Memórias
()
Sobre este e-book
Leia mais títulos de Jéssica De Oliveira
Palavras De Minh'alma Nota: 0 de 5 estrelas0 notasCrazy In Love Nota: 0 de 5 estrelas0 notasThe Last Dance Nota: 0 de 5 estrelas0 notasSonho De Amor Nota: 0 de 5 estrelas0 notasDoce Poesia Nota: 0 de 5 estrelas0 notas
Relacionado a Memórias
Ebooks relacionados
Realidade Paralela Nota: 0 de 5 estrelas0 notasQuem Com Ferro Fere... Nota: 0 de 5 estrelas0 notasEstupro - Por Flávio Mendes Paz Nota: 0 de 5 estrelas0 notasObra Do Acaso Nota: 0 de 5 estrelas0 notasA Viagem Inédita Nota: 0 de 5 estrelas0 notasEncontro De Desalmas Nota: 0 de 5 estrelas0 notasÉ por você Nota: 5 de 5 estrelas5/5Ian não está mais aqui Nota: 0 de 5 estrelas0 notasA Estadia Nota: 0 de 5 estrelas0 notasManeiras de alcançar a infelicidade, conto a conto Nota: 0 de 5 estrelas0 notasOs Segredos de Landara: Redescobrindo o Passado Nota: 0 de 5 estrelas0 notasToda Forma De Amor Nota: 0 de 5 estrelas0 notasO Despertar Do Luar Nota: 0 de 5 estrelas0 notasO Fio de Ariadne Nota: 0 de 5 estrelas0 notasAs Aventuras Do Gtff Nota: 0 de 5 estrelas0 notasTodos Chamam o meu pai, Padre Nota: 0 de 5 estrelas0 notasMais Uma Vida Nota: 0 de 5 estrelas0 notasA Dona Do Meu Rosto Nota: 0 de 5 estrelas0 notasLua Mística Nota: 0 de 5 estrelas0 notasDama Sob O Luar Nota: 0 de 5 estrelas0 notasQuerido Desconhecido Nota: 0 de 5 estrelas0 notasIlusionismo obsceno Nota: 0 de 5 estrelas0 notasEscobar Memórias Póstumas Nota: 0 de 5 estrelas0 notasDAN PLAGG I: Porto das Bruxas Nota: 0 de 5 estrelas0 notasUma Longa Viagem Nota: 0 de 5 estrelas0 notasGravidez acidental Nota: 4 de 5 estrelas4/5Choque Final Nota: 0 de 5 estrelas0 notasPrisão de gelo Nota: 0 de 5 estrelas0 notasCinza Dos Meus Contos Nota: 0 de 5 estrelas0 notasNavio infernal Nota: 0 de 5 estrelas0 notas
Artes Cênicas para você
Da criação ao roteiro: Teoria e prática Nota: 5 de 5 estrelas5/5A Proposta Nota: 3 de 5 estrelas3/5Os Crimes Que Chocaram O Brasil Nota: 0 de 5 estrelas0 notasA arte da técnica vocal: caderno 1 Nota: 0 de 5 estrelas0 notasComo Escrever de Forma Engraçada: Como Escrever de Forma Engraçada, #1 Nota: 4 de 5 estrelas4/55 Lições de Storyelling: O Best-seller Nota: 5 de 5 estrelas5/5Glossário de Acordes e Escalas Para Teclado: Vários acordes e escalas para teclado ou piano Nota: 5 de 5 estrelas5/5Ordem Das Virtudes (em Português), Ordo Virtutum (latine) Nota: 0 de 5 estrelas0 notasSexo Com Lúcifer Nota: 5 de 5 estrelas5/5Cinema e Psicanálise: Filmes que curam Nota: 0 de 5 estrelas0 notasComo fazer um planejamento pastoral, paroquial e diocesano Nota: 0 de 5 estrelas0 notasO Acordo Nota: 3 de 5 estrelas3/5Os Cossacos Nota: 0 de 5 estrelas0 notasO abacaxi Nota: 5 de 5 estrelas5/5William Shakespeare - Teatro Completo - Volume I Nota: 0 de 5 estrelas0 