Encontre milhões de e-books, audiobooks e muito mais com um período de teste gratuito

Apenas $11.99/mês após o término do seu período de teste gratuito. Cancele a qualquer momento.

Uma luz na escuridão
Uma luz na escuridão
Uma luz na escuridão
E-book531 páginas7 horas

Uma luz na escuridão

Nota: 0 de 5 estrelas

()

Ler a amostra

Sobre este e-book

Francine era uma jovem francesa cheia de idealismo e coragem, e que amava sua profissão de enfermeira. Em uma de suas viagens para a Suíça, inesperadamente conheceu um bonito engenheiro alemão, Hans, cuja bondade, moral e ética o faziam se destacar entre os jovens de sua geração. Mas a Segunda Guerra Mundial estava prestes a acontecer, e os dois não tinham a mínima ideia de como suas vidas iriam mudar de forma radical. A guerra os separaria fisicamente e moralmente, ou, pelo menos, era o que eles estavam esperando. Mas a vida dá muitas voltas, e eles teriam que enfrentar situações perigosas para salvar aqueles que amam.
Em um mundo transformado por terríveis batalhas em todas as partes do globo, cidadãos civis, soldados e espiões de guerra se misturavam entre si, traçando um novo trajeto à suas vidas, mudando seus destinos. Amigos e familiares se tornariam inimigos. Vizinhos se odiariam. Mas, assim como o preconceito alastrava tragédias e dor, o amor unia aqueles que lutavam por uma causa nobre, por justiça. Novos laços de amizade e amor se formariam, até nos lugares mais improváveis. Existem sentimentos que o tempo, a distância e mesmo a morte não apagam! Porém, o fanatismo e as máquinas destruidoras de Hitler fariam de tudo para aniquilá-los.
E, no meio dessa terrível guerra, Francine e Hans teriam que arriscar suas próprias vidas na esperança de derrotar as forças do mal. Qual preço eles teriam que pagar? Encontrariam a luz no final da escuridão?
IdiomaPortuguês
EditoraBookBaby
Data de lançamento9 de out. de 2021
ISBN9780578898339
Uma luz na escuridão

Relacionado a Uma luz na escuridão

Ebooks relacionados

Romance histórico para você

Visualizar mais

Artigos relacionados

Categorias relacionadas

Avaliações de Uma luz na escuridão

Nota: 0 de 5 estrelas
0 notas

0 avaliação0 avaliação

O que você achou?

Toque para dar uma nota

A avaliação deve ter pelo menos 10 palavras

    Pré-visualização do livro

    Uma luz na escuridão - Regina Santos

    ISBN: 978-0-57-889833-9

    Copyright © 2020 por Regina Santos

    Todos os direitos reservados. Este livro ou qualquer parte dele não pode ser reproduzido ou utilizado de nenhuma maneira sem a permissão expressa por escrito do editor/autor, exceto pelo uso de citações breves em uma resenha.

    Esta é uma obra de ficção. Nomes, personagens, lugares e incidentes são produtos da imaginação do autor ou são usados de forma fictícia. Qualquer semelhança com eventos reais, locais ou pessoas, vivas ou mortas, é inteiramente coincidência.

    Table of Contents

    PRIMEIRA PARTE

    Capítulo 1

    Capítulo 2

    Capítulo 3

    Capítulo 4

    Capítulo 5

    Capítulo 6

    Capítulo 7

    Capítulo 8

    Capítulo 9

    Capítulo 10

    Capítulo 11

    Capítulo 12

    Capítulo 13

    Capítulo 14

    Capítulo 15

    Capítulo 16

    Capítulo 17

    Capítulo 18

    Capítulo 19

    Capítulo 20

    Capítulo 21

    Capítulo 22

    Capítulo 23

    Capítulo 24

    Capítulo 25

    Capítulo 26

    SEGUNDA PARTE

    Capítulo 27

    Capítulo 28

    Capítulo 29

    Capítulo 30

    Capítulo 31

    Capítulo 32

    Capítulo 33

    Capítulo 34

    Capítulo 35

    Capítulo 36

    Capítulo 37

    Capítulo 38

    Capítulo 39

    Capítulo 40

    Capítulo 41

    Capítulo 42

    Capítulo 43

    Capítulo 44

    Capítulo 45

    Capítulo 46

    Capítulo 47

    Capítulo 48

    Capítulo 49

    Capítulo 50

    Capítulo 51

    Capítulo 52

    Dedico esta obra aos meus pais, Luciano Alcides dos Santos Filho e Selma Elias dos Santos, ao meu irmão Ruben e ao meu filho Gregory Santos Brown, cuja compaixão, paciência, compreensão, amor e apoio sempre incentivaram meus trabalhos escritos.

    Este livro é especialmente dedicado a todos os soldados que lutaram na Segunda Guerra Mundial, sacrificando suas vidas pela liberdade.

    Sobre o autor

    Sejam todos bem-vindos! Como vocês já sabem, meu nome é Regina Santos, e Uma luz na escuridão é meu primeiro romance publicado.

    Eu era muito jovem quando descobri minha paixão por escrever. No Ensino Fundamental, eu já havia ganhado alguns concursos de redação com alguns dos meus poemas. No Ensino Médio, um das minhas redações sobre os Beatles me concedeu uma entrada como membra de um clube de literatura da minha cidade, o que era algo exclusivo na época.

