Presença centro-africana no Vale do Paraíba (SP)
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Presença centro-africana no Vale do Paraíba (SP) - Mônica Savieto
CAPÍTULO 1 CENTRO-AFRICANOS E DESCENDENTES NO VALE DO PARAÍBA
Identificar quem são os africanos e descendentes no Vale do Paraíba, bem como em todo o Brasil, é um desafio que nos últimos anos a historiografia brasileira tem enfrentado, sobretudo após a década de 1980, com estudos realizados por pesquisadores africanistas. As dificuldades se avolumam, pois esta memória foi intencionalmente silenciada, negligenciada ou esquecida e, mesmo quando registrada, o foi perifericamente, ou seja, retratada com foco no lugar social de escravizados.
Muitos dos documentos que tinham por objetivo registrar o centro-africano escravizado do século XIX o fizeram, claramente, através do olhar de autores europeus ou europeizados. Na fotografia, linguagem que se difundiu no Brasil do século XIX em meio à sociedade letrada e escravista, nas poucas vezes em que o escravizado se tornou o foco central da imagem, raras foram as referências sobre o fotografado. As lentes registram, mas o olhar do fotógrafo não encontra completamente o olhar do fotografado, pois pouco o conhece ou, antes, pouco procura conhecê-lo. As referências sobre os fotografados são sempre lacunares. Há, neste sentido, uma ambiguidade: captam-se imagens de africanos em cenas de trabalho ou mesmo em retratos, porém faltam registros em torno de quem eles são. Enfim, eles não tiveram direito à identidade ou identificação. Poucas imagens são acompanhadas por dados referenciais, tais como: onde, quando, quem. Omissão ou desinteresse fez com que muitas das imagens fotográficas, embora belíssimas e preciosas, perdessem o contexto em que foram elaboradas.
As fotos que se seguem, de africanos e descendentes no Vale do Paraíba, realizadas por Marc Ferrez⁶, foram reunidas por museus, institutos e colecionadores particulares, sendo que muitas delas pertencem atualmente aos acervos do Museu Imperial de Petrópolis (RJ) e do Instituto Moreira Salles, na cidade de São Paulo. Marc Ferrez, nascido em 1843 no Rio de Janeiro, captou imagens de negros em cenas de trabalho e também em retratos realizados em estúdios. Nos retratos, vislumbra-se, em muito, sua preocupação com os tipos físicos e a diversidade – vista como uma manifestação mais biológica que cultural, em concepção própria da intelectualidade europeia no século XIX. Nas fotos, ambientadas em fazendas de café do Vale do Paraíba, é possível, em um momento raro, encontrar olhares de sujeitos com quem se pretende dialogar. A fotografia, nesse sentido, tem o poder de emocionar, mas sobretudo de denunciar, em meio às práticas de modificar e elencar, inerentes ao autor. A foto também possibilita algo único: o entrecruzar dos múltiplos olhares que ela contém.
Tanto nas cenas de trabalho como nos retratos, os escravizados olham a lente da câmera e o fotógrafo, mas este encontro de olhares não significa necessariamente que houve comunicação ou interação. Os nossos olhares (o do pesquisador e o do leitor/apreciador) encontram, na foto, os demais olhares (o da pessoa retratada e o do fotógrafo) e, em um esforço de comunicação, vislumbramos a possibilidade de aproximação. Esta possibilidade é intencionada por nós, pesquisadores e leitores, de forma diferente da realizada pelo próprio fotógrafo. Boris Kossoy, em estudos sobre a linguagem fotográfica, aborda estes três olhares: o olhar do personagem retratado, o do autor e o do leitor/apreciador. Neste sentido, considera que a fotografia se conecta fisicamente ao seu referente – e esta é uma condição inerente ao sistema de representação fotográfica –, porém, através de um filtro cultural, estético e técnico, articulado no imaginário de seu criador
(KOSSOY, 2009: 42-3).
Kossoy nomeia a imagem fotográfica como uma segunda realidade
, que se relaciona, por vezes, de forma fugidia com a primeira realidade
– com a cena retratada –, através do brevíssimo instante em que se registra a imagem.
Através dos olhos de Marc Ferrez, passamos, então, a também olhar os escravizados do Vale do Paraíba.
.Foto 1: Marc Ferrez. Partida para a colheita do café com carro de boi, no Vale do Paraíba. 1885. Coleção Gilberto Ferrez. Acervo Instituto Moreira Salles.
Na imagem (foto 1), é possível notar que, em meio à névoa sobre o morro, característica das manhãs de inverno no Vale do Paraíba, um grupo de trabalhadores escravizados parte para a colheita de café acompanhado por carro de boi. É possível identificar gestos do corpo: os homens carregam instrumentos de trabalho; as mulheres carregam vários objetos em bacias sobre a cabeça, além de levarem crianças no colo. Homens, mulheres e crianças⁷ aparecem na foto vislumbrando uma possibilidade de articulação em laços familiares.
Foto 2: Marc Ferrez. Colhedores de café. Vale do Paraíba. RJ. 1882. Coleção Ruy Souza e Silva.
Acompanhado por instrumentos de trabalho (foto 2) – cestos e peneiras –, o centro-africano é retratado, pelo fotógrafo, igualmente como um instrumento. Dessa forma, os utensílios seriam praticamente extensões dos corpos, e a plantação seria o local mais adequado para retratá-los. Homens, mulheres e crianças trabalham na colheita do café. Seus olhares fugidios revelam o quanto a imagem foi roubada
, montada ou imposta. A disposição dos africanos na foto também fala da redução dos mesmos a corpos/instrumentos. O fotógrafo, ao organizar a cena, além de selecionar ângulos e momentos para a captura da imagem, sugere uma posição de aparente ordenamento e subalternidade às pessoas