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A Selva de Perschil
A Selva de Perschil
A Selva de Perschil
E-book513 páginas6 horas

A Selva de Perschil

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Sobre este e-book

Esta não é uma história de bem contra o mal. Não há vilões ou mocinhos. Há, apenas, seres humanos, cada um em seu mundo, cada um com suas convicções, suas tradições, seus objetivos e seus meios. E, é claro, os choques que se dão, quando os interesses de seres humanos completamente diferentes se colocam frente a frente. Tecnologia e natureza, medo e coragem, trauma e superação, aberto e fechado, claro e escuro. Valores materiais e imateriais. Em um mundo em que nada acontece por acaso, as dicotomias se opõem em uma relação de causa e efeito, sucedendo-se como o yin e o yang.

IdiomaPortuguês
Data de lançamento12 de mar. de 2022
ISBN9781005075231
A Selva de Perschil

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    A Selva de Perschil - Sérgio Domingues

    1. Prólogo

    Acordei assustado. O despertador parecia ter parado de funcionar. Se eu chegasse atrasado ao trabalho...

    Porém, o receio logo se mostrou infundado: ainda faltava um minuto para que o despertador tocasse. Não fazia sentido tentar aproveitar esse minuto para dormir mais um pouco. Levantei-me, cansado. A noite tinha sido longa e o sono, curto. Preparando o café, me entreguei ao remoer das ideias a respeito do que deveria fazer com a minha vida.

    Como tantas vezes antes, naquele momento me parecia que já tinha passado da hora de abandonar o trabalho de garçom naquela lanchonete de quinta categoria. Era hora de procurar outra coisa menos ingrata para ganhar a vida. Já tomando o café, o fluxo de pensamento me levou à conclusão de que, apesar de tudo, não havia nada que eu pudesse fazer para melhorar minha situação. Pelo menos, não naquele momento.

    Sem pensar muito, dei início ao ritual repetido todos os dias: acordar às dez da manhã, trabalhar num caixa de supermercado até as nove da noite e, depois, como garçom até as quatro da manhã... dormir às quatro e meia e no outro dia acordar às dez de novo...

    Fazia cerca de dois anos que eu levava essa vida. Dois anos sobrevivendo num emprego ruim atrás do outro. Dois anos morando em pensões. Dois anos guardando o escasso dinheiro em uma maleta velha. Dois anos sem amigos, sem família, sem identidade.

    Mas também eram dois anos de relativa paz. Dois anos de segurança, sabendo que, se não me descobrissem, eu não seria incomodado.

    Mas... a que preço? Valia a pena sobreviver assim, sem poder, realmente, viver? Sem poder ter um nome, uma vida, uma identidade...

    Todos os dias eu chegava à conclusão de que não valia a pena. Mas, então, logo em seguida me lembrava de que a alternativa seria muito pior. O que me levava a continuar como estava era apenas a certeza de que, se me descobrissem e eu não conseguisse escapar, eu teria algumas horas de vida, no máximo. Seria um caminho só de ida, não haveria possibilidade de retorno.

    Enquanto me preparava para ir ao primeiro emprego do dia, liguei a televisão. Não me arriscaria a ter um computador com internet. Pelo menos a boa e velha televisão não exigia nenhum tipo de identificação. Fazia muito tempo que não havia nenhuma notícia interessante, mas, ainda assim, era uma das únicas opções de distração que eu tinha. Por acaso – seria mesmo acaso? – sintonizei um noticiário e fui passar a ferro meu uniforme. Notícias banais: um assalto, um político corrupto reeleito, uma enchente, alta no preço dos alimentos...

    Cheguei a me distrair com o trabalho de passar a camisa, até que ouvi um nome que imediatamente me fez gelar o sangue nas veias. Era uma notícia sobre algo que tinha sido descoberto na Selva Amazônica.

    Selva Amazônica... a simples menção àquele lugar me causava arrepios. Ouvir sobre uma descoberta na Selva Amazônica quase foi suficiente para me deixar em estado de choque.

    A notícia foi rápida, mas seu teor e as imagens foram suficientes para me deixar sem ação por um momento, enquanto a mente era assaltada por lembranças daquilo que tinha acontecido, alguns anos antes, exatamente no lugar que era mostrado na tela. Um lugar que eu pensei que nunca mais veria em toda a minha vida.

    Só percebi que estava queimando minha camisa quando já era quase tarde demais. Evitei um incêndio, mas ia precisar de um novo uniforme. Que, obviamente, seria descontado do meu burlesco salário.

    Dane-se!, gritei sozinho no quarto—que a dona da pensão chamava de casa – , percebendo que também estava no limite para conseguir chegar em tempo ao ponto de ônibus. A urgência serviu para me tirar daquele estado de transe. Não que eu tivesse parado de pensar sobre aquela notícia. Não haveria como parar de pensar naquilo. Agia como um autômato, com a habilidade de quem tinha praticado todos os dias nos meses anteriores exatamente a mesma rotina.