    Nos anos 90, meu pai me deu meu primeiro livro sobre a Segunda Guerra Mundial. Desde então, eu desenvolvi uma grande curiosidade sobre esse período da História. E assim continuei a ler vários outros livros e a assistir a vários documentários a respeito.

    No entanto, foi só quando atingi os 30 anos que finalmente tomei a decisão de reservar um tempo para seguir o meu sonho de me tornar uma escritora. Isso significava muito comprometimento e longas noites acordada. Mas posso garantir que valeu a pena!

    Eu sou originalmente do Brasil e me mudei para os Estados Unidos quando tinha 17 anos. Foi uma jornada interessante, não faltando aventuras, surpresas e momentos muito difíceis e de aprendizado constante. No entanto, enquanto lutava para sobreviver a todas as mudanças inesperadas da minha vida e para encontrar meu lugar no mundo, tive que aprender a ser forte todos os dias. Eu tinha que continuar caminhando para frente, não importava o quanto as coisas ficassem difíceis.

    Assim, percebi que eu tinha que olhar para dentro de mim mesma, na minha alma, e me reconectar com meu verdadeiro eu, a fim de lidar com todas as diferentes etapas da minha vida. Escrever me salvou de muitas maneiras e continua a fazê-lo. E como espero que a minha jornada esteja longe de terminar e que as oportunidades de crescimento interior nunca parem de aparecer, continuo a escrever, compartilhando alguns dos meus sonhos, aspirações e emoções com todos vocês, que podem se relacionar com minha história pessoal e com os personagens dos meus livros.

    Espero que A luz na escuridão possa inspirar você a seguir seus sonhos, para que você encontre sua própria luz, que o guiará através dos momentos sombrios da vida. Nunca é tarde para começar de novo!

    PRIMEIRA PARTE

    Capítulo 1

    O ano de 1939 chegou rapidamente aos campos gelados de uma pitoresca cidade do norte da França, parcialmente cercada por montanhas escuras e pontiagudas e por um vasto lago verde esmeralda. Uma caminhada pela cidade não teria sido nada de especial se não fosse pelos sussurros sobre guerra, que podiam ser ouvidos em cada esquina de cada rua. Uma tensão pairava no ar, tornando-o ainda mais denso do que o habitual, e Francine ficou preocupada.

    Andava devagar, com a mente em algum lugar distante. Mas quem estava tentando enganar? Ela estava tão envolvida em consertar as coisas e planejar seus próximos passos, que muitas vezes se sentia sobrecarregada, frustrada ou, talvez, apenas cansada de lidar com toda a falta de bom senso ao seu redor.

    Francine pensou que lutar por igualdade e justiça seria um caminho glorioso e emocionante, mas não demorou muito para perceber que essa estrada, embora nobre, também era cheia de decepções. Ficou exausta com a tarefa contínua de fazer as pessoas perceberem o quão injusta a sociedade poderia ser e o quanto as coisas precisavam mudar para que o progresso fosse alcançado. Mas foi mais do que isso. Ela se sentiu presa ao papel social que todas as mulheres deveriam desempenhar.

    Eu não nasci para ficar dentro de uma casa, mantendo meus pensamentos para mim e tendo que planejar minha vida inteira em torno de um casamento, ela pensou. Não… Francine queria muito mais do que isso.

    ― Bonjour, mademoiselle ― disse Felipe, do lado de fora de sua padaria, com seu avental.

    ― Bonjour, Felipe ― ela sorriu para ele. ― Comment ça vas cette matin?

    ― Ça va, Francine. Et toi? Pronta para um pão fresco? Acabaram de sair do forno.

    ― Bien sûr ― respondeu ela, animada.

    Francine entrou no estabelecimento, indo direto para uma mesa no canto da boulangerie, do lado da janela ― seu lugar favorito. Com uma xícara de café nas mãos e uma baguete quente na mesa, ela não podia evitar ouvir as conversas ao seu redor.

    ― A guerra vai acontecer ― disse um homem. ― Tenho certeza disso.

    ― Claro ― respondeu outro. ― Esses bastardos alemães mal podem esperar para atacar novamente. Eles vão fazer todo o possível para que aconteça.

    ― Ninguém fala sobre mais nada além da guerra ― sussurrou Felipe, passando pela mesa dela.

    ― Salut, Francine ― disse Roberto, virando-se. ― O que você tem a dizer?

    Francine já estava acostumada com essas perguntas, mas ela nunca acreditou que eles estavam realmente interessados em ouvir sua opinião. Era mais uma questão de diversão para os homens. Eles tinham se habituado a ouvi-la comentar sobre qualquer assunto, mesmo quando ninguém havia pedido. Eles pensavam que era algo interessante o fato de ela, como mulher, abrir a boca e analisar qualquer coisa política.

    ― Especulações ou não, o que podemos fazer? ― Francine logo respondeu. ― Parece que não há limites para a ambição. Nós, seres humanos, sempre queremos mais, especialmente no caso da Alemanha. Eu não ficaria surpresa se outra guerra chegasse.

    ― Bravo, Francine ― disse Roberto, juntamente com os outros.

    A discussão continuou e ficava mais intensa à medida que Francine continuava a comentar.

