de tolices, Bryan. Seu primo já era louco antes de ir para a prisão estadual. Obrigado pela noticia.

    — De nada, xerife! Não se esqueça, porém, do que eu disse. Ela pode ter voltado aqui só para se vingar. Neste caso, seu dever será de proteger todos nós...

    — Certo, deixe comigo, Bryan! — afirmou o xerife, despachando-o.

    Wally, seu assistente, o olhava com curiosidade. Michael o encarou e ela desviou os olhos. O velho York surgiu à porta com a correspondência do dia vinda no ônibus estadual.

    — Há uma porção de coisas para vocês hoje, rapazes — disse ele.

    — Dê os cartazes do procurados ao Wally e traga o resto para mim — ordenou Michael, sentando-se preocupado com a notícia que Bryan trouxera.

    Aquilo iria se espalhar como um rastilho de pólvora pela cidade.

    — Este é seu — disse o velho, pondo um pacote sobre a mesa do xerife.

    Wally abria o malote com os cartazes de procurado. Após passar os olhos rapidamente pelo conteúdo, separou um deles, que achou interessante.

    — Ouça isso, Michael! — falou ele, chamando a atenção do xerife, que examinava algumas fitas de vídeo que encomendara.

    — O que é?

    — Um aviso das autoridades de Columbus. Estão informando que um maníaco fugiu de lá, do manicômio judicial. Pedem para que fiquemos alertas. Pode estar vindo em nossa direção.

    — Certo, avise os rapazes.

    — E tem mais: em sua fuga ele matou um guarda, roubando-lhe a arma.

    — Está certo, Wally. Tome as providências necessárias — falou Michael, empurrando as fitas para o lado e girando a cadeira para observar a mansão na colina.

    Ficou pensando por instantes, depois se levantou e apanhou o chapéu.

    — Vou até o bar do Smith. Estarei lá, se precisar de alguma coisa.

    — Ok, xerife! — concordou ele, percebendo que algo perturbava seu chefe.

    Michael caminhou apressado para fora da delegacia e atravessou a rua. Smith estava sentado à frente do seu bar. Seus olhos estavam voltados para a colina. Desenhada contra o céu avermelhado do entardecer, a casa parecia envolta em sangue.

    — Já viu? — indagou-lhe o xerife.

    — Sim, só pode ser ela. Sempre gostou daquelas vidraças abertas. quando ela voltou?

    — No ônibus estadual.

    — Por que acha que ela voltou, Michael?

    — Ainda não sei.

    — O que pretende fazer?

    — Por enquanto, nada. Ela tem o direito de estar lá. É a casa dela.

    — Não creio que os cidadãos honrados de Starkville vão gostar disso.

    —Gostando ou não, vão ter de engoli-lo. Ao que parece, ela voltou para ficar. Temo que isso possa nos trazer alguns aborrecimentos.

    — Sério? E por quê?

    — Você era um dos costumeiros parceiros de jogo de marido dela, não?

    — Sim, mas o que acha que ela pode fazer?

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