    Então eles descobriram!, dizia para mim mesmo, repetidamente. Mas como? Foi tudo destruído! Será que sobrou alguma coisa para ser descoberta?, continuava remoendo sem cessar.

    Ao chegar ao mercado, a repreensão pelo uniforme perdido e pelo atraso foram assimiladas automaticamente. Agradeci pelo uniforme novo sem saber exatamente o que estava dizendo. A mente estava centenas de quilômetros longe dali, num local perdido no meio da selva amazônica.

    E agora, o que eu faço?, pensava ininterruptamente. Após duas horas de trabalho, já estava exausto. Não pelo trabalho, mas por pensar tanto e tão intensamente sobre aquele lugar. Era uma carga enorme, saber o que eu sabia, ter vivido o que eu vivi, sem poder dizer a ninguém. Mas agora tudo viria a público. Se houvesse sobrado algum registro naquele lugar, meu envolvimento com o caso provavelmente seria conhecido. De que forma isso me afetaria? Eu tinha conseguido fugir aos perseguidores durante dois anos. Se a polícia também passasse a me procurar, eu teria ainda mais dificuldade para continuar me escondendo.

    Eu teria que fazer alguma coisa, fosse para me esconder melhor, fosse para me entregar e pedir proteção à polícia, ao governo ou a quem quer que fosse.

    Às duas da tarde, minha cabeça doía tanto que não tive condições de continuar em meu posto. Pedi ao meu superior que me liberasse pelo resto do dia. Claro que, sendo apenas um empregado, eu não tinha direito de pedir ou querer nada. Mas, como ele podia ver que eu não tinha realmente condições de continuar trabalhando aquele dia, acabou concordando—não de boa vontade. A ameaça de demissão foi até bem-vinda: na iminência de ser descoberto, minhas perspectivas não eram muito boas de qualquer forma. Passar o que talvez fossem meus últimos dias sem ter que aguentar aquela gente miserável talvez seria a melhor coisa que eu poderia fazer.

    Ao chegar à minha casa, só conseguia pensar em uma coisa: dormir. A esperança de que tudo aquilo não passasse de um sonho era já um sonho em si, o primeiro que chegava enquanto eu ainda estava acordado. Não cheguei a ver como abri a porta nem como cheguei à minha cama. Não cheguei a ouvir o telefone tocar quando não apareci no bar para meu emprego noturno. Minha mente estava esgotada por causa da tempestade desencadeada por aquela notícia.

    Acordei às quatro da manhã com a cabeça ainda doendo e os pensamentos ainda se atropelando. Liguei a televisão para ver se havia alguma novidade sobre o assunto. Durante alguns minutos, encontrei apenas filmes antigos, reprises de programas de auditório insuportáveis e sessões de lavagem cerebral religiosa. Mas, quando já estava a ponto de desligar a TV, entrou um resumo de notícias. Entre outras novidades já batidas, uma referência à descoberta, em plena Selva Amazônica, de algumas instalações, aparentemente militares, quase completamente destruídas. O especialista entrevistado divagava a respeito de possíveis governos interessados em montar bases naquele local, visando uma invasão da Amazônia.

    Então, realmente, não foi tudo destruído!, pensei, vendo as imagens de locais que cheguei a conhecer muito bem. O mato tinha tomado conta de tudo, mas, pela posição do que restou das construções, era o mesmo lugar, sem dúvida.

    Onde é que fica essa porcaria? Fala logo! Quero saber onde fica esse maldito lugar!, resmungava entre os dentes, diante da renitência de minha prolixa, porém unilateral, interlocutora. Mas, para meu desespero, não houve nenhuma referência à localização exata da descoberta. Aparentemente os jornalistas não achavam importante indicar de maneira mais precisa a localização de um monte de ruínas no meio de um mundo de selva. Afinal, quem se importaria em saber, ou ainda, quem teria condições de compreender, a localização de alguma coisa perdida no meio daquela vastidão de floresta tropical?

    Eu quero saber onde fica! —acabei dizendo em voz alta. Assustei-me com a possibilidade de a dona da pensão me expulsar de lá por ficar gritando no meio da madrugada, incomodando os outros inquilinos. Seria difícil encontrar outro lugar para ficar, em que eu não precisasse apresentar documentos. Mas não pude evitar, eu realmente queria saber a localização daquelas ruínas, dos restos do que, um dia, tinha sido uma grande e bem equipada base operacional em plena selva.

