Time Out: os viajantes do tempo
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Sobre este e-book
Estevan Lutz
Estevan Lutz is a Brazilian science fiction writer that always seeks to explore and give details of speculative technologies in his texts. In addition to architecting futuristic worlds, he also works as an electric industrial designer. 'The Flight of Icarus – Up To What Point Can Our Mind Take Us?” is your first cyberpunk novel. Also, the author participated of many anthologies of fantasy literature, in your country.
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Time Out - Estevan Lutz
Prefácio: O tempo dominado pela ficção científica
A
s comunidades científicas acadêmicas não deram praticamente nenhuma atenção quando H. G. Wells literariamente imaginou que se poderia controlar o tempo.
Quando Albert Einstein já considerado como o cientista mais notável do mundo, através de observações de um celebre eclipse visto no Brasil, ultimou a teoria da Relatividade, ficou comprovado que uma nave que voasse a uma velocidade próxima à da luz, seus ocupantes viveriam tempos diferentes daquele que estivessem na Terra.
Esta temática espetacular de controle do tempo obteve imediatamente uma repercussão mundial e aproveitando-se dessa fantástica alteração de um velho paradigma, os autores de FC multiplicaram sua imaginação inventando centenas de novas possibilidades no uso da manipulação do tempo.
Esta iniciativa de Ademir Pascale nos brinda com uma fantástica antologia reunindo talentosos autores brasileiros, criando inesperadas soluções baseadas num fator crucial da vivencia humana, o tempo e suas perspectivas definitivas na existência terrena. Encontraremos também ao final um excelente ensaio sobre a ficção cientifica brasileira de autoria de Edgar Indalecio Smaniotto, abordando o tema tempo, e viagem no tempo desde os autores seminais até os dias de hoje.
André Carneiro (1922-2014)
Poeta, escritor, cineasta e artista plástico. Autor dos livros Piscina Livre (1967),
Amorquia (1991), Confissões do Inexplicável (2007), entre outros.
Apresentação
S
omos todos viajantes do tempo, avançando inexoravelmente do presente para o futuro. O presente, no qual você leitor, abriu este livro, já virou passado e o momento em que terminar a leitura ainda está no futuro. Somos escravos do tempo que nos consome e nunca conseguimos todo o tempo que gostaríamos de ter em nossas vidas. Daí o sonho de controlar este fluxo implacável, de viajar por ele como peixes em um riacho, indo e vindo através daquilo que H.G.Wells chamou de quarta dimensão
. Foi Wells que criou o tema do viajante do tempo com seu romance que continua uma fonte de inspiração para todos os autores de ficção científica.
Histórias sobre viagens no tempo, como os contos reunidos neste livro, podem ser divididas, basicamente, em duas categorias: Viagens ao futuro, ou viagens ao passado. Viajar para o futuro é uma empreitada mais fácil e a Teoria da Relatividade abriu uma brecha para os mundos do porvir ao prever que o tempo passa mais devagar num veículo que se desloca próximo da velocidade da luz. Como os astronautas do clássico Planeta dos macacos
podemos ir parar no ano 3 mil envelhecendo apenas alguns meses ao longo do caminho. Isso se não formos aniquilados por uma partícula de poeira cósmica no meio do trajeto.
Outro tipo de viagem ao futuro é a hibernação, onde o viajante dorme durante séculos e ainda acorda jovem e saudável, como o capitão Buck Rogers, que acordou no século 25 com toda a disposição para namorar um monte de mulheres, incluindo a loira Wilma Deering. A viagem ao passado é muito mais difícil e alguns cientistas acham que seja totalmente impossível. Há alguns anos conversei sobre o assunto com o físico e cosmólogo brasileiro Mario Novelo, que só admitia um retorno ao passado se o viajante usasse uma órbita de Godel
que dependeria da morfologia de um Universo específico.
Escritores de ficção científica não ficam sujeitos a essas limitações e podemos sonhar com aventuras na Roma antiga ou no tempo de Ulisses com viajantes que possuem máquinas personalizadas construídas as vezes na garagem da própria casa. Ou então trabalham nalgum projeto milionário do governo, como o saudoso Túnel do Tempo da televisão.
Não importa se a sua máquina do tempo é grande ou pequena. Governamental ou personalizada, viajar ao passado traz mais encrencas do que ir para o futuro. E isso é a matéria prima para uma boa história.
Jorge Luiz Calife
Jornalista e escritor, autor dos livros As Sereias do Espaço, Como os Astronautas Vão ao Banheiro, Padrões de Contato, Angela Entre Dois Mundos, entre outros.
OS CONTOS
Déjà-vu: o forte
Quando está em certos lugares
Que sabe nunca ter visto antes
Pode estar certo?
Porque sabe que isto aconteceu antes
E sabe que este momento no tempo é real
E sabe quando sente… déjà-vu
– Déjà Vu
, Iron Maiden
R
egina Ferreira sentiu-se subjugada pela onda de calor, ao deixar o micro-ônibus de turismo e seu ar-condicionado. Morava em São Paulo, no frescor da Serra da Mantiqueira, e não estava habituada a um clima tão quente. Natal podia ter o ar mais puro do mundo, como afirmavam os guias e folhetos, mas na latitude em que estava o calor era de matar.
De matar… Mas para ela não fazia diferença. Regina tinha os seus dias contados. Uma data de validade, uma mensagem de autodestruição impressa em seu cérebro.
O velho filme, muitas vezes revisto, desenrolou-se de novo em sua mente, enquanto ela instintivamente entrava na fila com o resto dos turistas: o consultório da médica de nome incomum, a Dra. Filipa Feliciano; sua mesa decorada com fotos das duas filhas e dos poodles brancos; o envelope pardo com os exames, deitado na superfície polida de jacarandá entre as duas; Evandro sentado na cadeira ao seu lado, a primeira vez que o marido a acompanhava nas consultas: a Dra. Filipa tinha exigido a sua presença, Regina não sabia bem porquê. Tinha procurado a neurologista como último recurso, já que ninguém fora capaz de curar as suas enxaquecas cada vez mais frequentes. Pensava que eram as velhas dores de causa menstrual, porém agora mais fortes e constantes.
– Eu gostaria de dar a vocês uma notícia melhor – a Dra. Filipa dissera, e Regina havia se perguntado da razão do plural; o problema era dela, por que envolver Evandro? – Mas o fato é que… – ela engasgara nesse trecho. – O fato é que as notícias não são nada boas.
Evandro havia se levantado e deixado a sala, quando Filipa revelou que Regina tinha um tumor cerebral.
A tomografia mostrava a massa pálida, um caroço de pêssego que cresceria ainda mais, para se tornar um limão, e então uma laranja, e enfim, para não crescer mais, pois Regina estaria morta e enterrada. Um tumor benigno
, Filipa informara, mas inoperável, muito fundo no cérebro para ser bombardeado por um tratamento radiológico, sem destruir o tecido