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Tele-visão
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E-book443 páginas6 horas

Tele-visão

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Sobre este e-book

De “América” a “Babilônia”. De “Prova de Amor” a “Os Dez Mandamentos”. De “Cristal” a “Chiquititas”. Sucessos, fracassos, transferências de canais. Gugu era do SBT, Eliana era da Record, Xuxa era da Globo. Silvio Santos era o único dono de emissora a comandar um programa de televisão. Muita coisa aconteceu na televisão brasileira entre 2005 e 2015. E o blog TELE-VISÃO (www.tele-visao.zip.net) acompanhou tudo isso. Em TELE-VISÃO – A Televisão Brasileira em 10 Anos, os principais textos publicados no blog se reúnem em ordem cronológica para montar um painel sobre tudo o que aconteceu na TV neste período.
IdiomaPortuguês
Data de lançamento22 de jul. de 2016
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    Tele-visão - André Santana

    capa.jpg

    André Santana

    TELE-VISÃO

    A televisão brasileira em 10 anos

    E.B. Ações Culturais

    Editora

    Copyright ₢ 2016 by André Santana

    Todos os direitos reservados

    Organização, pesquisa e revisão: André Santana

    Produção Editorial: Edilva Bandeira

    Capa: Samuel de Castro Santana Cardeal

    Criação de logotipo: Paulo Freitas Nóbrega

    Impressão: Clube de Autores


    Santana, André, 1984 -.

    S231t Tele-Visão : a televisão brasileira em 10 anos. / André Santana.

    - Ilha Solteira, SP : E. B. Ações Culturais. 2016.

    424p.

    ISBN: 978-85-69975-02-1

    1. Crônicas brasileiras. I . Titulo.

    CDD – B869.8

    CDU – 821.134.9(81)


    Bibliotecária responsável: Sandra Irabi Mahmoud – CRB-8/8378

    [2016]

    Todos os direitos desta edição reservados ao autor

    Editado por E.B. Ações Culturais Editora

    Passeio Barras, 310 – Ilha Solteira – SP

    Aos leitores do blog TELE-VISÃO, diretamente responsáveis pela existência deste livro.

    Capítulo 1 - Dez Anos de Tele-Visões

    Ela está no centro da sala. Está nos quartos, na cozinha, na academia e na fila do banco. Nos últimos anos, ela está também no celular, no tablet, no computador. A televisão está em todo lugar. Divertindo, informando e entretendo o espectador brasileiro desde 1950, quando foi inaugurada a TV Tupi, primeira emissora do Brasil.

    De lá para cá, outras emissoras surgiram, a grade de programação se fixou, a produção evoluiu e a televisão se tornou uma das protagonistas da vida em família. É a principal fonte de informação e entretenimento do país. E por isso mesmo, influente na vida de todos. Ao mesmo tempo em que dita moda e lança tendências, a televisão é, também, um reflexo de nossa própria sociedade.

    Por essas e outras, a televisão é um objeto de estudo fascinante. Desperta o interesse de pessoas como eu, que cresci diante da babá eletrônica e, aos poucos, desenvolvi uma curiosidade um tanto mais aguçada diante da tal máquina de fazer doido.

    Nasci em 1984. Cresci vendo Bozo e os infantis da TV Cultura, como Bambalalão, Catavento e Glub-Glub. Via também Xou da Xuxa, Clube da Criança e Show Maravilha. Um pouco mais velho, vi também TV Colosso, Bom Dia e Cia e Cavaleiros do Zodíaco, além de Castelo Rá-Tim-Bum e O Mundo de Beakman. Foi mais ou menos nesta época que veio o interesse por atrações já não tão infantis, como telejornais. Via o TJ Brasil, de Bóris Casoy, diariamente. Passei também a acompanhar algumas novelas, como Deus nos Acuda e Éramos Seis. A partir de Explode Coração, nunca mais abandonei a novela das oito da Globo.

    Junto de tanta novidade, veio também a curiosidade. Acompanhava meu avô todos os domingos pela manhã, quando ele ia à banca comprar o jornal. Sempre aproveitava para, como quem não quer nada, escolher um gibi da Turma da Mônica para mim. Mas o jornal também passou a me interessar, principalmente quando descobri que as publicações carregavam cadernos especializados em televisão aos domingos, que trazia sempre um resumo dos capítulos da semana de todas as novelas. Comecei lendo os resumos, depois passei a ler o caderno todo, até que comecei a encarar um jornal completo. Tornei-me um leitor de jornais ainda criança.

