Encontre milhões de e-books, audiobooks e muito mais com um período de teste gratuito

Apenas $11.99/mês após o término do seu período de teste gratuito. Cancele a qualquer momento.

William: O seu inferno foi sobreviver
William: O seu inferno foi sobreviver
William: O seu inferno foi sobreviver
E-book269 páginas3 horas

William: O seu inferno foi sobreviver

Nota: 0 de 5 estrelas

()

Ler a amostra

Sobre este e-book

Em 1208, num condado com importantes figuras fiéis ao rei, a paixão da jovem filha do conde por um simples camponês, desencadeia uma briga entre duas famílias interessadas em manter suas aparências e posições. Uma feiticeira, aliada de uma das partes, arquiteta um plano para destruir a vida do casal. Como decorrência, é lançada a maldição que perduraria até 1898, nos levando até Londres.Em 'William', há bruxaria, monstros – tanto humanos quanto feras – e traições. Há a busca pela verdade, a amizade... O lado bom e o mau das pessoas....No cemitério, um homem faz uma oração.
IdiomaPortuguês
EditoraEstronho
Data de lançamento11 de ago. de 2022
ISBN9786587071435
William: O seu inferno foi sobreviver

Leia mais títulos de Marcelo Amado

Autores relacionados

Relacionado a William

Ebooks relacionados

Romance de Suspense para você

Visualizar mais

Artigos relacionados

Categorias relacionadas

Avaliações de William

Nota: 0 de 5 estrelas
0 notas

0 avaliação0 avaliação

O que você achou?

Toque para dar uma nota

A avaliação deve ter pelo menos 10 palavras

    Pré-visualização do livro

    William - Marcelo Amado

    PARTE I

    CONDADO DE SUNVALLEY, ANO DE 1208

    Capítulo I

    A neblina cobria uma boa parte do caminho e o silêncio era quebrado apenas pelas passadas na terra úmida e o som dos pássaros alçando voo na floresta. Mort Spencer conduzia sua família em direção a Sunvalley em uma longa caminhada de quase duas horas.

    Em menos de cinco meses a capela da aldeia fora saqueada e depredada três vezes, deixando o bispo furioso. Com sua recusa em reconstruí-la, os moradores se viram obrigados a se deslocarem até a igreja do condado. Não era somente a distância que causava problemas. Apenas os clérigos detinham o conhecimento para calcular o tempo de forma precisa e por isso, nas primeiras semanas as famílias chegavam atrasadas e ocasionalmente perdiam as missas. Porém, aos poucos, a comunidade aprendeu a marcar as horas tendo como referência o canto dos pássaros, o silêncio das corujas e outros pequenos sinais que a natureza oferecia.

    Os passos do velho Mort já não eram tão largos e rápidos como antes e William precisava se conter para não andar muito depressa. O maior incentivo do rapaz para frequentar a igreja não era sua religiosidade e sim a oportunidade de rever a menina de rosto angelical. Até então, ele não sabia o seu nome. A única informação confirmada era a de que se tratava da filha do conde, o que tornava praticamente impossível qualquer tentativa de aproximação, pelo menos para quem tivesse um mínimo de juízo.

    A igreja recebia os primeiros fiéis. Do lado de fora algumas pessoas conversavam, reviam amigos e negociavam pequenas mercadorias. Afastados dos camponeses, os senhores de terras e suas famílias aguardavam o início da celebração. As damas em seus vestidos impecáveis, confeccionados com tecidos importados do oriente. Os homens, por sua vez, trajando suas melhores roupas ou armaduras mais leves, sem todos os acessórios utilizados em combate. Grande parte dos nobres evitava se aproximar dos mais humildes. No entanto, no quesito arrogância ninguém superava a duquesa de Champfield.

    Mathilde nasceu na Bretanha e, segundo alguns membros da alta sociedade, essa poderia ser a origem de tanta antipatia. Era alta, e apesar dos quatro filhos, mantinha um corpo esguio. Rosto bonito, de traços finos, e um pouco comprido. Olhos cor de mel contrastando com seus cabelos pretos e sobrancelhas perfeitas e simétricas. Porém, sua antipatia era tão marcante que ela se transformava em uma bruxa horrenda aos olhos daqueles que eram vítimas de seu tom de desprezo e mau humor constantes.