    Era engraçado: mesmo com o risco de ser descoberto, mesmo com as prováveis consequências nefastas daquela notícia, a coisa que mais me atormentava era justamente a localização. Era desesperador ter passado por tanta coisa em um lugar e não saber, com certeza, onde tudo tinha acontecido. Era justamente isso que eu pensava quando terminou a reportagem. Meu medo não era tanto ser descoberto. Já estava cansado de fugir e sabia que, um dia ou outro, eles me encontrariam. Mas eu não queria morrer sem saber onde foi que aquilo tudo aconteceu. Eu precisava saber em que lugar no meio daquela selva minha vida tinha sofrido aquela mudança de rumo tão drástica. Só assim eu me conformaria de que não tinha ficado louco. Só assim eu teria a certeza de que eu não estava fugindo de fantasmas, de tudo aquilo realmente tinha acontecido.

    2. Encontro

    Era um grupo interessante, sob o ponto de vista étnico. Dez pessoas, oriundas de seis países diferentes, reuniam-se às margens de um rio, próximo a uma cidade nas bordas da floresta Amazônica. O sol tropical do meio-dia castigava a todos, como se os estivesse punindo por se aventurarem naquele lugar de natureza selvagem e, em parte, ainda intocada.

    Gunther Meyer, um engenheiro alemão, suportava estoicamente o calor. Nunca antes tinha saído da Europa, mas era de compleição forte e não se abalava com qualquer coisa. Parecia muito à vontade naquele lugar, apesar de seus cerca de cento e vinte quilos e do ventre relativamente volumoso. Não ficava sem segurar um cigarro, aceso ou não, por um único momento que fosse.

    Peter e Françoise Svante também não pareciam se incomodar com o clima quente, úmido e abafado. Embora ele fosse sueco e ela francesa, o casal já tinha percorrido o mundo e conhecia todos os tipos de climas. Petrus Seligsson Svante era um arqueólogo famoso, conhecido por seu estilo pouco acadêmico e por seu faro fenomenal para encontrar artefatos antigos. Sua esposa, Françoise Lavoie Svante, era uma espécie de gênio na área da tradução: conhecia pelo menos um pouco de todas as línguas que pudessem ser mencionadas, sendo fluente em uma quantidade mitológica de línguas de todo o mundo. Era conhecida por sua habilidade em mudar de uma língua para outra instantaneamente, podendo conversar ao mesmo tempo com pessoas de várias nacionalidades, sem se perder. Apesar de ser cidadã francesa, qualquer um que olhasse para ela não deixaria de perceber sua ascendência chinesa.

    O russo Vladimir Karantsov suava como um condenado. Olhava para os lados o tempo todo, como se quisesse encontrar um jeito de sair daquele lugar infernal. Era um zoólogo de primeira linha, tendo estudado espécies animais em várias partes do mundo. Mas sempre sofria quando precisava enfrentar um clima daqueles.

    John Parson, o americano especialista em explosivos, divertia-se matando insetos com a ponta da bota. Quem não o conhecesse julgaria que ele estava completamente distraído. Na verdade, observava cada uma daquelas pessoas com o canto dos olhos e ouvia cada uma das poucas palavras que diziam. Imaginava que o trabalho tivesse a ver com alguma jazida mineral, talvez até mesmo petróleo, considerando os cem mil dólares que tinha recebido em adiantamento, além dos outros quatrocentos mil dólares que receberia após a conclusão do trabalho, de acordo com o contrato que tinha assinado.

    Quem não ficava atrás dele na análise das personalidades presentes era a psicóloga, também americana, Dana Stevens. Ela, porém, não tentava disfarçar. Olhava longamente para cada uma das pessoas, sorrindo quando era descoberta pela pessoa que estava sendo observada. Ela era a única que ainda não tinha dito uma única palavra desde sua chegada. Tinha vindo em um bote, acompanhada por alguns homens tão calados quanto ela, que depois foram embora sem se despedir. Não parecia se incomodar com o calor e o sol forte, mas não seria possível dizer se estava acostumada àquelas condições ou se simplesmente suportava aquilo calada.

    O outro francês, o jovem Pierre Montaignard, entretinha-se com um computador portátil. Especialista em computadores, hacker de fama duvidosa e matemático internacionalmente premiado, era o que mais quebrava a cabeça para descobrir que utilidade ele teria ali, no meio da selva, onde não havia nem mesmo energia elétrica. Não tinha mais que vinte e três anos de idade. Suas roupas demonstravam que ele sabia muito bem lidar com o clima local, embora sua pele, quase albina, indicasse que não costumava enfrentar climas tropicais – ou mesmo ambientes ao ar livre—com muita frequência.