    Mas era mesmo o caderno de televisão que sempre me fascinava. As matérias sobre os bastidores e as novidades da TV aguçavam minha curiosidade sobre como eram feitos os programas dos quais tanto gostava. Logo, comecei a procurar, também, revistas especializadas. Adorava a Contigo!, com as notícias da TV brasileira, e a Herói, para me informar sobre os desenhos e as séries. Também comecei a comprar muitos livros sobre o assunto. Comecei a catalogar tudo o que me interessava. Quando cheguei à internet, me viciei nos sites especializados no assunto. Eu ainda não sabia, mas já estava produzindo um material que viria a ser o meu repertório como jornalista, anos depois. Eu era um jovem pesquisador de televisão.

    Entrei na faculdade de jornalismo no ano de 2005. Uma grande amiga minha da faculdade, Patrícia Acunha, mantinha um blog no qual falava sobre tudo. Até então, eu não tinha qualquer intimidade com a blogosfera. E ela me sugeriu: por que você não faz um blog?. A pergunta ficou na minha cabeça por algum tempo. Mas um blog sobre o que?, eu perguntava a mim mesmo. A resposta era óbvia: televisão! Tantos anos assistindo programas e lendo sobre o assunto me deixou apto a encarar esta missão. Pus a ideia em prática no dia 22 de outubro de 2005: nascia o blog TELE-VISÃO.

    Considero o TELE-VISÃO meu primeiro trabalho profissional dentro do jornalismo. Eu ainda era estudante do primeiro ano, mas já encarava aquele espaço como um trabalho jornalístico sério. Cada texto era resultado de muita leitura e muitas horas diante da TV. E o blog cresceu. Aos poucos, arrebatei leitores fiéis, com quem passei a trocar figurinhas sobre televisão. Ao completar um ano de vida, o blog foi linkado ao UOL, e novos visitantes descobriram o TELE-VISÃO. Por meio do blog, consegui um estágio em um jornal, e passei a ser convidado para colaborar com outros veículos, principalmente sites especializados em cultura. Quando me formei, o TELE-VISÃO se tornou meu principal portfólio. Foi o blog que me levou aos meus primeiros empregos fixos na área.

    Dez anos se passaram desde então. Um tempo considerável. Com atualizações constantes, o blog TELE-VISÃO acabou se tornando, neste período, um documento sobre os altos e baixos da televisão brasileira. Entre 2005 e 2015 na TV, tudo ficou registrado no blog. O que estreou, o que não estreou, o que deu certo, o que deu errado, quem se deu bem, quem se deu mal… Sempre com opiniões e análises simples, com informação e descontração. A ideia sempre foi fazer do blog uma grande conversa entre mim e os internautas que o visitam.

    Com o blog completando dez anos de atividade, me veio também a vontade de revisitar todo o seu acervo. E esta revisita acabou se tornando este livro. Aqui estão reunidos os principais textos publicados no TELE-VISÃO ao longo destes dez anos. Todos eles comentados, buscando contextualizar o assunto e a época, e todos separados pelo ano de publicação. Por meio do arquivo do blog, este livro pretende ser um documento sobre as transformações das principais emissoras da televisão aberta brasileira nestes dez anos. A Globo leva vantagem, claro, por ser a que mais produz e a que mais aposta em novelas, atração que este escritor não se cansa de gostar! Mas o livro destaca também diversos lances da programação do SBT, da Record, da Band e da RedeTV. Passeia por programas de auditório, jornalísticos, reality shows, seriados, e pelos principais nomes que fizeram a TV brasileira nos últimos dez anos.

    Haverá injustiças e esquecimentos, claro! Mas o arquivo do blog está aí, disponível na internet, pra quem quiser se aprofundar mais ainda. Estes são os primeiros dez anos do TELE-VISÃO. E que venham os próximos.

    Capítulo 2 - 2005/2006

    Entre o final de 2005 e todo o ano de 2006, a televisão brasileira reconfigurou algumas peças, sobretudo no embate entre as três maiores emissoras do país. A Record investia pesado numa programação similar à da Globo e ultrapassava o SBT na segunda colocação. Enquanto a Globo buscava se prevenir da nova concorrente, a emissora de Silvio Santos tentava reagir, mas ainda sem sucesso.

