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Meu Caminho Até Você: Um Instante Pode Mudar Uma Vida
Meu Caminho Até Você: Um Instante Pode Mudar Uma Vida
Meu Caminho Até Você: Um Instante Pode Mudar Uma Vida
E-book398 páginas5 horas

Meu Caminho Até Você: Um Instante Pode Mudar Uma Vida

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Sobre este e-book

John Patterson sempre foi um lobo solitário. Ainda jovem, deixou sua família no Colorado, Estados Unidos, pelas aventuras e isolamento dos Himalaias. Mas, após anos, construindo sua reputação no circuito de escalada, seu resgate heroico de um alpinista inexperiente resulta no amputamento de sua perna.


Michelle Bonheur ainda se culpa pelo acidente de carro que matou seu marido Adam há dois anos. Desde o falecimento de Adam, a vida de Michelle gira em torno de sua carreira e solidão. Quando sua melhor amiga Cam a convence de que as duas deveriam cumprir o sonho de Adam de visitar os Himalaias, Michelle, relutantemente, aceita.


Conforme os caminhos de John e Michelle se cruzam no Nepal, eles navegam por trilhas nas montanhas tortuosas juntos, e descobrem que não estão sozinhos em suas dores, culpas que carregam, ou a atração que sentem um pelo outro.


Quando o desastre os atinge no circuito Annapurna em uma manhã, as duas almas feridas se encontram em perigo, e Michelle toma a decisão que mudará a vida de ambos.

IdiomaPortuguês
Data de lançamento4 de abr. de 2022
Meu Caminho Até Você: Um Instante Pode Mudar Uma Vida

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    Meu Caminho Até Você - Ronald Bagliere

    1

    JOHN

    POKHARA – 22 DE ABRIL DE 2014

    John Patterson acordou em meio a uma névoa. Colocando as mãos nas têmporas, ele afastou o cabelo que ia até a altura dos ombros enquanto seu estômago se revirava. Havia conseguido rastejar para fora da varanda na noite passada e encontrado o caminho para o sofá. Depois que as pulsações entre suas orelhas diminuíram, ele abriu os olhos. A luz do sol amarela banhava a minúscula e simples sala de estar espartana. Recipientes de pedidos de comida, latas de refrigerante vazias e embalagens de comida amassadas estavam espalhadas sobre o carpete puído. Uma caixa de pizza aberta estava em um caixote de madeira que atuava como mesa de centro. Um odor persistente de frango frito passado, batata com alho e curry permeava a sala.

    Ele piscou, forçou-se a ficar sentado e inclinou-se para frente, fazendo com que sua bexiga apertasse. Suspirou, levantou-se e quase caiu. Ele se recostou à procura de sua prótese, que mantinha por perto ao dormir, mas a peça não estava lá. Ele franziu a testa.

    — Merda! Droga — murmurou. Ele deslizou por cima do sofá e para longe da caixa, balançou-se para a frente e ficou de pé. A jornada pelo corredor até o banheiro seria como saltitar por um campo minado. A última coisa que precisava era tropeçar e meter o rosto no chão. Ele tateou a parede ao avançar. Ao lado dele, seu celular tocou. Quem quer que fosse, teria que esperar. Com um grunhido, ele fechou a porta do banheiro atrás de si e navegou até o vaso sanitário. Precisava de algo para a dor de cabeça e a dor aguda na perna. Sem olhar para cima, ele estendeu a mão para o lado e vasculhou a coleção de navalhas, elásticos de cabelo emaranhados e lenços de papel amassados na penteadeira. Depois de derrubar a maioria deles na pia ou no chão, John encontrou sua garrafa de guloseimas. Ele a inclinou, esperando ver um pequeno comprimido branco pressionado à mão cair em sua palma, mas nada rolou para fora. Olhou para o tubo azul vazio enquanto seu cérebro girava.

    De repente, a dor em sua perna explodiu em fúria. Ele jogou o pote na parede à sua frente e tateou em busca do Tylenol, que, é claro, tombou, derramando seu conteúdo no chão.

    — Merda!

    John arremessou artigos de banheiro restantes, espalhando-os pelo quarto.

