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Estudo em Amarelo: Retorno ao universo de Monteiro Lobato despido de qualquer inocência
Estudo em Amarelo: Retorno ao universo de Monteiro Lobato despido de qualquer inocência
Estudo em Amarelo: Retorno ao universo de Monteiro Lobato despido de qualquer inocência
E-book159 páginas1 hora

Estudo em Amarelo: Retorno ao universo de Monteiro Lobato despido de qualquer inocência

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Sobre este e-book

Depois de muitos anos, Pedro de Oliveira retorna ao sitio em resposta a um convite formal. Ao caminhar pela propriedade de sua avó Benta, ele rememora alguns dos momentos mais marcantes da sua infância: o desaparecimento de sua prima Lúcia. Envoldido pela nostalgia, Pedro pode finalmente enfrentar seus medos e narrar as aventuras de antes, agora com olhos de um adulto. Com muita mágoa, ele pode finalmente enfrentar suas mais terríveis lembranças; memórias distorcidas que o enganaram por todos esses anos. A verdade que sonda aquele sitio será revelada, abrindo mão de uma infância de alegria para dar lugar ao antro de ruína, melancolia e forças negativas.
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O livro "Um Estudo em Amarelo" republica o texto original "Saci" de Monteiro Lobato, fazendo uma releitura dos acontecimentos daquela noite de terror quando Narizinho foi sequestrada; são anotações, memórias e a reinterpretação dos acontecimentos narrados por Monteiro Lobato há mais de 70 anos.
Nesse obra, podemos rever o saci como uma criatura realmente perigosa que era, a cuca como uma mulher expulsa da comunidade local por causa de uma doença epidérmica, a depressão de Narizinho quando se mudou para a cidade e testemunhar vó Anastácia se definhando, perdendo-se no Alzheimer. Descubra também a verdade soturna do tio Barnabé em uma extraordinária revelação e as origens de criaturas que habitam o imaginário de uma criança quando forçada a encarar o terror daquela floresta.
"Um Estudo em Amarelo" é uma fuga da atmosfera de brincadeiras deixando em seu lugar um drama profundo e sombrio.

IdiomaPortuguês
Data de lançamento23 de jun. de 2022
ISBN9781005628185
Estudo em Amarelo: Retorno ao universo de Monteiro Lobato despido de qualquer inocência
Autor

Luke Negreiros

Autor independente, pós-graduado em literatura e artes aplicadas, foi professor universitário de redação e vencedor do III Concurso Cultural de Microcontos no Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia de São Paulo - Campus Araraquara. Nascido e criado no interior de São Paulo por quase toda sua vida, cresceu sob forte influência da ficção científica e quando adulto, seguiu cultivando o desejo genuíno em escrever suas próprias histórias.

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    Estudo em Amarelo - Luke Negreiros

    @ Enzo. Claro!

    Copyright © 2022 por Luke Negreiros. Todos os direitos reservados. Essa é uma obra de ficção. Qualquer semelhança com pessoas, vivas ou mortas, empresas, locais ou eventos são puramente ficcionais e puramente coincidentes. Reprodução total ou em partes, dessa publicação, sem a autorização expressa e por escrito, é restrito e proibitivo.

    email do autor:

    < lunegreiros@gmail.com >

    Estudo em Amarelo

    By Luke Negreiros

    Copyright 2022 Luke Negreiros

    First Edition

    1

    EU ESTAVA ME preparando para uma viagem exaustiva, para ser sincero, paralisante. Uma daquelas viagem que define a vida dali para frente; sua e de sua família. Foi depois que recebi a notícia.

    Estou no aeroporto agora e preciso fazer uma parada rápida antes de seguir para o sítio. Não vou voltar para casa, vou direto. Acho melhor avisar minha esposa que estou atrasado, apesar de tudo.