    Constance, sua filha, criada cheia de mimos, herdara a soberba da mãe. Dos três filhos homens, dois queriam ser cavaleiros e se encontravam em treinamento junto as tropas do rei. Theodore, o mais velho, sendo o protegido de Mathilde, era considerado pelo próprio pai um borra botas incapaz de fazer qualquer coisa na vida. Aos seus dezenove anos já tinha um casamento negociado com a filha do conde de Sunvalley, o que só ocorreu devido a um arranjo sórdido arquitetado por Mathilde. Em relação ao marido, podia-se dizer que ela apenas o suportava. Se dependesse apenas de sua vontade, não estaria vivendo com aquele porco, mas um casamento só podia ser anulado por motivos como impotência, esterilidade ou uma consanguinidade que porventura tivesse passado despercebida durante os preparativos. Além disso, ela não saberia viver sem todas as regalias que recebia no ducado.

    Sentados à sombra de uma enorme árvore, os Spencer descansavam um pouco. Mort levantou-se ao notar a aproximação de um conhecido. Geoffrey McCrawley, encarregado de cobrar os pagamentos mensais devidos pelos camponeses pelo uso das terras da castelania. Já prevendo o assunto, depois de cumprimentar o homem, Mort se adiantou:

    – É sobre o pagamento atrasado?

    – Sim, Sr. Spencer. O conde está me pressionando. Sei que não é o dia nem a hora mais apropriada para falarmos sobre isso, mas o senhor já está atrasado em mais de dez dias e não compareceu ao castelo para se justificar.

    – Estou tentando conseguir o pagamento, mas as últimas sementes não eram boas. A colheita não deu quase nada. Só conseguimos o suficiente para o nosso sustento e...

    – Não é problema meu, Sr. Spencer. Preciso que faça o pagamento, pois o conde anda um pouco irritado. – McCrawley olhou para Ellen, que tentava segurar as lágrimas, suspirou e dirigindo-se novamente a Mort, concluiu. – Posso lhe dar apenas mais dois dias. Com sua licença. – Geoffrey se retirou.

    Mort sabia que o único jeito de pagar o que devia seria tirando o pouco que tinha para o sustento da família. Ellen o segurou pelo braço e tentou acalmá-lo, dizendo que daria tudo certo. Não houve mais tempo para conversas. O sino tocou. Era o sinal para o início da celebração.

    Durante a missa, Ellen pedia a Deus que os ajudasse de alguma forma. Mort não conseguia se concentrar. Ao contrário do seus pais, William não pensava nos problemas. Era impossível tirar os olhos da menina. Ela estava ainda mais bela com um vestido verde claro, feito com um tecido brilhante. William a via de perfil e viajava nos contornos de seu rosto. Apreciava cada detalhe, cada pinta ou sarda que podia ver. Lamentava apenas não poder ver seus cabelos – as jovens deviam cobri-los ao entrarem na igreja, em sinal de respeito.

    De alguma forma a menina percebeu que era observada. Virou-se e seus olhos encontraram os de William. Ele sentiu um frio percorrer a espinha quando ela sorriu. Apesar de muito nova, a filha do conde já tinha corpo de mulher feita. Seios médios – que pareciam maiores por causa do decote – e curvas bem definidas. Seu rosto era muito branco e cheio de sardas. Cabelos castanhos, quase avermelhados, olhos azuis e lábios carnudos.

    Não acredito! Ela sorriu pra mim. Ela sorriu! – William se entusiasmou, mas logo se deteve em uma dúvida... – Será que sorriu para mim ou riu de mim?

    A jovem olhou para trás várias vezes e seu sorriso não demonstrava deboche. William encheu de ar o peito e de esperança o coração.

    Preciso tirar essa dúvida. Tenho que conversar com ela de qualquer jeito.

    Determinado a procurá-la, aguardou com ansiedade o final da missa. Quando a celebração chegou ao fim, a família do conde foi a primeira a deixar a igreja. Como sinal de respeito e submissão, os camponeses sempre aguardavam a saída dos nobres.

    William viu sua amada passar pelo corredor lateral. Ela está indo embora. Preciso ao menos perguntar seu nome. Saiu aos tropeços assim que o último nobre passou pela porta principal. Já do lado de fora, pôde ver quando ela tirou o véu. Não era um costume aceitável pela comunidade soltar os cabelos em público, mas essa pequena rebeldia foi herdada de sua tia, irmã de seu pai.

    William criou coragem e resolveu se aproximar, mas nem ao menos conseguiu chegar perto. Foi barrado por um rapaz alto e forte.