    Já na rua, o vento frio bateu contra o rosto delicado de Francine, enquanto seus dedos trêmulos abotoavam o casaco. Ela olhou para cima e notou as nuvens carregadas que se aproximavam da cidade, anunciando uma tempestade. Com passos rápidos, ela se apressou de volta à casa. Seus sapatos faziam um barulho estridente contra os paralelepípedos, como se ela fosse a única pessoa andando por lá. O ambiente era tão entenebrecido, que ela sentiu como se algo ruim estivesse prestes a acontecer.

    ― Francine! ― sua mãe, Nicole, cumprimentou-a. ― Você saiu novamente sem tomar café da manhã. O que aconteceu com você?

    ― Oh… mãe, por favor ― disse ela, colocando a baguete ainda quente sobre a mesa. ― Eu só queria dar um passeio.

    ― O que está preocupando você dessa vez? ― sua mãe perguntou em um tom de voz muito familiar.

    Francine sabia exatamente o que viria a seguir.

    ― Por que você não pode ser como as outras garotas? Você deve encontrar um bom marido.

    ― Lá vem você de novo ― Francine já estava irritada. ― Eu não quero falar sobre isso agora.

    ― Quando você vai querer falar sobre isso? ― perguntou sua mãe, jogando as mãos para o ar.

    Francine decidiu ignorá-la. Sabia que não seria capaz de fazê-la mudar de ideia. Por que era tão difícil entender que toda sua vida não girava em torno de encontrar alguém para se casar? Ela ainda se considerava tão jovem. Tinha tantas outras coisas que queria fazer e lugares aos quais gostaria de ir. Francine queria viajar, conhecer outras culturas e pessoas diferentes. Queria se sentir livre, viva, e, quanto ao amor, bem… sentia que provavelmente poderia esperar ou então era disso que tentava se convencer.

    Já era quase meio-dia quando ela decidiu ir à biblioteca de sua casa para pegar um livro.

    Francine amava aquele lugar. Era o seu local perfeito na casa para ter privacidade e silêncio, um espaço onde seus pensamentos podiam fluir livres de interferências externas. Lá, ela estava completamente cercada por conhecimento e sabedoria, uma coleção inestimável de livros herdados da família de seu pai.

    A lareira mantinha a sala aquecida, enquanto um vento forte batia contra as grandes janelas daquele aposento. Sentada em um elegante e confortável sofá, ela abriu um de seus livros de poesia favoritos. A poesia tinha o poder de fazê-la sonhar e de afastar os pensamentos de sua vida de rotinas.

    Francine tinha uma preferência particular por poemas nostálgicos. À primeira vista, isso parecia ser a única parte de seu lado romântico. Mas, no fundo, estava ciente de que era uma mulher cheia de paixão e desejo.

    Embora sempre sentisse que era jovem demais para amar de maneira profunda, percebia que algo havia mudado em seu coração. Esse mesmo pensamento a incomodou. Fechou os olhos e, devagar, descansou o livro sobre o peito. Ela sabia exatamente por que escolhera aquele livro em particular para ler.

    Capítulo 2

    Já tinham se passado três meses desde que Francine viu o rosto dele pela primeira vez ― um daqueles encontros que permaneceriam em sua mente para sempre. Aconteceu durante uma de suas rápidas viagens à Suíça. Ela parou em sua confeitaria favorita antes de ir encontrar alguns amigos em um restaurante.

    Usando um vestido verde simples, porém charmoso, podia-se notar o belo contorno de seu corpo. Alguns grampos pretos seguravam parte de seus ondulados cabelos castanhos escuros contra a nuca, deixando alguns fios sedosos roçando o pescoço e revelando tons avermelhados. Em seu rosto gracioso, lábios carnudos contrastavam com o tom alvo de sua pele. Ela tinha uma aparência tão gentil e discreta, que disfarçava sua personalidade forte. Mas, se alguém olhasse mais de perto e de forma profunda em seus enigmáticos olhos verdes, poderia ver a alma de uma mulher que estava cheia de convicção por tudo em que acreditava e que estava disposta a lutar.

    Francine segurava um livro enquanto uma suave música francesa tocava ao fundo. O lugar, apesar de pequeno, apresentava uma característica um tanto peculiar, devido a seus móveis de madeira envelhecida e pequenas lamparinas espalhadas por todos os cantos, revelando uma aparência rústica, semelhante a uma antiga taverna medieval. E foi naquele ambiente especial que tudo aconteceu.

    Como um instinto misterioso, Francine, de repente e sem pensar, virou a cabeça em direção à porta. Naquele exato momento, seus olhos se encontraram. Ele era um jovem alto, loiro, com os olhos azuis mais cativantes que ela já vira.

    Tudo aconteceu em uma fração de segundo, mas foi o suficiente para capturar sua atenção. Ela imediatamente olhou de volta para o livro, tentando fingir que não o tinha visto, mas, de alguma forma, sentia que ele ainda estava olhando para ela.

    Um grupo de jovens estava sentado a apenas duas mesas de distância. Assim, toda paz e tranquilidade acabaram. Não apenas todos estavam conversando um pouco alto, como também, para seu maior aborrecimento, eles eram alemães ― o que ela percebeu pela conversa. O ressentimento da Primeira Guerra Mundial nunca havia desaparecido de fato, especialmente quando havia uma grande preocupação de outra guerra por vir.