    O brasileiro Victor Rodrigues olhava para a água do rio. Tentava se distrair com os reflexos que se formavam na superfície. Astrônomo, também ignorava o motivo de ter sido contratado para um trabalho no meio da Amazônia. O prazo do contrato também o deixava intrigado: indefinido. O pagamento de quinhentos mil dólares, dos quais cem mil já haviam sido depositados em sua conta bancária sem que ele precisasse fornecer os dados da mesma, também dava o que pensar, embora tivesse sido um grande incentivo para que ele aceitasse o emprego imediatamente.

    O outro brasileiro, o geólogo Ricardo Martinelli, resmungava sozinho, reclamando do sol forte e dos insetos. Preferia analisar amostras no ar-condicionado de um laboratório. Mas a garantia de um trabalho que lhe daria reconhecimento internacional tinha feito com que ele aceitasse aquela provação, embora não sem uma certa hesitação. Diferente do que aconteceu com seu compatriota, o pagamento adiantado não o tinha animado nem um pouco; pelo contrário, apenas o tinha deixado irritado, pois, em sua opinião, suportar alguns meses em mata tropical valia muito mais que os quinhentos mil dólares oferecidos.

    O terceiro americano do grupo, Eduard Miller, era o único deles que não tinha nenhuma formação e também nenhuma especialidade. Chamado de cowboy pelos outros dois americanos, declarava-se como agente de segurança, embora aquilo correspondesse vagamente à verdade. Durante seus quarenta e poucos anos de vida, já tinha sido traficante de drogas, guia turístico em locais como o Grand Canyon, policial, militar e até piloto de testes para carros de corrida. Não costumava ser muito educado, o que levava as pessoas a considerarem-no antipático e orgulhoso. Tinha, porém, uma grande habilidade em reconhecer o perigo em qualquer situação e determinar o procedimento a ser tomado. Isto lhe dava uma ideia do valor que teria naquele lugar.

    Fazia duas horas que eles tinham chegado, quase todos ao mesmo tempo, àquela clareira na borda de um rio. Em uma área de uns cem metros quadrados havia apenas areia e uma ou outra pedra. A clareira limitava-se, de um lado, pelo rio, e, de todos os outros lados, pela mata densa. Alguns chegaram de helicóptero, vindo da capital do estado, Manaus. Outros tinham chegado pela água, a maioria em um barco de transporte regular que levava os habitantes locais de uma povoação a outra.

    Como todos falavam inglês, podiam se comunicar sem problemas. A dúvida que todos tinham era a mesma: qual a finalidade da reunião daquele grupo? Por que cada um deles tinha recebido cem mil dólares de adiantamento e assinado um contrato no valor de quinhentos mil dólares para realizar um trabalho no meio da selva Amazônica? Quem os tinha contratado?

    Pelo que puderam constatar, compartilhando informações entre si, tinham sido contactados pela mesma pessoa: um homem de cerca de trinta e cinco anos falando um inglês mais ou menos australiano, de acordo com a definição da linguista sino-francesa, e que se identificava apenas como Perschil. O procedimento tinha sido o mesmo para todos: por telefone, ele informava de que já tinha feito um depósito referente a uma proposta de trabalho. No dia seguinte, ele ligava novamente e informava que o adiantamento era um presente, um incentivo para que a pessoa aceitasse a proposta, sem necessidade de devolução caso não houvesse interesse no trabalho. Em seguida, falava alguma coisa sobre a importância daquela expedição, sobre as consequências fantásticas no caso de obterem êxito e sobre como a pessoa, com suas habilidades específicas, seria imprescindível para que fossem bem-sucedidos. Invariavelmente acabava convencendo a pessoa a aceitar o contrato, levando-a também a só se lembrar de perguntar quem era o empregador quando ele já tinha desligado.

    Assim, nenhum deles sabia exatamente se eles estavam trabalhando para um particular, para uma empresa ou mesmo para algum governo. Também ignoravam qual era a finalidade da expedição, nome pelo qual o misterioso Sr. Perschil aludia ao trabalho. E nenhum deles tinha encontrado pessoalmente a pessoa que se identificava como Perschil. Ele não se dignou a encontrá-los pessoalmente nem mesmo para a assinatura dos contratos, o que foi feito por meio de representantes enviados por ele.

    Cada um deles não parecia se interessar muito por nenhum dos outros em particular. O casal Svante mantinha-se a um canto, perto da margem do rio, conversando em voz baixa em alguma língua que ninguém conseguiu identificar. Vez por outra, um ou outro daqueles que mais sofriam com o clima local soltava algum palavrão em sua língua nativa.

    Tinham sido informados de que deveriam se encontrar naquele local, uma área sem vegetação à margem de um rio, próximo a uma determinada cidade do estado do Amazonas. Para confirmar, receberam as coordenadas de localização por GPS. O tal do Perschil exigiu que estivessem todos lá às dez da manhã, para serem transportados até uma clareira no meio da selva, de onde iriam a pé até o local em que se encontrava a expedição. O próprio Perschil assegurou que estaria lá esperando por eles e serviria de guia até a base da expedição.