    – Ei! Aonde vai com tanta pressa?

    – Eu só queria... só quero... preciso perguntar...

    – Acho que você não tem que perguntar nada a ela. Dê o fora daqui!

    William olhou-o por um momento e então o rapaz mudou o tom de voz, se mostrando mais amigável.

    – Não quero ser rude, jovem. Entenda, não posso deixar que se aproxime de minha irmã. Meu pai com certeza não vai gostar e a situação pode ficar ruim para a sua família, que provavelmente trabalha em nossas terras, estou certo?

    – S-sim, trabalhamos.

    – Então dê meia volta e saia daqui antes que seja tarde... para o seu bem, ande.

    – Eu poderia ao menos saber o nome dela?

    O rapaz o encarou por alguns segundos. Pensou um pouco, coçou a cabeça...

    – Eu sei que minha irmã é encantadora. Deus a abençoou com uma beleza incomum, mas você precisa...

    – Sim, eu sei! – se exaltou. – Eu sei! Tenho que me colocar no meu lugar, mas...

    – Fale baixo! – disse olhando para os lados para certificar-se que não tinham chamado a atenção de ninguém. – Tudo bem... seu nome é Isabelle e ela é prometida ao filho do duque de Champfield – e olhando o rapaz de cima a baixo completou –, além do mais, você não teria a menor chance. Você é apenas um camponês. Meu pai nunca permitirá sequer que vocês conversem.

    William caiu em si, baixou a cabeça e pediu desculpas.

    – Eu lhe agradeço, meu senhor, por não ter me tratado mal. Perdoe-me se fui petulante.

    – Tudo bem, rapaz. Meu nome é Felipe e não me trate como seu senhor. O senhor das terras é o meu pai – e diminuindo o tom de voz –, sei muito bem o que você está sentindo, mas não crie falsas esperanças.

    Isabelle, Isabelle. O nome ecoou em sua mente durante todo o caminho de volta. Quase não conversava com sua família. Apenas respondia o que lhe era perguntado. Parecia estar em transe ou algo parecido. Mort estava tão absorto com a cobrança feita por Geoffrey, que nem percebeu o olhar de tolo do filho. Mas Ellen, que viu a cena na saída da missa, se preocupou.

    Mais uma semana sem ver Isabelle, pensou William. – Isso é demais. Preciso vê-la. Ela me dá mais vida, mais alegria. Aqueles olhos... ahhhh... que olhos! Que olhar...

    – Isabelle... – murmurou.

    – Quem é essa? – perguntou Mort.

    – O quê? – assustado por ter deixado escapar, William tentou disfarçar sem muito sucesso.

    – Quem é essa Isabelle?

    – Não é ninguém, pai.

    – Como ninguém? Isabelle é um nome de mulher, portanto é alguém.

    Depois de um momento em silêncio, olhando para a estrada e ainda caminhando, Mort se lembrou que já tinha ouvido aquele nome e disse:

    – Só espero que você não seja estúpido o bastante para se engraçar com a filha do conde.

     Isabelle chegou cansada e foi direto para seu quarto. Estava deitada quando bateram à porta. Era Felipe. Ele tinha vinte e cinco anos e ela apenas quinze, mas sempre se deram muito bem. Sorrindo, Isabelle convidou-o a entrar. Felipe a questionou sobre o rapaz. Queria saber se ela já o tinha visto antes.

    – Eu o vejo aos domingos na missa. Só à distância. Hoje ele me olhou de um modo diferente e eu retribuí com um sorriso.

    – Isabelle! Não deveria ter feito isso. Não pode flertar com outro rapaz.

    Ainda mais sendo tão pobre e sem nenhuma educação... Sim, já sei. Perrine já me disse isso – imitou a criada, fazendo uma voz estranha.

    – Pois bem! Vê-se que ao menos ela tem juízo.

    – Você conversou com ele?

    – Sim. Ele queria a todo custo chegar até você.

    – Ora, e por que não deixou? – Sorriu maliciosamente.

    – Você só pode estar brincando! É apenas um jovem deslumbrado. Não sabe direito o que quer.

    – Como sabe disso, meu irmão?

    – Ora... porque sei... porque... porque já tive a idade dele e nessa idade não sabemos de nada. Com certeza ele se encantou com sua beleza e, de repente, o seu sorriso lhe encheu de coragem. Se eu não estivesse por perto, nem sei o que teria acontecido.