    Apesar da interrupção inesperada, Francine tentou retomar a leitura. É claro que não conseguia se concentrar depois disso, por mais que tentasse. De vez em quando, ela se pegava olhando para ele de novo, como se estivesse sendo puxada por uma força inexplicável.

    Tentou se impedir de ficar olhando para ele, mas descobriu que simplesmente não podia. Também não a ajudou o fato de que, toda vez que olhava para ele, o jovem rapaz estava lá também olhando para ela, mesmo que de uma maneira muito discreta. Ela começou a se sentir mais desconfortável e já não conseguia mais ler.

    Francine, com lentidão, colocou o livro sobre a mesa, tentando coordenar seus pensamentos. Cogitou sair, mas, por algum motivo estranho, parecia que estava colada ao seu assento.

    ― Sinto muito ― disse uma voz, de repente, interrompendo seus pensamentos. ― Espero que não estejamos incomodando você.

    Era ele, o mesmo jovem loiro, que permanecia sentado a poucas mesas de distância. Ele olhou bem nos olhos dela. Por alguns segundos, Francine não conseguiu dizer nada, como se estivesse hipnotizada por aqueles lindos olhos azuis. Eles eram um tipo de azul tão distintos, tão profundos e convidativos, que seria difícil alguém resistir ao impulso de admirá-los. Olhos que também refletiam doçura e algo estranhamente familiar, aparentando calma e bondade.

    O jovem e seus amigos ainda estavam esperando por uma resposta. Francine não demorou muito mais para responder depois que saiu do transe.

    ― Ah, não, não mesmo ― ela disse, tropeçando em suas próprias palavras e sentindo-se um tanto estranha. Odiava mentir, mas fora pega de surpresa e não queria ser grosseira.

    ― Nós provavelmente estamos atrapalhando sua leitura, não estamos? ― ele continuou, então, em francês.

    ― Oh, é apenas um livro simples, de leitura leve ― Francine disse, pegando o livro em suas mãos, ainda chocada com a escolha do idioma. Queria dizer mais, mas estava tendo dificuldades. Ele a fez se sentir nervosa, tímida.

    Percebendo o olhar surpreso no rosto dela quando ele falou em francês em vez de alemão, o jovem sorriu.

    ― Fui para a escola aqui na Suíça quase toda a minha vida. Foi assim que aprendi francês, embora ainda tenha sotaque ― afirmou. ― Depois eu voltei para minha casa na Alemanha.

    ― Oh, entendo ― respondeu Francine, em um tom frio e desapontado.

    Mesmo que isso confirmasse sua suspeita de ele ser alemão, no fundo ela ainda se sentia trêmula. O simples fato de que seus olhos se encontraram novamente fez seu coração bater mais rápido e suas mãos começarem a suar.

    O jovem fingiu não ter notado o olhar triste no rosto dela. Ele não estava pronto para desistir.

    ― Você já esteve na Alemanha? ― ele perguntou em alemão enquanto seus amigos tentavam não rir. Ela olhou diretamente para ele, sentindo-se um pouco desconfortável. Não sabia dizer se ele estava tentando se divertir às suas custas ou se só estava curioso.

    Incapaz de descobrir suas verdadeiras intenções, Francine não hesitou e, como era habitual para ela, tentou recuperar a compostura. Colocou o livro de volta na mesa, endireitando-se.

    ― Não, eu nunca estive lá e provavelmente nunca estarei ― Francine falava alemão de maneira fluente, com um leve sotaque. Todos os meninos se entreolharam, surpresos com seu comportamento altivo.

    ― Sério? E por que isso? ― o jovem logo perguntou, sentindo-se ainda mais interessado após sua resposta resoluta e em alemão.

    Francine notou a reação negativa que ela desencadeara nos amigos do jovem rapaz com essa resposta. Ela, na verdade, gostou. Mas ainda estava confusa. Quando olhou para ele novamente, notou que não mostrava nenhum sinal externo de hostilidade ― ao contrário dos amigos dele ―, mas ela ainda não tinha certeza se o rapaz estava sendo sarcástico ou se perguntava com seriedade. Realmente não sabia como reagir, o que não era muito típico para ela. Havia algo nele que a fazia se sentir desafiada, e ela se entusiasmava com isso. Seu interesse em ouvir o que ela tinha a dizer a pegou de surpresa. Isso a fez se sentir viva.

    ― Bem ― ela hesitou por um momento, pensando bem no que dizer a seguir, já que todos estavam esperando por sua resposta. ― Tenho outros lugares aos quais prefiro ir. Gosto de lugares onde há paz, onde as pessoas têm outras preocupações além de…

    ― Além do quê? ― ele perguntou com um tom bastante decepcionado em sua voz.

    ― Você sabe ― disse Francine, olhando para baixo.

    Um silêncio constrangedor encheu o ar.

    ― Olha, escuta ― continuou, determinada ―, eu acho melhor não falarmos sobre isso. Tenho certeza de que nenhum de nós quer ter essa conversa…

    Ele sorriu para ela; talvez pela maneira graciosa como ela mexia as mãos enquanto falava.

    ― Sinto muito, mademoiselle ― continuou ele. ― Gosto de ouvir as opiniões das pessoas, diferentes pontos de vista. É so isso. ― Depois de uma longa pausa, ele finalmente disse: ― A propósito, meu nome é Hans.

