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Movimentos sociais conectados: protagonismo, discurso e luta do Movimento dos Sem Terra e dos Zapatistas na internet
Movimentos sociais conectados: protagonismo, discurso e luta do Movimento dos Sem Terra e dos Zapatistas na internet
Movimentos sociais conectados: protagonismo, discurso e luta do Movimento dos Sem Terra e dos Zapatistas na internet
E-book156 páginas1 hora

Movimentos sociais conectados: protagonismo, discurso e luta do Movimento dos Sem Terra e dos Zapatistas na internet

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Sobre este e-book

Os movimentos sociais do século XXI consolidaram suas identidades e afinaram os seus discursos na tentativa de conquistar a opinião pública. Nesse processo, o uso da Internet como instrumento estratégico para comunicação e para organização de suas lutas tem sido fundamental.
Dois movimentos sociais fazem uso da rede mundial de computadores como arma estratégica: o Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST), no Brasil, e o Exército Zapatista de Libertação Nacional (EZLN), no México.
Por meio do uso da Internet, esses dois protagonistas disponibilizam informações divulgando a "sua versão" dos fatos e dos objetivos da sua luta, na tentativa de construir novos canais para uma nova sociabilidade.
Na construção do discurso dos sites oficiais dos dois movimentos foram desenvolvidas e utilizadas uma nova visão e uma nova representação das maneiras dos integrantes desses movimentos sociais lutarem por seus objetivos.
Muitas vezes, esses sites – e todo o seu conteúdo – funcionam como principal instrumento de comunicação e como arma estratégica na elaboração das agendas dos movimentos sociais da atualidade. Funcionam ainda como contraponto ao discurso construído pelos meios de comunicação acerca das suas identidades.
A construção de novos discursos que geram impactos na sociedade e se transformam em notícia é uma preocupação permanente da maioria dos movimentos sociais da atualidade, pois essa é uma maneira de legitimar suas ações e construir suas identidades.
IdiomaPortuguês
Data de lançamento5 de mai. de 2022
ISBN9786525236896
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    Movimentos sociais conectados - Maria Neblina Orrico Rocha

    CAPÍTULO 1 Movimentos sociais da atualidade

    Neste primeiro capítulo abordamos teorias sobre os movimentos sociais, tentando sistematizar as principais teorias e paradigmas que tratam do assunto e que se relacionam com o objeto dessa pesquisa. Caracterizando em linhas gerais o que são e como se constituem os movimentos sociais tradicionais, tentaremos delinear algumas tendências que estão sendo construídas ao redor da temática/problemática dos movimentos sociais que surgiram na América Latina no fim do século passado a partir das transformações ocasionadas pelas mudanças econômicas, políticas e das relações socioculturais em geral. A esses movimentos convencionaremos aqui a designação de Movimentos Sociais do Século XXI, por fazerem uso das novas tecnologias, mais propriamente da internet, como aliada e ferramenta de luta.

    1.1. Teorias dos Movimentos Sociais

    Diferentes pesquisadores se referenciam num amplo elenco de abordagens e teorias, sob as mais variadas óticas, para estudar o que são e como se constituem os movimentos sociais. Neste trabalho, é fundamental compreender um pouco da teoria que existe acerca de movimentos sociais para traçar algumas linhas de pensamento que poderão nos ajudar a pensar o esboço de um paradigma que ajudará a analisar aqueles movimentos sociais que, em termos espaciais, têm e tiveram lugar em países da América Latina. Sabemos que qualquer discussão a respeito do tema não escapará da pergunta: O que são movimentos sociais? Como significados diferentes e até mesmo ambíguos foram formulados para este fenômeno, a partir da época em que ele se desenvolve, discutiremos, inicialmente neste trabalho, o desenvolvimento do conceito, do modelo clássico, ao que foi pensado e desenvolvido pelas Ciências Sociais nos últimos anos, até chegarmos ao objetivo desse capítulo: entender como surgiram e como se caracterizam os Movimentos Sociais do século XXI.

    A teorização acerca dos movimentos sociais é um dos grandes problemas de quem se propõe a estudá-los. Podemos identificar como sendo movimentos sociais tanto atores empíricos específicos, como é o caso do Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST) e do Exército Zapatista de Libertação Nacional (EZLN), quanto iniciativas que se orientam em torno de afinidades de temas específicos, mas que se apresentam como algo mais geral, abrangente, como o movimento feminista, o movimento que luta pela preservação do meio ambiente ou o movimento que luta pela melhoria da saúde em geral.