    -Cinco milhões de dólares.

    A voz de adolescente, falando um Inglês com um forte sotaque francês, quebrou o silêncio que já se começava a se tornar constrangedor. O jovem especialista em computadores foi o primeiro a não suportar a falta de comunicação que havia reinado até aquele momento entre eles.

    -O que foi? – perguntou, em resposta, o cowboy.

    -Cinco milhões de dólares – repetiu o francês, retirando os óculos para uma limpeza.

    -O que tem isso? – o americano realmente parecia não entender do que se tratava.

    -Os contratos – interrompeu o engenheiro alemão, parecendo aliviado por finalmente encontrar algum assunto para conversar.

    -Sim, os contratos – confirmou o rapaz. Nossos contratos somam cinco milhões de dólares! Já pensaram nisso?

    O cowboy parecia disposto a manter a fama de antipático: fez cara de quem não quer saber de bobagens, seguido de um gesto de pouco-caso

    O alemão, por outro lado, parecia realmente interessado no assunto:

    -Ja, ja, pensei muito nisso. É alguém muito rico.

    -Sim, muito rico mesmo. Com certeza é uma grande empresa.

    -Ou então um governo... não é possível?

    -Sim! Vários países têm interesse na Amazônia...

    O brasileiro Victor Rodrigues não gostou do que ouviu. Interrompeu bruscamente o jovem francês:

    -Deixe de bobagens. O único país que pode pôr as mãos na Amazônia é o Brasil.

    O rapaz dos computadores não estava disposto a entrar em uma briga:

    -OK, tudo bem, eu não questiono isso. Mas você não acha que é possível que algum governo de outro país queira explorar a Amazônia? Ilegalmente, mesmo. Não acham suspeita a forma como fomos contratados? E essa quantia de dinheiro? Cinco milhões de dólares apenas com os nossos contratos! Só isso já é demais, mesmo para uma grande companhia. Imagine quanto esse Sr. Perschil não deve estar gastando com essa coisa? Pelo que ele disse, nós não somos os únicos...

    -E o custo de logística deve ser enorme, para manter uma expedição no meio da selva – complementou o alemão.

    -Exato! Eu estive calculando...

    -Ora, rapaz! – Martinelli, o geólogo, irrompeu, dando vazão ao seu descontentamento. –Já é quase insuportável ficar aqui esperando, a gente ainda tem que ficar ouvindo você e os seus cálculos?

    Por um momento ninguém se manifestou. Ninguém parecia interessado em começar uma briga.

    O sueco Peter fez uma tentativa de desviar o assunto:

    -Aliás, o que ele disse a vocês? Também falou do helicóptero?

    O alemão definitivamente estava interessado em manter uma conversa, fosse qual fosse:

    -Ach, ja! Devemos aguardar aqui o helicóptero que virá nos buscar, ele disse isso...

    -Sim, para mim também – acrescentou o russo.

    -Há espaço para um helicóptero aqui, Per? —era a primeira vez que ouviam a linguista sino-francesa se manifestar em voz alta.

    -Creio que sim, chérie, a clareira é bem grande. Se ele pousar com a cauda virada para o rio, vai poder...

    -Fiquem quietos! – novamente o cowboy fazia mesmo questão de não ser simpático. – Estão ouvindo isso?

    Como ele realmente parecia estar tentando ouvir alguma coisa no ar, os outros não reagiram à sua falta de educação da maneira como gostariam de ter feito. Ficaram também tentando ouvir algo. Depois de um tempo, o garoto dos computadores se manifestou:

    -Não ouço nada.

    -Eu também, nitchivó. – completou o russo.

    -Calem a boca! Ele está chegando!

    -O helicóptero? —quis saber o alemão.

    -Não, o Papai Noel... É claro que é o helicóptero!

    Todos começaram a olhar para o céu, mas na verdade não tinham nem ouvido nada ainda. Apenas depois de cerca de um minuto o geólogo Martinelli confirmou:

    -É verdade, já estou ouvindo também! Só não sei dizer de que direção está vindo...

    -Vem do norte – atalhou o cowboy – , mas parece não ter certeza do caminho; já mudou de direção umas três vezes. Você sabe onde fica o norte, não?

    Seu sorriso de deboche conseguiu irritar o brasileiro:

    -O que você acha que eu sou, seu fazendeiro de uma figa? Se eu fosse um desqualificado como você, talvez eu não soubesse, mas...

    -O que foi que você disse? – o cowboy pareceu ter-se esquecido do helicóptero. Virou-se para Martinelli com os olhos parecendo soltar faíscas. – O que foi que você disse, seu babaca?