    Recomponha-se.

    Ele se abaixou e pegou os comprimidos espalhados e os elásticos de cabelo ao alcance do braço. Uma hora depois, estava com a perna encaixada, a cama feita e as coisas arrumadas – talvez não totalmente limpas, mas apresentáveis o suficiente para si mesmo. John limpou a lama das botas que estavam há tempos na pia da cozinha, calçou-as e abriu a pequena geladeira. Não havia muita coisa dentro: algumas sobras esquecidas, uma caixa de leite e uma caixa de ovos. Ele franziu a testa.

    — Ok, ovos, então — ele murmurou, e os tirou junto com o leite. Enquanto misturava seu café da manhã em uma tigela de cereal, seu telefone tocou de novo. Ele o tirou do bolso e olhou para o número piscando na tela. Colocando-o no viva-voz, ele forçou um sorriso.

    — Frank!

    — Oi, John.

    — E aí? — disse John, cruzando os braços e recostando-se no fogão. A última vez em que se falaram foi em outubro, logo depois de Andersen o designar para comandar o Circuito de Annapurna. Frank havia aparecido em sua porta do nada, propondo que ele comandasse o Montanhismo Khum Jung, dizendo que ele poderia voltar ao jogo. E executar as coisas como achasse melhor.

    Tudo parecia bom até que Frank disse que era o mínimo que podia fazer para mostrar sua gratidão por salvar sua vida, como se estivesse tentando igualar o placar. Até parece!

    — Então, como você está, John?

    — Estou indo. Você?

    Frank fez uma pausa. — Já estive melhor.

    — Eu aposto que sim. Soube do que aconteceu na Fall. Que coisa horrível. Suponho que você estava lá? — John perguntou, pegando a caixa de leite ao seu lado. Ele a abriu e sentiu um cheiro desagradável.

    Droga!

    — Infelizmente, sim. — Houve uma longa pausa enquanto John despejava o leite estragado no ralo. Por fim, Frank baixou a voz. — John, Da-wa estava marcando o percurso na hora.

    John piscou quando as palavras o atingiram. Ele e Da-wa se conheciam há muito tempo e, embora tivessem se separado em termos nada amigáveis, John ainda tinha grande consideração pelo Sherpa. Ele se recostou no fogão e pigarreou.

    — Droga, que merda.

    — Sim, é verdade — disse Frank, e fez uma pausa antes de continuar. — Você provavelmente já ouviu falar sobre a reunião dos cabeças da montanha?

    — Um pouco. Acho que as coisas ficaram um pouco quentes lá em cima — disse John. Ele pegou uma frigideira surrada e untou-a.

    — Para dizer o mínimo. Você sabe tão bem quanto eu que os Sherpas estão se ferrando. Uma benção de morte de um milhão e meia de rúpias e uma compensação miserável de quarenta mil ... está brincando comigo? É quase nada.

    — Certo — John concordou, tendo a nítida sensação de que Frank iria oferecer alguma coisa. Ele girou o botão do fogão, riscou um fósforo e o colocou na boca do fogão. Quando uma chama apareceu, ele colocou a panela sobre ela e chupou um lábio.

    É só esperar.

    — De qualquer forma, estou tentando organizar uma arrecadação de fundos em Kat, então estou entrando em contato com todas as equipes da montanha. Liguei para Terry, mas fui direcionado para um Brandon Carson. Terry ainda está na Andersen?

    — Sim, ele está lá, mas não está tão envolvido como antes — disse John.

    — Jura?

    — Problemas familiares, pelo que ouvi — disse John.

    — Acho que isso explica a enrolação que recebi. Então, esse tal de Carson... suponho que ele está comandando as coisas no Nepal?

    — Algo parecido. Terry o trouxe para avaliar nossas expedições. — E ferrar com minha vida. — Outro burocrata que só olha para os resultados financeiros.

    — Daí a resposta meia boca que recebi — disse Frank. Ele fez uma pausa e continuou: — Sei que nem sempre nos demos bem, mas você poderia me passar o contato do Terry?