    Sabemos que os movimentos sociais se caracterizam basicamente pela natureza da classe social de que emergem e pelo seu caráter de luta – transformador (reformista, reacionário, revolucionário) ou conservador (GOHN, 2002), ambas as coisas, ou nenhuma delas, pois os movimentos sociais são como sintomas de nossas sociedades que causam impacto nas estruturas sociais, com diferentes graus de intensidade e resultados (CASTELLS, 1999, p. 93-140). Além disso, os movimentos sociais, mesmo com as mudanças políticas, sociais e econômicas que acontecem todos os dias, a todo momento, em todo o mundo, preservam posições centrais nas teias de relações que articulam os atores da sociedade civil.

    Faremos, em um primeiro momento, uma discussão conceitual acerca do termo movimentos sociais, utilizando várias definições, dentre as quais algumas se aproximam mais do tipo de movimento que mais nos interessa: os que apareceram e tomaram forma no fim do século XX e início do século XXI na América Latina.

    As diferentes interpretações existentes para o conceito movimentos sociais podem ser explicadas, segundo Gohn (2002, p. 243), por três fatores principais: a) mudanças nas ações coletivas da sociedade civil; b) mudanças nos paradigmas de análise dos pesquisadores; e c) mudanças na estrutura econômica e nas políticas estatais. Portanto, para ela, é possível definir movimentos sociais como redes articuladas e coletivas de caráter sociopolítico e cultural que viabilizam distintas formas da população se organizar e expressar suas demandas. Vejamos, a seguir, o que pensam outros pesquisadores.

    Apesar do desenvolvimento que o conceito teve nos últimos anos, não existe um consenso, e cremos que nunca haverá, entre os pesquisadores, sobre o significado de movimentos sociais. É possível, no entanto, afirmar que os movimentos sociais sempre existiram e sempre existirão, pois representam forças organizadas que aglutinam as pessoas não como força-tarefa, de ordem numérica, mas como campo de atividades e de experimentação social (GOHN, 2003, p.14). Os movimentos sociais dizem respeito a processos não institucionalizados e a grupos que lutam por eles, levam adiante as demandas e reivindicações da sociedade civil; são marcados pela mobilização coletiva da população, pela influência de grupos religiosos, partidos políticos ou sindicatos, com o objetivo de mudar a distribuição vigente das recompensas e sanções sociais, as formas de interação individual e os grandes ideais culturais.

    O modelo clássico usado para definir o termo movimentos sociais considerava um quadro de referências baseado no histórico das revoluções. Esse modelo predominou até os anos 60 e se compõe de diferentes teorias que não cabe aprofundarmos aqui. Em linhas gerais, o núcleo articulador das análises era a teoria da ação social, e a busca de compreensão dos comportamentos coletivos. Nessas abordagens, os movimentos sociais eram identificados de acordo com o modelo dos movimentos revolucionários, as mobilizações de massa incentivadas por grupos que visavam se apoderar do poder. Conforme Alexander (1998, p. 1),

    Os intelectuais responsáveis pela organização e pelo conteúdo ideológico dos movimentos revolucionários geralmente os concebiam de maneiras instrumental, isto é, como o meio mais eficiente para alcançar a distribuição radical dos bens. Aceitavam como uma inevitabilidade histórica o fato de que essas lutas dependiam da coerção e da violência.

    Para os autores clássicos, os movimentos sociais tinham de ser analisados em termos de ciclos evolutivos em que seu surgimento, crescimento e propagação ocorriam por intermédio de um processo de comunicação que abrangia contatos, rumores e difusão das ideias. Segundo Gohn (2002, p. 24), as insatisfações que geravam as reivindicações eram vistas como respostas às rápidas mudanças sociais e à desorganização social subsequente. Neste momento, a adesão aos movimentos sociais era vista como resposta cega e irracional de indivíduos desorientados pelo processo de mudança que a sociedade industrial gerava, afirma Gohn (2002, p. 24).

    Com a crescente importância do tema dentro das Ciências Sociais, a partir de meados da década de 60, as definições começaram a assumir uma consistência mais teórica, principalmente nos trabalhos de Alain Touraine. Foi ele quem iniciou a elaboração de uma reconstrução histórica do modelo clássico de movimentos sociais. Segundo Touraine (1978, p. 35), os movimentos sociais até então estavam associados à ideia de revolução e foi essa associação que deu origem a uma clara orientação tática para o poder, a violência e o controle. Algum tempo depois, Touraine começou a defender que os movimentos sociais são o próprio objeto da Sociologia, fruto de uma vontade coletiva, pois falam de si próprios como agentes de liberdade, de igualdade, de justiça social ou de independência nacional, ou ainda como apelo à modernidade ou à liberação de forças novas, num mundo de tradições, preconceitos e

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