notasContos Sexuais Nota: 0 de 5 estrelas0 notasOs Melhores Filmes Do Século Xx Nota: 0 de 5 estrelas0 notasO colecionador de memórias Nota: 0 de 5 estrelas0 notasUma casa de bonecas Nota: 3 de 5 estrelas3/5Danças de matriz africana: Antropologia do movimento Nota: 3 de 5 estrelas3/5A arte da técnica vocal: caderno 2 Nota: 0 de 5 estrelas0 notasComo fazer documentários: Conceito, linguagem e prática de produção Nota: 0 de 5 estrelas0 notasO que é o cinema? Nota: 5 de 5 estrelas5/5Adolescer em Cristo: Dinâmicas para animar encontros Nota: 0 de 5 estrelas0 notasTinha Que Ser Com Você Nota: 0 de 5 estrelas0 notasUm Conto de Duas Cidades Nota: 5 de 5 estrelas5/5A Procura Nota: 5 de 5 estrelas5/5Borderline, Eu Quis Morrer Nota: 0 de 5 estrelas0 notasDireção, atuação e preparação de elenco: os processos de criação de atores e atrizes no cinema brasileiro Nota: 0 de 5 estrelas0 notas
Categorias relacionadas
Avaliações de Memórias
0 avaliação0 avaliação
Pré-visualização do livro
Memórias - Jéssica De Oliveira
Memórias
MEMÓRIAS
2
Jéssica Oliveira
3
Memórias
MEMÓRIAS
Jéssica Oliveira
4
Jéssica Oliveira
5
Memórias
6
Jéssica Oliveira
Dedico esse livro à atriz brasileira Eliane Giardini, minha inspiração em
todas as minhas histórias.
E claro que para todas as minhas leitoras, que sempre estão comigo.
7
Memórias
8
Jéssica Oliveira
Agradecimentos
Agradeço primeiramente à Deus por me presentear com esse dom, que é
de escrever com o meu coração.
Agradeço à todos que me incentivaram, minha família, à todas as minhas
leitoras e meus amigos.
Obrigada também à Danielle Nunes por me ajudar à revisar esse livro.
9
Memórias
Prólogo
le estava nervoso. Aquela mulher encontrava-se a poucos metros
dele. O olhava intensamente. Ele sabia o que aquele olhar dizia.
E Parecia que os ouvia em alto e bom som, dizer-lhe que ele sabia o
que era o certo a se fazer.
— Rodrigo, diga... Diga logo o que você sabe — instava o advogado ao
seu lado.
— Eu não sei ao certo.
— Ela é uma assassina! Você mesmo disse.
— Mas... Ela teve os seus motivos.
— O senhor quer desistir da acusação? — perguntou o delegado
As palavras ficavam presas na boca de Rodrigo sem antes formularem
em sua cabeça.
— Ela matou o seu irmão! — lembrou-lhe o advogado ao pé de seu
ouvido.
— Ela é a mulher que eu amo!
10
Jéssica Oliveira
CAPÍTULO 01
á aproximadamente dois anos atrás:
Querida, Victoria...
H Hoje pensei em você. Pirulito de caramelo! Lembra-se? Como
quando deixamos um no banco do carro do papai e juramos que não
sabíamos de nada.
O seu cheirinho ainda está no seu quarto. Ainda te ouço a noite.
Seu pai e eu decidimos voltar ao Brasil à procura de alguma evidencia, de
algo que talvez deixamos passar.
Eu te juro que os encontrarei.
Sinto sua falta, e é por essa falta, meu amor, que eu vou fazer justiça!