    John revirou os olhos. — Eu não estou exatamente em sua lista de discagem rápida, Frank. Só o vi algumas vezes nos últimos três anos.

    — O que quer que você possa fazer, eu realmente agradeceria — insistiu Frank, e fez uma pausa de novo. — Senti sua falta na montanha nos últimos dois anos. As coisas não são as mesmas sem você espreitando por aí.

    — Aposto que sim — disse John, pegando uma espátula e dobrando os ovos na frigideira. — Eu estarei de volta em breve.

    — Tenho certeza que sim. Então, eles estão mantendo você ocupado?

    — Sim. Eles me fizeram endireitar as coisas no Circuito agora.

    — É uma caminhada de duzentos km.

    — Pelo que ouvi — disse John, entendendo a essência do comentário de Frank. Mas sua perna conseguiria lidar com isso. Ele desligou o fogão e tirou uma tigela do escorredor de pratos. Depois de colocá-la no balcão, despejou seu café da manhã dentro. — Ei, olhe, tenho que resolver a papelada aqui. Você sabe como é... todo mundo quer ser pago. De qualquer forma, farei o meu melhor com o Terry.

    — Ok, e obrigado. De qualquer forma, se Andersen desembolsar ou não, vou guardar uma mesa para você no evento.

    — Faça isso — disse John. — Até mais tarde.

    John enfiou seu velho sedã cinza Santo 2002 no meio da corrente de motocicletas, carros, ônibus e caminhões que seguiam para o leste ao longo da estrada de macadame em ruínas. Ao passar pelas margens de Phewa Tal, ele estava atento às multidões que se aglomeravam ao redor da extremidade do lago que refletia as montanhas de cume branco ao norte. John abaixou a janela e ligou o rádio enquanto abria caminho na loucura do tráfego tortuoso que obedecia apenas a uma lei: não pare.

    Quinze minutos depois, John estacionou do lado de fora de um prédio de estuque caiado de branco com uma cobertura de lona azul rasgada sobre a entrada da frente. Com vista para o Rio Seti Gandaki, o cybercafé de Sanjay era um local frequentemente visitado por guias locais, oferecendo comida nepalesa decente e conexões sem fio à Internet, tudo a preços razoáveis. Quando John abriu a porta da frente, foi recepcionado por uma fragrância balsâmica onipresente. Ele acenou para um dos clientes regulares e passou por um banco de computadores de mesa no fundo da sala. Lá, ele pegou uma mesa perto do bar.

    Ao contrário dos restaurantes turísticos de Pokhara, cheios de lâmpadas penduradas, tapeçarias de mandala e estatuetas douradas de Brahma e Vishnu, o de Sanjay era discreto – algumas fotos das montanhas e de Phewa Tal nas paredes, mesas e cadeiras de madeira maciça, pisos de madeira e poucos vasos grandes com plantas jade folhosas e filodendros nos cantos.

    Este era o seu escritório, por assim dizer. Ele espalhou um mapa da região de Annapurna e abriu seu laptop enquanto esperava a chegada de seus guias Sherpa assistentes, Orson e Kembe. Enquanto examinava o mapa da Trilha do Circuito, Nabin veio correndo para anotar seu pedido. O garoto magro e moreno como o café não precisava perguntar o que queria. John frequentava este local quase diariamente durante a maior parte do ano. Mas os nepaleses eram assim: nunca deixavam nada ao acaso.

    Nabin pegou o bloco e o lápis. — Namastê, Sr. Patterson! O mesmo que sempre?

    John concordou. — Mesmo que sempre. O homem está por aí?

    — Hō, ele na cozinha. Quer que eu chame para você?

    — Sim, por favor. — John tirou duas notas de mil rúpias de sua carteira e as enfiou no bolso da camisa de Nabin. — Para o seu cofrinho — disse ele, sabendo que o menino estava economizando cada centavo que podia para frequentar a Escola de Guias de Montanha do Nepal.

    Os olhos escuros de Nabin brilharam e um largo sorriso apareceu em seu rosto. — Obrigado, Sr. Patterson, obrigado, obrigado!