    ― Francine ― disse ela de forma automática, ainda surpresa com a resposta dele, mas tentando parecer impessoal e desinteressada. ― Prazer em conhecê-lo ― ela continuou, logo se sentindo estúpida ao dizer isso a um alemão.

    ― C’est un plaisir ― Hans retribuiu o favor em francês.

    De repente, para a surpresa de Francine, ele estava se levantando e vindo em sua direção para apertar sua mão. Todo o seu corpo tremeu quando sentiu o toque da mão dele. Nunca se sentira tão deslocada em toda a sua vida. E, para piorar a situação, ele continuava falando.

    ― Esse livro que você está lendo é bom ― disse Hans, olhando para a capa.

    ― Então você gosta de poesia ― comentou Francine, novamente impressionada.

    ― Sim, um pouco ― Hans tinha um sorriso tímido no rosto. ― Existem alguns estilos de poemas que eu gosto. Aqueles que contam histórias com as quais posso me relacionar, eu acho… os que são um pouco mais dramáticos, talvez nostálgicos. Mas eu amo ler todos os tipos de assunto em geral.

    Os lábios dela se abriram lentamente, permanecendo nessa posição por alguns segundos. Esses eram exatamente os tipos de poema que ela gostava de ler. Cativada pela maneira atenta como ele falava com ela e sua escolha inteligente de palavras, Francine queria ouvir mais do que ele tinha a dizer.

    Os amigos de Hans pararam de olhar para eles e estavam envolvidos em conversas separadas. Francine sentiu que um deles em particular realmente não parecia gostar dela, especialmente quando estava falando sobre a Alemanha. Obviamente ficou claro que eles perceberam que ela era francesa, e nem todos pareciam gostar desse fato. Mas ela não deixou isso incomodá-la muito; algo mais ocupava toda sua atenção e interesse.

    Hans ainda estava parado bem à sua frente. Seu cabelo era curto e loiro bem claro. Era alto e esbelto, embora tivesse uma boa forma física. Havia certa elegância distinta em suas maneiras e na forma como ele falava com ela. Era encantador sem tentar ser e, com seus braços e mãos fortes, demonstrava uma presença muito masculina, a qual Francine não pôde deixar de notar. Havia uma energia especial ao seu redor, uma linha invisível que os mantinha conectados.

    Francine não pôde evitar o desejo de convidá-lo para se sentar à sua mesa. Na verdade, queria que ele se aproximasse.

    Aos poucos, enquanto conversavam, ela se esquecia de que Hans era um homem alemão. Havia algo diferente nele que ela não podia ignorar: algo genuíno e extremamente intrigante… Hans parecia estar muito interessado em ouvir o que ela tinha a dizer ― em especial suas opiniões sobre assuntos controversos ―, e ela sabia quão difícil era encontrar um homem assim.

    Os dois prosseguiram a conversa por mais de uma hora, embora parecesse ter passado em apenas alguns minutos. Falaram sobre muitos assuntos: política, humanidade, livros, música, lugares em que estiveram e que queriam visitar. Enquanto ela o ouvia, não pôde deixar de notar o belo contorno de seus lábios, seguido pelo doce som de sua voz.

    Hans ouvia com muito cuidado cada palavra que ela tinha a dizer. Eles se entusiasmavam com as mesmas coisas, rindo dos mesmos assuntos divertidos e falando com seriedade quando era necessário. Eles aproveitavam cada minuto.

    Para Francine, era como se estivesse vivendo um sonho. Ele a surpreendia com cada frase, cada comentário. E assim fazia sem se esforçar muito e sem tentar impressioná-la. Não, Hans falava com o coração, cheio de idealismo e paixão. Falava com sinceridade.

    O sol já começava a desaparecer no horizonte. Eles não perceberam há quanto tempo estavam conversando até que os amigos do rapaz finalmente ficaram em pé à sua frente.

    ― Nós estamos indo para o bar, Hans ― disse um deles.

    ― Certo ― respondeu ele, tentando ganhar algum tempo.

    ― Está tudo bem, Hans ― disse Francine. ― Eu tenho que ir também.

    ― Eu me encontrarei com vocês mais tarde ― decidiu Hans.

    ― Tudo bem ― acrescentou um de seus amigos, dando a Francine um olhar hostil. Os outros simplesmente sorriram, percebendo o interesse de Hans pela menina.

    Os dois esperaram em silêncio até que os amigos dele se fossem.

    ― Acho que podem estar chateados com você. Tudo bem se quiser ir com eles. Eu entendo ― disse Francine, com seu coração batendo forte e sem a mínima intenção de realmente fazê-lo ir embora.

    ― Está tudo bem. ― Hans sentiu-se um pouco tímido. ― Eles ficarão bem sem mim. Você tem um lugar aonde precisa ir?

    ― Não ― Francine respondeu rapidamente. ― Quero dizer, não até mais tarde.

    Hans sorriu para ela. Naquele momento, só queria estar lá com ela. E Francine não poderia estar mais feliz com sua resposta.

    Por um breve momento, eles se entreolharam sem trocar uma palavra. Ambos sentiram que havia muito mais que queriam dizer, mas não conseguiam.

    De novo, sorriram um para o outro, encabulados. Não demoraram muito para retomar a conversa.