Mamãe Helô
Heloísa pegou o caderno e o guardou dentro de uma caixa aveludada;
caixa essa que guardou uma das tantas joias que ganhara de seu marido,
Antônio. Em uma gaveta na penteadeira onde um dia a pequena Victoria
sentou-se para brincar de maquiar-se, ela o guardou. Em seguida, guardou
11
Memórias
a pequena chave que trancava a caixa de veludo em seu pescoço. Usava-a
como pingente.
Com um vestido inteiramente negro, altura de pouco menos de um
palmo acima do joelho, manga curta, e acompanhada de um belo salto alto,
Heloísa desceu as escadas da sua bela casa, localizada em um bairro nobre
em Madri, Espanha.
— Está linda, meu amor. Estaria mais ainda se parasse de usar essa cor.
Após ajudá-la a descer os últimos degraus, Antônio a contemplou com um
delicioso e doce beijo na boca.
— Obrigada pelo conselho, mas por enquanto, essa é a cor que eu quero
usar. Por favor.
— Tudo bem, a decisão é sua, você fica linda de qualquer jeito. Mas é
que já se passaram seis meses e...
— Vincent já colocou as malas no carro?
— Já, só estávamos esperando você.
— Na empresa ficou tudo certo?
— Sim, pode ficar tranquila.
Ao entrarem no carro, Heloísa respirou fundo e em seguida recostou
junto ao peito do marido.
— Está tudo bem? — indagou, acariciando os cabelos da esposa.
— Está.
— Você não precisa ir até lá.
— Para encontra-los eu estou disposta a passar por todos os lugares
novamente.
Antônio deu um beijo nos cabelos dela e a apertou um pouco mais
contra seu peito.
Um tempo depois, o motorista Vincent abriu a porta da luxuosa
Mercedes Benz.
— Senhor e Senhora McGarden.
— Obrigada, Vincent.
— A seu dispor, senhora McGarden.
Heloísa segurou a mão do marido e depois que o mesmo deu as
instruções necessárias para Vincent, seguiram até o aeroporto.
12
Jéssica Oliveira
Depois da morte da pequena Victoria, Heloísa tornou-se fria. Quase
nunca sorria. Lágrimas? Desde o enterro de um corpo que nunca fora
encontrado, ela não derramara nenhuma.
As horas dentro daquele avião pareciam ter parado. A cada hora na
verdade nada mais eram do que cinco minutos.
— Meu amor? Está bem? Está sentindo alguma coisa?
— Estou bem... Eu sempre fico bem.
— Vem, deita aqui. Logo chegaremos — puxando-a para junto de si.
A única coisa que a deixava confortável era estar ao lado de seu grande
amor, do marido de todas as horas.
— Vai ficar tudo bem — garantiu, sorrindo para ela.
— Vai, eu não tenho duvidas disso.
Heloísa era casada com Antônio há longos anos. Ambos trabalhavam na
empresa que ela herdou de seu pai, o bilionário e renomado senhor Heitor
Mendonça Lore. Senhor Heitor descobriu a pedra que até então jamais
havia sido vista: o diamante Orcś. A pedra mais valiosa que já fora
encontrada. Esse nome fora dado pelo próprio senhor Heitor. Inclusive a
empresa leva esse nome.
Bilionários; o sonho de qualquer pessoa, e por isso Heloísa e Antônio
tinham alguns seguranças. Mas nunca poderiam imaginar que naquela
noite os seguranças seriam mortos daquela maneira, onde a única saída era
deixar a pequena Victoria nas mãos dos amigos que jantavam em sua casa
naquele momento. Eram policiais... E mesmo assim, a mataram.
Enfim chegaram ao Rio de Janeiro. Estavam sendo aguardados por um
Coronel. Era amigo de Antônio e dizia estar à frente das investigações da
polícia.
O mesmo tratou de acompanhar Heloísa e Antônio até a casa onde
ficaram na noite daquele trágico acidente.
Ao chegarem em frente à casa, Antônio despediu-se do Coronel e
segurou na mão da mulher. Conforme iam entrando na casa, os seguranças
iam posicionando-se.