    América: a novela que era para ser e não foi

    América terminou ontem na Rede Globo e deve ter satisfeito a cúpula da emissora. Bateu recordes de audiência e de faturamento. Mas o que vimos ontem foi uma novela totalmente diferente do que deveríamos ter visto. Tudo em América era para ser e não foi.

    A começar pelo triângulo amoroso central. Gil, personagem de Lucia Veríssimo, seria a rival de Sol por Tião, assim como May foi a rival por Ed. Entretanto, o casal Benício-Veríssimo não convenceu e a locutora de rodeio foi substituída por Simone, que teria participação menor na trama.

    May era a antagonista de Sol nos Estados Unidos, mas foi vendida pela novela como a grande vilã da história. Não foi isso o que aconteceu. May foi má, foi chata, mas não foi a malvada que seria substituta de outras malvadas de sucesso, como Laura Prudente da Costa (Claudia Abreu), de Celebridade, e Nazaré Tedesco (Renata Sorrah) de Senhora do Destino. Uma pena, pois Camila Morgado é uma ótima atriz e seria delicioso vê-la fazendo maldades terríveis, como uma boa bruxa de novela deve fazer.

    Há também os sumidos da história. O peão Nick seria um dos astros da novela, mas o desempenho sofrível de Lucas Babin fez o personagem perder força até sumir de vez. Ou alguém se lembrou dele enquanto via o último capítulo? E o Murilinho (Rodrigo Hilbert)? Namorou a Raissa e sumiu. Depois ressurgiu das cinzas, namorou Nina (Cissa Guimarães) e sumiu de novo.

    E os mal aproveitados? Alguém pode me explicar por que Rosi Campos participou da novela? Papel pequeno e bobo, Mercedes não estava à altura de sua intérprete. Luis Melo, o Ramiro, também estava perdido e acabou morrendo!

    E o beijo gay? Fizeram tanta propaganda e acabou não acontecendo! Um tremendo golpe de marketing!

    Mas a injustiça da novela foi a criticada atuação de Deborah Secco. Deborah é uma ótima atriz! O que não deu certo foi Sol. A personagem seria ruim mesmo sendo vivida por qualquer outra atriz. O sonho de conquistar a América da mocinha, fazendo-a largar seu grande amor para isso, foi rejeitado pelo público. Ponto negativo para a autora, que não percebeu que o público não gosta de mocinhas ambiciosas. E não percebeu também que juntar um peão com uma moça tão urbana não daria certo. Assim, o casal principal da trama se diluiu e tornou-se duas tramas paralelas.

    E tramas paralelas foram o que não faltou. Eram tão distintas, que quase nunca se cruzavam no enredo. Por isso, havia o personagem Alex (Thiago Lacerda), que circulou por todos os núcleos e deu uma certa unidade a temas tão distintos. Afinal, ele era a única ligação entre as duas tramas principais da novela: a história de Sol e a família de Haydeé.

    E assim terminou América. Sem o casal principal unido, sem beijo gay, com personagens sem função e outras confusões. Sim, porque no início da novela, foi dito que Sol e Tião eram almas gêmeas. E como almas gêmeas não ficam juntas?

    Publicado em 5 de novembro de 2005

    América era a novela das nove que estava no ar quando o TELE-VISÃO foi criado. Como acontece na maioria das novelas de Gloria Perez, muita coisa que estava prevista na trama acabou não acontecendo. O famigerado beijo gay entre os personagens de Bruno Gagliasso e Erom Cordeiro chegou a ser gravado, mas nunca foi ao ar. Há quem acredite que a expectativa em torno do beijo entre Zeca e Junior era um dos principais motivos para a alta audiência do episódio final. Um beijo gay numa novela das nove só acabou acontecendo em 2014, quando Amor à Vida chegou ao fim.

    Record cresce e aparece

    A Rede Record quer ser grande. Desde 2004, a emissora quebrou o cofrinho e vem investindo pesado em programação. Surpreendeu a todos ao tirar Tom Cavalcante e Marcio Garcia da Globo. E atraiu vários outros profissionais oferecendo altos salários.