    -E você, quem você pensa que é, seu idiota? Nem sei por que você está aqui! Todos nós somos especialistas em alguma coisa, só você é um criador de vacas que não é especialista em porcaria nenhuma. Se eu fosse você...

    Martinelli não conseguiu continuar; antes que pudesse esboçar qualquer reação, já estava dominado por Miller, que segurava um canivete aberto com a lâmina encostada ao seu pescoço.

    -Então, você quer saber no que é que eu sou especialista? Quer? —sussurrou ao ouvido do geólogo, que estava apavorado.

    O outro americano resolveu intervir:

    -Hei, parem com isso, vocês dois! Será que precisam ser tão infantis assim?

    A tensão dominava o ambiente, enquanto o ruído do helicóptero tornava-se já bem distinto. O cowboy continuava segurando Ricardo, que não se atrevia a mover um músculo. Os olhos de Miller chispavam de raiva, olhando agora para seu compatriota, que continuava argumentando:

    -Nós estamos do mesmo lado, esqueceram? É provável que tenhamos que conviver uns com os outros durante semanas, talvez até meses, e é assim que vocês pretendem começar? Brigando?

    O cowboy soltou sua vítima com um empurrão, mas continuou segurando o canivete. Ainda olhando para o outro americano, disse:

    -É melhor você cuidar da sua própria vida. Comigo ninguém faz graça...

    Parson respondeu, sem se abalar:

    -Eu estou justamente cuidando da minha vida. Se vamos trabalhar em equipe, tudo o que acontecer entre nós será da conta de todos os outros.

    Nesse instante todos ouviram algo completamente inesperado: tiros. Pareciam vir da mesma direção que o helicóptero e, após duas rajadas curtas do que parecia ser uma submetralhadora, o ruído do helicóptero ficou mais forte e pareceu mudar ligeiramente de direção.

    -Mas o que foi isso? —perguntou o alemão.

    -Tiros – disse o arqueólogo.

    -Submetralhadora – esclareceu o cowboy.

    -Exato – confirmou Parson, o especialista em explosivos. – Mas o que está fazendo aqui nesse lugar?

    -E em que está atirando? – retrucou Miller.

    Foi a vez do garoto francês:

    -Esperem aí, têm certeza disso? Podem não ter sido tiros...

    Parson o interrompeu:

    -Sim, foram tiros, disso não tenho dúvida.

    -Estamos perto de alguma fronteira?

    -Claro que não, garoto! Você não tem nenhuma noção de geografia, é? – novamente o cowboy aproveitou a oportunidade para humilhar o outro.

    O alemão continuava amigável:

    -Ele tem razão, garoto. Estamos a várias centenas de quilômetros de qualquer fronteira. Estamos em pleno território brasileiro...

    Menos de um minuto depois, o ruído do helicóptero já era forte o suficiente para impedir uma conversa em volume normal. Após alguns instantes, a máquina surgiu, finalmente, pairando por sobre as árvores, tornando impossível ouvir os próprios pensamentos.

    Por sobre a clareira, girando lentamente ora para um lado, ora para o outro, o gigante parecia procurar uma maneira de pousar. Com seus dezoito metros de comprimento, um Mi-8T brilhava ao sol, deixando atônitos todos do grupo. Alguns tentavam conversar, mas era simplesmente impossível ouvir qualquer coisa que dissessem. O cowboy fazia sinais, mas os outros demoraram para entender o que ele queria dizer: deviam sair da clareira, afastando-se do helicóptero, visto que o pouso certamente seria difícil. Um a um, os recentes companheiros começaram a correr para fora da clareira, sem deixar de olhar para o gigante que descia lentamente. Uma guinada um pouco mais brusca assustou alguns deles, mas não teve nenhum outro efeito. Começou então a descer aos socos, caindo cerca de um metro e detendo bruscamente a queda, a intervalos de alguns segundos. O piloto parecia ter uma certa dificuldade em manejar todo aquele peso num espaço tão exíguo.

    Finalmente chegou ao solo, de maneira um tanto brusca mas com a queda amenizada pela relativa suavidade do chão arenoso. A margem do rio tinha se retraído alguns metros devido à coluna de ar descendente causada pelos rotores da grande máquina. Folhas, gravetos e areia ainda faziam parte do ar, quando os motores foram colocados em ponto morto.

    Um rapaz com macacão de aspecto militar e um capacete de piloto pôs a cabeça para fora do compartimento de carga e logo em seguida saltou do helicóptero. Veio em direção ao alemão, que era o que mais próximo tinha ficado da aeronave. Como ainda era difícil ouvir uns aos outros, apresentou-se, aos berros:

    -Olá! Vocês são o grupo do Sr. Perschil? Meu nome é Johnny. O Sr. Perschil nos enviou para buscar vocês!