— Acho completamente desnecessário essa quantidade de seguranças —
comentou Heloísa.
Heloísa tinha os olhos vidrados no portão da lateral da casa.
— Está tudo bem, meu amor?
13
Memórias
— Eu já disse que sim, Antônio.
— Eu apenas estou preocupado.
Ela virou para ele e acariciando o seu rosto, disse:
— Eu sinto muito, estou sendo ríspida com você.
— Não se preocupe. Está nervosa e eu fico te enchendo de perguntas.
Ele a beijou delicadamente na testa. Assim que ficaram frente à porta de
entrada, Heloísa simplesmente parou. As pernas começaram a ficar
pesadas, foi quando segurou no marido e o mesmo percebeu que ela iria
desmaiar.
— Eu disse que não era uma boa ideia ficarmos aqui. Ainda podemos ir
a um hotel próximo e...
— Não! Eu disse que queria ficar aqui e eu vou ficar aqui — garantiu
Heloísa, enquanto se recompunha.
— Você é quem sabe.
Ela respirou fundo e entrou com Antônio naquela mansão, onde a última
vez que entrou ali, tinha a sua pequena Victoria nos braços.
Tudo naquele lugar lhe trazia dor. Os olhos corriam por todas as partes
daquele cômodo. Estava tudo absolutamente igual. Era impossível não
ouvir os gritos desesperados da pequena Victoria sendo levada nos braços
daquele desgraçado policial. Fechou os olhos e balançou a cabeça, na
tentativa desesperada de parar de ouvir aquilo.
— Vou ver se a cozinheira preparou algo para jantarmos, afinal,
aproxima-se das 10 da noite.
— Desculpe-me querido, porém não tenho fome. Quero deitar-me e
descansar.
— Eu já subo para fazer-lhe companhia.
Heloísa aproximou-se dele e o beijou nos lábios, em seguida o encarou
profundamente.
— Quero ficar sozinha.
Aquilo o pegou de surpresa. Por quê? O que ela queria? Entrar em
depressão? Porque como as coisas estavam indo, isso logo iria acontecer.
— Mas, meu amor...
— Por favor, Antônio... Não vamos discutir por isso.
Ficaram alguns segundos em silêncio. Logo ele a puxou para mais um
beijo e em seguida disse:
14
Jéssica Oliveira
— Tudo bem, se é o que te fará bem.
Ela sorriu e em seguida subiu para um dos quartos. Andava em passos
lentos, olhando atentamente cada canto, e recordando também.
Ao entrar no quarto de hospedes, a mesma encontrou toda a sua
bagagem em cima da cama. Mesmo com planos de ficar por apenas aquele
fim de semana, Heloísa trouxe tudo o que pensou que poderia usar.
Colocou a sua bolsa em cima da cama e voltou até a porta. Abriu e olhou
para o corredor, certificando-se de que Antônio ainda estaria na cozinha à
procura de algo para comer e, em seguida, trancou-a novamente. Voltou
para junto de suas bagagens e dentro de um bolso que quase passava
despercebido, ela pegou o papel com o numero daquele homem. A letra era
um tanto incompreensível, mas nada que a impossibilitasse de entendê-lo.
Abriu a pequena caixinha que continha o celular que comprara apenas para
isso e discou os números com certo cuidado, para que não errasse.
— Alô?
— Alô?
— Boa noite, me chamo Maria, lembra-se de mim?
— Claro que sim, a senhora do exterior. Como não vou me lembrar? —
rindo
— Estou de volta ao Brasil e amanhã saberei se precisarei ou não dos
seus serviços. Quero saber se ainda o fará, caso eu precise.
— Realmente vai me pagar o que me prometeu?
— Em dinheiro vivo, mediante o ato feito diante de mim.
— Então é claro que faço.
— Entro em contato com você amanhã.
— A senhora é quem manda.
Heloísa desligou o celular. Logo buscou em sua agenda eletrônica outro
número e discou.
— Pietro? Sou eu, Heloísa.