    John ergueu a mão. — Nabin, quantas vezes tenho que te dizer? Não há necessidade de me agradecer. E, pelo amor de Deus, você precisa parar com a palhaçada de ‘Sr. Patterson’. John serve, ok?

    O menino concordou. — Ok, como quiser, Sr. Patterson.

    Tanto faz.

    John revirou os olhos e voltou para o computador, vasculhando seu e-mail. Como de costume, sua mãe havia enviado a ele sua mensagem semanal sobre o que acontecia em sua casa em Oak Creek, Colorado – terra dos coelhinhos da neve. Ele fez uma nota mental para enviar uma resposta antes de ir para a cama hoje à noite, em seguida, deletou o resto do spam não solicitado. Ao excluir o último, Sanjay apareceu com seu pedido.

    Além de ser dono do café, Sanjay tinha um negócio paralelo de produtos farmacêuticos – produtos caseiros – alguns dos quais eram ervas que vendia abertamente e outros que eram vendidos de forma mais discreta. Este último consistia em opióides, que era o principal interesse de John naquele momento. Ele olhou para o homem baixo e moreno que tinha um sorriso caloroso e amigável. No último ano, os dois estabeleceram mais do que um relacionamento comercial passageiro. Eram amigos, e John nunca viu Sanjay como nada menos do que um herbalista tentando sustentar sua família e os moradores locais que não podiam pagar pelos medicamentos aprovados pelo governo.

    — Namastê, John. Como posso ajudá-lo? — Cumprimentou Sanjay enquanto colocava uma cesta de roti com uma tigela de Lassi sobre a mesa.

    — Ei, Sanjay — disse John. Nabin se aproximou com seu chá Masala. O menino o colocou sobre a mesa e saiu às pressas. John esperou até que Nabin estivesse fora do alcance da voz, depois se inclinou para frente. — Minha perna está me matando.

    Sanjay enxugou as mãos no avental. — John, você deve ter cuidado...

    John ergueu a mão. — Eu sei, eu sei, e eu tenho. Só está me incomodando mais do que o normal. Me ajude, ok?

    — Eu sinto muito, mas não tenho nada agora. Volte mais tarde, talvez?

    John cerrou os dentes. — Sim, claro — disse, sentindo seu corpo apertar. Ele se recostou, arrancou um pedaço de roti e mergulhou-o no parfait de iogurte misturado com damasco.

    Quando John ergueu os olhos de suas anotações, algumas horas depois, Mick Hanson estava diante dele com uma pasta Pendaflex grossa cheia de papéis debaixo do braço. John sorriu para o homem que trabalhava para High Trails Adventures e acenou para Orson e Kembe, que se juntaram a ele uma hora atrás para evitar compartilhar a logística do Circuito. Ele conhecia Mick desde que tinha chegado ao Nepal, e o considerava a coisa mais próxima que tinha de um amigo.

    Mick puxou uma cadeira para trás, colocou seu laptop e Pendaflex na mesa. — Ei, Nabin — gritou Mick ao se sentar. — uma garrafa térmica com chá de manteiga e um prato de Kaju Katli.

    John abanou a cabeça. Não entendia como Mick podia tolerar a combinação da bebida fermentada amarga nauseante e bolos doces indigestos. Mas, de novo, não havia muitas coisas de fora da dieta do homem corpulento.

    — Vejo que você está fazendo seu dever de casa sobre o Circuito — disse Mick, apontando para os mapas.

    — Sim. Minha punição por ser um bom samaritano — falou John, e chamou Nabin para repor o chá. — O que aconteceu com você ontem à noite?

    — O que você quer dizer? — Perguntou Mick.

    — Você me deixou na mão.

    — Tinha um fogo para apagar — disse Mick enquanto Nabin trazia seu pedido. — Quer um pedaço? — Ele apontou para um dos pequenos bolos em forma de diamante no prato.

    — Umm... não. — John recusou, retirando uma pilha de papéis na frente dele. — Estes são Orson Sherpa e Kembe Sherpa.

    Mick estendeu a mão para os dois homens. — Ei.

    Eles apertaram sua mão, mas não disseram nada.