    O alemão viu que dentro do helicóptero havia mais dois homens, ocupados com os instrumentos do painel. Gritou de volta:

    -Somos nós mesmo. Mas de onde vem essa coisa? Por que o Sr. Perschil mandou uma coisa tão grande para nos apanhar?

    -Além de vocês e suas bagagens, temos uma boa quantidade de equipamentos para levar. Vamos precisar de algumas horas para...

    Nisso os dois americanos já tinham se aproximado. O cowboy mal esperou o recém-chegado terminar de falar:

    -Como assim, algumas horas? Achei que a coisa seria perto daqui!

    -Não, não, amigo, são pelo menos cinco horas de viagem!

    -O quê? Pra onde nós vamos?

    O homem do helicóptero soltou uma risada, antes de responder:

    -O senhor conhece a região? Porque, se não conhece, não tem como eu dizer aonde nós vamos. Não faz sentido para quem vem de fora: é tudo mato! Tudo selva, para qualquer lugar em que o senhor olhar! Se quiser, eu posso lhe passar as coordenadas, mas não acho que...

    -Pois então, me passe as coordenadas! Quero saber para onde estarei sendo levado!

    Miller teve que repetir mais duas vezes sua exigência, gritando cada vez mais forte, até que o recém-chegado conseguisse entendê-lo.

    -Bem, isso é lá com o piloto... ele é o responsável pela missão... só não veio se apresentar na frente porque precisa resolver umas coisas na instrumentação da aeronave...

    -Resolver o quê? Aquilo ali está com algum defeito? – perguntou o outro americano.

    -Não, defeito não, mas é necessário conferir as coordenadas do destino e relacionar com a nossa posição atual.

    Novamente o cowboy:

    -Ouvimos tiros pouco antes de vocês pousarem. O que foi aquilo?

    -Ah, os tiros... traficantes... estão em todos os lugares! Devem ter achado que éramos militares! Ou então acharam que éramos nós mesmos! Hahaha!

    Ninguém entendeu a piada; o cowboy pareceu até ter ficado irritado com ela. O alemão mudou de assunto:

    -Se o senhor não é o piloto, o que é então?

    -Sou o engenheiro de vôo. São necessárias três pessoas pra fazer esse bebê voar!

    As pás do rotor do Mi-8 ainda estavam girando, enquanto todos olhavam admirados para a grande aeronave. O piloto devia ser realmente muito bom, para ter conseguido aquele pouso, mesmo considerando toda a dificuldade que teve. Nisto, o russo, que até então tinha se mantido afastado, ocupado com sua bagagem, pareceu despertar de um sono profundo:

    -Meu Deus! Que maravilha! Grande, grande aeronave russa! Das melhores! Não é à toa que tantos países fazem questão de ter aeronaves russas! As melhores! Melhores do mundo todo! Óchin kharashó! Lútchshiy! Aposto que o piloto também é russo!

    Não demorariam a saber, pois o piloto já estava saltando da cabine. O co-piloto permaneceu em seu posto.

    O piloto tinha cara fechada. Parecia estar ali contra a sua vontade. Perguntou, secamente e com um ligeiro sotaque que tanto poderia ser de árabe ou de russo:

    -Quem de vocês está no comando aqui?

    O russo adiantou-se em responder:

    -Niktó iz nas nye zanimáytse, no...

    Foi bruscamente interrompido, com um empurrão, pelo cowboy:

    -Eu estou no comando! Quando poderemos partir?

    O piloto pareceu nem perceber a existência do russo:

    -Assim que tivermos conferido as coordenadas e vocês tiverem guardado todas as suas coisas no compartimento de carga. Por que ainda está tudo tão espalhado assim?

    Miller respondeu, gritando:

    -Civis. Sabe como são.

    -Sei sim. Que merda, hein?

    Como os dois ainda estavam gritando, por causa do ruído do helicóptero, todos ouviram a infeliz observação a respeito dos civis. Mas ele pareceu não se importar:

    -Que sejam rápidos então. Temos uma longa viagem pela frente e não quero ter que viajar à noite por aí.

    O cowboy pareceu espantado e perguntou:

    -Longa viagem? Aonde é que nós vamos? Achei que fosse em algum ponto próximo daqui. Não me falaram nada sobre sair do território brasileiro.

    -É, é isso mesmo, a expedição está em território brasileiro sim. Mas não é muito perto daqui. Você não tem ideia de como essa selva é enorme! É um mundo à parte...

    Se normalmente o americano já não tinha uma cara muito boa, agora estava muito pior. O russo tentou perguntar o que havia de errado, mas o cowboy o ignorou solenemente.