    Houve um momento de silêncio e Isabelle se distraiu com um pássaro em sua janela. Felipe se levantou caminhou até a porta.

    – Ele queria saber seu nome... e eu disse.

    Felipe sorriu e em seguida saiu do quarto. Isabelle voltou a olhar para o pássaro. William nem desconfiava, mas ela também esperava chegar os domingos para vê-lo na igreja. Ela olhou para suas mãos, macias e pequenas, imaginando por um instante que ele as segurava com carinho.

    No Ducado de Champfield, Mathilde, pela janela de seu quarto, observava Theodore acompanhando o jardineiro em suas tarefas. Não se conformava por ele ter o péssimo hábito de conversar com vassalos e criados. A mesma mania de Carl, o verdadeiro amor da duquesa. Carl dizia que não se poderia julgar uma pessoa por sua classe, mas sim pelo seu caráter. Por isso, procurava conhecer melhor todos à sua volta, para saber em quem confiar.

    Bobagem. Essa é a única tolice de Carl, pensou.

    Pelas suas costas vinha se aproximando o duque Albert. Mas como ele nunca conseguia surpreendê-la, antes mesmo de chegar, ela ainda olhando para Theodore, lhe perguntou:

    – Você viu o que aconteceu hoje na igreja?

    – Alguma briga, confusão, insulto? – Albert sabia que nesse tom de voz, Mathilde só poderia estar fazendo intriga. Aos olhos dele, era o passatempo preferido da mulher.

    – Não sei ao certo. Vi um rapaz tentando se aproximar de Isabelle. Felipe o impediu, mas o jovem pareceu insistir em seu intento.

    – Não comece, Mathilde. Seus olhos são maldosos. Conseguem enxergar só o pior.

    – E seus olhos são cegos. Nada veem nem mesmo diante de você.

    Sem paciência para discutir, Albert se retirou. Mathilde ficou pensativa. Queria descobrir se Isabelle conhecia aquele rapaz. Ou pior, se ela o encontrava às escondidas. Seria considerada uma afronta a Theodore.

    Theodore... É isso. Vou mandá-lo até lá. Ele precisa tirar essa informação dela.

    Capítulo II

    A noite ficara para trás e a madrugada de domingo para segunda-feira já estava no fim. William não conseguia dormir. Isabelle não saía de sua cabeça. Passou parte da noite fantasiando encontros, passeios e beijos. Voltando à realidade, como se levasse uma pancada na cabeça, lembrou-se do Sr. Geoffrey cobrando o pagamento mensal. Depois de pensar por muito tempo sobre o que poderia fazer para ajudar seu pai, teve uma ideia, levantou-se da cama e saiu com cuidado para não acordar os demais.

    Poucas horas mais tarde o sol já começava a iluminar os campos. Mort, encostado na porta de seu casebre, tomava um pouco de mingau e comia um pedaço de queijo feito com leite de ovelhas, que Ellen havia preparado na noite anterior. Olhava para o nada. Pensava em como iria pagar o conde. Com a colheita dos cereais prejudicada e os animais fracos, nada serviria como pagamento. Seu olhar se fixou em um ponto no meio da plantação. Franziu a testa e apertou os olhos. Pegou uma foice e foi em direção ao ponto em que achava ter visto alguém se mexendo. Ao chegar mais perto notou uma mesa bem no meio de sua plantação de cevada.

    Quem poderia ter colocado uma mesa... Mas o que é aquilo? – se perguntou enquanto se aproximava. Ainda intrigado, viu um homem agachado no chão com um pano na cabeça. Sorrateiro, aproximou-se e ergueu a foice. Quando chegou bem perto, perguntou aos gritos:

    – O que faz aqui na minha plantação?

    Depois do susto e de ter dado um pulo para trás, o tal homem se voltou para Mort.

    – Pai! O senhor me assustou!

    – William? Mas o quê... – ainda sem entender nada, olhou ao redor e questionou: – Por Deus, William, o que você faz aqui?

    – Fique calmo, meu pai! Eu vou explicar.

    – Então comece... – Mort fez a cara de desconfiado que William já conhecia. Sempre que o filho tinha alguma ideia e ia contar a ele, era a mesma expressão.