    Mas a rede sabia que, para ser líder, é necessário uma novela de sucesso. Tentou inovar e fez barulho para anunciar Metamorphoses, a novela que ia mudar a vida de todos. Não mudou, não emplacou e foi tirada do ar sem um final decente. Aprendido a lição, a emissora decidiu apostar no tradicional e lançou sua versão de A Escrava Isaura. Essa sim foi bem-sucedida, empolgou os bispos a continuar investindo em teledramaturgia e fez a Record firmar-se como produtora de novelas. Seu atual produto, Prova de Amor, é um grande sucesso de audiência e já vem ameaçando a liderança do Jornal Nacional.

    A rede não esconde sua inspiração. A Record quer lutar com as mesmas armas da Globo. Ainda este ano, sua grade do horário nobre deverá ser idêntica à da emissora carioca. Deve estrear em março sua novela das 21 horas, Cidadão Brasileiro. Produção caprichada, texto de Lauro César Muniz e elenco encabeçado por Lucélia Santos, Paloma Duarte, Gabriel Braga Nunes e Gracindo Júnior, é a promessa. No segundo semestre, a rede lançará sua novela das seis. É a receita Globo: novela-jornal local-novela-jornal nacional-novela-linha de shows.

    O lançamento do novo Jornal da Record, com cara de Jornal Nacional, também disse a que veio. Cravou 13 pontos de média na estreia, triplicando a audiência média do horário. Outros jornalísticos com cara de Globo também estão na programação, vide Repórter Record e Domingo Espetacular.

    Soma-se ao investimento da Record à queda do SBT. Há dois anos, era inimaginável que um programa como o Tudo É Possível fosse fazer frente ao Domingo Legal. A rede de Silvio Santos marcou touca, cortou gastos enquanto a rival investia. Agora tenta correr atrás do prejuízo.

    A Record com cara de Globo, até agora, está crescendo. Silvio Santos e seus apresentadores-seguidores que se cuidem.

    Publicado em 4 de fevereiro de 2006

    2006 foi um ano em que a Record apareceu como uma séria ameaça contra a liderança da Globo. O canal investiu como nunca e passou a emular a líder, tentando fazer uma grade de programação bem parecida. Nesta época, a emissora chegou a ter a coragem de cortar programas que davam audiência apenas porque eles eram considerados popularescos, ou seja, já não tinham a ver com a imagem que o canal procurava adotar. Programas como Cidade Alerta, Programa Raul Gil e Sonia e Você (vespertino de Sonia Abrão) foram cancelados sem dó.

    Nada é o que parece em Belíssima

    A novela Belíssima está em curva crescente na audiência. A trama das nove da Globo conquistou público e crítica graças à sua bem construída história de suspense.

    É aos poucos que os personagens da novela mostram suas verdadeiras intenções. O mistério em torno da obra torna-se evidente ao analisarmos as revistas especializadas, que não conseguem adiantar mais de uma semana dos capítulos. Tudo é surpresa.

    Ponto para Silvio de Abreu, o mestre das novelas policiais no horário nobre. Com certeza, Silvio conquistou o público ao, inicialmente, vender sua novela como um folhetim tradicional. Tudo estava ali: a mocinha rica apaixona-se pelo mocinho pobre e sua vovó malvada impede esse romance a todo custo. Mas, aos poucos, a verdadeira face deles surge: o mocinho é um mau-caráter e a vovó do mal é uma bandidona, envolvida até com o tráfico internacional de mulheres.

    Em Belíssima, Silvio de Abreu fez o caminho inverso de sua última incursão no horário nobre, Torre de Babel. Na trama de 1998, o autor apresentou ao público personagens dúbios, cheios de contradições. Isso porque queria que todos fossem suspeitos do crime que movia a novela: a explosão do Tropical Tower Shopping. Na época, a novidade fez o público dispersar e obrigou o autor a adotar a velha linha folhetinesca: definiu os heróis, Henrique (Edson Celulari) e Celeste (Leticia Sabatella) e a bandida Angela Vidal (Claudia Raia). Assim, a audiência subiu e Torre de Babel terminou como um grande sucesso.