— Boa noite, Senhora McGarden.
— Quero te ver amanhã logo de manhã.
— Claro. Onde?
— Pode ser no café onde nos encontramos a última vez?
— Sim, pode ser.
— Então, te espero.
15
Memórias
Ao desligar o celular, Heloísa disse:
— É amanhã, minha pequena. Amanhã será o dia em que eu começarei a
minha justiça.
Seu coração saltou quando ouviu o bater na porta. Ela virou-se em
direção a mesma.
— Meu amor, já está dormindo?
— Não! Eu... Eu já abro, só um segundo!
Rapidamente ela guardou o papel que continha o número do tal homem
e colocou como pôde as malas ao chão.
— Heloísa?
— Estou indo, Antônio — aproximando-se da porta.
Assim que ela abriu a porta, viu que o marido segurava um copo um
tanto grande de suco e alguns pãezinhos em uma delicada bandeja de prata.
— Precisa comer alguma coisa — adentrando o quarto.
— Eu disse que não estou com fome — indo em direção à cama.
— Eu sei o que você disse, mas eu te quero forte para que possamos
ouvir o que o Coronel tem a nos dizer sobre o...
Ela o olhou com certa impaciência para Antônio. Ele sabia o quanto ela
não gostava de insistências; sabia que quando dizia que queria estar
sozinha é porque queria estar sozinha e ponto. Ele colocou a bandeja ao
lado e sentou-se ao lado dela, afastou delicadamente os cabelos do rosto da
esposa e a beijou. Olharam-se e ele sorriu.
— Pelo menos o suco.
Ela pegou o suco e bebeu rapidamente.
— Que isso meu amor?! Assim vai passar mal.
— Pronto! Tudo bem agora? — largando o copo vazio sobre a bandeja.
Antônio realmente relevava todos os momentos de grosseria e
impaciência de Heloísa. Sabia que a morte da filha deles ainda era muito
recente e que aceitar aquela triste tragédia não seria de uma hora para a
outra.
— Ei! — virando o rosto dela para que pudesse vê-lo.
Ela percebeu que o atacando daquela maneira só seria pior.
— Você precisa descansar. Foi uma longa viagem.
Ele delicadamente abaixou-se de frente para ela.
— O que está fazendo?
16
Jéssica Oliveira
— Te ajudando a descansar.
Tirou-lhe os sapatos, um a um. Voltou-se de frente para ela e foi
aproximando-se cada vez mais. Os lábios quase encostando aos dela. A
mesma o segurou e meio desconcertada, pediu:
— Por favor, Antônio. Eu não estou com cabeça para isso agora.
— Eu... Tudo bem. Se precisar de alguma coisa, sabe que é só me
chamar.
Antônio pegou a bandeja e antes de chegar à porta, disse:
— Procura descansar um pouco. Amanhã teremos um dia cheio com o
Coronel.
— Claro, farei isso.
Ele continuou e saiu do quarto, em seguida ela trancou a porta. A única
coisa que ela queria era ficar sozinha. Heloísa não tinha dúvidas de que
amava Antônio, mas nesses últimos meses ela só conseguia pensar em
como encontrar os dois policias que ela confiou a segurança da sua filha.
Precisava disso para conseguir seguir a diante.
Aquela noite passou rapidamente para Antônio, porém Heloísa mal
conseguiu fechar os olhos. Passou praticamente a madrugada inteira
olhando para o nada, pensando. Tanto que antes mesmo da cozinheira ter
levantado para tomar um café, a mesma arrumou-se rapidamente com uma
saia tubo até o abdômen, uma camisa manga três quartos com certa
transparência, mas também na cor negra e salto alto. Deixou a mansão
quando o sol nem nascera por completo.
Pietro chegou ao tal Café uma hora e meia depois que Heloísa. A mesma
já havia tomado três xícaras de café forte. Assim que o mesmo chegou, ela
levantou-se e o cumprimentou.
— Senhora McGarden — beijando-lhe as mãos.