    – Não consegui dormir. Estava preocupado com o que o Sr. Geoffrey nos disse e tentei achar alguma solução. Se pegássemos nossos cereais da dispensa, ficaríamos sem o que comer nas próximas semanas e, estando fracos, como poderíamos dar conta de tudo aqui? E tive a ideia de fazer uns pães de trigo e cevada para levar para o Sr. Geoffrey.

    – Pães? Você ficou louco, William? Ele nunca vai aceitar o pagamento em pães. E o que ele vai fazer com tantos pães? Por Deus!

    – Não será o pagamento todo. Apenas uma parte. Assim ele se acalma e pode nos dar mais um tempo.

    – E o que ele fará com tantos pães, William? Você perdeu o juízo e gastou nosso trigo, cevada e... – gaguejou – ... e sei lá mais o quê!

    – Pai, me escute... O senhor deve se lembrar de ontem na igreja... fomos avisados sobre a corveia.

    – Sim, me lembro, mas o que isso tem a ver com esse monte de pães? Quantos você fez?

    – Até agora... acho que noventa ou um pouco mais, talvez.

    – Por Deus, William... você...

    – Espere, meu pai, por favor! Assim como nós, muitos homens vão trabalhar na corveia e o conde terá que alimentá-los durante o dia de trabalho. Nós podemos oferecer ao Sr. Geoffrey esses pães para que ele oferte ao conde. Se ele ficar satisfeito, poderá esperar um pouco mais pelo pagamento.

    Mort ponderou a respeito. Aquilo poderia mesmo dar certo. Havia o risco de Geoffrey não acreditar que o conde poderia gostar da oferta, mas valia a pena tentar.

    – Meu filho, acho que isso pode dar certo. É uma mesmo uma boa ideia! Mas me diga, por que você veio parar aqui no meio da plantação? E por que não nos pediu ajuda?

    – Não queria acordá-lo com o barulho, meu pai. Não consegui dormir direito e com isso não poderia ir até o Sr. Geoffrey para propor-lhe a entrega dos pães. E o senhor teria que estar descansado para andar até lá.

    – Bom garoto... bom garoto! – Mort sorriu. – Vou chamar a sua mãe para levar os que já estão prontos para o forno. E depois vou falar com o Sr. Geoffrey.

     A corveia fazia parte do contrato entre senhores e vassalos. Quando bem entendesse, o conde, por exemplo, poderia reunir todos os camponeses para executar trabalhos em suas terras de uso próprio.

    Quem diria que a corveia seria a solução dos problemas de Mort. Sempre foi o contrário, pois esses dias significavam dias sem produção em suas próprias terras. Dessa vez a ordem tinha vindo em boa hora. Na região, pães assados eram raros, mas graças ao forno que Mort e William construíram do lado de fora da casa antes do inverno passado, era possível assá-los. Para William, fazer os pães era mais do que simplesmente ajudar seu pai. Era bom também para tentar esquecer Isabelle, embora toda vez que parava para descansar, aqueles olhos azuis pareciam estar sempre à sua frente.

    Enquanto isso, no ducado de Champfield, se desenrolava mais um dia normal na cozinha do castelo. Ou seja, Mathilde já tinha brigado com todos os criados e encontrava defeitos em tudo no desjejum. Albert se limitava a balançar a cabeça em sinal de reprovação. Se falasse alguma coisa, ela ficaria ainda mais irritada.

    – Theodore! Theodore! Onde está esse preguiçoso? – gritou Mathilde.

    – Ele ainda está dormindo, senhora – disse uma das criadas.

    – Ora, então vá acordá-lo imediatamente. Preciso que ele saia.

    – O que você está tramando, Mathilde? – perguntou Albert.

    – Meu caro marido, cuide de suas terras. Deixe que eu cuido do futuro de nossos filhos.

    Em outras famílias isso poderia ser considerado um ultraje, uma atitude imperdoável, mas Albert já estava acostumado com as grosserias de Mathilde. E era ele o culpado por essa falta de respeito. No começo do casamento fazia de tudo para agradar a esposa. Era extremamente apaixonado por ela e fazia todas as suas vontades. Mathilde por sua vez, casou-se apenas por causa de um contrato entre famílias. Sempre odiou Albert. Acabou se acostumando com sua presença, mas nunca sentiu amor por ele.

    – Vou cuidar... vou cuidar. – Albert jogou o guardanapo na mesa e saiu chateado com Mathilde.

    – Hum... Tolo! – murmurou

    Está gostando da amostra?
    Página 1 de 1