    Fazer o inverso atraiu grande público à Belíssima desde o início. Agora, a trama desenvolve-se desmascarando mais e mais personagens, ligando-os a crimes aparentemente sem ligação: as mortes de Valdete (Leona Cavalli), Pedro (Henri Castelli) e Bia Falcão (Fernanda Montenegro). Bia, aliás, pode estar viva, como muitos apostam.

    O sucesso é tal que Leila Reis, crítica de TV do Estadão, escreveu em sua coluna semana passada que Belíssima é o melhor folhetim da carreira de Silvio de Abreu. Se isso é verdade ou exagero, não sei. Mas Belíssima é, sim, uma grande novela.

    Publicado em 25 de fevereiro de 2006

    Belíssima é uma de minhas novelas preferidas. O autor Silvio de Abreu foi inteligente ao, mais uma vez, apostar numa trama policial no horário nobre. A novidade, como o texto ressalta, é que a trama foi vendida como um folhetim tradicional, revelando-se um thriller policial mais adiante, quando a audiência já havia se apaixonado pela obra. Belíssima é uma das poucas novelas do horário nobre que já estrearam bem e mantiveram os números estáveis ao longo de toda a obra. Ponto para Silvio de Abreu!

    Alma Gêmea: tremendo sucesso às 18h

    A novela Alma Gêmea entra para a história da TV Globo como o maior sucesso do horário das 18 dos últimos dez anos.

    Ponto para Walcyr Carrasco, que consagra-se como um dos melhores autores de novelas da emissora. Walcyr só emplacou sucessos: desde O Cravo e a Rosa, só demorou a emplacar A Padroeira. Que se ergueu graças ao estilo do autor, que mescla romance e humor pastelão e ingênuo. Difícil crer que ele bateria Chocolate com Pimenta, também um grande sucesso de sua autoria. Mas a façanha foi feita: Alma Gêmea terminou ontem registrando média de 52 pontos no Ibope, com picos de 56.

    Alma Gêmea teve trajetória vitoriosa. Nem o processo de estica pareceu cansar o público. O amor entrelaçado com o espiritismo e as vidas passadas conquistou o público. E o final, um tanto ousado, mostrando a morte dos protagonistas Rafael (Eduardo Moscovis) e Serena (Priscila Fantin), foi uma boa sacada.

    Os atores da novela, com certeza, tinham muito o que comemorar. Vários deles ganharam novo status.

    Destaque para Flavia Alessandra. A atriz, que acumulava em seu currículo mocinhas absolutamente sem-graça, todas chamadas Livia (de Meu Bem Querer, Porto dos Milagres e O Beijo do Vampiro), esteve muito bem na pele da vilã Cristina. Outra que se sobressaiu foi Fernanda Souza, a Mirna. Sua saga a fim de encontrar um par de carça arrancou gargalhadas do público. Gargalhadas também foram conquistadas no núcleo da pensão. Os bate-bocas de Osvaldo (Fulvio Stefanini) e Ofélia (Nicette Bruno) e as caras e bocas da bela Divina (Neusa Maria Faro) eram hilárias.

    Mas o grande pé de coelho de Walcyr Carrasco deve ser Drica Moraes. Os dois trabalham em perfeita sintonia. Drica esteve presentes na maioria dos sucessos do autor. Era a Violante de Xica da Silva, a Marcela em O Cravo e a Rosa, a inesquecível Marcia de Chocolate com Pimenta (eu sô chique, bein!). Agora, como Olívia, foi um espetáculo à parte. Sua mania de grandeza (eu tenho brasão) e o romance com o cozinheiro Vitorio (Malvino Salvador), foram ótimos. Malvino, aliás, defendeu muito bem seu personagem cômico e tinha química perfeita com Drica. Entram para a galeria de casais inesquecíveis da teledramaturgia.

    O casal protagonista foi o menos empolgante. Rafael era enganado por todo mundo, muito sem graça. Serena e sua eterna bondade também cansou.

    No geral, Alma Gêmea foi uma boa novela. Prova que não é necessário apelar para se conquistar audiência. Quando o produto é bom, os consumidores aparecem. Parabéns a Walcyr Carrasco (que agora vai escrever novela das sete) e Jorge Fernando.