— Olá Pietro.
Sentaram-se e após ele pedir seu café, começaram a conversar.
— E então? Você me trouxe a foto? — indagou Heloísa, ansiosa.
— Trouxe, só um momento — abrindo uma maleta que estava sobre a
mesa.
— Há quanto tempo o encontrou?
— Há uma semana!
— E o outro?
17
Memórias
— Não encontrei nada ainda.
— Tem certeza de que ele ainda está aqui no Brasil?
— Claro, tenho certeza. É só uma questão de tempo até encontrá-lo
também.
Pietro era um detetive particular. Heloísa contratou seus serviços há
aproximadamente quatro meses. Em quatro meses ele encontrou um dos
polícias que levaram a pequena Victoria. Os serviços contratados a Pietro
eram desconhecidos por Antônio. Heloísa simplesmente não tinha
paciência para ouvir as desculpas do Coronel que seu marido tanto
confiava. E quando cogitou a possibilidade de ignorar a ajuda do Coronel,
percebeu que Antônio não concordara com tal decisão, por isso contratou
Pietro sem o seu conhecimento. Ele tirou as fotos da maleta e entregou-as
para Heloísa.
— É ele, não é?
Ela o olhava com desprezo. As mãos chegavam a tremer. Não restavam
dúvidas.
— Sim... Esse é o maldito.
— Perfeito, agora é só dizermos para o Coronel que está à frente das
investigações com o seu marido.
— Eu falo! Me dê as informações que conseguiu sobre ele.
— Sim.
Pietro pegou uma pasta com capa de couro e a entregou a Heloísa. Ela
abriu-a e calmamente a folheou.
— Eu vou precisar ir agora, mas se tiver qualquer novidade sobre o
outro policial, eu te aviso.
— Confio em você — levantando-se.
— Ficará no Brasil até quando?
— Segunda-feira de manhã.
— Tudo bem, então. Tenha um excelente dia, senhora McGarden.
— Igualmente, Pietro.
Assim que o detetive deixou o local, Heloísa abriu a pasta novamente e
com certo arder nos olhos, leu o nome do infeliz.
— Fabrício Alors... Eu te achei.
18
Jéssica Oliveira
As horas daquela manhã passaram rapidamente. Tão rapidamente, que
quando Heloísa chegou à casa, encontrou Antônio aflito a sua espera.
— Onde esteve, meu amor? — beijando-a.
— Fui à praia.
— À praia?
— Sim, queria pensar um pouco.
— Por que não me avisou? Tentei falar com você várias vezes, mas o
seu celular estava desligado.
— A bateria acabou.
— Por que não foi com o motorista? Ou levou um segurança?
— Realmente, depois de tudo o que aconteceu, você acha que
seguranças servem para alguma coisa?
Antônio ficou sem palavras. Não iria discutir algo que ela tinha razão,
embora ele tentasse convencer a si mesmo de que não era verdade.
— Vem, almoce e em seguida iremos nos encontrar com o Coronel.
— Não quero almoçar, podemos ir agora.
Heloísa já voltava em direção ao carro que estava estacionado em frente
à casa.
— Não, você precisa comer algo. Passou a manhã toda fora.
— Eu almocei em um restaurante antes de vir. Imaginei que você estaria
à minha espera e não queria que isso nos atrasasse. Vamos!
Ele conhecia a mulher. Se ela não tivesse almoçado, agora não faria a
menor diferença. A única coisa que poderia fazer era consentir e ir com ela.
O marido de Heloísa aproximou-se da porta do carro e abriu para que ela
entrasse. Era uma questão de minutos até que chegassem ao local marcado
com o Coronel.
Um tempo depois, lá estavam o Coronel, Heloísa e Antônio, sentados
junto a uma mesa em meio ao escritório do tal. O mesmo abriu uma gaveta
da mesa e puxou uma pasta. Heloísa não soube explicar, mas não sentiu
nada. Nem ansiedade. Não por já saber onde encontrar o desgraçado, mas
por ter a certeza de que nada do que esse Coronel iria dizer, seria útil em
algo.