    — Então, o que acha? — Mick perguntou, apontando para o mapa do circuito.

    — Acho que estão me fodendo, é o que eu acho — disse John.

    — Não se preocupe, você vai voltar para o Everest — disse Mick. — Só tem que dar um tempo.

    — Minha perna funciona bem — insistiu John.

    — Eles só querem ter certeza de que você está pronto.

    John fez uma careta. — Eles? Você quer dizer Carson. Ele está apenas procurando uma maneira de me empurrar para fora da porta. Me mandar nesta estrada de tijolos amarelos é a sua maneira de me deixar saber também. — Ele fez uma pausa. — Não importa. Então, High Trails ainda está planejando realizar todas as suas caminhadas?

    Mick enfiou um dedo na orelha. — Sim... todas, exceto o Everest. — Ele olhou os dois Sherpas criticamente e continuou: — Está uma confusão lá em cima.

    Orson acenou com a cabeça e, por fim, disse: — O governo age como se nada tivesse acontecido. ‘Vá escalar’, eles dizem no EBC. Ninguém se importa com o lado sherpa da história.

    — Eu sei — disse Mick, balançando a cabeça em acordo. — E eu acho vocês têm o direito de criar um problema.

    — Cansamos do Ministério ditar como as coisas acontecem. — Kembe acrescentou. — Tudo que queremos é o que é nosso. Sem ofensa, mas estamos fartos de sermos usados por grandes empresas e pelo governo.

    Mick concordou. — Bem, não posso falar por mais ninguém, mas High Trails trata nossos Sherpas de maneira justa. O triste é que há muitas pessoas lá em cima que não conseguem ver um palmo à frente do nariz, o que coloca todos em risco.

    — Sim, eu sei. Ouvi dizer que o ministério se ofereceu para aumentar a bênção da morte para quinze mil — disse John, lembrando-se do que Frank lhe contou. Ele tomou um gole de chá e esperou para ouvir o que Mick diria.

    — Sim, uma grande piada — apontou Orson.

    — Eu concordo, Orson — disse Mick. — Pessoalmente, algumas dessas equipes não deveriam estar na montanha. Eles não têm interesse na segurança ou em quem deve escalar ou não; apenas no fluxo verde que entra. — Ele tomou um gole de seu chá de manteiga. — E olha só... ouvi dizer que um idiota contratou helicópteros para levar seus traseiros miseráveis da IceFall até o Acampamento 2 para que possam tentar o cume. Que diabos?

    — Não estaria falando sobre Andersen, estaria, bom amigo? — disse John.

    Mick ergueu a sobrancelha e encarou John com um de seus olhares de você-não-acabou-de-dizer-isto. Ele se serviu de outro pedaço de bolo. — Tem certeza de que não quer um pedaço?

    John balançou a cabeça. — Deixa para próxima.

    Mick engoliu seu bolo com um gole de chá e recostou-se com um olhar especulativo. — Sabe, você poderia procurar outro lugar.

    — Como assim?

    — E quanto a Eckert? São uma boa equipe?

    — Eles são, exceto que estão abarrotados no momento — disse John.

    Mick concordou. — Bem, sempre há a oferta de Frank.

    — Fora de questão, e não vamos voltar nisso, ok? — Alertou John, estreitando seu olhar sobre o homem. Finalmente, ele fez uma pausa e deu um gole no chá. — Então, High Trails vai para o cume do Annapurna?

    — Sim, no outono. Vou dirigir o acampamento-base — disse Mick, e deu uma mordida em um pedaço de seu Kaju Katli. — Enquanto isso, eles me fizeram treinar alguns caras novos para o Circuito.

    — Melhor você do que eu — disse John e riu.

    Mick mostrou o dedo do meio. — Bem, pelo menos um deles é experiente. Veio dos Estados Unidos. Califórnia, eu acho. O outro é de Nevada. — Explicou, servindo-se do último pedaço de sobremesa. Ele mordeu e disse: — O garoto da Califórnia até já chegou ao cume do Everest.

    — Não brinca — disse John, recostando-se. Uma sensação estranha o percorreu. — Quando ele chegou ao topo?