    As horas se passaram rapidamente, sem que eles percebessem. Até que uma senhora que trabalhava na confeitaria os informou de que fechariam o estabelecimento.

    Francine olhou para Hans como se estivesse tentando descobrir uma maneira de eles não se separarem. Ele desviou o olhar por alguns segundos, com medo de revelar seus próprios sentimentos e também tentando encontrar uma maneira de não a deixar ir…

    Mas naquele momento não havia muito o que fazer. Sabiam que tinham que partir. E compreendiam o que isso significaria um para o outro.

    Francine notou quão lentamente os dois estavam se movendo, colocando seus casacos sem pressa, tentando adiar o inevitável.

    Lá fora, uma suave brisa arrastava algumas folhas secas que já acobertavam o chão, deixando para trás um ruído delicado que anunciava mudanças.

    Já na calçada, tentavam encontrar uma maneira de dizer adeus. Francine não queria ir embora. Ela não queria ir a lugar algum. Olhando para Hans, tentou enxergar algum sinal que lhe mostrasse que ele se sentia da mesma maneira.

    ― Alor, isso é um adeus, então ― disse Francine, tentando agir de forma casual, como se a partida deles não fosse nada de especial.

    ― Certo… ― foi a única palavra que Hans pôde dizer, tentando desesperadamente pensar em algo para mantê-la ao seu lado, mesmo por apenas um momento a mais. Emoções fortes tomaram conta dele, revirando o sangue em suas veias, fazendo seu coração bater mais rápido e nublando sua capacidade de pensar com clareza.

    Seus olhos se encontraram novamente.

    ― Bien ― disse Francine. ― Foi muito bom conhecê-lo, Hans.

    ― Veja bem, Francine ― ele olhou de maneira profunda em seus olhos ―, nem todos nós, alemães, somos iguais.

    Ela sabia exatamente o que ele queria dizer.

    Mais do que isso, suas últimas palavras tiveram um impacto instantâneo em suas emoções, trazendo lágrimas aos olhos. Tocada por um sentimento que ela não conseguia entender, desviou o olhar por alguns segundos, tentando não se envergonhar.

    ― Bem, cuide-se, Francine, onde quer que o vento a leve ― disse ele, sentindo uma estranha sensação de tristeza.

    Ela admirou seus lindos olhos azuis novamente, olhos que a lembraram de céus claros, iluminados pelo sol. Os olhos de Hans funcionavam como espelhos, refletindo luz e gerando um afetuoso calor no coração da jovem francesa.

    ― Você também, Hans ― respondeu, sentindo a mesma dor.

    ― Talvez o vento a leve à Alemanha, quem sabe? ― Hans sorriu.

    De súbito, Francine sentiu um calafrio percorrer todo o corpo, deixando-a com uma sensação estranha.

    ― Nunca se sabe! ― disse Francine, erguendo as sobrancelhas.

    Ele olhava bem dentro dos bonitos olhos verdes dela, como se fosse a última vez que a veria. Sentindo um nó na garganta, sua voz soou um pouco trêmula.

    ― Adeus ― disse Hans, estendendo sua mão.

    ― Au revoir ― Francine se despediu enquanto sentia o leve toque da mão do charmoso rapaz.

    Ela deu alguns passos para trás, sorrindo para ele, e depois se virou. Seu coração palpitava no peito. Sentiu-se confusa e perturbada enquanto uma onda de tristeza começava a consumi-la. Continuou andando devagar, sem perceber para onde estava indo. Não notou que Hans havia ficado parado por alguns segundos, observando-a ir embora.

    Ele queria dizer algo, qualquer coisa que a fizesse voltar para ele. Respirou fundo. Por mais que doesse ver a distância crescendo entre eles, ele sabia que não havia muito a ser feito.

    Observou-a por mais alguns segundos e se virou, caminhando na direção oposta. Em sua mente, milhares de pensamentos surgiram. Era como se estivesse deixando de lado algo que significava muito para ele. Sentiu-se estranho, estúpido e irritado consigo mesmo.

    Francine deu mais alguns passos e não resistiu a olhar para trás. Viu que Hans ainda estava andando, indo embora. Ela parou por alguns segundos, olhando para ele sem entender o que estava acontecendo com ela. Hesitou por um momento, se perguntando se havia algo que poderia dizer ou fazer. Sem conseguir encontrar uma solução imediata, ela prosseguiu sua caminhada.

    Ela andava com passos firmes, sentindo um grande peso em seu coração, quando, então, ouviu uma voz chamando-a do outro lado da rua.

    ― Francine! ― Hans gritou.

    Ela se virou rapidamente em direção a ele.

    ― Oui? ― Francine falou, emocionada, com um sorriso no rosto.

    ― Você precisa que eu a acompanhe até algum lugar? Está ficando tarde. Sinto muito. Eu deveria ter perguntado antes.

    ― Não tem problema, Hans. Você não precisa se preocupar. Merci.

    ― Ah, tudo bem ― disse ele, extremamente decepcionado. ― Até um dia, então.

    ― Até a próxima vez ― foi tudo que ela conseguiu dizer, já lamentando suas palavras.

    Ele se virou e continuou andando. Tentou afastar a tristeza, fingindo ignorar o poder daquele sentimento avassalador que tomou o controle de seu coração. O que eu estava pensando?, ele disse para si mesmo. Acabei de conhecer essa menina!