— Aqui estão algumas fotos de uns suspeitos.
— Deixe-me ver — pegando a pasta.
Antônio folheava calmamente cada uma das páginas.
19
Memórias
— Não é possível que você esteja em dúvida.
— Eu não quero cometer nenhum engano, Heloísa.
— Que engano, Antônio? Eles não eram amigos seus?! — alterando a
voz.
— Não eram amigos, apenas me ajudaram em um momento que eu
precisei. Por isso os convidei para um jantar.
— Claro, te ajudaram e depois mataram a sua filha.
— Heloísa!
— Eu não aceito isso! — batendo as mãos na mesa e levantando-se —
Como não podemos pedir nenhum mandado de busca?! Como não
podemos colocar o rosto desses bandidos a prêmio? Eles tiraram a vida de
um bebê!
Ela sentia o rosto formigar, sentia certo arrepio invadi-la. Como Antônio
não via o óbvio? Aquele Coronel não os encontrou e nunca os encontrará!
Nunca!
— Calma, Heloísa. Talvez se olharmos melhor essas fotos, podemos
encontrar um deles e...
— Não! Não e não! — pegou a pasta da mão de Antônio, olhou bem no
fundo dos olhos do Coronel, e jogando a pasta em sua frente, completou —
Não é nenhum desses — virou-se de forma brusca e saiu dali, sem ao
menos olhar para trás e certificar-se de que Antônio a acompanhava.
O mesmo pediu desculpas rápidas ao Coronel e saiu apressado atrás de
Heloísa. Ainda em passos apressados ela seguia a caminho do carro e
Antônio agora a alcançava.
— Heloísa...
Ela não o respondia.
— Heloísa! — segurando-a pelo braço.
Ela o olhava em silêncio.
— Prometeu que não iria mais fazer isso!
— Desculpe, mas foi mais forte do que eu, a impressão que eu tenho é
que esse Coronel não quer nos ajudar.
— Já conversamos sobre a procura dos suspeitos. Não temos provas, não
temos testemunhas, seria a nossa palavra contra a deles.
— Isso é o que você diz!
— Isso é o que um Coronel de polícia diz!
20
Jéssica Oliveira
Heloísa literalmente sentia-se muito mais inteligente do que Antônio,
mas não iria discutir por algo que ela já tinha a solução. Ela queria justiça,
e se ela chegou primeiro em suas mãos, não se importava de Antônio saber
ou não.
— Então pense como quiser, Antônio.
Ela parou em frente ao carro e esperou que o mesmo abrisse a porta para
que ela entrasse.
— Acho que tudo é muito recente, meu amor. Você vai perceber que
tudo tem o seu tempo.
Ainda em silêncio, Heloísa entrou no carro sem ao menos responder a
Antônio. Seguiram para a mansão onde estavam hospedados.
Assim que chegaram, ela logo foi até o quarto onde estava acomodada.
Trancou-se no mesmo e ficou ali pelo resto da tarde. Porém, Antônio não
aguentava mais aquela situação. Amava a mulher e esse abismo que ela
abriu entre eles estava ficando cada vez maior. Também perdeu uma filha,
mas ao contrário dela, ele não parou a vida. Ela continua, infelizmente,
sem a pequena Victoria. Depois de pensar por alguns minutos, subiu até o
quarto onde Heloísa estava e se atreveu a bater. Ela não respondeu.
— Meu amor, abre! Quero falar com você.
Após mais duas vezes de insistência, ela levantou e abriu a porta. O
marido tinha uma expressão de desespero. Mal sabia ela que ele suplicava
que ela voltasse; voltasse a ser a Heloísa por quem ele se apaixonara.
Heloísa não disse nada, apenas sentiu as mãos de Antônio puxando-a pela
cintura de encontro ao seu corpo.