    Publicado em 11 de março de 2006

    Alma Gêmea foi um fenômeno! A trama das seis registrava índices de audiência de novela das nove. Walcyr Carrasco se firmou na emissora como uma máquina de fazer novela, passeando por todos os horários da grade, justamente pelo sucesso incontestável de sua obra. A trama também deu sobrevida à carreira de Flavia Alessandra que, depois de O Beijo do Vampiro, demorou para voltar ao ar, fazendo com que muitos acreditassem que ela não retornaria mais. Sua vilã Cristina colocou-a como uma das principais atrizes da Globo, emendando trabalhos desde então.

    Faixa das sete é a mais difícil para a Globo

    O horário das sete da noite, geralmente dedicado a comédias, tem sido o mais difícil para a Globo emplacar sucessos. Bang Bang, que terminou ontem, teve trajetória conturbada, que contribuiu para a debandada de público para outras emissoras. Mas suas antecessoras também deixaram a desejar.

    Nos últimos dez anos, a emissora conseguiu emplacar apenas três grandes sucessos. O restante, ou foram mornas ou fracassos.

    Em 1996, o sucesso foi Salsa e Merengue. A divertida trama de Miguel Falabella e Maria Carmem Barbosa registrou boa audiência ao contar uma história bem popular, cheia de lances policiais e romances. Destaque para o trio de vigaristas interpretadas por Cristiana Oliveira, Laura Cardoso e a saudosa Ariclê Perez.

    Depois disso, vieram Corpo Dourado (morna), Meu Bem Querer (morna), Andando nas Nuvens (relativo sucesso) e Vila Madalena (péssima). A emissora só faria as pazes com o sucesso em 2000, quando estreou Uga Uga.

    A polêmica trama de Carlos Lombardi fez rir com as armações de Baldochi (Humberto Martins), que fugia de uma quadrilha que havia participado de um roubo de diamantes. Enquanto isso, bancava a babá do índio loiro Tatuapu (Claudio Henrich) e reencontrava-se com seu grande amor Maria João (Viviane Pasmanter). Destaque para a hilária Pierina (Nair Bello), a loira burra Tatiane (Danielle Winits) e a noiva em fuga Bionda (Mariana Ximenes). Uga Uga foi um grande sucesso de audiência, mas suas ousadas cenas de nudez deram certa dor de cabeça à Globo, que chegou a ser pressionada a mudar o horário da novela.

    Depois desse sucesso, estrearam Um Anjo Caiu do Céu (morna), As Filhas da Mãe (ótima, porém com desempenho sofrível na audiência), Desejos de Mulher (um horror!), O Beijo do Vampiro (sucesso de crítica mais que de público) e Kubanacan (confusa, começou bem mas foi se perdendo).

    Só em 2004 começaria outro grande sucesso, Da Cor do Pecado. A história de amor de Paco (Reynaldo Gianechinni) e Preta (Taís Araújo), as armações de Bárbara (Giovanna Antonelli) e a relação avô-neto de Raí (Sergio Malheiros) e Afonso (Lima Duarte) encantaram o público, fazendo a primeira trama de João Emanuel Carneiro registrar altos índices de audiência. Destaque para o pai-de santo Helinho (Mateus Nachtergaele), os golpistas Verinha (Maitê Proença), Eduardo (Ney Latorraca) e Becki (Graziella Moretto) e a hilária família Sardinha, liderada por Edilásia (Rosi Campos).

    A partir daí o horário sofreu com a fraca Começar de Novo e a boazinha A Lua me Disse.

    Bang Bang terminou ontem fazendo jus ao nome, num grande tiroteio. Grande parte dos coadjuvantes morreu. O casal Ben (Bruno Garcia) e Diana (Fernanda Lima) terminou feliz, com uma penca de filhos. O último capítulo teve lances engraçados, como as novas invenções de Aquarius Lane (Ney Latorraca) e a ida dos dois peões de Paul Bullock (Mauro Mendonça) para Brockback Mountain (numa divertida referência ao filme de grande sucesso).

    Será que a sucessora, Cobras & Lagartos, conseguirá salvar a faixa das sete? É esperar para ver. A missão é difícil...