    Francine também seguiu seu caminho, mas se sentia zangada consigo mesma. Ela não sabia por que tinha dito que ele não precisava acompanhá-la. A verdade era que estava apenas tentando ser educada, mas é claro que ainda esperava que ele oferecesse mais uma vez.

    Ela parou de súbito, decidindo aceitar a oferta. Mas era tarde demais; Hans já estava desaparecendo na esquina. Ela queria correr atrás dele e convidá-lo para ir ao restaurante onde deveria encontrar alguns amigos, mas hesitou. Achou que não era apropriado. Não queria que ele tivesse uma impressão errada dela. Eles tinham acabado de se conhecer. O que está se passando comigo?, ela se perguntou.

    Ela tentou se convencer de que ter conhecido Hans não era algo muito especial, mas seu coração dizia algo muito diferente. Começou a sentir uma sensação de vazio tomando conta de sua alma. Era algo muito profundo, um sentimento que ela nunca pensara ser possível.

    Enquanto se afastava, percebeu que a distância entre os dois estava aumentando. Poderia ser a última vez que veria o rosto dele e, com esse pensamento, ela parou. Olhou para trás mais uma vez. Passou os dedos pelos cabelos, tentando ganhar algum tempo para pensar, mas era impossível, e ela sabia disso. Balançou a cabeça em desaprovação e voltou a caminhar em direção ao restaurante.

    Durante toda a noite, Francine tentou pensar em outra coisa, fingindo prestar atenção nos amigos e em suas conversas. Mas seus pensamentos continuaram voltando teimosamente para Hans, desejando ter aceitado sua oferta, imaginando se algum dia o veria de novo. Ao mesmo tempo, tentava entender o que acabara de acontecer. Não conseguia compreender a repentina tristeza que encheu seu coração. Era como se nada em sua vida fosse voltar a ser como antes.

    Capítulo 3

    Francine abriu os olhos devagar e olhou pela janela. Naquele momento, sentiu falta de Hans. Teve saudades da sua voz, da conversa, do sorriso, do modo como ele a olhava e do jeito que ele a fez se sentir tão compreendida, tão plena.

    Francine respirou fundo, como se tivesse acabado de acordar de um sonho. Como isso é possível?, pensou. Primeiro, ele é alemão. E, segundo, nós nos falamos só uma vez e apenas por algumas horas.

    Apesar de sua lógica, era impossível; ela não conseguia encontrar uma maneira de mantê-lo longe de seu coração e de sua mente. Ela se perguntava se ele também estava pensando nela. Provavelmente não…, concluiu, sentindo-se tola só de pensar na possibilidade.

    Mas, no fundo, sabia muito bem que se apaixonara por aquele jovem alemão. E, por mais irônico que parecesse, ele era o homem com quem ela se via pelo resto da vida.

    Hans era muito diferente dos homens que conhecera antes. Ela podia se imaginar viajando com ele para diferentes partes do mundo, fazendo algo significativo e emocionante, lutando por uma boa causa. Nenhum outro homem jamais a fizera se sentir assim.

    ― Francine, ma chérie, você está aqui ― uma voz familiar a trouxe de volta de seus sonhos. Era o pai de Francine, Jean Dufort, um homem de quase cinquenta anos. Embora pudesse ser muito rigoroso às vezes, era um excelente pai, um homem bondoso, de atitude sempre honesta. Francine definitivamente herdara sua paixão pela literatura, pensamento aberto e debate.

    ― Mon père ― disse Francine, com um grande sorriso no rosto. ― Bom dia.

    ― Bonjour? ― Jean sorriu. ― Já passa das 13 horas, minha querida. Sua mãe está nos chamando para o almoço. Onde você esteve? Sonhando acordada de novo?

    ― Sim, talvez ― respondeu, ainda pensando em Hans.

    Teve vontade de contar a alguém sobre ele, compartilhar seus sentimentos, mas sabia que seria muito difícil fazê-lo. Nem mesmo ela entendia bem aquela situação. Quanto aos seus amigos, eles não a entenderiam nem a levariam a sério. Mas o seu pai era diferente. Era especial. Ela poderia falar com ele sobre qualquer coisa, embora soubesse que ele nunca aceitaria que ela se apaixonasse por um alemão.

    ― Oh, eu prevejo problemas ― Jean disse, olhando em seus olhos.

    ― Não é nada, pai. Realmente ― respondeu, tentando afastar aqueles pensamentos.

    ― Eu te conheço, Francine. Há algo te incomodando, algo mais do que o habitual.

    Francine sorriu para o pai. Levantou-se e caminhou em direção a ele.

    ― Estou apenas pensando nas mesmas coisas de sempre. ― Francine beijou sua bochecha. ― Não se preocupe.

    ― Você nunca foi uma boa mentirosa. Então, o que está incomodando você desta vez? ― Jean questionou curioso, indo em direção ao sofá favorito da filha. Ficou sentado, olhando para ela, esperando pacientemente que ela falasse.

    Francine suspirou e desviou o olhar por alguns segundos. Caminhou em direção às estantes de livros, deslizando os dedos por eles.

    ― Pai ― disse ela, fazendo uma pausa e refletindo sobre sua escolha de palavras com muito cuidado ―, você acha que existe amor forte o suficiente para fazê-lo esquecer as coisas que mais odeia?