— Chore... Coloca tudo para fora, toda essa dor. Eu estou ao seu lado,
eu sempre vou estar ao seu lado.
Ela continuava imóvel, apenas deixou-se ser abraçada por ele. O rosto
dela sumia entre aqueles braços.
— Eu te amo e sinto a sua falta.
Antônio depois de algum tempo, afastou-se e a olhou nos olhos. Nem
uma lágrima sequer. As mãos dele carinhosamente moldavam o rosto dela
e seus lábios, como em um ato de desespero, avançou-se aos dela. O beijo
era certa hora desesperado. As línguas meio tímidas já se desconheciam.
Ele entrelaçou sua cintura e em meio a beijos, foram aproximando-se da
cama, onde ele delicadamente a deitou. Uma de suas mãos começou a abrir
21
Memórias
os botões da blusa dela. Em seguida os beijos estenderam-se até o pescoço.
Antônio arriscou-se a olhá-la e a mesma tinha os olhos fechados. Estava
entregando-se àquele momento. De repente ele sentiu as mãos dela sobre
seu peitoral, empurrando-o para longe.
— Meu amor, mas...
— Eu não consigo, Antônio.
— Mas você se entregou. Eu senti que...
— Por favor, eu preciso ficar sozinha.
Ele levantou-se da cama e parou em frente a ela. Sentou-se na cama e
pegou delicadamente em sua mão.
— Por que é que você quer fazer isso sozinha? Por que está formando
essa barreira e sofrendo sozinha?
— Eu estou bem, Antônio. Eu realmente só preciso ficar sozinha.
— Eu preciso de você. Preciso do seu carinho.
— E eu preciso ficar sozinha agora.
Antônio não era o tipo de homem que ficaria ali pelo resto da noite a
espera de um carinho mendigado. Na verdade já insistira demais durante
aquele dia. Assim que ele deixou o quarto, Heloísa pegou aquele celular e
o papel que continha aquele número.
— Alô?
— Olá, sou eu a...
— Senhora Maria! Para estar me ligando então...
— Sim! E quero ainda hoje.
— Ótimo. Apenas me passe as informações. Eu o pego ainda hoje.
— Sim, te mandarei a foto pelo celular.
— Ok, e... Quer mesmo estar presente?
— Sem dúvida alguma.
— Eu ligo avisando onde estaremos e a senhora nos encontra lá.
— Não quero falhas!
— Não sou homem de cometer falhas, senhora. Principalmente com
quem me paga um dinheiro desses. Esse serviço eu farei pessoalmente.
— Assim espero.
Dizendo isso, Heloísa desligou o celular e em seguida começou a pensar
em alguma desculpa para dizer a Antônio. Ou iria simplesmente sair sem
que o mesmo visse e pronto. Pouco importava o que ele iria pensar ou
22
Jéssica Oliveira
deixar de pensar. Nesse momento a única coisa que interessava era
encontrar aquele desgraçado.
As horas foram passando rapidamente, para a ansiedade e felicidade de
Heloísa. Antônio nem a procurou mais pelo resto daquele dia. Tinha o seu
orgulho e a sua insistência e paciência não durariam para sempre. Por isso,
apenas pegou uma garrafa de Rum e acomodou-se na poltrona do quarto
onde estava. Chegou até a pensar em sair, procurar pelas ruas daquela
cidade maravilhosa uma mulher que pudesse satisfazer o seu desejo. Mas
ao mesmo tempo pensava em Heloísa e acompanhado de mais um gole de
Rum acomodava-se por ali mesmo.
O relógio apontava exatamente 1h da manhã, quando Heloísa descia as
escadas da mansão em passos silenciosos. Um casaco um tanto grosso para
se usar no Rio de Janeiro, tapava quase todo o corpo de Heloísa. Luvas
negras nas mãos e o salto alto ela só vestiu quando saiu pela porta da sala.
Pegar o carro seria muito arriscado. Antes mesmo de chegar ao portão,
Antônio ouviria