    Mick limpou a boca com um guardanapo. — Em 2011, eu acho. Ei, esse foi o ano em que você...

    — Sim. Nem me lembre — disse John. A sensação de inquietação se intensificou e, por um momento, não sabia ao certo o por quê, sua respiração se acelerou com o pavor. E então ele percebeu.

    De jeito nenhum.

    Você sabe com qual empresa ele escalou?

    Mick se recostou, olhando para o lado por algum tempo, enquanto o coração de John pulsava forte. Finalmente, o homem coçou o queixo e balançou a cabeça. — Nossa, sabe que não consigo me lembrar.

    John fechou os olhos, tentando espantar o sentimento ruim. Ele acenou com a mão. — Não importa. Então, quer ir ao Macaco Dourado hoje à noite para algumas cervejas?

    — Claro, por que não? — Disse Mick.

    John se voltou para Orson e Kembe. — Acho que terminamos aqui.

    Os Sherpas empurraram as cadeiras e levantaram-se. Orson disse: — Então, nos encontramos na próxima semana para o primeiro treino do Circuito?

    — Não perderia por nada — brincou John, enquanto os homens se dirigiam à porta da frente.

    Quando ficaram sozinhos, Mick olhou para a porta que os Sherpas atravessaram e falou: — Bons homens esses aí, Shanks. Eles vão te fazer bem.

    — Sim, acho que sim — disse John. — Bem, eu preciso ir. Até mais tarde, então, e não se atrase.

    — Se você estiver pagando, eu não atraso — disse Mick. Ele agarrou seu Pendaflex e levantou-se, então franziu a testa. — Espere um pouco... acabou de me ocorrer.

    John juntou sua papelada e fechou seu laptop. — O quê?

    — O cara do qual você acabou de me perguntar. — Mick abriu seu Pendaflex e tirou um punhado de documentos enquanto John observava. Revistando os documentos, ele encontrou uma folha que chamou sua atenção e puxou-a para fora. — Aqui está... diz que estava com Montanhismo Khum Jung. O nome é Greg Madden.

    John sentiu o sangue quente correr em seu rosto.

    Filho da mãe!

    2

    MICHELLE

    CORNWALL, CANADÁ – 3 DE MAIO DE 2014

    Michelle arrastou a mochila para fora da mesa da cozinha e pendurou-a no ombro. — Venha, Merlin. — Ela chamou o labrador chocolate de sua amiga, que a observava da bancada da cozinha. Ela abriu a porta da garagem anexa de seu rancho de um andar e esperou que ele entrasse. Lá fora, Cam carregava o resto do equipamento de caminhada em um ocioso Highlander 2013. Michelle deu uma última olhada na cozinha, certificando-se de que não estava esquecendo de nada, depois agarrou seus bastões de caminhada. Depois de trancar tudo, ela se juntou à mulher que conhecia há mais de vinte e cinco anos.

    — Então, vamos pegar um café no Ernie? — Perguntou Cam, enquanto Merlin pulava no banco de trás.

    Michelle jogou a mochila na parte de trás do carro e fechou a porta traseira. Olhando para o céu azul sem nuvens, ela respirou fundo e se perguntou se ela desabaria assim que estivesse na trilha. Caminhar na floresta selvagem do Parque Provincial Algonquin era parte do tempo especial com seu marido Adam, mas agora que ele se foi, ela se perguntou como reagiria. Fechou a porta do porta-malas e deu um sorriso. — Perfeito!

    Cam pulou no banco do motorista e, quando Michelle entrou, prendeu seus longos cabelos loiros. Deslizando seu boné Expos, ela inseriu seu destino em seu GPS. — Está com seu passaporte, certo?

    — Bem aqui — disse Michelle, dando um tapinha no bolso da frente de sua jaqueta. — Parece que é um bom dia para uma trilha.

    Cam colocou o cinto de segurança, engrenou a marcha, e as duas partiram para a viagem de uma hora e meia pela fronteira com o Lago Saranac, nos Estados Unidos. Lá, caminhariam pela Trilha Ampersand. Treinar para a aventura de verdade, como Cam chamava – a verdadeira sendo os Himalaias. Quando Cam sugeriu que viajassem para o Nepal para cumprir o desejo da lista de Adam, Michelle concordou, embora a ideia de viajar meio mundo a assustasse.