    Não esperava uma mudança tão repentina assim. Tudo ficou confuso depois do que aconteceu. Não seria fácil encontrar os familiares que não tinha notícias há tempos. E aquele sítio, hein?! O que eu vou dizer para Dona Benta? Que eu incentivei a vinda de Narizinho para a cidade? Que fui eu quem abriu as portas para que ela descobrisse o mundo? Ou seria o mundo que descobriu Narizinho?

    De qualquer forma, tenho que ir. O que me salva é que, apesar da visita apressada, não tenho mais a obrigação de revelar nossos segredos, os meus e os de minha prima. Não preciso mais lidar com a consciência de Dona Benta martelando em nossas cabeças, dizendo o que devemos ou não fazer. As regras da cidade são outras. Talvez seja isso que me atraia, a danada da Narizinho, como eu costumava chamá-la. Eu fingia que não gostava, mas talvez fosse outra coisa. Nunca saberei.

    Perdi as contas de quantas vezes tive que buscá-la em becos escuros, festas desarranjadas e tirá-la de enrascadas que nem Dona Benta, nem aquela boneca amalucada poderiam prever. Eles ficariam surpresos com o mal-ajambrado que Narizinho se tornou. Queria ver a cara de Dona Benta ao descobrir a nova conotação que o apelido Narizinho tinha aqui fora.

    Taxi, taxi! Chamei o motorista e entreguei o endereço que havia anotado. Segurei minha maleta com força para que o pacote de envelopes pardos não voasse pela janela. Estou a caminho do lugar que um dia já foi meu retiro espiritual, ainda que crianças não pensem em coisas sobrenaturais. Elas apenas vivem aquilo, presenciam coisas que não existem e as tratam como a coisa mais legal do dia. Como aqueles meses de lagarto, as histórias do Barnabé e as brincadeiras com a boneca. >tsc<

    Imagine eu, brincando com bonecas!

    Confesso que, ao falar assim, pode parecer coisa de louco, mas sinto um frio na barriga quando toco nesse assunto. Durante muito tempo, eu me convenci de que aquelas andanças por terreiros desconhecidos e as descobertas de crianças desabrochando eram invencionices do passado. No entanto, a verdade é que ainda sinto a mesma inquietude e curiosidade que me impulsionavam naquela época. Ainda sou fascinado pelo desconhecido e pelas histórias que se escondem nas entrelinhas da vida. Talvez seja esse o meu destino: vasculhar os mistérios do mundo e encontrar respostas que muitos preferem ignorar. Às vezes, são as travessuras do passado que deixam as cicatrizes mais profundas. E foi exatamente isso que aconteceu quando eu tinha nove anos e fui passar mais uma temporada de férias no sítio de Dona Benta...

    2

    NAQUELA ÉPOCA DO ano, o clima era agradável e eu estava arrumando minhas coisas para partir. Não pude deixar de pegar uma carta que escrevi na infância, a qual ainda guardo comigo até hoje, não sei porquê. Narizinho me enviou outra carta como lembrança daqueles dias, a qual achei triste, mas guardei. Não me lembrava dos números e contas infantis… mas guardei. Nunca imaginei que um dia pudesse usá-la, mas o céu parece não carecer de ironias, pois esse dia chegou. Guardei com certo zelo em minha mala de roupa e estava pronto, ou achava que estava.

    Lembro-me da ansiedade em deixar tudo para trás. Não havia algo que pudesse me desprender da atenção dada aos meus pés de meia e shorts de náilon, nada, a não ser mais um daqueles famosos recadinhos de Narizinho. Naquela época, recebíamos cartas com pequenos anúncios, não era como nos dias de hoje, onde um simples telefonema resolveria a questão. Com Narizinho, nada era simples, principalmente no que se refere aos meus cálculos e relações quase impossíveis de se criar. Eram associações que desafiavam a lógica e o senso comum...

    Pergunto-me como seriam os cálculos de hoje. Dona Benta beirando os 100, Narizinho próximo à minha idade, eu na casa dos 40, enquanto Emília, Marquês e Visconde não se contam idade. Talvez não saíssem do primeiro ano, afinal, idade era exclusivo nosso e não dessas alucinações costuradas em pano e imaginação desvairadas.