    Foram guardando seus pertences no helicóptero, nos espaços indicados pelo engenheiro de voo. Alguns conversavam amigavelmente, outros apenas carregavam suas coisas, mantendo-se calados. O casal Peter e Françoise estava sempre unido, conversando um ao ouvido do outro de maneira que ninguém nunca sabia sobre o que falavam. Quando podiam ser ouvidos, notava-se que falavam em uma língua estranha, que definitivamente não era nem francês (o idioma dela) nem sueco (o idioma dele). Quando um dos dois dava uma instrução, o outro obedecia imediatamente. Frequentemente não precisavam mais que um olhar para se entender.

    Quem mais parecia se interessar pelo casal era a jovem psicóloga americana, dra. Stevens. Notou que nem sempre era o marido que estava no comando: em alguns momentos era a mulher que dava uma ordem, que Peter, por sua vez, também cumpria imediatamente. Sempre que olhavam um para o outro, os dois sorriam de maneira extremamente sutil, que só um observador atento seria capaz de perceber. De repente o cowboy interrompeu os pensamentos da doutora:

    -Moça, isso aqui é pra hoje. Se você quiser ficar por aqui, problema seu; mas o piloto dessa banheira russa aí não vai decolar enquanto não estivermos todos a bordo. Então, se você puder nos fazer o favor...

    -Tudo que é meu já está no compartimento de carga, cavalheiro – respondeu Dana com um sorriso sarcástico. – E como temos pelo menos meia hora antes de decolar, tenho tempo suficiente para esticar um pouco as pernas antes de me enlatar naquela coisa mostruosa. O piloto disse que vai ser uma viagem longa.

    -Conversa! Não podemos estar tão longe assim. Duas horas no máximo. A não ser que estejam nos enganando e nós tenhamos que atravessar a fronteira para realizar esse serviço. De repente quem nos contratou foram os guerrilheiros colombianos!

    O sorriso da moça ficou mais desafiador quando ela perguntou:

    -Então, você não conhece o Sr. Perschil?

    -Claro que não, ninguém aqui conhece! Por quê? Vai me dizer que você...

    -E se conhecesse?

    -Não me venha com conversa fiada. Para mim está muito claro que a senhorita não conhece esse Sr. Perschil.

    -O que o leva a pensar isso?

    -Você quis dar a entender que conhecia o nosso misterioso patrão, quando nenhum dos outros o conhece, só pra ter um ponto de superioridade sobre nós. Não é isso?

    A moça pareceu impressionada, mas não queria dar o braço a torcer:

    -É, se deixarmos de lado o conceito duvidoso de ponto de superioridade, posso admitir que o senhor tem alguma razão. Já estudou psicologia?

    Miller pareceu achar a ideia muito engraçada:

    -Haha, moça, estudar, pode ter certeza que não. Sou um homem de prática.

    Dana limitou-se a arregalar os olhos e inclinar a cabeça, dando a entender que estava apreciando o jogo.

    Foram interrompidos pelo garoto dos computadores:

    -Por favor, alguém viu minha mochila? É uma vermelha...

    O americano respondeu, sem, no entanto, tirar os olhos da moça:

    -Tem um punhado de bolsas por aí, garoto. Como vamos saber qual é a sua?

    -É uma vermelha... uma mochila pequena...

    Pierre parecia não se dar conta do incômodo que estava causando. O cowboy se irritou:

    -Procure por aí! Ou então crie um programa de computador para encontrar suas coisas perdidas! Só não venha me encher o saco com...

    A moça tomou partido do garoto:

    -Eu acho que a vi ali, perto daquela árvore. O russo tirou do caminho quando foi arrastar aquela mala pesada dele.

    Os olhos do jovem francês brilharam:

    -Ah! É aquela mesmo! Muito obrigado, moça!

    Enquanto o cowboy olhava indignado para ele, a psicóloga virou-se e saiu andando em direção ao rio, sem dizer nada. Quando Miller se virou para falar novamente com ela, já não a encontrou ali.

    -Mulheres... – disse com um sorriso matreiro.

    Enfim, todos colocaram suas coisas no helicóptero. Tiveram que dividir o espaço com uma grande caixa que já havia ali, acompanhada de várias outras caixas menores, ocupando praticamente a metade do compartimento de carga. O piloto disse tratar-se de uma encomenda importante que deveria ser entregue ao sr. Perschil. Só não disse como pretendiam levar aquele volume ao acampamento, já que o caminho entre o local de pouso e a base da expedição deveria ser feito a pé.

    Quando tudo já parecia ter sido guardado, o piloto deu ordem para embarcarem, informando que já tinham perdido tempo demais.

    O cowboy tentou obter as coordenadas do local de pouso, mas o piloto se irritou, dizendo que não tinha tempo para aquilo.

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