    Michelle ainda podia ver o olhar intenso nos olhos castanhos brilhantes da cunhada. Cam estava certa! Ele teria desejado isso!

    Apesar de perder seu irmão e lidar com sua própria dor, Cam nunca vacilou em seu apoio a ela. Foi ela quem a obrigou a sair de casa nos fins de semana: levou-a em excursões, para jantar, ou simplesmente para qualquer lugar para conversar. E além disso, Cam nunca tentou consertá-la, apenas a ouviu quando ela se culpou pelo que aconteceu no dia em que Adam foi tirado dela. Cam foi quem a impediu de cair no abismo quando o mundo se transformou em uma tempestade de merda.

    — Então — disse Cam — você nunca vai acreditar em quem me mandou uma mensagem esta manhã.

    Michelle presumiu que fosse um cara e deu de ombros. Cam tinha tantos a perseguindo, que ela precisava de um cartão de pontuação. — Eu não faço ideia, quem?

    Cam a olhou de esguelha. — Matt. Lembra dele?

    Michelle ergueu a sobrancelha, lembrando-se de Cam contando a ela sobre o encontro infernal, cuja ideia de um passeio romântico era um desconfortável, na parte de trás de seu quadriciclo multi-terreno, pela floresta. — Quer dizer o metido a lenhador?

    — O próprio. O homem das cavernas queria saber o que eu estava fazendo.

    — Você respondeu a ele?

    — Não — disse Cam, prolongando a palavra. Ela ficou quieta por um momento, então em um tom frágil, acrescentou: — Acho que preciso desistir de namorar por um tempo. Não há nada lá fora.

    Agora foi a vez de Michelle ficar quieta. Cam estava desabafando, mas ela sabia que não estava falando sério. Não que Cam namorasse qualquer coisa que se movesse, mas mesmo assim!

    Cam apertou sua mandíbula. — Você acha que estou brincando.

    — Não — falou Michelle, sorrindo.

    — O quê?

    — Nada — disse Michelle.

    Cam olhou para ela e suspirou. — Talvez esteja certa.

    — Sobre o quê?

    — Sobre o que está pensando. Que eu gosto disso um pouco demais.

    Michelle encolheu os ombros. — Você poderia ser um pouco mais seletiva. Quero dizer, sexo alucinante por si só não contribui para um relacionamento significativo.

    — Eu sei... eu sei. E ei, eu sou exigente! — Cam protestou.

    — Claro.

    Elas ficaram em silêncio por um momento. Por fim, Cam disse: — Lá está o Ernie.

    Cam parou e pediram dois cafés junto com um biscoito de salsicha para Merlin pelo drive-thru. Assim que partiram de novo, Cam disse: — Então, estou pronta. E você?

    Michelle jogou a embalagem do biscoito em um saco de lixo. — Tudo pronto para o quê?

    Cam balançou a cabeça. — Pô, a papelada para a viagem. Seguro, o pagamento da Andersen?

    — Ah, sim. Tudo pronto — disse Michelle. Ela tomou um gole de café enquanto sua mente lidava com uma visão recorrente delas procurando por seu contato da Andersen em um aeroporto estranho onde ninguém falava um pingo de inglês. Nunca tinha viajado para o exterior, e a ideia de ser arrastada por um mar de humanos para Deus sabe onde a perturbava. Era um pensamento sombrio que ela vinha guardando para si há algum tempo, mas à medida que a data da viagem se aproximava, o receio começou a crescer cada vez mais.

    Ela respirou fundo, tentando controlar sua ansiedade. — Então, nós sabemos quantos homens estão em nosso grupo de turismo?

    Cam se remexeu em seu assento enquanto se alinhavam com o tráfego que diminuía na passagem da fronteira. — Eu acho que todos são todos homens, exceto por nós, mas eu não tenho certeza. Pegue meu passaporte na minha bolsa, por favor? Está bem no topo.

