Os Anônimos

De Felipe Cabañas Da Silva

Festejo porque estou sozinho, e o momento imaculado de estar sozinho e de saber estar sozinho e de estar pleno sozinho e pleno da humanidade inteira sem nada estar para fora.

• Idioma: Português
• Editora: Clube de Autores
• Data de lançamento: 25 de fev. de 2014

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Ficha Técnica

Os anônimos

Felipe Cabañas da Silva

ISBN 

978-85-916658-1-5

1ª Edição

São Paulo

Edição de Autor

Ilustração de capa:

Felipe Cabañas da Silva

O poeta é um fingidor.

Finge tão completamente

Que chega a fingir que é dor

A dor que deveras sente.

Fernando Pessoa

I

A dor no espírito da música

Que violinos embriagados e que uvas

fermentadas recordariam

não vidas (que incendeiam ao nascer do dia, ao crepúsculo

e na noite) mas o pavor diluído e branco da morte

e a vastidão perene de uma população em luto

A grande música A sincera música

que jorra dos percursos, que cai inteira dos frutos

que enlouquece andarilhos nas estradas

que forja ciências e impérios

que perturba e muda os animais

a grande música que foi feita para todos

produzida só por Um

Suave canção terrestre, miúdo prazer

prolongado e ébrio e vagabundo

de transtornar os pelos e tocar

na circulação de um sangue humano

mais humano que os dias

que o significado dos dias

que são absolutos e aguardam

cavalheiros a lua,

seu grande brilho pálido ameaçador

brilho de fêmea delicada

que abarca corpos sob a noite

Aço, vincos nos edifícios brancos

o mundo de cima como imagem

estourada como a cara rota

de coisa Una: monstro

o percalço e tanta solidão sob

o envoltório, e grandes homens

grandes morais e prostitutas a latejar

nas esquinas a desejar e querer

e sofrer e o vento lhes engole o cabelo

que se debruça macio