    Abri o frasco de medicamentos, engoli mais dois comprimidos e falei, tão logo recuperei o fôlego. Vire aqui taxista. Vou ficar logo ali. Obrigado!

    3

    NUM PRIMEIRO OLHAR, a região parecia ter permanecido inalterada: as curvas das ruelas ainda eram forradas de pedregulhos, as árvores majestosas continuavam a embelezar a paisagem e os cercados das propriedades vizinhas permaneciam no mesmo lugar de sempre. A única mudança visível eram os postes de pinheiro tortos, que agora se espalhavam por toda a extensão das vias e da mata adentro. Apesar dessa modernidade, tudo parecia igual.

    Com a minha mala ao lado, paguei o taxista e comecei a me mover em direção à entrada. Embora a entrada fosse a mesma, ela agora parecia mais velha e estragada. O trinco era pequeno, assim como tudo ali. Tudo parecia menor, desde o caminho até a entrada de madeira com tábuas espaçadas.

    Estranhamente, não havia ninguém. As portas escancaradas indicavam o caminho para os fundos. Na sala de espera, não havia nada, nem mesmo um murmúrio ou uma saudação de boas-vindas. Eu me sentia desconfortável e desajeitado como um visitante indesejado.

    Na verdade, prefiro assim! Esse sou eu... e não...

    De qualquer forma, decidi contornar a casa antiga enquanto observava os jardins mal cuidados de dona Benta. Ah, se ela soubesse o que estão fazendo com suas flores e folhas. As plantas que lembravam sua juventude agora estavam murchas e sem cor.

    Assim como a casa, dona Benta e seu jardim, o tempo havia passado e a roda do destino continuava a girar.

    Se ao menos fosse assim na minha infância...

    Ao olhar para uma das janelas laterais, percebi que as miçangas não estavam penduradas. Isso me deixou triste, pois dona Benta tratava essas miçangas com um apreço doentio. Ela brigava com Nastácia sempre que ela as mudava de lugar depois de um dia exaustivo de faxina. No entanto, naquela época, ninguém imaginava que isso era mais um dos diversos sintomas que dona Benta apresentava. Antes de julgá-la, é preciso entender que é difícil identificar os problemas pelos quais ela passou quando se está dentro da tormenta. Olhar de fora, como quem analisa o quadro inteiro, é fácil! Sentir cada arrebentação da maré em tempos espaçados é, às vezes, mais difícil de descobrir do que a própria tragédia natural que se aproxima!

    Voltei para os fundos, onde as primeiras sombras de pessoas caminhando pela propriedade começavam a surgir. Ao meu lado, havia um servente agachado e imóvel como uma estátua. Ele me encarou com olhos vazios e nada fez. Tentei reconhecê-lo de algum tempo passado, mas nada me veio à memória.

    Passei pelas trouxas de roupas brancas penduradas por todo o quintal e cheguei ao lado oposto da entrada. A famosa varanda de dona Benta, o portal para toda a minha infância, resumia-se a essa passagem.

    Confesso que me senti estranho naquele momento. Passei por uma vertigem momentânea que me deu um pressentimento do que estava por vir. Ou talvez fosse a luz do sol que me cegou de repente.

    Equilibrei-me sobre meus calcanhares e encostei no gradil de madeira azul. Senti o gélido torrencial atingindo minha nuca. Eram os olhares dos primeiros curiosos que prestavam suas condolências no casebre retorcido de pau a pique do Tio Barnabé.

    Foi nesse momento que passei pelo ponto de não-retorno dos navegadores que desbravaram terras desconhecidas. Não deixando de lado a ironia de que aquelas terras não eram totalmente desconhecidas. Eu tinha plena consciência disso, e aquele cheiro de mofo e umidade de fungos em demasia me fez recobrar ainda mais aquela sensação.

    Eu estava pronto, cheio de nostalgia, que se esvaiu nos poucos metros de madeira

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