    Publicado em 22 de abril de 2006

    Bang Bang é uma novela polêmica. A trama de Mario Prata, concluída por Carlos Lombardi, engorda qualquer lista de piores produções de todos os tempos. Não concordo. Acho a obra de Prata muito boa, tendo em vista que o autor se propôs a fazer uma farsa capaz de se tornar uma paródia dos tempos atuais. Foi uma proposta inteligente e a novela era divertida. Mas o público não a aceitou bem. Para boa parte da audiência era estranho ver atores vestidos de cowboy com nomes em inglês. Quando assumiu o texto, Carlos Lombardi aumentou a dose de comédia irônica e aloprada, injetou mais ação e mudou o perfil de alguns personagens. A maior mudança foi a mudança de vilões: Paul Bullock (Mauro Mendonça) se redimiu e ficou bom, enquanto Vegas Locomotiv (Giulia Gam), que era do bem, revelou-se uma golpista e assumiu as vilanias da história. Foi uma novela divertida. Me julguem!

    Cristal e a nova era da dramaturgia do SBT

    O SBT estreou na última segunda-feira sua nova novela de produção nacional, Cristal. A nova trama, segundo o próprio SBT, marca uma nova era na produção de telenovelas da casa. Mais verba de produção, capricho maior no texto, na iluminação e até uma nova faixa de horário (19 horas) fazem parte do pacote.

    O capítulo de estreia foi interessante. De maneira bastante ágil foi mostrado o flashback que conta a origem da protagonista, filha de um futuro seminarista com uma empregada. Logo, a trama chegou aos tempos atuais e nos apresentou Cristina (Bianca Castanho) montando seu novo apartamento e conhecendo suas novas colegas de quarto, Inocência (Bárbara Paz) e Zoraide (Sabrina Greve). Além disso, vimos sua mãe, a ex-empregada Vitória (Bete Coelho), agora uma bem-sucedida profissional da moda. Acompanhamos também o padre Ângelo de Jesus (Victor Wagner), pai de Cristina, atormentado ainda pelo romance que teve com Vitória 21 anos atrás.

    As mudanças prometidas aconteceram realmente. A qualidade da iluminação e dos cenários de Cristal são infinitamente superiores às outras produções do SBT, como Esmeralda e Os Ricos Também Choram. Nota-se claramente a direção competente de Herval Rossano. Apenas o texto ainda é muito made in México. A cena em que Vitória, ainda jovem (interpretada por Greta Antoine), promete a si mesma que não deixará mais que os outros pisem nela foi carregada de emoção com tequila.

    O elenco, na sua maioria, está bem afinado. Bianca vive sua terceira protagonista no SBT e está à vontade. É bonita, talentosa e carismática. Não tem cara de modelo, é verdade, mas vale a licença poética. Bete Coelho dosa bem o ar de superioridade com que Vitória trata aos que estão ao seu redor com a vontade de encontrar sua filha desaparecida. Destaque para Bárbara Paz e Sabrina Greve. As amigas de Cristina são muito interessantes, com suas personalidades opostas. As duas atrizes estão fazendo um trabalho bem convincente.

    Dado Dolabella ainda está muito... Dado Dolabella! Não deu para perceber, ainda, qual a diferença entre João Pedro, de Cristal e Plínio, de Senhora do Destino ou Robson, de Malhação.

    Um dos principais desafios de Cristal é manter-se no horário em que estreou. Afinal, a faixa das 19 horas é, atualmente, a faixa mais concorrida da televisão nacional. Prova de Amor, da Record, continua marcando médias elevadas, por volta dos 18 pontos no Ibope. E Cobras & Lagartos, da Globo, demonstra potencial para crescer mais, marcando médias de 33 pontos. No capítulo de estreia, Cristal registrou 9 pontos de média e picos de 12. Para alcançar a vice-liderança, a direção do SBT terá que contar com um fracasso da Record e torcer para que Bicho do Mato, sua nova novela que estreia em julho, seja um fiasco.

    Vale lembrar que o último sucesso em dramaturgia do SBT foi Esmeralda, que estreou com a mesma média de Cristal e viu sua audiência crescer um ponto por mês, alcançando médias de 14 pontos. Se Cristal vai repetir o fenômeno da outra órfã com nome de pedra? Só esperando para ver.