    Michelle suspirou enquanto desenterrava o passaporte de Cam e o juntava com o seu.

    — O quê?

    — Ah, nada. Só pensando.

    — Sobre o quê? — Perguntou Cam, tomando um gole do seu café.

    Michelle olhou para os outros carros aglomerados ao redor das cabines de patrulha da fronteira, se perguntando se deveria dizer alguma coisa. Elas tiveram conversas semelhantes sobre suas preocupações no passado, e Cam sempre fez pouco caso delas. Mas a realidade era que, desde que Adam faleceu, Michelle não tinha amarrado as botas de caminhada nenhuma vez. Por fim, ela disse: — Estou nervosa de atrasar todo mundo.

    — Ah, por favor. Ninguém está competindo para contornar o Circuito, 'Chelle.

    — Talvez, mas tenho certeza de que vou atrapalhar todo mundo — afirmou ela.

    Cam bufou. — Você precisa deixar isso de lado antes de enlouquecer nós duas. Você vai ficar bem — disse ela, enquanto o carro na cabine de patrulha da fronteira era liberado. Colocando o carro em movimento, ela seguiu em frente.

    O interrogatório com o oficial alto do Controle de Fronteira, cujos olhos castanhos olharam o corpo de Cam de cima a baixo, foi breve. Mesmo assim, Michelle tinha quase certeza de que Cam estava ciente de que ele a observava pela suavidade da voz dela ao responder. Depois que foram dispensadas e seguiram a caminho de Saranac, Michelle disse: — Você com certeza sabe como lidar com os rapazes da fronteira. Eu sempre sou revistada na alfândega, e eles simplesmente acenam para você passar.

    Cam deu de ombros. — A maioria deles só quer seus egos amaciados. — Ela abriu um sorriso malicioso e acrescentou: — Entre outras coisas.

    — Ah, meu Deus, você acabou de falar isso mesmo?

    — Eu acho que sim — afirmou Cam, sorrindo.

    — Você é tão ridícula — disse Michelle, depois desatou a rir. Mas bem no fundo, ela imaginou Cam na trilha cercada por caras enquanto ela cuidava da retaguarda sozinha.

    Dirigiram para as profundezas do Parque Adirondack por uma estrada sinuosa que serpenteava através dos altos abetos e pinheiros. Enquanto dirigiam, desviando para o leste através dos isolados vilarejos de Gabriels e Harrietstown, Michelle tentava acalmar sua mente ansiosa. Sabia que estava catastrofizando (palavra de Cam para isso) e que todos os seus piores medos nunca aconteceram.

    Oito quilômetros depois, estavam dirigindo através da densa floresta e, quando chegaram à aldeia do Lago Saranac, o sol estava a pino em um céu azul sem nuvens. Cam saiu da estrada principal que margeava o cintilante lago azul e estacionou próximo a uma loja de campo/posto de gasolina. Enquanto Cam entrava no comércio, Michelle esperou com Merlin, observando as pessoas entrarem e saírem das lojas pitorescas à beira da estrada perto do lago.

    Quando Cam voltou e juntou-se a ela, as duas olharam para a água onde os jet-skis disparavam de um lado para o outro. Michelle inclinou a cabeça para trás e inspirou o ar com cheiro de pinho.

    Cam deu um tapinha no braço de Michelle. — Acho que talvez este seja o nosso destino — disse ela, apontando para a paisagem crescente de árvores com vista para o lago.

    Michelle seguiu a ponta da crista que se erguia acima dos picos menores e mordiscou o lábio.

    — O quê? — Perguntou Cam, enquanto Merlin se sentava ao lado delas, farejando o ar.

    — Nada.

    — Não se preocupe. Você vai se sair bem — disse Cam, virando-se para ela. Ela colocou a mão no ombro de Michelle e a encarou. — Isso é pelo Adam, nunca se esqueça disso.

    — Eu sei — disse Michelle, recompondo-se.

    Cam apertou o ombro de Michelle. — Você deu duro na academia. Está em boa forma. Venha, vamos. Estamos perdendo a luz do dia.

    Embora Michelle não

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