    Jean sorriu docemente para Francine. Ele sabia que havia um motivo especial para os devaneios de sua filha nos últimos meses.

    ― Francine, o amor é a coisa mais poderosa do universo. Se existe algo que pode curar o ódio, bem… deve ser isso ― Jean cogitou, com gentileza.

    Ela prestou muita atenção a cada palavra que ele disse antes de falar de novo.

    ― Então, o amor justifica certas coisas, certo? ― Ela virou-se e encarou a estante de livros mais uma vez.

    ― Quem é ele? ― questionou Jean, sentindo-se um pouco preocupado. ― Eu o conheço?

    ― Oh, pai, não é isso…

    ― Seja o que for, ele entrou na sua cabeça e parece não sair tão cedo. ― Jean se levantou, caminhando até ela. ― Mas, minha filha, tenha cuidado. Descubra se ele é mesmo um bom homem. Se ele de fato a ama e respeita, deixe o destino fazer sua parte.

    ― Bem, não é nada de especial ― respondeu, depressa. ― Eu estava apenas fazendo uma pergunta.

    Jean levantou o queixo e olhou bem nos olhos da filha.

    ― Quem quer que seja, ele deve ser especial. Quem mais poderia roubar seu coração?

    Francine balançou a cabeça, tentando negar a situação a si mesma. Olhou para o rosto dele e ficou quieta. Sabia que não podia mentir, mas, novamente, não conseguia dizer a verdade. Então não disse nada. Por mais que amasse o pai, ainda não estava segura de que ele aprovaria.

    Dez meses se passaram desde o encontro de Francine com Hans. Embora ela sempre pensasse e sonhasse com ele, estava focada na possibilidade real de uma guerra, após a Polônia ter sido invadida pela Alemanha.

    Foi realmente difícil para qualquer um aceitar o fato de que, mais uma vez, a guerra poderia fazer parte de suas vidas. Não fazia muito tempo desde o fim da Primeira Guerra Mundial, e as pessoas ainda estavam muito traumatizadas por seus horrores.

    Francine logo encontrou o pai mais ocupado do que o habitual em sua agenda política social. Jean era um médico respeitado e estava envolvido em questões que poderiam beneficiar a sociedade em geral, bem como sua comunidade local. Francine costumava ouvir as conversas entre ele e seus amigos quando todos estavam reunidos na biblioteca de sua casa para discutir assuntos importantes. Ela sempre obtinha informações valiosas que poderia usar nas reuniões que frequentava no centro da cidade, junto de alguns amigos. Eles faziam parte de um Partido Socialista do qual Francine estava muito orgulhosa de participar. Ela defendia fortemente os direitos das mulheres, embora não fosse estritamente feminista. Só queria igualdade e justiça para todos.

    Francine, como seu pai, também fazia trabalhos humanitários. Ela frequentara uma escola suíça e se tornara enfermeira. Costumava ajudar seu pai e outros médicos em vários locais distantes, onde as pessoas não tinham meios de acessar um sistema de saúde adequado. Amava seu trabalho, ele a fazia se sentir útil e independente, dando-lhe a oportunidade de contribuir para o bem-estar de outras pessoas, o que ela muito valorizava.

    Era de manhã cedo, no dia 10 de maio, quando Francine acordou com uma agitação incomum no piso inferior de sua casa. Aquela primavera de 1940 marcaria o momento em que sua vida mudaria para sempre.

    ― Bonjour ― disse Francine, com um olhar curioso, observando sua mãe Nicole, enquanto ela se movia rapidamente de um cômodo para outro com Marie, sua ajudante doméstica.

    ― Bonjour, Francine ― sua mãe disse antes de sair da cozinha seguindo Marie, que tinha uma bandeja com várias xícaras de café.

    Francine podia ver que algo muito sério havia acontecido. Quando a mãe voltou à cozinha, Francine a fez parar, segurando um de seus braços.

    ― Mãe, o que está acontecendo? ― perguntou, com um tom sério.

    ― A Alemanha nos invadiu. Você entende o que isso significa?

    Francine sentou-se automaticamente em uma cadeira perto de onde estava. Aquela notícia era por demais devastadora. Embora muitas pessoas soubessem da possibilidade de a guerra se estender à França, eles ainda tinham esperanças de que seu país amado não fosse atingido.

    ― Conversaremos mais tarde ― disse Nicole, com um olhar triste.

    Francine levantou-se depressa, correndo para atrás da porta da biblioteca, esgueirando-se em um local onde sabia que podia ouvir a conversa sem ser notada. Queria reunir o máximo de informações possíveis para descobrir como proceder na reunião do Partido Socialista daquela noite.

    Mais tarde naquele dia, Francine finalmente chegou ao local onde realizavam as reuniões.

    ― Salut, Francine ― Pierre disse assim que ela chegou. Um homem de trinta e poucos anos, ele era o líder de seu partido político. Era inspirado por um forte idealismo, uma característica muito comum dos jovens daquela geração. Seu pai e seu irmão mais velho haviam lutado na guerra anterior, e Pierre nunca se esquecera das histórias sobre morte, sofrimento e dor que havia ouvido deles.

    ― Salut ― Francine respondeu a todos, notando que ela não era a única a chegar cedo naquela noite.

    ― Vou me alistar

    Está gostando da amostra?
    Página 1 de 1