    Publicado em 10 de junho de 2006

    Em 2006, o SBT mergulhava numa séria crise de audiência, enquanto a Record vinha numa curva ascendente. O canal de Silvio Santos corria atrás do prejuízo e Cristal era uma de suas apostas para sair do buraco. Tanto que a novela já havia começado a ser gravada quando o patrão mandou parar tudo, trouxe Herval Rossano da Record (onde havia dirigido A Escrava Isaura), além de trocar roteiristas e até o protagonista da obra (Rodrigo Veronese já havia começado a gravar quando perdeu o papel para Dado Dolabella). Mas o investimento não se justificou, pois Cristal não fez sucesso. Curiosamente, a trama foi reprisada anos depois com resultados bem mais interessantes.

    Final de Belíssima consagra maior vilã de todos os tempos

    Terminou ontem Belíssima, mais uma bem-sucedida incursão de Silvio de Abreu às tramas policiais. A novela começou morna e sem grandes novidades e, aos poucos foi mostrando a que veio. Enquanto a trama se desenrolava, os personagens revelavam suas verdadeiras faces e mostravam que tudo era apenas um jogo de aparências.

    A última novela de Silvio às 21 horas, Torre de Babel (1998), tentou seguir o mesmo trilho, mas os personagens do folhetim, desde o início, mostravam-se dúbios, deixando o telespectador confuso, sem saber identificar os mocinhos e os vilões da história, o que fez a audiência despencar. Para salvar a novela, Silvio de Abreu teve de trair sua ideia inicial e redefinir o caráter de seus personagens, retomando a fórmula de folhetim.

    Desta vez, Abreu seguiu a trilha contrária. Mostrou ao público a mocinha Júlia (Glória Pires), seu príncipe André (Marcello Antony) e a vilã Bia Falcão (Fernanda Montenegro). Depois é que as máscaras foram caindo e o verdadeiro caráter dos personagens se revelaram. André era mau, traiu Júlia com sua filha e a roubou. Porém, depois, ficamos sabendo que André era apenas o peão de uma pessoa mais poderosa, com quem conversava pelo telefone. Ontem, a verdade foi revelada: Bia Falcão, desde o início, havia planejado o golpe contra sua própria neta, ajudada pelo advogado Medeiros (Ítalo Rossi) e a secretária Ivete (Angelita Feijó).

    O desfecho de uma trama bem amarrada como Belíssima coroou a maior vilã de todos os tempos: Bia Falcão, de Fernanda Montenegro, já seria lembrada como grande vilã, mesmo se não fosse a grande culpada. Mas, revelada a farsa a que todos foram envolvidos, inclusive o telespectador, a poderosa Bia Falcão mostrou-se fria, calculista, egoísta e sem caráter. Teve o desfecho perfeito: fugiu para Paris com o michê Mateus (Cauã Reymond). Final pouco moralista, mas verossímil: alguém como Bia Falcão iria para a cadeia? Ou se mataria, como a imprensa especializada chegou a ventilar?

    Além do mistério, outra marca registrada de Silvio de Abreu, o humor, deu o recado em Belíssima. Tipos como a famíla de Murat (Lima Duarte), ou a dupla Pascoal (Reynaldo Gianechinni) e Jamanta (Cacá Carvalho), ou ainda o trio Mary Montilla (Carmen Verônica), Guida Guevara (Íris Bruzzi) e Gigi (Pedro Paulo Rangel), arrancaram risadas e deixarão saudades. Seus intérpretes estavam perfeitos, assim como Cláudia Raia e sua fogosa Safira. A cena em que ela e Pascoal são flagrados juntos, nus, na oficina, pelos vizinhos, foi hilária.

    A dupla de heroínas funcionou bem. Júlia começou apagada, mas no decorrer da trama foi ganhando força. Nas cenas em que enfrentava Bia, Glória Pires mostrou porque é uma das maiores atrizes do Brasil. A Vitória de Cláudia Abreu foi a mocinha clássica. Comeu o pão que o diabo amassou nas mãos de Bia. No final, descobriu-se que Bia era sua mãe. Tragédia grega pura! E a amizade de Júlia e Vitória, com seus altos e baixos, foi ponto forte da trama. A cena em que Júlia encontra Vitória para saber por que esta a traiu, quando passou suas ações da Belíssima para André, e Vitória, encurralada e chantageada, não sabe o que dizer e as duas começam a chorar foi uma das melhores de toda a novela.

    Belíssima foi uma grande trama de suspense, bem construída e com um final que não decepcionou. Recuperou o prestígio das novelas das oito e também de seu autor, Silvio de Abreu, que já havia declarado, após o

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